Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O centenário “Leão do Norte” (I)

Não foi só o centenário do E.C. 15 de Novembro, de Campo Bom (RS), que passou despercebido por mim. A falha também aconteceu em relação aos 100 anos de fundação do Comercial Futebol Clube, da cidade de Ribeirão Preto, um dos mais importantes e tradicionais clubes do futebol do interior de São Paulo.

O clube nasceu graças a um grupo de comerciantes que almejava ter o seu próprio time de futebol. Eles se reuniram na noite de 10 de outubro de 1911 na “Casa Valeriano”, de Adaucto de Almeida, uma loja de armarinhos localizada na Rua General Osorio, número 47, onde hoje se encontra a Fonte Luminosa, com a finalidade de formar um novo time de futebol em Ribeirão Preto. Essa reunião foi até a madrugada, mas ficou acertado que a data de fundação seria mesmo o dia 10, quando a reunião teve início.

Os comerciantes considerados fundadores do Commercial F.B.C., e que participaram da histórica reunião foram Antônio Maniero, Guilherme Nunes, Francisco Arantes, Adaucto de Almeida, Timóteo Grota, Alvino Grota, Argemiro de Oliveira, Djalma Machado e Antídio de Almeida.

Durante a reunião, foram eleitos os comandantes da nova equipe, e os mesmos tomaram posse de seus cargos imediatamente. Foram eleitos: Antidio de Almeida como Presidente, Alvino de Souza Grota como Vice, Adaucto de Almeida como Tesoureiro, Djalma Machado como Secretario, Sebastião Viana como Procurador, Sebastião Ruvald como primeiro Capitão e Florentino de Almeida como segundo Capitão.

Após a posse, foi posto em votação o nome do clube, e por dez votos venceu a sugestão dada por Argemiro de Oliveira, de Commercial Football Club. As quatro primeiras propostas votadas pela recém criada diretoria comercialina foram:

I – A mensalidade e as jóias seriam de mil reis cada; II – Os considerados sócios fundadores teriam isenção das jóias e mensalidades; III – A aceitação ou expulsão de sócios seriam de responsabilidade da diretoria e IV – Isenção ou abono de mensalidade de sócios desempregados ou enfermos (impossibilitados de trabalhar) durante tal período. Todas essas propostas foram aprovadas.

O primeiro Estatuto do Commercial foi redigido ainda na reunião que deu origem ao clube. Foram responsáveis pela criação do mesmo: Alvino de Souza Grota, Argemiro de Oliveira e Djalma Machado.

Após a fundação, o primeiro problema enfrentado foi achar um bom local para treinos e jogos. O primeiro campo de treinamentos do Commercial foi onde hoje se localiza a Praça Luiz de Camões.

Em seguida o clube ganhou um outro local para os treinos, um terreno doado pela Fundação Antonio e Helena Zerrener. Depois, em 1917, teve seu espaço aumentado, quando adquiriu, por 9 contos de Reis, uma das propriedades de Emilio Moço.

O primeiro jogo da história comercialina foi um amistoso disputado no dia 15 de novembro de 1911, contra a Associação Athletico Gymnasial, tradicional equipe de Ribeirão Preto do começo daquele seculo, que venceu o confronto por 3 X 1.

O jogo foi disputado no antigo campo do Athletico Ribeirão Preto, outra tradicional equipe da cidade na época, e onde hoje localiza-se a Praça Sete de Setembro. O jornal "A Cidade", o mais antigo jornal de Ribeirão Preto ainda em atividade, fez a cobertura do amistoso.

Curiosamente, na manchete do Jornal, o Commercial foi anunciado como Sport Cub Commercial. A correção só aconteceu com o passar dos anos. Loyolla foi o autor do primeiro gol da história do Commercial.

O juiz foi Jefferson Nogueira. Os gols foram marcados por Arlindo, Luiz e J. Franco, para o Athletico Gymnasial. Loyolla descontou para o Commercial F.C.

Athletico Gymnasial: Hugo - Jonas - Luiz - Guttemberg - J. Franco - Cervantes - Gama - Luiz - Arlindo - Ortiz e José.
Commercial FC: A. Oliveira - Moreira - Fritsch - F. Almeida - Jose Grota - A. Almeida - S. Reinaldo - Djalma Machado - J. Lima - V. Mello e Loyolla.

