Bernhard
Carl Trautmann, ou simplesmente Bert Trautmann, futebolista e treinador, nasceu
em Bremen, Alemanha, no dia 22 de outubro de 1923. Era o filho mais velho de um
carregador químico das docas. Desde a juventude foi seduzido – igual a outros
milhões de jovens alemães – pelo discurso nacional socialista de Adolf Hitler,
se engajando na Juventude Hitlerista.
Quando
a guerra teve início, não titubeou em alistar-se na “Luftwaffe”, sendo enviado
para a recém invadida Polônia, onde desempenhou a função de operador de rádio.
Depois, como paraquedista, foi transferido para a Frente Oriental e teve que
lutar contra o Exército russo, conseguindo sobreviver a essa experiência,
fazendo jus a cinco medalhas, entre as quais a “Cruz de Ferro”, por seus
méritos no campo de batalha.
Trautmann
ainda combateu na Frente Ocidental, tendo sobrevivido a um bombardeio dos
Aliados na cidade de Kleve, onde foi feito prisioneiro por dois soldados
americanos, mas milagrosamente escapou da prisão. Ele ficou enterrado vivo por três dias,
quando os aliados bombardearam uma escola onde sua unidade estava alojada; a
maioria de seus companheiros foram mortos.
Ele
foi um dos 90 soldados de um regimento de 1000 homens, que conseguiram
sobreviver. Depois de passar algum tempo na prisão belga, Trautmann foi
transferido para outro campo de prisioneiros em Malbury Hall, na Inglaterra.
Pouco
tempo depois, quando a guerra estava próxima do fim, ele foi preso novamente,
dessa vez por um esquadrão britânico, que o levou para um campo de prisioneiros
na Bélgica.
No momento da prisão os soldados ingleses teriam dito: "Olá
Fritz, você gostaria de uma xícara de chá?" Sua história de amor eterno
com a Grã-Bretanha começou naquele momento. Nessa prisão, para aliviar o tédio,
eram organizadas partidas de futebol entre os soldados britânicos e um grupo de
prisioneiros.
Quando
a guerra terminou, ele não quis ser deportado para a Alemanha, pois tinha plena
consciência de que seu país estava em ruínas, decidindo, por isso, começar uma
vida nova em solo inglês. Para sobreviver, não recusava nenhum tipo de
trabalho, muitas vezes em granjas, outras em fábricas. Nas horas de folga se
dedicava à sua paixão: o futebol.
Mesmo
com 25 anos de idade, ganhou chance em um clube amador chamado St. Helens Town,
nas cercanias da cidade de Wigan. Mesmo jogando em um time sem a menor
importância, sua estatura e a agilidade como goleiro chamaram a atenção dos
grandes times ingleses. O Manchester City levou a melhor e o contratou para a
temporada 1949 – 1950, para substituir seu grande número 1, Frank Swift.
A
torcida não gostou nem um pouco dessa contratação, e a imprensa inglesa também,
pois não esqueciam que Trautmann fora um paraquedista da “Luftwaffe”. Até mesmo
entre os jogadores do clube, cujo capitão, Eric Westwood, era um veterano do
desembarque na Normandia, a presença de um "kraut" na equipe não era
bem vinda.
Até
uma lista com 20 mil assinaturas foi feita contra sua contratação. Os
torcedores iam aos treinos e aos jogos do Manchester carregando faixas que
diziam: "Fora Alemão". Mas como o tempo é o melhor remédio para curar
todas as mágoas, os torcedores acabaram por aceita-lo, mesmo tendo jogado
apenas cinco das 250 partidas realizadas pelo clube na temporada.
Somente
os torcedores rivais ainda o insultavam das arquibancadas, quando o time jogava
fora de casa. E foi num jogo fora de casa que o goleiro começou a se converter
em um mito. Em janeiro de 1950, o Manchester City foi a Londres enfrentar o
Fulham.
