O futebol baiano foi sempre pródigo em apresentar personagens folclóricos, que faziam a alegria dos demais torcedores presentes aos estádios da “boa terra”. É o caso de “Pedro Capenga”, popular peixeiro do Forte São Pedro, o mais fanático torcedor do Botafogo Sport Club, de Salvador. Ele se tornou por demais conhecido, por costumar desafiar os torcedores do Bahia.
Certa ocasião ele mesmo fabricou um pote de barro, que carregava durante os jogos e dizia que dava sorte ao seu time. Até que uma ocasião, em 1931, o Botafogo levou uma surra histórica do Bahia, que até então não era considerado rival. Adversário mesmo era o Esporte Clube Ypiranga. Mas a partir daí, “Pedro Capenga” prometeu que quebraria o vaso, quando o seu time derrotasse o tricolor baiano.
E os torcedores de ambos os lados, motivados pela imprensa, passaram a chamar o jogo entre Botafogo X Bahia de “Clássico do Pote”. Detalhe é que o tabu permaneceu intocado por longos sete anos, sem que o time de “Pedro Capenga” conseguisse uma única vitória.
E nesse tempo quase que o pote foi quebrado. “Pedro Capenga” se descuidou e o objeto escapou da sua mão e caiu ao chão, rachando. O jogo em que isso aconteceu terminou empatado. Somente em 5 de setembro de 1937, no 13º jogo após a promessa, o Botafogo conseguiu derrotar o Bahia por 3 X 1.
Quando o juiz apitou o fim do jogo, o gramado foi invadido por torcedores botafoguenses em delírio, aos gritos, gente frenética, jogadores desmaiando de emoção, numa verdadeira apoteose. E “Pedro Capenga” conseguiu finalmente quebrar o pote em incontáveis pedaços, que foram levados como relíquias pelos apaixonados aficcionados do alvi-rubro. No outro dia a fotografia do folclórico torcedor foi destaque nas páginas dos jornais de Salvador.
“Pedro Capenga” acompanhava o Botafogo há vários anos. Em 1922, quando seu time se sagrou campeão baiano, aplicando uma goleada de 7 X 0 no grande adversário da época, o Ypiranga, ele foi lembrado pelos jogadores Manteiga e Seixas, que levantaram um brinde em sua homenagem, por comandar a animação da torcida alvi-rubra.
O Botafogo Sport Club foi fundado no dia 1 de novembro de 1914, pelo sargento Antônio Valverde Veloso, do Corpo de Bombeiros, que buscou inspiração nas cores e no objetivo do seu batalhão para fundar o clube. As cores do Botafogo são o vermelho e branco.
O Botafogo existe até hoje, mas não é mais nem sombra do poderoso clube do passado. Em 1916 participou pela primeira vez do Campeonato baiano. O Botafogo rivalizou à época com o Ypiranga, pois ambos dominaram o cenário futebolístico da Bahia até 1930. Para que se tenha uma ideia, os dois alternaram títulos de 1917 a 1930.
Nesse período apenas duas agremiações, fora Botafogo e Ypiranga venceram o campeonato baiano: a Associação Atlética da Bahia e o Clube Bahiano de Tênis. Todos os outros títulos ficaram com Botafogo ou Ypiranga.
O Botafogo ganhou o seu primeiro título estadual em 1919, interrompendo uma sequência de conquistas do Ypiranga. Botafogo e Fluminense terminaram a competição empatados, ambos com 17 pontos, o que obrigou a realização de um jogo desempate em 24 de fevereiro de 1920.
Perante um grande público e com arbitragem de Solly, goleiro da Associação, o jogo terminou empatado em 1 X 1. Devido às irregularidades ocorridas no desenrolar do prélio, a Liga entrou em crise, que só foi superada em maio.
O segundo jogo desempate foi marcado para 23 de maio, com João Nova, do Ypiranga, no apito. Durante a madrugada caiu sobre a cidade um forte temporal, ficando interrompido o tráfego até o estádio. O Fluminense, como que prevendo o verdadeiro “dilúvio” que se abateu sobre Salvador, tratou de levar na véspera o seu time para o Rio Vermelho, onde pernoitou na residência do sócio e jogador Astério Sobrinho.
O Ypiranga desde às 8 horas esperava o adversário, que com dificuldades de transporte só conseguiu chegar ao estádio às 10 horas, quando o tráfego foi restabelecido. Pelo regulamento o Fluminense já era campeão, por WO. Mas o Fluminense não quis os pontos e preferiu jogar. Azar seu, o Botafogo venceu por 1 X 0, gol de Antoninho F. Dias, numa escapada. E depois recuou o time todo para a defesa. Era o primeiro título do Botafogo.
Depois, foi bicampeão em 1922 e 1923 e campeão em 1926, 1930, 1935 e 1938. Com todas essas conquistas o Botafogo atraiu muitos torcedores e se tornou o segundo clube mais popular do Estado, atrás só do Ypiranga. Naquela época o Bahia, fundado em 1931, recém estava engatinhando e a acumular simpatizantes.
Em 1922, no primeiro Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, o Botafogo-BA reforçado apenas de um atleta emprestado por outro clube, representou o estado da Bahia ficando entre os melhores colocados ao final do torneio
Botafogo X Ypiranga é o clássico mais antigo do futebol baiano. A rivalidade entre Bahia X Vitória só começou a acontecer no início da década de 1950, quando o rubro-negro voltou a se dedicar mais ao futebol e ganhar títulos. Até 1937 os mais ferrenhos adversários do Bahia eram Botafogo e Ypiranga. Depois veio o Galícia, que também rivalizou com o tricolor.
No inicio dos anos 20 começou a se acentuar a rivalidade entre Botafogo X Ypiranga. O melhor jogador da época, Apolinário Santana, o “Popó” jogava no Ypiranga, que tinha até uma musica “Popó chuta chuta, chuta por favor, mela, mela, mela e lá vai é gol”. Melar na época queria dizer driblar o adversário.
O time do Ypiranga era realmente muito forte. A linha média era formada por Mica, Nebulosa e Hercílio. O ataque tinha Lago, Popó, Dois Lados, Matices e Cabloco. As goleadas impostas pelo Ypiranga aos adversários eram comuns: quatro, cinco, seis e até mesmo dez gols; Em 15 de abril de 1923, numa tarde de gala, “Popó” fez cinco gols no Fluminense (RJ), no Campo da Graça em jogo vencido pelo onze baiano por 5 X 4.
O Botafogo também tinha uma linha media espetacular, formada por Serafim, Tenente e Chico Bezerra. E um ataque sensacional com Tatuí, Macedo, Manteiga, Seixas e Pelego. Manteiga era o seu jogador principal. No amistoso contra o Fluminense carioca, em 12 de abril de 1923, ele marcou os dois gols da vitória alvi-rubra.
Em 1920, quando o Botafogo levantou a taça de campeão, depois de vencer a Associação Atlética por 1 X 0, o jogador “Dois Lados”, teve o pé que marcou o gol banhado por champagne.
O Botafogo teve a honra de participar do jogo inaugural da “Fonte Nova”, que durante anos foi o templo do futebol baiano. Em 28 de janeiro de 1951, Botafogo X Guarany empataram em 1 x 1. Nélson, do Botafogo marcou o primeiro gol do estádio que levava o nome de Otávio Mangabeira.
Títulos conquistados pelo Botafogo baiano. Campeonatos Estaduais: (1919, 1922, 1923, 1926, 1930, 1935 e 1938); Vices-Campeonatos Estaduais: (1918, 1929, 1932, 1943, 1954, 1965 e 1977); Vice-Campeonato Baiano da Segunda Divisão: (1984); Torneio Início: (1924, 1925, 1940, 1948, 1952 e 1963).
O Botafogo fechou seu departamento de futebol em 1990, mas reabriu em 2011 e passou a disputar a 2ª Divisão do Campeonato Baiano, quando foi eliminado na primeira fase da competição. O primeiro jogo após o seu regresso foi disputado em 28 de abril de 2011, e o clube foi derrotado por 3 X 0 pelo Ypiranga, tradicional adversário do passado.
Em 2011 o Botafogo disputou os jogos do “Baianão” da 2ª Divisão, no estádio “Roberto Santos”, no bairro de Pituaçu, em Salvador. O ano passado, graças uma parceria com o município de Terra Nova, os jogos foram disputados no estádio Luis Eduardo Magalhães, naquela cidade.
Para este ano de 2013, graças a uma parceria com o Esporte Clube Vitória, irá disputar seus jogos no Barradão. Até 1990, quando o Botafogo fechou as portas, o time jogava em casa no Estádio Campo da Pólvora, localizado em Salvador, que tinha capacidade máxima para 2.000 pessoas. (Pesquisa: Nilo Dias)
Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
Os 100 anos do Nacional de Manaus (Final)
O Nacional é o único clube do Estado a ter um centro de treinamento próprio. É ainda o dono da maior torcida no Amazonas. Quando disputou a Serie A do Brasileirão, sempre figurou entre os clubes com melhor média de público. Em uma das edições se classificou junto do Fluminense para a segunda fase do campeonato, pelo índice de média de público.
Seus mascotes são a “Aguia” e o “Leão”, por isso é também chamado pelos torcedores de "Leão da Vila Municipal", em homenagem ao antigo bairro da Vila Municipal, hoje Adrianópolis, onde fica seu rico patrimônio social.
O “Torneio Internacional Pacto Amazônico” foi realizado em Manaus no ano de 1981, e vencido pelo Nacional. A competição contou com clubes de países que compõem a Amazônia internacional, como Millonarios, da Colombia, Sporting Cristal e Alianza Lima, do Peru, Tuna Luso, de Belém e Fast Clube, de Manaus, entre outros.
Em 1984 o Nacional, que participava do Brasileirão da Série A, excursionou ao Marrocos para representar o Brasil na “Copa do Rei Hassan”, que contava com as principais equipes da África Setentrional e Oriente Médio. O Nacional foi o primeiro clube do Norte do país a jogar fora da América latina. E fez bonito, vencendo o torneio.
Nos anos 80 o Nacional era um clube consolidado como potência regional, e chegara ao mesmo nível dos paraenses Remo e Paysandu, sempre com uma das maiores médias de público do Norte e Nordeste. Mas em 1987, com a criação do “Clube dos 13”, muitos clubes de grandes torcidas ficaram de fora, exemplo do Nacional. Desde então, o time amazonense nunca mais participou da chamada elite do futebol brasileiro.
Mas corre de boca em boca uma história muito desagradável, fazendo alusão a que a diretoria da época seria corrupta e teria entregue vários jogos. E ainda existe a suspeita histórica de que dirigentes da Federação Amazonense de Futebol e do próprio Nacional, agindo de má fé teriam vendido a vaga do clube amazonense na Série B de 1988 para um clube paulista.
Ainda não se sabe se é um fato ou apenas boato, porém a época o Nacional tinha considerável colocação no ranking brasileiro, colocando-se entre os 30 melhores, o que lhe daria facilmente uma vaga entre os 24 que disputaram a Série B daquele ano.
O último grande jogador a ser revelado pelo Nacional foi o atacante maranhense França, que surgiu no clube em 1994 e depois jogou no São Paulo e Seleção Brasileira. De 1994 ate 2005, o time conquistou somente três campeonatos estaduais e não participou do certame de 1997. Enquanto isso o São Raimundo, que antes era um clube pequeno, obteve várias conquistas em nível regional, dominando o futebol amazonense por quase 10 anos.
Em 2000, devido a boa colocação no ranking da CBF, o Nacional disputou o “Módulo Amarelo” (equivalente à Série B) da Copa João Havelange. Ficou em 15º lugar no Grupo B marcando 19 pontos, em 17 jogos, sendo 5 vitórias, 4 empates e 8 derrotas, marcando 34 gols e sofrendo 37. Em 2001 o clube da estrela azul teve sua última participação na Série B do Campeonato Brasileiro, com uma péssima campanha: disputou 26 jogos, venceu 6, empatou 7 e perdeu 13, ficando na 27° posição e sendo rebaixado.
Em 2002 o clube disputou a Série C do Campeonato Brasileiro de Futebol, chegando ao quadrangular final, quando ficou em quarto lugar, atrás do campeão Brasiliense, do Marília e Ipatinga. Naquela época apenas duas equipes conseguiam o acesso a Série B.
O Nacional foi o clube de segunda melhor campanha na competição e seu atacante Wallace foi o quinto maior goleador, fazendo 8 gols. Além disso, em 1995 e em 2005, o time chegou até as quartas de final da Série C, ficando nessas outras duas vezes entre os oito melhores do campeonato.