Daí para a frente o clube começou a crescer e a jogar campeonatos amadores e partidas amistosas. Não demorou para chamar a atenção dos coronéis do café, que resolveram adotar o time.

Nos anos que seguiram, grandes vitórias animavam a crescente torcida do Commercial. Em 1915, o Commercial enfrentou uma equipe da Capital pela primeira vez em Ribeirão Preto, o S.C. Germania. Apesar de toda a tradição do time paulistano, o Commercial não se intimidou e venceu por 4 X 1.

Daí seguiram jogos emblemáticos, que sempre mobilizavam a torcida, até que em 1916 alguns jogos começaram a ganhar maior destaque, até nas manchetes dos jornais: Commercial F.C. 1 x 1 Amparo F.C. (28 de maio – amistoso que parou a cidade); Commercial F.C. 3 x 0 E.C. Bandeirante, de Jaú (8 de setembro – Taça Bandeirante); Commercial F.C. 5 x 0 Black Team, de Campinas (23 de setembro – amistoso); e Commercial F.C. 4 x 0 Palestra Itália E.C., de Ribeirão Preto (sem data – amistoso).

O jogador considerado pelos historiadores como o primeiro grande craque do Commercial foi o meia-atacante "Zé Macaco", que atuou pela equipe de 1916 até meados da década de 20, antes de se transferir para o Botafogo (RJ).

Em 1917, veio a primeira conquista expressiva com a vitória na "Taça Castellões". “O Commercial foi considerado um Campeão do Interior. A competiação foi organizada por uma Liga de futebol independente, criada no interior paulista, a Liga de Foot-Ball do Oeste do Estado, pois ainda não existia a Federação Paulista.

A "Taça Castellões" reuniu varios clubes do interior paulista. O troféu foi oferecido pela Companhia de Grande Manufactura de Fumos e Cigarros Castellões (daí a origem do nome do Torneio), era de prata maciça com detalhes em ouro.

Disputaram o torneio: Commercial F.C. e Palestra Itália E.C. (Ribeirão Preto); C.A. Pirassununguense (Pirassununga); A.A. São João (São João da Boa Vista); União Atletica Casabranquense (Casa Branca), E.C. Taubaté (Taubaté), e representantes das cidades de Batatais, Taquaritinga, São Simão, São Carlos, Tambaú, Piracicaba e Franca.

O Commercial foi campeão, com a seguinte campanha: Commercial 20 x 0 Taquaritinga (8 de março – maior goleada da história do clube), Commercial F.C. 3 x 1 São Carlos (22 de abril), Commercial F.C. 6 x 0 São Simão (13 de maio), Commercial F.C. 2 x 0 Palestra Itália E.C. (20 de maio), Commercial F.C. 7 x 0 Franca (8 de julho) e Commercial F.C. 4 X 1 Palestra Itália E.C. 12 de outubro).

Em 25 de março de 1917, o Commercial conquistou a "Taça Besquizza" ao vencer o C.A. Paulistano, campeão paulista de 1916 por 4 X 1, em Ribeirão Preto. Entre os anos de 1917 e 1918, eram comuns as disputas de jogos amistosos valendo algum premio ou troféu.

Destaques ficaram para as conquistas dos troféus: "Taça Café Pinho" (vencendo o Velo Clube, de Rio Claro por 4 X 1), "Taça Hotel Modelo" (vencendo o White, de Campinas) e a "Taça Clark" (ao vencer o S.C. Corinthians Paulista), todas em 1918.

Ainda em 1918, o Commercial inscreveu uma equipe extra (uma espécie de expressinho) na Liga Municipal de Clubes de Ribeirão Preto, e conquistou a "Taça Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto".

A primeira grande contratação de um atleta, que não residia em Ribeirão Preto, feita pela diretoria do Commercial, concretizou-se no dia 14 de julho de 1917, quando o clube recebeu o ponta-direita e atacante Belmácio Pousa Godinho, que vinha do XV de Piracicaba (clube ao qual a família de Belmácio participou da fundação em 1913).

Belmácio não era um craque, mas jogava muito bem. Além do mais, as contribuições que Belmácio traria ao alvinegro, não seriam só proveitosas dentro dos gramados, pois ele passaria a lutar pelo Commercial mesmo após abandonar o futebol.