Essa
foi a primeira vez que Trautmann iria jogar em Londres , desde sua chegada a
Grã-Bretanha. O Manchester passava por um momento difícil e o adversário era o
favorito, com a imprensa achando que haveria uma goleada.
Foi
quando surgiu a figura colossal de Trautmann, que realizou defesas impossíveis,
fechando o gol. A torcida adversária o xingava de todos os palavrões possíveis.
O Manchester City ganhou por 1 X 0, e o goleiro foi aplaudido de pé pelos
torcedores rivais e até pelos próprios jogadores do Fulham.
Em
1956, já como titular absoluto, foi escolhido o melhor jogador do campeonato
inglês. Sua atuação na final da Copa da Inglaterra do mesmo ano foi o
coroamento de um ano espetacular. Quando faltavam 17 minutos para o término do
jogo, Trautmann sofreu uma grave lesão, depois de "mergulhar" nos pés
do jogador Peter Murphy.
Ele
conseguiu segurar a bola, mas não conseguiu impedir a cabeça de colidir com a
perna de Murphy. Trautmann ficou tonto e cambaleando, mas estava determinado a
jogar. Mesmo gravemente lesionado ele continuou em campo, sendo fundamental
para que o escore favorável ao seu time se mantivesse nos 3 X 1.
Ao
receber a medalha de campeão, seu pescoço estava visivelmente torto. Três dias
depois, um raio-x mostrou que havia cinco vértebras deslocadas, sendo que uma
delas estava partida em dois. A gravíssima lesão o afastou dos gramados por um
ano.
No
final do jogo, Trautmann foi ajudado a subir os degraus para receber sua
medalha de vencedor, o tempo todo esfregando a "rigidez do pescoço".
Ele foi forçado a passar cinco meses envolto em gesso da cabeça aos quadris.
Um
mês depois de seu heroísmo na final da Taça, o seu filho de seis anos de idade,
foi morto ao atravessar a estrada. Trautmann lutou muito para superar o trauma
causado com sua perda, que com o tempo levou ao rompimento de seu casamento.
Trautmann
jogou no Manchester City até 1964, com um saldo de incríveis 545 partidas
disputadas, durante 15 temporadas na “Football League”. Encerrou a carreira no
mesmo ano, depois de jogar duas partidas pelo Wellington Town, atual Telford
United. Em 2005 ele entrou para o “The English Football Hall of Fame”, sendo um
dos poucos jogadores não britânicos a receber essa honraria.
Partiu
para tentar uma carreira de treinador, inicialmente em equipes de divisões
inferiores da Inglaterra e Alemanha. Ainda foi treinador das Seleções da
Birmânia, Libéria, Tanzânia, Iêmen do Norte e Paquistão.
Trautmann
viveu por um tempo na Alemanha, e em seguida mudou-se para a Espanha, onde
possuía uma vinha perto de Valência. Bert Trautmann casou com Margaret Friar,
em 1950. Seu segundo casamento, com Ursula von der Heyde, também não durou
muito tempo.
Depois
de aposentado mudou-se para a Espanha com sua terceira esposa, Marlis. Ele
tinha outros dois filhos de seu primeiro casamento, e uma filha de um
relacionamento anterior com Marion Greenhall.
Em
2000, Trautmann foi escolhido um dos 100 jogadores do século. Em 2004 foi
apresentado à rainha e ao duque de Edimburgo no "Berlin Sinfonia", onde 66 anos
antes, ele havia sido homenageado pelo ministro dos Esportes de Hitler por ter
sido segundo lugar no atletismo em todo o "Reich".
Trautmann
faleceu em 13 de julho de 2013, em La Lossa, Espanha aos 89 anos. Ele sofreu
dois ataques cardíacos no inicio do ano.
Títulos
conquistados. Manchester City: FA Cup (1956). Prêmios individuais: Futebolista
Inglês do Ano pela FWA. (1956) e Membro do Hall da Fama do Futebol Inglês.
(Pesquisa: Nilo Dias)