Em 2006 o Nacional, no Estadual ficou em terceiro lugar, atrás de São Raimundo e Fast Clube. Também foi terceiro colocado na “Taça Amazonas” e eliminado na primeira fase da “Taça Cidade de Manaus”. O clube preferiu não disputar a Série C do mesmo ano, e sua vaga acabou ficando com o Rio Negro que foi o quarto colocado. O Nacional vinha de seis anos consecutivos disputando o Campeonato Brasileiro de Futebol
Na Copa do Brasil o Nacional foi o primeiro clube do Amazonas a eliminar um adversário ainda no jogo de ida, o Guará do Distrito Federal. Na “cidade satélite” de mesmo nome venceu por 2 X 0. Na segunda fase o Nacional enfrentou o Atlético (MG). No primeiro jogo empate em 2 X 2, sendo que o Nacional chegou a estar vencendo a partida. No jogo de volta, em Belo Horizonte, o Nacional foi goleado por 4 X 0.
Em 2009 o clube conseguiu a única vaga do Amazonas à Série D do Campeonato Brasileiro, ao ser campeão do primeiro turno do Campeonato Amazonense. Foi vice-campeão do torneio, ao perder para o América, de Natal na final, por 3 X 0.
Em 2010, o Nacional contratou para técnico o ex-jogador do Botafogo e da Seleção Brasileira, Alemão, que não conseguiu bons resultados. O time teve desempenho apenas razoável, e após a eliminação na Copa do Brasil para o ASA (AL), ainda na primeira fase com dois empates, Alemão pediu demissão. No Campeonato Amazonense, o time fez sua pior campanha em 22 anos, terminando em quarto lugar com 27 pontos ganhos, sendo que o clube, desde 1989, terminava sempre entre os três primeiros do campeonato.
O Nacional ainda disputou a Série D do Campeonato Brasileiro de Futebol, quando enfrentou novamente o Penharol. O clube conquistou a vaga devida à desistência da Federação Roraimense de Futebol, de colocar um clube na competição. A vaga veio através do Ranking Nacional de Clubes da CBF, o que causou uma briga judicial com o Fast Clube, que almejava a vaga.
Na Copa do Brasil de 2012, o Nacional estreou enfrentando o Coritiba, com empate em casa. No jogo de volta levou 2 X 0 em Curitiba e foi eliminado. No Estadual de 2012, não conseguiu chegar as finais.
O patrimônio do Nacional é o maior entre todos os clubes do Amazonas e consta de: sede administrativa no bairro Adrianopolis; salão de festas; Academia Nacionalina, que hoje encontra-se alugada; salão nobre para eventos sociais; Salão Mario Cortez - Sala de Troféus; Escolinha de Futebol Barbosa Filho, que conta com um campo para treino e atende cerca de 200 jovens atletas; Parque Aquatico Adelino Costo; piscina olímpica, sendo que existem apenas três no Estado: a do Nacional, a da Vila Olímpica e a do SESI.
Conta ainda com uma piscina de hidroginástica; restaurante; Centro de Treinamentos Barbosa Filho, que possui alojamentos próprios para hospedar os jogadores, funcionando também como concentração das Categorias de Base do Clube (infantil, juvenil e juniores). O Centro é composto também de campo de futebol (com medidas oficiais), vestiários, refeitório, departamento médico, sala de massagem e estacionamento. (Pesquisa: Nilo Dias)
Time do Nacional que venceu o Torneio Internacional, no Marrocos. (Foto: Acervo fotográfico do Nacional F.C.)
Seus mascotes são a “Aguia” e o “Leão”, por isso é também chamado pelos torcedores de "Leão da Vila Municipal", em homenagem ao antigo bairro da Vila Municipal, hoje Adrianópolis, onde fica seu rico patrimônio social.
O “Torneio Internacional Pacto Amazônico” foi realizado em Manaus no ano de 1981, e vencido pelo Nacional. A competição contou com clubes de países que compõem a Amazônia internacional, como Millonarios, da Colombia, Sporting Cristal e Alianza Lima, do Peru, Tuna Luso, de Belém e Fast Clube, de Manaus, entre outros.
Em 1984 o Nacional, que participava do Brasileirão da Série A, excursionou ao Marrocos para representar o Brasil na “Copa do Rei Hassan”, que contava com as principais equipes da África Setentrional e Oriente Médio. O Nacional foi o primeiro clube do Norte do país a jogar fora da América latina. E fez bonito, vencendo o torneio.
Nos anos 80 o Nacional era um clube consolidado como potência regional, e chegara ao mesmo nível dos paraenses Remo e Paysandu, sempre com uma das maiores médias de público do Norte e Nordeste. Mas em 1987, com a criação do “Clube dos 13”, muitos clubes de grandes torcidas ficaram de fora, exemplo do Nacional. Desde então, o time amazonense nunca mais participou da chamada elite do futebol brasileiro.
Mas corre de boca em boca uma história muito desagradável, fazendo alusão a que a diretoria da época seria corrupta e teria entregue vários jogos. E ainda existe a suspeita histórica de que dirigentes da Federação Amazonense de Futebol e do próprio Nacional, agindo de má fé teriam vendido a vaga do clube amazonense na Série B de 1988 para um clube paulista.
Ainda não se sabe se é um fato ou apenas boato, porém a época o Nacional tinha considerável colocação no ranking brasileiro, colocando-se entre os 30 melhores, o que lhe daria facilmente uma vaga entre os 24 que disputaram a Série B daquele ano.
O último grande jogador a ser revelado pelo Nacional foi o atacante maranhense França, que surgiu no clube em 1994 e depois jogou no São Paulo e Seleção Brasileira. De 1994 ate 2005, o time conquistou somente três campeonatos estaduais e não participou do certame de 1997. Enquanto isso o São Raimundo, que antes era um clube pequeno, obteve várias conquistas em nível regional, dominando o futebol amazonense por quase 10 anos.
Em 2000, devido a boa colocação no ranking da CBF, o Nacional disputou o “Módulo Amarelo” (equivalente à Série B) da Copa João Havelange. Ficou em 15º lugar no Grupo B marcando 19 pontos, em 17 jogos, sendo 5 vitórias, 4 empates e 8 derrotas, marcando 34 gols e sofrendo 37. Em 2001 o clube da estrela azul teve sua última participação na Série B do Campeonato Brasileiro, com uma péssima campanha: disputou 26 jogos, venceu 6, empatou 7 e perdeu 13, ficando na 27° posição e sendo rebaixado.
Em 2002 o clube disputou a Série C do Campeonato Brasileiro de Futebol, chegando ao quadrangular final, quando ficou em quarto lugar, atrás do campeão Brasiliense, do Marília e Ipatinga. Naquela época apenas duas equipes conseguiam o acesso a Série B.
O Nacional foi o clube de segunda melhor campanha na competição e seu atacante Wallace foi o quinto maior goleador, fazendo 8 gols. Além disso, em 1995 e em 2005, o time chegou até as quartas de final da Série C, ficando nessas outras duas vezes entre os oito melhores do campeonato.
Em 2006 o Nacional, no Estadual ficou em terceiro lugar, atrás de São Raimundo e Fast Clube. Também foi terceiro colocado na “Taça Amazonas” e eliminado na primeira fase da “Taça Cidade de Manaus”. O clube preferiu não disputar a Série C do mesmo ano, e sua vaga acabou ficando com o Rio Negro que foi o quarto colocado. O Nacional vinha de seis anos consecutivos disputando o Campeonato Brasileiro de Futebol
Na Copa do Brasil o Nacional foi o primeiro clube do Amazonas a eliminar um adversário ainda no jogo de ida, o Guará do Distrito Federal. Na “cidade satélite” de mesmo nome venceu por 2 X 0. Na segunda fase o Nacional enfrentou o Atlético (MG). No primeiro jogo empate em 2 X 2, sendo que o Nacional chegou a estar vencendo a partida. No jogo de volta, em Belo Horizonte, o Nacional foi goleado por 4 X 0.
Em 2009 o clube conseguiu a única vaga do Amazonas à Série D do Campeonato Brasileiro, ao ser campeão do primeiro turno do Campeonato Amazonense. Foi vice-campeão do torneio, ao perder para o América, de Natal na final, por 3 X 0.
Em 2010, o Nacional contratou para técnico o ex-jogador do Botafogo e da Seleção Brasileira, Alemão, que não conseguiu bons resultados. O time teve desempenho apenas razoável, e após a eliminação na Copa do Brasil para o ASA (AL), ainda na primeira fase com dois empates, Alemão pediu demissão. No Campeonato Amazonense, o time fez sua pior campanha em 22 anos, terminando em quarto lugar com 27 pontos ganhos, sendo que o clube, desde 1989, terminava sempre entre os três primeiros do campeonato.
O Nacional ainda disputou a Série D do Campeonato Brasileiro de Futebol, quando enfrentou novamente o Penharol. O clube conquistou a vaga devida à desistência da Federação Roraimense de Futebol, de colocar um clube na competição. A vaga veio através do Ranking Nacional de Clubes da CBF, o que causou uma briga judicial com o Fast Clube, que almejava a vaga.
Na Copa do Brasil de 2012, o Nacional estreou enfrentando o Coritiba, com empate em casa. No jogo de volta levou 2 X 0 em Curitiba e foi eliminado. No Estadual de 2012, não conseguiu chegar as finais.
O patrimônio do Nacional é o maior entre todos os clubes do Amazonas e consta de: sede administrativa no bairro Adrianopolis; salão de festas; Academia Nacionalina, que hoje encontra-se alugada; salão nobre para eventos sociais; Salão Mario Cortez - Sala de Troféus; Escolinha de Futebol Barbosa Filho, que conta com um campo para treino e atende cerca de 200 jovens atletas; Parque Aquatico Adelino Costo; piscina olímpica, sendo que existem apenas três no Estado: a do Nacional, a da Vila Olímpica e a do SESI.
Conta ainda com uma piscina de hidroginástica; restaurante; Centro de Treinamentos Barbosa Filho, que possui alojamentos próprios para hospedar os jogadores, funcionando também como concentração das Categorias de Base do Clube (infantil, juvenil e juniores). O Centro é composto também de campo de futebol (com medidas oficiais), vestiários, refeitório, departamento médico, sala de massagem e estacionamento. (Pesquisa: Nilo Dias)
Time do Nacional que venceu o Torneio Internacional, no Marrocos. (Foto: Acervo fotográfico do Nacional F.C.)
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Os 100 anos do Nacional de Manaus (1)
O Nacional Futebol Clube, de Manaus (AM), desde o último dia 13 faz parte do seleto grupo de clubes centenários do futebol brasileiro. A tradicional agremiação amazonense foi fundada no dia 13 de janeiro de 1913, depois de uma cisão no "Manaos Sporting", que era presidido pelo doutor Edgard de Melo Freitas.
A cisão foi motivada por desentendimento entre o presidente e o capitão da equipe Manuel Fernandes da Silva, o “Fernandinho”, quando em reunião da Diretoria discutia-se determinado artigo do Estatuto do clube. A oposição de “Fernandinho” encontrou apoio entre seus companheiros de equipe, da qual faziam parte, entre outros, o senhor José Marçal dos Anjos, de tradicional família de Manaus, que em solidariedade o acompanharam na saída do "Manaos Sporting".
Dessa maneira surgiu o “Eleven” Nacional F.C., depois de uma reunião acontecida em uma casa da rua 7 de Setembro. O nome Nacional foi o escolhido, em razão de que o grupo de jogadores era composto só por brasileiros, numa época em que a maioria dos praticantes do futebol em Manaus, era de ingleses, que já haviam fundado clubes como o "Manaos Sporting". A palavra inglesa “Eleven”, adotada pelo Nacional no inicio de sua existência, que dizer “onze”.
O primeiro grupo de jogadores era formado por: Fernando da Silva, Antonio, Jose Ernesto, Moisés Cordeiro (goleiro); Jorge Hermes, Manuel Laiza, Althberto Rocha, Santos Ferreira, Paulo Melo, Cícero Costa, José Melo e Fausto Paiva.
Uma curiosidade. Na ata de fundação do Nacional consta o seguinte: “O brasão do N.F.C. será constituído por um escudo verde e amarelo, em triângulo alternado dois a dois, com uma borda branca sobre o qual estarão as iniciais NFC encarnadas, e coroando o escudo uma estrela azul”. Porém, ao se olhar o brasão do clube, não se vê nada do que foi dito na ata. Por exemplo, a cor verde é praticamente inexistente, enquanto o azul que sequer foi citado, é a cor que predomina na história do clube.
Tempos depois, já bem estruturado, o clube retirou o nome “Eleven”, em razão de críticas feitas pelo professor Coreolano Durand, passando a chamar-se "Onze Nacional’’. Nesse tempo a agremiação não permitia a entrada de ingleses ou de qualquer outro estrangeiro na equipe. Daí a justificativa para a sugestão de mudança de nome do clube por parte de Durand.