Com dinheiro sobrando, não demorou para que o Commercial alcançasse uma ascensão meteórica. Em 1919, foi o primeiro time de futebol de Ribeirão Preto a disputar um campeonato importante. O torneio disputado pelo alvinegro foi o Campeonato Paulista - Divisão do Interior da APEA (Associação Paulista de Esportes Athléticos).

No torneio, o Commercial demonstrou muita força, mas na final acabou sendo derrotado pelo E.C. Taubaté, ficando com o vice-campeonato.

Em 22 de março de 1920, já completamente consolidado como clube, o Commercial foi convidado pelo Sport Club do Recife a excursionar ao Norte e Nordeste do Brasil, para realizar uma série de jogos amistosos. Outras equipes paulistas foram convidadas, mas apenas o Commercial aceitou o convite.

A delegação comercialina embarcou na estação da Mogiana em Ribeirão Preto na manhã de 29 de abril, passando por Campinas (SP), até chegar ao Rio de Janeiro, onde embarcou no navio "Itapuy", que seguiu viagem até a Bahia, e depois a Pernambuco, onde chegou as 6 horas da manhã do dia 7 de maio de 1920. Ao todo o Commercial disputou oito partidas, vencendo sete e empatando apenas uma. Foram estes os resultados dos jogos:

09/05/1920 - Combinado América/Santa Cruz F.C. 0 X 1 Commercial F.C.
13/05/1920 - Sport Club do Recife 2 X 3 Commercial F.C
16/05/1920 - Liga Pernambucana de Desportos Terrestres 2 X 2 Commercial F.C.
20/05/1920 - Santa Cruz F.C. 0 X 1 Commercial F.C.
23/05/1920 - América 1 X 2 Commercial F.C.
26/05/1920 - Clube Náutico Capibaribe 0 X 2 Commercial F.C.
28/05/1920 - Liga Pernambucana de Desportos Terrestres 1 X 5 Commercial F.C.
01/06/1920 - Liga Baiana 1 X 2 Commercial F.C.

A vitória mais festejada foi sobre o Santa Cruz, que contou com a ajuda do arbitro que foi a campo com um revolver para favorecer na marra, o time local. Mas de nada adiantou a intimidação, o Commercial marcou um gol de fora da área, logo ao início do jogo. E o escore se manteve até o último minuto, quando o juiz marcou um pênalti inexistente contra o Commercial, que o goleiro defendeu. No retorno a São Paulo a torcida fez uma grande festa, ocasião em que surgiu o apelido de “Leão do Norte”, que acompanha o clube até hoje.

Em 10 de outubro de 1920, o Rei Alberto da Bélgica, esteve no Estádio da Rua Tibiriçá para assistir um jogo do Palestra Itália, de São Paulo (atual Palmeiras) contra o Palestra Itália, de Ribeirão Preto. O time da capital venceu por 4 X 1.

Em 1921, durante um torneio amistoso chamado "Taça Círculo Italiano", o Commercial, que entrou como convidado, derrotou a já poderosa equipe do Palestra Itália, de São Paulo, atual Palmeiras, por 5 X 2.

O primeiro jogo internacional do Commercial terminou empatado em 1 X 1, e foi contra a Seleção Argentina. O jogo aconteceu em 1922, num amistoso realizado no então Estádio da Rua Tibiriçá, em Ribeirão Preto. A Argentina estava no país para disputa do Campeonato Sul-Americano e Copa Rocca, ambos vencidos pelo Brasil.

Em 1923, o Commercial jogou pela primeira vez contra equipes cariocas. Enfrentou em 24 de junho o C.R. do Flamengo, e perdeu por 5 X 1. No mesmo ano, em 26 de dezembro, empatou em 0 X 0 com a Seleção da Bahia, que estava em São Paulo disputando o extinto Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais.

Em 1927 e 1928, se tornou a primeira equipe da região de Ribeirão Preto a disputar o Campeonato Paulista da 1ª Divisão. O primeiro jogo do Commercial na elite do futebol paulista aconteceu no dia 3 de maio de 1927, e seu adversário foi o poderoso Palestra Itália, atual Palmeiras, que terminou campeão daquele ano.