Mais tarde o clube também abandonou o termo “Onze”, passando a denominação de Nacional Foot-ball Club. Durante anos a sigla NFC foi usada no escudo bordado nas camisas.
A primeira sede social do Nacional foi instalada na gestão de José Onando Mendes e Coronel Leopoldo Matos, na hoje Avenida Epaminondas, Centro comercial da Manaus.
A primeira competição oficial que o Nacional disputou foi o Campeonato Amazonense de 1914. A estreia foi contra o "Manaos Sporting", clube de onde saiu a maioria dos seus sócios fundadores. Como a maior parte dos documentos históricos do clube foi perdida, não se sabe ao certo qual foi o resultado daquele confronto.
Nesse primeiro campeonato, o Nacional aplicou as duas maiores goleadas de sua história no seu maior rival, o Rio Negro, que também estreava no certame: 2 de Março de 1914, no campo do Bosque Municipal, Nacional 9 X 0 Rio Negro. E em 19 de Abril de 1914, Nacional 12 X 0 Rio Negro, mais uma vez no campo do Bosque Municipal.
Desde 1918, quando superou o "Manaos Sporting", é o clube com maior número de conquistas no futebol profissional do Amazonas. Entre 1914 e 1920, o Nacional ganhou sete campeonatos estaduais, inclusive sagrando-se penta campeão amazonense com os títulos de 1916 a 1920. Nos anos de 1924 e 1925 o campeonato não foi disputado, e em 1926 houve uma competição que não é reconhecida pela Federação Amazonense de Futebol. Em 1927 o Nacional pela primeira vez deixou de disputar o Campeonato Amazonense, voltando no ano seguinte.
No período entre 1928 a 1959, o clube venceu mais 10 campeonatos. O Nacional também não participou dos Campeonatos Estaduais de 1929, 1947 e 1951, motivado por sérias crises financeiras. Na década de 1950 o Nacional venceu somente dois campeonatos.
Em 1945, a Federação retirou o título de campeão estadual do Nacional, atendendo recurso do Olímpico Clube, que embora perdendo o jogo por 3 X 2, alegou que o adversário utilizara um jogador de forma irregular. Com isso o Rio Negro foi declarado campeão.
Inconformado, o Nacional recorreu e o Tribunal de Justiça Desportiva devolveu-lhe os pontos e em consequência o título de campeão. Em razão disso o Rio Negro resolveu se desfiliar da Federação, voltando atrás logo em seguida.
No período de 1960 a 1969 o Nacional conquistou quatro campeonatos e foi vice-campeão duas vezes. O time de 1963 era muito bom, contando com jogadores de como Boanerges, Jonas, Sula, Jayme Basílio, Vanderlann, Hugo, Fredoca, Portuguêsa, Dermilson e Pepeta.
No final dos anos 60 o Nacional disputou três amistosos contra o Flamengo, do Rio de Janeiro, em Manaus, não perdendo nenhum: o primeiro em 1967, terminou empatado em 2 X 2. O segundo, em 1968, teve vitória do Nacional por 1 X 0, gol de Pepeta. E o terceiro, ainda em 1968, empate em 0 X 0.
Em 1969 o Nacional ganhou o Campeonato Norte/Nordeste, derrotando todos os seus adversários e garantindo lugar na final contra o Grêmio Maringá, campeão do Centro/Sul. A decisão foi no dia 24 de agosto de 1969, no Maracanã, na preliminar de Brasil x Venezuela, jogo valido pela eliminatória da Copa do Mundo de 1970.
Logo aos 8 minutos do primeiro tempo o atacante Pepeta driblou três zagueiros adversários, invadiu a grande área e com um chute forte e certeiro fez o gol que garantiu ao Nacional a maior conquista da história do futebol amazonense. Chamado de “Menino de ouro" do Nacional, Pepeta foi o maior jogador amazonense em todos os tempos, sendo que chegou a ser contratado pelo Palmeiras.
Na chegada a Manaus, milhares de pessoas foram ao aeroporto da “Ponta Pelada” receber os jogadores campeões, que seguiram no carro dos bombeiros até a sede do clube. O então governador Danilo Areosa declarou ponto facultativo por dois dias.
A euforia foi tão grande, que o hoje jornalista Mário Adolfo, na época ainda criança, retirou a bandeira do Estado do Amazonas, que se encontrava no mastro da residência oficial do Governador, para em seu lugar colocar um guardanapo azul e branco, fazendo alusão ao Nacional.
Em 1972 o Nacional disputou o Campeonato Brasileiro, com a seguinte campanha: 25 jogos, 4 vitórias, 10 empates, 11 derrotas, 23 gols a favor (14 de Campos, Vice artilheiro do campeonato) e 30 gols contra. As vitórias, todas no Estádio Vivaldo Lima, em Manaus foram: contra o Corinthians ( 2 X 0), Portuguesa de Desportos (2 x 0), CRB, de Maceió (2 x 1) e Cruzeiro, de Belo Horizonte ( 2 X 1).
Em 1974 o Nacional fez a melhor campanha da história do Campeonato Amazonense de Futebol, conseguindo um feito que permanece até hoje: foi campeão vencendo todos os 10 jogos que disputou, com destaque para a goleada de 4 X 0 sobre o rival Rio Negro. O time levou apenas três gols, marcando 27.
Nos anos 70 o Nacional conseguiu um inédito hexa-campeonato (1976-1981), contando com uma equipe poderosa, onde despontavam craques como Campos, Toninho Cerezzo e Paulo Izidoro, todos juniores do Atlético Mineiro que vieram por empréstimo, Alfredo Mostarda e Antenor (campeão brasileiro em 1977 com o São Paulo).
Nessa época ainda vestiram a camisa do Nacional jogadores como Procópio, Luís Florencio, Borrachinha, Paulo Galvão, Careca, Bendelack e Reis, com destaque também para o técnico Laerte Dória, que dirigiu a equipe em três dos seis títulos conquistados.
5 jogadores campeões mundiais pela Seleção Brasileira em 1970, no México, vestiram a camisa do Nacional anos depois: Rivelino, Edu, Jairzinho, Clodoaldo e Dario. Jairzinho jogou pelo Nacional no Campeonato Brasileiro de 1979, mas participou de apenas três jogos sem marcar gols.
Clodoaldo, titular um bom tempo do Santos (SP), com 55 atuações pela Seleção Brasileira, veio para Manaus em 1981 para defender o Nacional no Campeonato Brasileiro daquele ano, estreando contra o Itabaiana, e jogando ainda contra o Santa Cruz e o Paysandu.
Rivelino veio a Manaus para fazer um amistoso contra a seleção amazonense, e foi convidado pelo Nacional a ficar em Manaus, para disputar apenas um jogo, contra o Remo (PA) num amistoso, em 19 de julho de 1984, que terminou empatado em 1 X 1.
Edu, com 50 jogos pela Seleção, e Dario (Dadá Maravilha) foram contratados para a disputa do estadual de 1984, em que o Nacional foi campeão, e Dadá Maravilha foi o artilheiro do campeonato, com 14 gols. A final foi contra o Rio Negro, e o Nacional jogava pelo empate, que foi garantido com um gol de Dadá.
Em 1985, Dadá e Edu disputaram o Campeonato Brasileiro pelo Nacional, atuando em 21 jogos e fazendo bom número de gols. Em entrevista recente à revista Placar, Dadá declarou que a dupla que formou com Edu no Nacional foi a melhor da sua carreira.
De 1980 até 1987 o Nacional conseguiu seis campeonatos amazonenses, o que sempre lhe fez chegar ao Campeonato Brasileiro. Nesse período disputou seis edições do Campeonato Brasileiro de Futebol- Série A, e uma Série B.
O Nacional foi o primeiro clube da Região Norte do Brasil a disputar a primeira divisão do Campeonato Brasileiro, em 1972 ao lado do Clube do Remo do Pará. E é a equipe amazonense que mais disputou o Brasileirão da Série A, num total de 14 edições. Sua ultima participação na competição foi em 1986, sendo o único de quatro clubes da Região Norte a chegar a segunda fase daquele ano. (Pesquisa: Nilo Dias)
Time do Nacional, que derrotou o Maringá, do Paraná, em jogo realizado no Maracanã, em 1969. Em pé: Ferreira Pedras - Téo - Pedro Hamilton - Sula - Valdomiro, Mario Motorzinho e Marialvo. Agachados: Zezé - Pretinho - Rangel - Rolinha e Pepeta. (Foto: http://www.bauvelho.com.br/?p=828)
A cisão foi motivada por desentendimento entre o presidente e o capitão da equipe Manuel Fernandes da Silva, o “Fernandinho”, quando em reunião da Diretoria discutia-se determinado artigo do Estatuto do clube. A oposição de “Fernandinho” encontrou apoio entre seus companheiros de equipe, da qual faziam parte, entre outros, o senhor José Marçal dos Anjos, de tradicional família de Manaus, que em solidariedade o acompanharam na saída do "Manaos Sporting".
Dessa maneira surgiu o “Eleven” Nacional F.C., depois de uma reunião acontecida em uma casa da rua 7 de Setembro. O nome Nacional foi o escolhido, em razão de que o grupo de jogadores era composto só por brasileiros, numa época em que a maioria dos praticantes do futebol em Manaus, era de ingleses, que já haviam fundado clubes como o "Manaos Sporting". A palavra inglesa “Eleven”, adotada pelo Nacional no inicio de sua existência, que dizer “onze”.
O primeiro grupo de jogadores era formado por: Fernando da Silva, Antonio, Jose Ernesto, Moisés Cordeiro (goleiro); Jorge Hermes, Manuel Laiza, Althberto Rocha, Santos Ferreira, Paulo Melo, Cícero Costa, José Melo e Fausto Paiva.
Uma curiosidade. Na ata de fundação do Nacional consta o seguinte: “O brasão do N.F.C. será constituído por um escudo verde e amarelo, em triângulo alternado dois a dois, com uma borda branca sobre o qual estarão as iniciais NFC encarnadas, e coroando o escudo uma estrela azul”. Porém, ao se olhar o brasão do clube, não se vê nada do que foi dito na ata. Por exemplo, a cor verde é praticamente inexistente, enquanto o azul que sequer foi citado, é a cor que predomina na história do clube.
Tempos depois, já bem estruturado, o clube retirou o nome “Eleven”, em razão de críticas feitas pelo professor Coreolano Durand, passando a chamar-se "Onze Nacional’’. Nesse tempo a agremiação não permitia a entrada de ingleses ou de qualquer outro estrangeiro na equipe. Daí a justificativa para a sugestão de mudança de nome do clube por parte de Durand.
Mais tarde o clube também abandonou o termo “Onze”, passando a denominação de Nacional Foot-ball Club. Durante anos a sigla NFC foi usada no escudo bordado nas camisas.
A primeira sede social do Nacional foi instalada na gestão de José Onando Mendes e Coronel Leopoldo Matos, na hoje Avenida Epaminondas, Centro comercial da Manaus.
A primeira competição oficial que o Nacional disputou foi o Campeonato Amazonense de 1914. A estreia foi contra o "Manaos Sporting", clube de onde saiu a maioria dos seus sócios fundadores. Como a maior parte dos documentos históricos do clube foi perdida, não se sabe ao certo qual foi o resultado daquele confronto.
Nesse primeiro campeonato, o Nacional aplicou as duas maiores goleadas de sua história no seu maior rival, o Rio Negro, que também estreava no certame: 2 de Março de 1914, no campo do Bosque Municipal, Nacional 9 X 0 Rio Negro. E em 19 de Abril de 1914, Nacional 12 X 0 Rio Negro, mais uma vez no campo do Bosque Municipal.
Desde 1918, quando superou o "Manaos Sporting", é o clube com maior número de conquistas no futebol profissional do Amazonas. Entre 1914 e 1920, o Nacional ganhou sete campeonatos estaduais, inclusive sagrando-se penta campeão amazonense com os títulos de 1916 a 1920. Nos anos de 1924 e 1925 o campeonato não foi disputado, e em 1926 houve uma competição que não é reconhecida pela Federação Amazonense de Futebol. Em 1927 o Nacional pela primeira vez deixou de disputar o Campeonato Amazonense, voltando no ano seguinte.
No período entre 1928 a 1959, o clube venceu mais 10 campeonatos. O Nacional também não participou dos Campeonatos Estaduais de 1929, 1947 e 1951, motivado por sérias crises financeiras. Na década de 1950 o Nacional venceu somente dois campeonatos.
Em 1945, a Federação retirou o título de campeão estadual do Nacional, atendendo recurso do Olímpico Clube, que embora perdendo o jogo por 3 X 2, alegou que o adversário utilizara um jogador de forma irregular. Com isso o Rio Negro foi declarado campeão.
Inconformado, o Nacional recorreu e o Tribunal de Justiça Desportiva devolveu-lhe os pontos e em consequência o título de campeão. Em razão disso o Rio Negro resolveu se desfiliar da Federação, voltando atrás logo em seguida.
No período de 1960 a 1969 o Nacional conquistou quatro campeonatos e foi vice-campeão duas vezes. O time de 1963 era muito bom, contando com jogadores de como Boanerges, Jonas, Sula, Jayme Basílio, Vanderlann, Hugo, Fredoca, Portuguêsa, Dermilson e Pepeta.
No final dos anos 60 o Nacional disputou três amistosos contra o Flamengo, do Rio de Janeiro, em Manaus, não perdendo nenhum: o primeiro em 1967, terminou empatado em 2 X 2. O segundo, em 1968, teve vitória do Nacional por 1 X 0, gol de Pepeta. E o terceiro, ainda em 1968, empate em 0 X 0.
Em 1969 o Nacional ganhou o Campeonato Norte/Nordeste, derrotando todos os seus adversários e garantindo lugar na final contra o Grêmio Maringá, campeão do Centro/Sul. A decisão foi no dia 24 de agosto de 1969, no Maracanã, na preliminar de Brasil x Venezuela, jogo valido pela eliminatória da Copa do Mundo de 1970.
Logo aos 8 minutos do primeiro tempo o atacante Pepeta driblou três zagueiros adversários, invadiu a grande área e com um chute forte e certeiro fez o gol que garantiu ao Nacional a maior conquista da história do futebol amazonense. Chamado de “Menino de ouro" do Nacional, Pepeta foi o maior jogador amazonense em todos os tempos, sendo que chegou a ser contratado pelo Palmeiras.
Na chegada a Manaus, milhares de pessoas foram ao aeroporto da “Ponta Pelada” receber os jogadores campeões, que seguiram no carro dos bombeiros até a sede do clube. O então governador Danilo Areosa declarou ponto facultativo por dois dias.
A euforia foi tão grande, que o hoje jornalista Mário Adolfo, na época ainda criança, retirou a bandeira do Estado do Amazonas, que se encontrava no mastro da residência oficial do Governador, para em seu lugar colocar um guardanapo azul e branco, fazendo alusão ao Nacional.
Em 1972 o Nacional disputou o Campeonato Brasileiro, com a seguinte campanha: 25 jogos, 4 vitórias, 10 empates, 11 derrotas, 23 gols a favor (14 de Campos, Vice artilheiro do campeonato) e 30 gols contra. As vitórias, todas no Estádio Vivaldo Lima, em Manaus foram: contra o Corinthians ( 2 X 0), Portuguesa de Desportos (2 x 0), CRB, de Maceió (2 x 1) e Cruzeiro, de Belo Horizonte ( 2 X 1).
Em 1974 o Nacional fez a melhor campanha da história do Campeonato Amazonense de Futebol, conseguindo um feito que permanece até hoje: foi campeão vencendo todos os 10 jogos que disputou, com destaque para a goleada de 4 X 0 sobre o rival Rio Negro. O time levou apenas três gols, marcando 27.
Nos anos 70 o Nacional conseguiu um inédito hexa-campeonato (1976-1981), contando com uma equipe poderosa, onde despontavam craques como Campos, Toninho Cerezzo e Paulo Izidoro, todos juniores do Atlético Mineiro que vieram por empréstimo, Alfredo Mostarda e Antenor (campeão brasileiro em 1977 com o São Paulo).
Nessa época ainda vestiram a camisa do Nacional jogadores como Procópio, Luís Florencio, Borrachinha, Paulo Galvão, Careca, Bendelack e Reis, com destaque também para o técnico Laerte Dória, que dirigiu a equipe em três dos seis títulos conquistados.
5 jogadores campeões mundiais pela Seleção Brasileira em 1970, no México, vestiram a camisa do Nacional anos depois: Rivelino, Edu, Jairzinho, Clodoaldo e Dario. Jairzinho jogou pelo Nacional no Campeonato Brasileiro de 1979, mas participou de apenas três jogos sem marcar gols.
Clodoaldo, titular um bom tempo do Santos (SP), com 55 atuações pela Seleção Brasileira, veio para Manaus em 1981 para defender o Nacional no Campeonato Brasileiro daquele ano, estreando contra o Itabaiana, e jogando ainda contra o Santa Cruz e o Paysandu.
Rivelino veio a Manaus para fazer um amistoso contra a seleção amazonense, e foi convidado pelo Nacional a ficar em Manaus, para disputar apenas um jogo, contra o Remo (PA) num amistoso, em 19 de julho de 1984, que terminou empatado em 1 X 1.
Edu, com 50 jogos pela Seleção, e Dario (Dadá Maravilha) foram contratados para a disputa do estadual de 1984, em que o Nacional foi campeão, e Dadá Maravilha foi o artilheiro do campeonato, com 14 gols. A final foi contra o Rio Negro, e o Nacional jogava pelo empate, que foi garantido com um gol de Dadá.
Em 1985, Dadá e Edu disputaram o Campeonato Brasileiro pelo Nacional, atuando em 21 jogos e fazendo bom número de gols. Em entrevista recente à revista Placar, Dadá declarou que a dupla que formou com Edu no Nacional foi a melhor da sua carreira.
De 1980 até 1987 o Nacional conseguiu seis campeonatos amazonenses, o que sempre lhe fez chegar ao Campeonato Brasileiro. Nesse período disputou seis edições do Campeonato Brasileiro de Futebol- Série A, e uma Série B.
O Nacional foi o primeiro clube da Região Norte do Brasil a disputar a primeira divisão do Campeonato Brasileiro, em 1972 ao lado do Clube do Remo do Pará. E é a equipe amazonense que mais disputou o Brasileirão da Série A, num total de 14 edições. Sua ultima participação na competição foi em 1986, sendo o único de quatro clubes da Região Norte a chegar a segunda fase daquele ano. (Pesquisa: Nilo Dias)
Time do Nacional, que derrotou o Maringá, do Paraná, em jogo realizado no Maracanã, em 1969. Em pé: Ferreira Pedras - Téo - Pedro Hamilton - Sula - Valdomiro, Mario Motorzinho e Marialvo. Agachados: Zezé - Pretinho - Rangel - Rolinha e Pepeta. (Foto: http://www.bauvelho.com.br/?p=828)
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
"Fenômeno" jogou no Social Ramos clube
O Social Ramos Clube ainda existe, e é uma entidade de atividades sociais, localizada no bairro de Ramos, no Rio de Janeiro. Foi neste clube que o jogador “Ronaldo Fenômeno” começou sua carreira na escolinha de Futebol de Salão, fato lembrado por ele em algumas entrevistas.
Ronaldo Luiz Nazário de Lima é filho de Sônia e Nélio Nazário. Teve uma infância difícil, mas o sonho de jogar futebol profissional falou mais alto. Iniciou a carreira no futsal, passando pelos times do Valqueire Tênis Clube, Social Ramos Clube e São Cristóvão.
Ele apareceu no Campeonato Carioca de Futsal de 1988, pelo Valqueire, como jogador de linha. O Vasco, que, na época, tinha Felipe e Pedrinho como jogadores, era o líder do campeonato, o melhor time da competição. O Valqueire era um time bom, mas que não se encontrava bem colocado na tabela.
Na partida entre as duas equipes, o Valqueire venceu por 5 X 4, com quatro gols de Ronaldo, que ainda deu o passe para o gol da vitória. Como o Valqueire não iria disputar o Campeonato Carioca de 1989 na categoria 13 anos, Ronaldo foi jogar no Social Ramos Clube, que era mais estruturado e oferecia melhor condição para disputar a competição.
O Social Ramos Clube ficou em terceiro lugar no Campeonato Carioca, e Ronaldo foi o artilheiro com 48 gols. No Brasileiro, foi segundo lugar, e Ronaldo o vice-artilheiro.
A ida de Ronaldo para o São Cristóvão aconteceu depois que o clube “Cadete” resolveu disputar o Campeonato Carioca na categoria Mirim, 13 e 14 anos. E para isso convidou Felipe e Pedrinho, que depois tiveram passagens vitoriosas pelo Vasco, Roger e Athirson, que atuaram no Flamengo e Ronaldo, que permaneceu no clube até a categoria de Juniores.
Nos áureos tempos, o Social Ramos Clube foi palco de shows do rei Roberto Carlos. Lá também eram realizados concursos de beleza, como o da Rainha da Primavera e bailes de debutantes. O local recebeu ainda a visita de astros internacionais. O mais famoso deles foi Rock Hudson. O ator hollywoodiano, estrela de comédias românticas, esteve no local no auge do sucesso, em 1958.
Localizado na Rua Aureliano Lessa, em Ramos, na Zona da Leopoldina,o Social conheceu a decadência nos anos 90, quando a guerra entre traficantes de facções rivais dos morros do Alemão e do Adeus, afastou os sócios e transformou os eventos abertos em fiascos.
Agora, com o fim dos tiroteios na área desde a ocupação do “Complexo do Alemão” por forças de segurança, o Social Ramos Clube, busca de volta os tempos de glória. Fundado em 1945 ele quer reviver as décadas de 50, 60, 70 e 80, quando estava no auge.
O Social Ramos Clube, em um período de sua existência, teve como seu dirigente Orlando da Conceição, mais conhecido por “Orlando Jogador”, um líder do grupo criminoso “Comando Vermelho”, que foi assassinado pelo traficante Ernaldo Pinto de Medeiros, o “Uê”. O apelido de “Jogador”, Orlando ganhou por ter sido na infância e juventude, atleta do Olaria Atlético Clube.
Depois que deixou os gramados costumava patrocinar times amadores, tendo dirigido o Social Ramos Clube, que ia disputar o Campeonato do Departamento Autônomo, mas a agremiação encerrou logo suas atividades futebolísticas, por conta da morte do traficante.
Ele ficou conhecido por ser um dos braços direitos de Rogério Lemgruber, o fundador do Comando Vermelho. “Orlando Jogador” foi responsável por diversas invasões a morros que não pertenciam ao CV, com o objetivo de tomar os pontos de venda de drogas e entorpecentes.
“Orlando Jogador” morreu em 1994, em uma emboscada tramada pelo traficante “Uê”, líder do “Terceiro Comando”, que estava em trégua com o “Comando Vermelho”. Os homens de “Uê” disseram a “Orlando Jogador” que ele tinha sido sequestrado pelo Batalhão Operacional de Polícias Especiais (BOPE) e exigiam um resgate de cerca de 60 mil dólares.
Na época, como Orlando tinha muitas fontes de amigos do crime, rapidamente arrecadou o dinheiro e se encontrou com os homens de “Uê” na “Favela da Grota”, na Rua Joaquim de Queiroz, no “Largo do Bulufa”. “Uê” estava com o dobro de homens de Orlando, todos fortemente armados. Quando ele entregou o dinheiro, foi morto junto com seus comparsas.
O corpo de Orlando e de seu irmão foram deixados em um bairro da zona norte do Rio de Janeiro conhecido como “Maria da Graça”. A partir desse episódio, desencadeou-se uma guerra pela retomada do controle do poder nas favelas reunidas e conhecidas como “Complexo do Alemão”.
A morte de Orlando teria sido respondida por uma ação liderada por Fernandinho Beira-Mar quando, ao lado de “Marcinho VP”, liderou uma rebelião no Presídio de Bangu que acabou com a morte de “Uê” e de seus aliados na cadeia. (Pesquisa: Nilo Dias)
Ronaldo Luiz Nazário de Lima é filho de Sônia e Nélio Nazário. Teve uma infância difícil, mas o sonho de jogar futebol profissional falou mais alto. Iniciou a carreira no futsal, passando pelos times do Valqueire Tênis Clube, Social Ramos Clube e São Cristóvão.
Ele apareceu no Campeonato Carioca de Futsal de 1988, pelo Valqueire, como jogador de linha. O Vasco, que, na época, tinha Felipe e Pedrinho como jogadores, era o líder do campeonato, o melhor time da competição. O Valqueire era um time bom, mas que não se encontrava bem colocado na tabela.
Na partida entre as duas equipes, o Valqueire venceu por 5 X 4, com quatro gols de Ronaldo, que ainda deu o passe para o gol da vitória. Como o Valqueire não iria disputar o Campeonato Carioca de 1989 na categoria 13 anos, Ronaldo foi jogar no Social Ramos Clube, que era mais estruturado e oferecia melhor condição para disputar a competição.
O Social Ramos Clube ficou em terceiro lugar no Campeonato Carioca, e Ronaldo foi o artilheiro com 48 gols. No Brasileiro, foi segundo lugar, e Ronaldo o vice-artilheiro.
A ida de Ronaldo para o São Cristóvão aconteceu depois que o clube “Cadete” resolveu disputar o Campeonato Carioca na categoria Mirim, 13 e 14 anos. E para isso convidou Felipe e Pedrinho, que depois tiveram passagens vitoriosas pelo Vasco, Roger e Athirson, que atuaram no Flamengo e Ronaldo, que permaneceu no clube até a categoria de Juniores.
Nos áureos tempos, o Social Ramos Clube foi palco de shows do rei Roberto Carlos. Lá também eram realizados concursos de beleza, como o da Rainha da Primavera e bailes de debutantes. O local recebeu ainda a visita de astros internacionais. O mais famoso deles foi Rock Hudson. O ator hollywoodiano, estrela de comédias românticas, esteve no local no auge do sucesso, em 1958.
Localizado na Rua Aureliano Lessa, em Ramos, na Zona da Leopoldina,o Social conheceu a decadência nos anos 90, quando a guerra entre traficantes de facções rivais dos morros do Alemão e do Adeus, afastou os sócios e transformou os eventos abertos em fiascos.
Agora, com o fim dos tiroteios na área desde a ocupação do “Complexo do Alemão” por forças de segurança, o Social Ramos Clube, busca de volta os tempos de glória. Fundado em 1945 ele quer reviver as décadas de 50, 60, 70 e 80, quando estava no auge.
O Social Ramos Clube, em um período de sua existência, teve como seu dirigente Orlando da Conceição, mais conhecido por “Orlando Jogador”, um líder do grupo criminoso “Comando Vermelho”, que foi assassinado pelo traficante Ernaldo Pinto de Medeiros, o “Uê”. O apelido de “Jogador”, Orlando ganhou por ter sido na infância e juventude, atleta do Olaria Atlético Clube.
Depois que deixou os gramados costumava patrocinar times amadores, tendo dirigido o Social Ramos Clube, que ia disputar o Campeonato do Departamento Autônomo, mas a agremiação encerrou logo suas atividades futebolísticas, por conta da morte do traficante.
Ele ficou conhecido por ser um dos braços direitos de Rogério Lemgruber, o fundador do Comando Vermelho. “Orlando Jogador” foi responsável por diversas invasões a morros que não pertenciam ao CV, com o objetivo de tomar os pontos de venda de drogas e entorpecentes.
“Orlando Jogador” morreu em 1994, em uma emboscada tramada pelo traficante “Uê”, líder do “Terceiro Comando”, que estava em trégua com o “Comando Vermelho”. Os homens de “Uê” disseram a “Orlando Jogador” que ele tinha sido sequestrado pelo Batalhão Operacional de Polícias Especiais (BOPE) e exigiam um resgate de cerca de 60 mil dólares.
Na época, como Orlando tinha muitas fontes de amigos do crime, rapidamente arrecadou o dinheiro e se encontrou com os homens de “Uê” na “Favela da Grota”, na Rua Joaquim de Queiroz, no “Largo do Bulufa”. “Uê” estava com o dobro de homens de Orlando, todos fortemente armados. Quando ele entregou o dinheiro, foi morto junto com seus comparsas.
O corpo de Orlando e de seu irmão foram deixados em um bairro da zona norte do Rio de Janeiro conhecido como “Maria da Graça”. A partir desse episódio, desencadeou-se uma guerra pela retomada do controle do poder nas favelas reunidas e conhecidas como “Complexo do Alemão”.
A morte de Orlando teria sido respondida por uma ação liderada por Fernandinho Beira-Mar quando, ao lado de “Marcinho VP”, liderou uma rebelião no Presídio de Bangu que acabou com a morte de “Uê” e de seus aliados na cadeia. (Pesquisa: Nilo Dias)
Ronaldo, no time de Futsal do Social Ramos Clube.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
O futebol cearense está de luto
O futebol cearense está de luto, com o falecimento hoje, na avançada idade de 105 anos, de Valdemar Caracas, um dos fundadores do Ferroviário Atlético Clube, tradicional agremiação esportiva de Fortaleza, que em 2013 completará 80 anos de história, e o mais velho fundador, ainda vivo, de um time de futebol no país.
Ele não resistiu a uma insuficiência renal, conseqüência da pneumonia que o levou a ser internado desde meados de dezembro, em um hospital particular de Fortaleza. No início de janeiro, Valdemar Caracas chegou a ser submetido a uma traqueostomia, procedimento cirúrgico que consiste em abrir um orifício na traquéia e inserir uma válvula para auxiliar na respiração do paciente.
Os que o conheceram afirmavam que se tratava de um homem que soube ser filho, pai, avô, bisavô, marido e desportista no melhor estilo. O vice-presidente do Ferroviário, Edmilson Junior lamentou a morte de Valdemar Caracas que, segundo ele, foi um dos maiores nomes da história do futebol cearense. "Era uma referência, um ícone”.
O dirigente afirmou ainda que o clube vai homenagear o seu fundador no velório, enterro e durante a partida desta quarta-feira contra o Tiradentes no estádio Presidente Vargas. Ele garantiu que Caracas não será esquecido pelo clube e pela torcida. O Ferroviário decretou luto oficial de 9 dias em sua homenagem.
O corpo de Valdemar será velado a partir das 17h desta segunda-feira (14) na Funerária Ethernus, na rua Padre Valdevino, 1688 - Aldeota, em Fortaleza. O sepultamento, que também será marcado por uma Missa, ocorrerá na manhã de terça-feira (15), a partir das 10h, no Cemitério Parque da Paz, no bairro Passaré.
Caracas não foi apenas um dos fundadores do Ferroviário e o primeiro cronista esportivo do Estado, era também fundador do Partido Socialista Brasileiro (PSB), no Estado, o mais antigo previdenciário do Ceará, tendo ainda sido sub-prefeito de Parangaba, na gestão do Prefeito Manoel Cordeiro Neto.
Valdemar Cabral Caracas nasceu em Pacoti (CE), no dia 9 de novembro de 1907. A casa aonde veio ao mundo ainda pertence à mesma família. Está localizada na entrada da cidade, no sítio “Pau do Alho”, no primeiro quarteirão. Ali, ele foi batizado pelo monsenhor André Tabosa.
Em 1936, quando era vereador em Fortaleza, Valdemar Caracas enviou um projeto propondo o nome de Monsenhor Tabosa, à rua do cemitério. Sobre a sua primeira moradia, Caracas contou que o proprietário, de nome Silveira, foi atropelado na calçada por um jipe e morreu.
Ainda jovem se mudou com a família para Fortaleza para estudar em escola pública. O pai dele era empregado de um comércio em Fortaleza, que começava a fervilhar. Saiu de Pacoti, na região do Maciço de Baturité, com a família, e alugou uma casa de duas janelas no Centro de Fortaleza. A mãe, viúva, com seis filhos, casou-se de novo e teve mais sete filhos no segundo casamento, do qual Caracas é o primogênito.
Diplomado pela escola de comércio em Fortaleza, Caracas teve a história confundida com a de Fortaleza em vários âmbitos. Foi o primeiro cronista esportivo do Estado do Ceará, trabalhando na Ceará Rádio Clube, pioneira da radiodifusão cearense, além de ter sido correspondente do “Jornal do Brasil” e do “Jornal dos Sports”, do Rio de Janeiro. Foi funcionário público, dirigente esportivo, técnico de futebol e vereador.
Em 1922, Valdemar Caracas ainda não tinha completado 15 anos quando ingressou na Rede de Viação Cearense (RVC), onde chegou ao cargo de chefe do Escritório de Manutenção da empresa. Sua carreira na RVC foi concluída no cargo de secretário, o qual ocupou por três anos, até se aposentar.
Em 1926, se envolveu em um acontecimento insólito, ao fazer “uma paródia” de música com o seu chefe. A brincadeira lhe custou a transferência para Missão Velha, onde muitas vezes tinha de andar armado. Na época, o porte era livre.
A cidade seguidamente convivia com cangaceiros. Por lá aconteceu um episódio que Caracas nunca mais esqueceu, embora não tivesse chegado a ver, mas ouviu os tiros. O cangaceiro Isaías Arruda matou o segundo tenente Fernando Pinto e o sargento José Pereira Nascimento, fato que teve enorme repercussão na época.
Em maio de 1933, ficou sabendo que alguns de seus colegas da Rede de Viação Cearense haviam criado um time de futebol e realizavam jogos em um campo no subúrbio de Fortaleza, mas seguidamente se envolviam em confusões.
Disciplinador, Caracas resolveu dar uma organização mais eficiente ao time, começando assim a história do Ferroviário Atlético Clube e também a sua, dentro do tradicional clube cearense. Ele próprio contou detalhes da fundação do Ferroviário, em crônica escrita em maio de 1994:
“Vou falar sobre o Ferroviário, precisamente do Ferroviário Atlético Clube. Nascido em 1933, fruto da junção das equipes "Matapasto" e "Jurubeba", recebeu, na pia batismal, o nome de Ferroviário Footbal Clube, mas, na confirmação da crisma, fiz substituir o Football por Atlético.
Iniciava-se o ano de 1933, quando a direção da Rede de Viação Cearense (RVC) autorizou a execução de serviços extraordinários nas oficinas do Urubu, para a reparação de locomotivas, carros e vagões, durante um expediente noturno, que começava às 18 e terminava às 20 horas.
Como o expediente normal expirava às 16:25, os operários mais jovens que residiam longe dali (Barro Vermelho, Soure, Otávio Bonfim, Quilômetro 8, Parangaba, Mondubim) resolveram aproveitar a hora de folga para a prática de futebol; na preparação do campo, a relva retirada do espaço a ele destinado, era constituída de mata-pasta e jurubeba.
A verve operária, que era fértil, escolheu, então, estas plantas medicinais para denominação dos dois onzes, que se defrontavam todas as tardes, no campo improvisado. As traves das metas eram roliças, confeccionadas que foram com tubos inservíveis, retirados de caldeiras das "Marias-fumaça".
Com aquele "timezinho" cognominado apenas de Ferroviário, eles, os operários-atletas, ou melhor, “pebolistas”, foram aos subúrbios onde realizaram partidas amistosas, com real proveito para a harmonia do conjunto, tudo sem qualquer interferência da minha parte.
Foi, então, que deliberei fazer dele gente, como se diz na gíria. Reuni operários, meus companheiros, promovi sessão com livro para a lavratura de atas, fiz um retrospecto da agremiação que surgia, completei o nome desta e disse-lhes da importância daquela reunião, como fator auspicioso para projeção da classe ferroviária.
Era pretensão minha que tal ocorresse a 9 de novembro, quando eu completaria 26 anos, mas o entusiasmo exigiu a antecipação e não perdi tempo, marcando o dia para 9 de maio, exatamente 6 meses antes de 9 de novembro. Parti, então para a nova missão, aproveitando as horas disponíveis da minha atividade funcional.
Fui tudo no Ferroviário, menos presidente, porque nunca quis sê-lo. Fui pai, mãe, babá e, sobretudo, seu educador, disciplinando-o, pois a equipe suburbana era useira e vezeira em tomar o apito do árbitro, quando a decisão deste não lhe fosse agradável. Acabei com essa prática danosa ao seu comportamento, o time se fez clube, cresceu e está aí, vencendo os tropeços e dando alegrias a todos nós, seus torcedores”.
Além de fundador, Caracas chegou a se aventurar como jogador, mas não deu certo. Depois foi diretor e técnico do Ferroviário, tendo sido campeão cearense de 1945, no primeiro título estadual conquistado pelo “Ferrim”.
Valdemar também se envolveu com a política e, devido sua influência junto aos trabalhadores da RVC, foi eleito vereador de Fortaleza em 1936, pelo Partido Republicano Conservador (PRC).
No ano seguinte, ocorreu o golpe de Getúlio Vargas que instalou o “Estado Novo” e, no dia 10 de novembro de 1937 teve seu mandato cassado pela então recém-instaurada ditadura varguista. Era até hoje o único vereador vivo daquela legislatura. Posteriormente, em 1947, ajudou a fundar o Partido Socialista Brasileiro (PSB) no Estado do Ceará .
Valdemar Caracas não mais acompanhava os jogos do Ferroviário, como antes, mas nem por isso ficava alheio a complicada situação vivida pelo clube de seu coração nos últimos anos. Enquanto teve forças, participava de perto da vida do Ferroviário, sendo um de seus mais fervorosos torcedores. Depois que se afastou do futebol, recebeu inúmeras homenagens.
Quando completou 100 anos, foi homenageado com um busto de bronze no salão principal dos alojamentos da Vila Olímpica Elzir Cabral, mandado colocar pelo então presidente, Francisco Neto..
A última homenagem prestada publicamente à Caracas foi por ocasião da reabertura do Estádio Presidente Vargas, em setembro do ano passado. Por determinação da prefeita Luizianne Lins, a “Calçada da Fama” leva o nome de Valdemar Cabral Caracas. Na oportunidade foi entregue também, uma placa comemorativa da reabertura do novo estádio.
O Estádio de futebol de Bom Jardim, leva o nome de ”Valdemar Caracas”, graças a um projeto de Decreto Legislativo dos vereadores José do Carmo e Tin Gomes (PHS). Eles justificaram a homenagem pela história de vida de Valdemar Caracas, pelos seus valorosos préstimos à comunidade do município e Estado.
O PSB cearense, quando completou 60 anos, lhe ofereceu uma placa pelo pioneirismo de ter criado no Ceará “um partido de luta pelos ideais socialistas e pelos princípios de liberdade e justiça social”.
Valdemar Caracas sempre dizia que em meados do século passado, os craques faziam a diferença. Ao contrário do que pensa a maioria dos desportistas, ele não via Pelé como o maior jogador do mundo. “Não tenho qualquer dúvida em apontar o Leônidas da Silva como o melhor de todos os tempos. Ele era incomparável”.
Além de Valdemar Caracas, o Ferroviário perdeu na última sexta-feira, 11, em Brasília, o padre Haroldo Coelho, de 77 anos. Ilustre e querido torcedor do “Ferrim”, era presença constante em jogos e eventos relacionados ao clube ”coral”. Padre Haroldo fora à Brasília passar as festas de fim de ano com familiares e há 10 dias estava internado na UTI do Hospital Daher, no Lago Sul.
Nos últimos dois dias ele não vinha respondendo aos antibióticos e apresentava um quadro de infecção generalizada, até sofrer uma parada respiratória. No jogo do último sábado, contra o Icasa, em Juazeiro do Norte, foi respeitado um minuto de silencia em homenagem à ele. (Pesquisa: Nilo Dias)
Valdemar Caracas. (Foto: Jornal "O Povo")
A fantástica máquina de fazer gols (Final)
Em
1955 o Frigorífico A. C. conquistou o título da 2ª Zona do Campeonato
Fluminense, que na época não foi considerado título estadual. O reconhecimento
só ocorreu em 1962, por decisão da FFD.
A
confusão aconteceu por causa da recusa de niteroienses e campistas de disputar
o campeonato fluminense organizado pelo DEP a partir de 1953.
Até
chegar ao título máximo, o Frigorífico jogou 19 partidas, venceu 11 (uma por
Wx0), empatou cinco, e perdeu apenas quatro. Marcou 45 gols e sofreu 27. No
jogo contra o Royal, em Barra do Piraí, Nenzinho foi autor de três gols que
deram a vitória ao Frigorífico por 4 X 3, assegurando a conquista do título.
P
campeonato estadual foi organizado entre os campeões de Niterói, Campos e Vale
do Paraíba, sendo esta última região aquela da qual fazia parte o Frigorífico.
Frigorífico e Barra Mansa classificaram-se para o Campeonato Fluminense,
ficando ambos no Grupo A ao lado do Cruzeiro, de Niterói. Infelizmente o
alvinegro terminou em último lugar neste grupo e não seguiu adiante na
competição.
Faltando
apenas duas rodadas para o término do campeonato, o Superior Tribunal de
Justiça da então CBD, mandou que fossem incluídos na competição os times da A.
A. Volta Redonda e 1º de Maio S.C. , o que provocou uma crise na FFD, apoiada
por todos os filiados, que se recusaram a jogar com aquele clube.
Esse
fato levou a FFD a proclamar o Volta Redonda campeão, sem disputar uma única
partida. Chegou a ser marcado um primeiro jogo entre Volta Redonda X 1º de
Maio, que também não se realizou em face do desinteresse do clube de Santanésia
de participar da polêmica questão. O “Jornal dos Sports”, de 18/12/55,
noticiava:
“O
OUTRO CAMPEÃO – O Frigorífico, primeiro colocado no certame de 1955, já havia
garantido o título de campeão quando surgiu o caso da inclusão da A. A. Volta
Redonda no certame. Tendo se unido aos demais seis clubes que não concordavam
com o ingresso do novo concorrente, o Frigorífico, campeão de direito
sacrificará a conquista gloriosa, mas não arredará do seu ponto de vista.
Mas
isso não aconteceu. Depois de algumas reuniões realizadas em Barra do Piraí e
Volta Redonda, foi sugerido que Frigorífico e Volta Redonda, formassem um
combinado para representar o Sul do Estado nas eliminatórias que apontariam o
representante fluminense na Taça Brasil. Mas no fim o Volta Redonda acabou
participando do torneio que apontaria aquele representante, enquanto o
Frigorífico tinha seu título reconhecido.
No
dia 13 de dezembro aconteceu a festa de entrega das faixas aos campeões, num
jogo amistoso frente a Seleção Carioca de Amadores (Departamento Autônomo), que
se preparava para excursionar à Europa. O jogo contou com a participação de
todos os jogadores que atuaram no campeonato. O resultado final foi um empate
de 4 X 4. Os gols do Frigorífico foram marcados por Ceoca, Nenzinho,
Tarrachinha e Cunha.
Na
oportunidade, foi prestada uma significativa homenagem ao extraordinário craque
Zé Magro, que havia encerrado sua carreira um ano antes, depois de quase 15
anos de participação decisiva na conquista de tantas vitórias e títulos que
engrandeceram o clube.
Nos
Campeonatos Estaduais de 1956, 1957, 1959 e 1991 o Frigorífico teve fracas
participações, o que motivou o seu fechamento. Mas, inegavelmente, nos 74 anos
em que participou de várias competições, deixou um legado de muitas conquistas,
que até hoje são lembradas pelos torcedores de Mendes.
Muitos
craques do futebol brasileiro vestiram a gloriosa camisa do Frigorífico, entre
eles: Jair Rosa Pinto, que jogou pelo Madureira, Flamengo, Vasco da Gama,
Santos e Seleção Brasileira; Ceoca, meia-esquerda talentosíssimo,
assemelhava-se aos grandes “canhotos” que fizeram história no nosso futebol;
Ramos, meia-esquerda, foi o artilheiro da equipe no campeonato de 1943, com 29
gols, estabelecendo um recorde histórico nos campeonatos da Liga Desportiva de
Barra do Piraí. Era do Corpo de Fuzileiros Navais e em 1944 transferiu-se para
o Madureira E.C., do Rio de Janeiro; Cunha, meia-esquerda, autor do gol que deu
ao Frigorífico o título do Torneio Início do Supercampeonato de Profissionais
de 1955. Pertencia ao São Cristóvão F.R., do Rio de Janeiro, na categoria
“não-amador”, e veio para Mendes atraído por uma proposta para trabalhar no
escritório do Frigorífico Anglo; Placedez Benitez Guglielmi, argentino,
recomendado ao C.R .Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, chegou a Mendes no início
de 1940 e acabou ficando para sempre.
Mas
o maior ídolo da história do Frigorífico A.C. foi sem dúvida José Francisco dos
reis Filho, o “Zé Magro”. O apelido veio por causa de sua magreza. Mas sabia
fazer de tudo: passes, dribles desconcertantes, senso de colocação na hora de
receber a bola e gols, com incrível facilidade.
Emérito
goleador, que desmoralizava e humilhava os adversários com seus dribles curtos,
desconcertantes e sucessivos no menor espaço de campo, Zé Magro era o terror
das defesas adversárias e principal responsável pelos gols que redundaram em
tantas vitórias importantes e títulos conquistados.
Foi
o principal artífice de incontáveis e importantes vitórias – algumas pela
impressionante marca de três gols – que tanto engrandeceram o Frigorífico. Sua
fase áurea foi de 1944 a 1950, com um período de experiência no Clube Atlético
Mineiro, frustrada por uma lesão mal curada, que abreviou a sua carreira.
Na
memorável partida contra o Central, em Barra do Piraí, em 1948, pelo campeonato
da LDBP, e que o Frigorífico venceu por 4 X 2, Zé Magro realizou talvez a maior
partida de sua vida. Ao marcar o quarto gol, ele, que havia feito o primeiro e
dado passes para Magela e Lair marcarem os outros dois, dirigiu-se ao local
onde se encontrava a torcida do Frigorífico e exclamou, batendo no peito: “Eles
têm que respeitar esta camisa!”
No
final de 1950, Zé Magro estava afastado do futebol. Resolvera parar, por razões
pessoais. O Cipec chegara ao final do campeonato daquele ano com um ponto de
vantagem sobre o Central e dependia tão somente de suas forças para conquistar
o ambicionado o título. Para isso bastava vencer o seu último jogo, contra o
Frigorífico.
Didi,
capitão do time do Frigorífico não gostava do Cipec, por isso insistiu para que
Zé Magro jogasse aquela partida decisiva. Inicialmente, “Zé Magro” não aceitou
o convite, mas depois de muitos apelos acabou cedendo e disse: “Está bem. Se
depender de mim, eles não serão campeões”.
”Zé
Magro” se preparou para o jogo, dando atenção ao preparo físico, que inclusive
se prolongavam pela noite, com demorados passeios de bicicleta. E no domingo
não deu outra: Frigorífico 2 X 1, com dois gols de “Zé Magro” e o Cipec se
retirando de campo.
Para
quem nunca ouviu falar em “Zé Magro”, este fato diz tudo. O grande Jair Rosa
Pinto, em uma entrevista ao “Museu da Imagem e do Som”, quando indagado sobre
os maiores jogadores que viu atuar no futebol brasileiro disse: “Pelé,
Garrincha e Zé Magro”.
Ante
a surpresa do repórter pelo inusitado da resposta, Jair acrescentou: “Zé Magro
vocês não conheceram, mas foi o maior driblador do futebol brasileiro. Era do
Frigorífico de Mendes”.
Em
07 de setembro de 1994, na presidência de Paulo César Caramez, o Estádio da
Vila Wesley passou a denominar-se “Estádio Zé Magro”, numa justa homenagem
aquele que foi o maior craque que o Frigorífico A.C. e o futebol de Mendes
conheceram em todos os tempos.
Em
toda a sua trajetória pelos gramados fluminenses, o Frigorífico conquistou
vitórias memoráveis, que até hoje são lembradas: 7 X 0 sobre a seleção de
Valença, em 1935; 9 X 2, em Mendes, sobre o Central de Barra do Piraí, em 1941;
5 X 2 sobre o Royal, em Barra do Piraí, pelo campeonato da LABP, em 1940; 8 X 4
sobre o time misto do C.R. Flamengo, em 1957; 5 X1 sobre o Cipec, em 1947, na
decisão do Torneio Municipal.
Vitórias
emocionantes como a de 3 X 2 sobre o Royal, em Barra do Piraí, que valeu o
título de campeão da LDBP de 1952; 4 X 3 sobre o mesmo Royal, em Barra do Piraí
em 15 de novembro de 1955, garantindo a conquista do título de Supercampeão
Estadual de Profissionais. Vitórias dramáticas como a de 1 X 0 sobre o
Metalúrgico, em São Gonçalo, em 1946, após mais de duas horas de jogo.
Vencendo
no tempo regulamentar, o Metalúrgico levou a disputa para decisão numa
prorrogação de 30 minutos, que terminou empatada em 0 X 0. Ou a de 3 X 2 sobre
o poderoso esquadrão do Icaraí, no estádio Caio Martins, num ambiente de
verdadeira batalha. Vitórias épicas como a de 6 x 4 sobre o Central, em Barra
do Piraí, na decisão do título de campeão do Torneio Início de 1946, após
terminar o primeiro tempo do jogo perdendo de 4 X 1.
Mas
a vitória que talvez devesse ser emoldurada como um raro exemplo de garra e
amor à camisa foi a que deu ao Frigorífico o título de campeão invicto da LDBP
em 1945. O time alvi-negro derrotou o adversário por 3 X 0, em Barra do Piraí,
depois de empatar o primeiro jogo realizado em Mendes, por 1 X 1.
O
Frigorífico jogou desfalcado de Bibi e Mascote, que se transferiram para o
futebol carioca. Além desses dois importantes joga dores, o clube havia perdido
também Rubi, transferido para o 1º de Maio, e Robeval, Marino, Armando e Abdo,
que haviam acompanhado Sabino Catete para o recém fundado Cipec E.C.
Entrega
das faixas de campeão de 1955. (Foto: Acervo do Frigorífico A.C.)
A fantástica Máquina de fazer gols (I)
O
Frigorífico Atlético Clube, da cidade de Mendes (RJ), foi fundado no dia 7 de
setembro de 1917 por funcionários da “Brazilian Meat Company”, precursora do
Frigorífico Anglo. A razão social S.A. Frigorífico Anglo só foi adotada em
1941. Mas o futebol em Mendes começou a ser jogado em 1915, dois anos antes do
surgimento do Frigorífico A.C., por iniciativa dos irmãos Alcindo e Nestor
Fonseca, que organizaram os primeiros times na então vila.
Mendes
já foi parte de Piraí , Vassouras e Barra do Piraí mas, graças ao seu grande
crescimento econômico, conseguiu emancipação em 1952 , por força da Lei n.º
1.559, de 11 de julho daquele ano, e foi definitivamente instalado em 11 de
janeiro de 1953 .
O
primeiro campo de futebol foi construído em um terreno ao lado esquerdo da
“Estrada de Santa Rita”, então um local nobre da vila, pela sua proximidade com
o “Hotel Santa Rita”, onde se concentravam as atividades dos veranistas que
lotavam as suas dependências. O primeiro jogo disputado pelo Frigorífico, que
se tem noticia, foi realizado no dia 7 de setembro de 1919 entre duas formações
do próprio clube, que serviu para inaugurar o campo de futebol da Vila Wesley e
apresentar a banda de música recém-organizada.
Segundo
uma tradição oral, na impossibilidade de adquirir as camisas aprovadas pela
assembléia geral, nas cores vermelha e branca, que não existiam no mercado, o
clube acabou optando pelas cores preta e branca, que se tornaram definitivas.
O
Frigorífico não se limitou apenas ao futebol, foi responsável por uma notável
obra de integração social no município. Seu time principal nunca se negou a
participar de festivais beneficentes em favor de igrejas, bandas de músicas,
instituições culturais, esportivas, assistenciais e de jogadores veteranos.
Ainda no setor esportivo, organizava campeonatos internos de vôlei, basquete e
futebol de salão, com a participação de vários bairros e entre empregados do
Frigorífico Anglo, e associações diversas, alguns reunindo cerca de 200
participantes. Seus campeonatos infantis faziam vibrar a garotada de Mendes.
O
Frigorífico Atlético Clube foi um dos pioneiros do futebol no antigo Estado do
Rio de Janeiro. Nos anos 20 e 30 chegou a ser quase um mito, sendo considerado
o melhor time do Estado, em razão de uma série de 27 partidas sem perder. Esse
verdadeiro recorde foi interrompido pelo Fluminense em 1921. O time tricolor
tinha na sua formação a maioria dos jogadores que haviam se sagrado tri-campeão
carioca em 1919.
Esse
jogo histórico foi idealizado por Henry Welfare, da “Brazilian Meat Company”,
que jogava no Fluminense, onde foi um dos grandes goleadores. Welfare, que
depois foi para o Vasco da Gama, também jogou várias vezes pelo Frigorífico. O
Fluminense teve uma recepção calorosa em sua visita a Mendes, tendo sido
oferecido ao elenco carioca um banquete na plataforma de embarques do
matadouro-frigorífico, além de um cartão de prata, entregue momentos antes do
jogo.
O
Fluminense venceu por 2 X 1, acabando com a invencibilidade do Frigorífico, que
durara 27 partidas. O jogo se constituiu num grande acontecimento social e
esportivo. Pena que as fotografias que registraram o evento, e que se
encontravam em quadros nas paredes do Estádio da Vila Wesley, tenham sido destruídas
pela grande enchente de 1945, que causou profundos danos as dependências do
clube.
Naquele
histórico jogo o time do Frigorífico formou com Gastão - João Soares e
Gramofone – Alcindo - Décio Monteiro e Chiquito - Jair Taubaté - Rômulo
Guariento - João Guariento - Manoel Braga e Gasolina. O atacante Manoel Braga
era filho do coronel Júlio Braga. Os irmãos Guariento procediam de um clube de
Bangu, chamado Esperança, e acabaram eternizando esse apelido, que se
transformaria numa legenda dentro do clube, e do qual Humberto Guariento foi um
extraordinário continuador.
O
Frigorífico conquistou o seu primeiro título oficial em 1933, quando venceu o
Central por 1 X 0, na final do Torneio Início da Liga Esportiva Sul Fluminense,
disputado em Barra do Piraí. Também venceu o mesmo Central, por 3 X 2, no jogo
inaugural do Campeonato da LEFS. Em 10 de março de 1940 foi disputado o
“Torneio do Cinquentenário”, vencido pelo Central.
No
dia 18 de abril, o então prefeito Paulo Fernandes, reuniu todos os clubes do
município, para a fundação da Liga Atlética de Barra do Pirai, que depois mudou
a denominação para Liga Desportiva de Barra do Piraí. Os clubes fundadores
foram América, Brasil, Central, Fábrica, Frigorífico, Itacolomy (atual Cipec
E.C.), Royal, Santana, Sublime e 1º de Maio.
Em
1943 o Frigorífico fez uma campanha espetacular, marcando 78 gols e sofrendo
apenas 21, em 18 partidas do campeonato, com a fantástica média de 4,3 gols por
jogo, com 17 vitórias e um empate, sagrando-se campeão barrense. O último jogo
foi contra o Central, em Mendes, e terminou 4 X 0, com gols de Ramos (2),
Tandão e Mascote.
A
equipe campeã formou com: Bananada - Didi e Lourival – Robeval - Pedrão e Bibi
– Mascote – Barbosa - Zé Magro - Ramos e Rubi. O time que disputou esse
campeonato é considerado por muitos o melhor time Frigorífico de todos os
tempos, e até mesmo do próprio futebol fluminense da época.
Na
semifinal do Campeonato Estadual de Clubes Campeões de 1943, organizado pela
Federação Fluminense de Desportos, o Frigorífico empatou em Mendes por 3 X 3
com o Icaraí F.C., de Niterói, atuando quase todo o segundo tempo com apenas 10
jogadores. No jogo de volta, no estádio Caio Martins, o Frigorífico vencia o
Icaraí por 3 X 2 na prorrogação (2 X 2 no tempo normal) quando o jogo foi
interrompido em virtude de um conflito iniciado por dirigentes e torcedores do
time niteroiense, que invadiram o gramado inconformados com o terceiro gol
alvinegro.
Depois,
em decisão que ninguém entendeu,o Tribunal de Justiça Desportiva da FFD deu os
pontos da partida para o Icaraí, que foi considerado campeão. No Campeonato
estadual de 1943 a equipe somente entrou na Segunda Fase, sendo eliminado na
fase seguinte.
O
profissionalismo no futebol do então Estado do Rio de Janeiro começou em 1952,
por determinação da Federação Fluminense de Desporto, o que provocou muita
discussão. Uns entendiam que a medida fortaleceria o futebol fluminense,
enquanto outros achavam que se tratava de manobra centralizadora de poder,
destinada a acabar com as ligas municipais.
Naquele
mesmo ano foi criado o Departamento Estadual de Profissionais, ao qual logo
aderiram os principais clubes de Barra Mansa, Nova Iguaçu, Paracambi, Paraíba do
Sul, Resende, Três Rios e Volta Redonda. De Barra do Piraí, aderiram
inicialmente o Adrianino e o Central. Só em 1953, Frigorífico, Royal e 1º de
Maio ingressaram no profissionalismo, juntamente com o Fluminense, de
Vassouras, e os clubes de Valença.
O
profissionalismo dos times do interior logo se mostrou altamente nefasto aos
clubes, que na maioria faliram. Para completar, os jogos do Campeonato Carioca
eram transmitidos pelas rádios, esvaziando os estádios nas pequenas cidades.
Time
do Frigorífico Mendes Club que inaugurou a arquibancada do estádio da Vila
Vesley, em 1920. Da esquerda para a direita, de pé: Murilo Neves - Augusto dos
Santos - João Soares - Gastão - Nestor Fonseca, Ambrose Evelyn Moore e Thomaz
Santos; ajoelhados: Chiquito - Décio Monteiro e Gramofone. Sentados: Jair
Taubaté - Rômulo Guariento - João Guariento - Manoel Braga e Alcindo Fonseca.
(Foto: Acervo do Frigorífico A.C.)
domingo, 6 de janeiro de 2013
Uma vida marcada pela tragédia
Em 1909, a literatura policial e esportiva falava de um fantástico “fullback” pela esquerda, que se chamava Dinorah de Assis. Foi ele quem deu início a uma série fantástica de jogadores canhotos que vestiram a camisa número 4 do Botafogo. Depois dele veio o argentino Basso, que, segundo consta, inspirou o futebol de Nilton Santos, considerado por muitos o maior lateral esquerdo do mundo.
O interessante é que Nilton Santos jogou na seleção brasileira até os 38 anos de idade, quando se sagrou bicampeão mundial no Chile, jogando sempre na lateral esquerda, posição em que nunca atuou no Botafogo. No alvinegro era quarto-zagueiro.
Depois de Nilton, veio Sebastião Leônidas, que foi cortado da seleção campeã do Mundo em 1970, por contusão, dias antes do embarque para o México. Ele foi o autor de uma das mais belas jogadas já vistas no futebol. Num jogo em 1968, em que a Seleção Brasileira goleou a Argentina por 4 X 1, depois de um olé brasileiro de quase 60 passes, um zagueiro argentino deu um chutão para cima, caindo a bola verticalmente na intermediária brasileira. Leônidas amorteceu a bola fazendo-a deslizar pelo seu corpo inteiro até deixá-la quieta na grama.
Mais tarde, chegou Mauro Galvão, que igualmente vestiu a camisa 4. E ainda Gonçalves, que teve grande destaque no Botafogo. Tudo isso motivou o eterno Nelson Rodrigues a perguntar: “Será que é o Dinorah quem sempre veste a camisa quatro do Botafogo?”
Dinorah jogou no tempo do amadorismo, quando a bola era chutada com o pé e com o coração. Era zagueiro, mas tinha habilidade suficiente para também atuar no ataque tão bem quanto na defesa.
Sua vida foi marcada pela tragédia. Dinorah era irmão do aspirante Dilermando de Assis, de 17 anos, que envolveu-se amorosamente com Ana Sólon, de 30 anos, mulher do autor de “Os Sertões”, Euclides da Cunha. Quando soube do fato, o escritor foi até a casa do amante da esposa, em Piedade, subúrbio do Rio, disposto a matar o homem que o fez ser trocado. Levou a pior e ainda alvejou um inocente.
Tudo aconteceu no domingo, 15 de agosto de 1909, na casa de número 214 da Estrada Real de Santa Cruz, na Piedade, Rio de Janeiro. Um homem agitado e nervoso bateu palmas no portão e foi recebido pelo jovem Dinorah de Assis, a quem manifestou o desejo de falar com o dono da casa, Dilermando de Assis, aspirante do Exército.
Vai logo entrando na sala de visitas, quando saca de um revólver e diz: “vim para matar ou morrer!”. Entra no interior da casa e atira duas vezes em Dilermando que, atingido, cai. Dinorah, vendo o irmão ferido, tentou arrebatar a arma de Euclides. Ouviram-se mais dois disparos. Outro tiro e Dinorah foi atingido na coluna vertebral, junto à nuca.
Dilermando, mesmo ferido, conseguiu apanhar o revólver, atirou duas vezes sem atingir Euclides. Este aperta o gatilho de novo e recebeu um tiro de Dilermando que lhe feriu o pulso. Duelo de vida e morte. Tiros de ambos os lados e um projétil atingiu o pulmão direito de Euclides, que caiu morto ao solo. Assim aconteceu o que se denominou "A Tragédia da Piedade".
Apesar de tudo, Dinorah conseguiu recuperar-se rapidamente do ferimento e já estava pronto para jogar contra o Fluminense sete dias depois do ocorrido, fato que o levou a entrar definitivamente para a história do popular clube carioca. Quando entrou em campo para aquele jogo, alguns torcedores o vaiaram, mesmo nada tendo a ver com a morte do escritor Euclides da Cunha.
E não foi só. Jogou todo o campeonato de 1910, ano em que o Botafogo conquistou o primeiro título com o nome de Botafogo de Futebol e Regatas, sucessor do Botafogo Football Club, mesmo com uma das balas alojada na coluna vertebral, junto aos pulmões. Em 1910, Dinorah fez dois gols e foi fundamental, mas no ano seguinte não conseguiu apresentar o mesmo rendimento. Foi da linha para o gol e aposentou-se em 25 de junho, no terceiro ano de carreira, com os movimentos comprometidos.
Dinorah participou da maior goleada registrada no futebol brasileiro, quando o Botafogo goleou o S.C. Mangueira por 24 X 0, no dia 30 de maio de 1909. O Mangueira era um modesto time da zona norte do Rio que desapareceu em 1924, e nada teve a ver com a escola de samba. Nesse jogo Dinorah marcou um gol.
O Botafogo jogou com Coggin - Pullen I e Dinorah – Rolando - Lulú e Pullen II – Henrique - Flávio Ramos – Monk - Gilbert e Emanuel Sodré Viveiros de Castro. Os gols de Gilbert (9), Flávio (7), Monk (2), Lulu (2), Raul (1), Dinorah (1) e Henrique e Emanuel (1 cada).
A quarta bala disparada por Euclides da Cunha, que atingiu Dinorah junto à nuca, foi minando aos poucos a sua saúde e, quatro anos depois do episódio, em 1913, o deixou hemiplégico para o resto da vida. Dinorah não só foi obrigado interromper a sua carreira na Marinha, como também - o que mais lamentava -, não pode mais jogar futebol pelo Botafogo, sua maior paixão.
Depois de sete anos de abandono, doenças e bebedeiras, Dinorah de Assis, com apenas 31 anos de idade, deu cabo à vida em 1921, afogando-se no cais do porto da cidade Porto Alegre (RS), para onde havia se mudado, depois que o irmão Dilermando foi servir em Bagé. Morria deste modo a vítima esquecida e inocente do episódio conhecido como ‘A Tragédia da Piedade’, por ter o último ato acontecido naquele bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro.
Quanto a Dilermando de Assis, foi absolvido a 5 de Maio de 1911, casando-se com Anna sete dias depois, a 12 de Maio. O casal teve quatro filhos, mas o relacionamento durou apenas 14 anos. Dilermando viveu em muitas cidades ao serviço do Exército e foi promovido até ao posto de General.
Entretanto, Solon, filho mais velho de Anna e Euclides, delegado no Acre, foi assassinado numa tocaia, na floresta em 1914. Dois anos após este acontecimento, Quidinho (Euclides da Cunha Filho), aspirante da Marinha, encontrou-se a 4 de Julho de 1916 no Cartório do 2º Ofício da 1ª Vara de Órfãos, no Rio de Janeiro, com o responsável pela morte de seu pai.
Puxou a arma e feriu Dilermando de Assis. Logo após este novo atentado, Dilermando reagiu ali mesmo e matou o filho da amante com três tiros. Novo escândalo, nova absolvição, mas Dilermando ficou para sempre com um rasto de sangue atrás de si.
Dilermando abandonou Anna em 1926, com cinco filhos. Ela estava com 50 anos, ele com 36. Anna e Dilermando morreram no Rio de Janeiro, em 1951: ela no mês de Maio, com um cancro, aos 74 anos, e ele de ataque cardíaco, em Novembro, aos 63 anos de idade.
Este triste episódio deu origem à mini-série ‘Desejo’, encenada pela Rede Globo, em 1990, tendo Tarcísio Meira interpretado Euclides da Cunha, Guilherme Fontes interpretado Dilermando e Vera Fischer interpretado Anna Emília Solon da Cunha. (Pesquisa: Nilo Dias)
O interessante é que Nilton Santos jogou na seleção brasileira até os 38 anos de idade, quando se sagrou bicampeão mundial no Chile, jogando sempre na lateral esquerda, posição em que nunca atuou no Botafogo. No alvinegro era quarto-zagueiro.
Depois de Nilton, veio Sebastião Leônidas, que foi cortado da seleção campeã do Mundo em 1970, por contusão, dias antes do embarque para o México. Ele foi o autor de uma das mais belas jogadas já vistas no futebol. Num jogo em 1968, em que a Seleção Brasileira goleou a Argentina por 4 X 1, depois de um olé brasileiro de quase 60 passes, um zagueiro argentino deu um chutão para cima, caindo a bola verticalmente na intermediária brasileira. Leônidas amorteceu a bola fazendo-a deslizar pelo seu corpo inteiro até deixá-la quieta na grama.
Mais tarde, chegou Mauro Galvão, que igualmente vestiu a camisa 4. E ainda Gonçalves, que teve grande destaque no Botafogo. Tudo isso motivou o eterno Nelson Rodrigues a perguntar: “Será que é o Dinorah quem sempre veste a camisa quatro do Botafogo?”
Dinorah jogou no tempo do amadorismo, quando a bola era chutada com o pé e com o coração. Era zagueiro, mas tinha habilidade suficiente para também atuar no ataque tão bem quanto na defesa.
Sua vida foi marcada pela tragédia. Dinorah era irmão do aspirante Dilermando de Assis, de 17 anos, que envolveu-se amorosamente com Ana Sólon, de 30 anos, mulher do autor de “Os Sertões”, Euclides da Cunha. Quando soube do fato, o escritor foi até a casa do amante da esposa, em Piedade, subúrbio do Rio, disposto a matar o homem que o fez ser trocado. Levou a pior e ainda alvejou um inocente.
Tudo aconteceu no domingo, 15 de agosto de 1909, na casa de número 214 da Estrada Real de Santa Cruz, na Piedade, Rio de Janeiro. Um homem agitado e nervoso bateu palmas no portão e foi recebido pelo jovem Dinorah de Assis, a quem manifestou o desejo de falar com o dono da casa, Dilermando de Assis, aspirante do Exército.
Vai logo entrando na sala de visitas, quando saca de um revólver e diz: “vim para matar ou morrer!”. Entra no interior da casa e atira duas vezes em Dilermando que, atingido, cai. Dinorah, vendo o irmão ferido, tentou arrebatar a arma de Euclides. Ouviram-se mais dois disparos. Outro tiro e Dinorah foi atingido na coluna vertebral, junto à nuca.
Dilermando, mesmo ferido, conseguiu apanhar o revólver, atirou duas vezes sem atingir Euclides. Este aperta o gatilho de novo e recebeu um tiro de Dilermando que lhe feriu o pulso. Duelo de vida e morte. Tiros de ambos os lados e um projétil atingiu o pulmão direito de Euclides, que caiu morto ao solo. Assim aconteceu o que se denominou "A Tragédia da Piedade".
Apesar de tudo, Dinorah conseguiu recuperar-se rapidamente do ferimento e já estava pronto para jogar contra o Fluminense sete dias depois do ocorrido, fato que o levou a entrar definitivamente para a história do popular clube carioca. Quando entrou em campo para aquele jogo, alguns torcedores o vaiaram, mesmo nada tendo a ver com a morte do escritor Euclides da Cunha.
E não foi só. Jogou todo o campeonato de 1910, ano em que o Botafogo conquistou o primeiro título com o nome de Botafogo de Futebol e Regatas, sucessor do Botafogo Football Club, mesmo com uma das balas alojada na coluna vertebral, junto aos pulmões. Em 1910, Dinorah fez dois gols e foi fundamental, mas no ano seguinte não conseguiu apresentar o mesmo rendimento. Foi da linha para o gol e aposentou-se em 25 de junho, no terceiro ano de carreira, com os movimentos comprometidos.
Dinorah participou da maior goleada registrada no futebol brasileiro, quando o Botafogo goleou o S.C. Mangueira por 24 X 0, no dia 30 de maio de 1909. O Mangueira era um modesto time da zona norte do Rio que desapareceu em 1924, e nada teve a ver com a escola de samba. Nesse jogo Dinorah marcou um gol.
O Botafogo jogou com Coggin - Pullen I e Dinorah – Rolando - Lulú e Pullen II – Henrique - Flávio Ramos – Monk - Gilbert e Emanuel Sodré Viveiros de Castro. Os gols de Gilbert (9), Flávio (7), Monk (2), Lulu (2), Raul (1), Dinorah (1) e Henrique e Emanuel (1 cada).
A quarta bala disparada por Euclides da Cunha, que atingiu Dinorah junto à nuca, foi minando aos poucos a sua saúde e, quatro anos depois do episódio, em 1913, o deixou hemiplégico para o resto da vida. Dinorah não só foi obrigado interromper a sua carreira na Marinha, como também - o que mais lamentava -, não pode mais jogar futebol pelo Botafogo, sua maior paixão.
Depois de sete anos de abandono, doenças e bebedeiras, Dinorah de Assis, com apenas 31 anos de idade, deu cabo à vida em 1921, afogando-se no cais do porto da cidade Porto Alegre (RS), para onde havia se mudado, depois que o irmão Dilermando foi servir em Bagé. Morria deste modo a vítima esquecida e inocente do episódio conhecido como ‘A Tragédia da Piedade’, por ter o último ato acontecido naquele bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro.
Quanto a Dilermando de Assis, foi absolvido a 5 de Maio de 1911, casando-se com Anna sete dias depois, a 12 de Maio. O casal teve quatro filhos, mas o relacionamento durou apenas 14 anos. Dilermando viveu em muitas cidades ao serviço do Exército e foi promovido até ao posto de General.
Entretanto, Solon, filho mais velho de Anna e Euclides, delegado no Acre, foi assassinado numa tocaia, na floresta em 1914. Dois anos após este acontecimento, Quidinho (Euclides da Cunha Filho), aspirante da Marinha, encontrou-se a 4 de Julho de 1916 no Cartório do 2º Ofício da 1ª Vara de Órfãos, no Rio de Janeiro, com o responsável pela morte de seu pai.
Puxou a arma e feriu Dilermando de Assis. Logo após este novo atentado, Dilermando reagiu ali mesmo e matou o filho da amante com três tiros. Novo escândalo, nova absolvição, mas Dilermando ficou para sempre com um rasto de sangue atrás de si.
Dilermando abandonou Anna em 1926, com cinco filhos. Ela estava com 50 anos, ele com 36. Anna e Dilermando morreram no Rio de Janeiro, em 1951: ela no mês de Maio, com um cancro, aos 74 anos, e ele de ataque cardíaco, em Novembro, aos 63 anos de idade.
Este triste episódio deu origem à mini-série ‘Desejo’, encenada pela Rede Globo, em 1990, tendo Tarcísio Meira interpretado Euclides da Cunha, Guilherme Fontes interpretado Dilermando e Vera Fischer interpretado Anna Emília Solon da Cunha. (Pesquisa: Nilo Dias)
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
A morte de um grande goleiro
Filho de pais poloneses começou a carreira no Racing, pequeno clube de Montevidéu, mas foi no Penãrol que se consagrou como um dos melhores goleiros do mundo. Com a camisa amarela e preta foi campeão da Copa Libertadores da América e da Copa Intercontinental em 1966, quando bateu o temido Real Madrid, da Espanha.
Quando da chegada de Mazurkiewicz ao Penãrol o goleiro titular era Luis Maidana. A sua estréia no time de cima aconteceu numa partida contra o Santos, de Pelé, válida pelas semifinais da Copa Libertadores da América, em 1965. O time brasileiro era franco favorito, mas acabou surpreendido pelos uruguaios que venceram por 2 x 1 e Mazurkiewicz foi o melhor jogador em campo.
O goleiro, que se tornou uma lenda viva no futebol disputou três Copas do Mundo pela Seleção Uruguaia: em 1966, na Inglaterra, quando não deixou os anfitriões ganharem com uma série de defesas espetaculares no jogo de abertura, que terminou 0 X 0; 1970, no México, quando conquistou o título de melhor goleiro do Mundial; e 1974. No total foram 13 jogos disputados, além de integrar por duas vezes a Seleção do Resto do Mundo.
No Mundial do México, ficou marcado pelo drible de corpo que Pelé lhe deu na entrada de sua área, em uma das semifinais do torneio. Ainda naquele jogo, o camisa 10 da Seleção quase fez um gol ao aproveitar tiro de meta mal cobrado pelo arqueiro uruguaio.
No auge de sua carreira o goleiro jogou pelo Atlético Mineiro, entre 1972 e 1974, sendo vaiado, no aeroporto de Montevidéu, por uma multidão de torcedores uruguaios que o acusavam de "traidor". Ele havia defendido o popular clube amarelo e preto entre 1965 a 1971. No clube mineiro jogou ao lado de grandes valores como Dario, Lola, Vantuir e outros. O arqueiro defendeu o “Galo” em 89 oportunidades, sofrendo 67 gols.
Após a Copa do Mundo de 1974, foi a vez de anunciar o final de seu vínculo com o clube mineiro e seguir para o Granada, da Espanha, onde ficou de 1974 a 1978. Ele também atuou pelo Cobreloa, do Chile, em 1979, e pelo América de Cáli, da Colômbia, em 1980, antes de retornar ao Peñarol, onde encerrou a carreira, em 1981. Deixou muita saudade, pois se tratava de um goleiro de prodigiosos reflexos, muita segurança e extraordinário oportunismo, somados à uma incrível frieza.
Após deixar os gramados trabalhou até poucas semanas atrás, como treinador de goleiros do Penãrol, onde conquistou o título do Torneio Clausura do Campeonato Nacional de 2010.
Títulos conquistados. Pelo Penãrol: Copa Libertadores da América (1966); Copa Intercontinental (1966); Campeonato Uruguaio (1967 e 1968); Recopa dos Campeões Intercontinentais (1969). Pelo Atlético Mineiro: Campeonato Brasileiro (1971). (Pesquisa: Nilo Dias)
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