A primeira vitória na primeira divisão aconteceu no dia 15 de maio de 1927, 3 X 0 sobre o Ypiranga. O Commercial só voltou a vencer em 21 de agosto de 1927, por 2 X 1 sobre a A.A. São Paulo de Alpargatas, tradicional time da capital paulista. A terceira vitoria do "Leão", foi no dia 4 de setembro de 1927, com o placar de 2 X 1 sobre o Corinthians, de São Bernardo do Campo.

Em 1928 enfrentou o time do Peñarol Universitário (atual Peñarol) e venceu por 2 X 0, com gols de Vespu e Chapa. O jogo foi em Ribeirão Preto, no Estádio da Rua Tibiriçá, e aconteceu no dia 1 de julho de 1928.

Mesmo com a má campanha na Divisão Principal de 1927, onde só somou 6 pontos, em 1928 o Commercial disputou novamente o Torneio Início e a 1ª Divisão. No Torneio Início empatou por 2 X 2 com o Guarani Futebol Clube, mas no critério de desempate, que era na época, escanteios, o Commercial acabou eliminado, derrotado com 2 escanteios a 0 para o Bugre de Campinas. Este jogo fez com o que o Commercial abandonasse a APEA e se transferisse para a LAF. (Pesquisa: Nilo Dias)

Plantel da década de 20 antes de jogo na Rua Tibiriçá. (Foto: Aquivo Histórico Municipal)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O centenário "15" de Campo Bom (Final)

Mas o primeiro grande momento do clube como profissional, ocorreu em 2002. A diretoria investiu pesado e formou um excelente time, o que possibilitou chegar as finais do “Gauchão” e disputar o título contra o S.C. Internacional. Foi vice-campeão, fato que serviu para mobilizar ainda mais a direção e a torcida. Em 2003 a repetição do ano anterior. Depois de uma campanha superior à de 2002, o "15" chegou mais uma vez ao vice-campeonato gaúcho, também diante do S. C. Internacional.

E em 2004, graças ao vice-campeonato estadual, o time participou pela vez primeira da Copa do Brasil, competição que garante uma vaga na Taça Libertadores da América, o maior torneio futebolístico da América e sonho de qualquer clube. O técnico da equipe era o hoje comandante da seleção Brasileira, Mano Menezes. E o “15” fez história na competição nacional.

Ficou em terceiro lugar, atrás somente do Santo André e Flamengo, e ainda teve em Dauri um dos artilheiros da competição. O grande feito do onze interiorano gaúcho, foi sem dúvida a goleada no Vasco da Gama, em pleno Estádio São Januário, pelo escore de 3 X 0, eliminando o onze carioca da competição.

Em 2005 o “15” superou a campanha de 2004, no “Gaúchão”, se constituindo na melhor equipe do campeonato. Chegou novamente a decidir o título contra o Internacional, perdendo de 2 X 0 no Beira Rio e ganhando pelo mesmo escore, em Campo Bom. Na prorrogação o Internacional venceu por 2 X 1 e se sagrou campão. Em 2006, mais uma participação na Copa do Brasil e a conquista da Copa Emidio Perondi, em dois jogos finais contra a UIbra, a quem derrotou por 3 X 1, em Canoas, e 3 X 0, no Sady Schmidt.

Na Copa do Brasil, o "15" eliminou o Noroeste, de Bauru (SP), vencendo em casa por 4 X 1 e perdendo fora por 2 X 0. Na segunda fase, o "15" eliminou o Grêmio, a quem venceu em Campo Bom por 1 X 0. Perdeu pelo mesmo escore em Porto Alegre, e eliminou o clube da capital nas penalidades máximas por 6 X 5. Na sequência, foi eliminado pelo Volta Redonda, que venceu o primeiro jogo, no Rio de Janeiro, por 1 X 0. Em Campo Bom, vitória do "15" por 2 X 1. O gol qualificado beneficiou o Volta Redonda.

2007 e 2008 foram dois anos difíceis para o "15". Uma forte crise econômica no setor coureiro-calçadista teve reflexos por demais negativos no município de Campo Bom, com algumas importantes empresas encerrando suas atividades. O clube sofreu muito com isso, não conseguindo manter-se na elite do futebol gaúcho e teve que pedir licença à Federação Gaúcha de Futebol.

Hoje, quem chegar ao Estádio Sady Arnildo Schmidt, verá em plena execução um projeto que visa a formação de jogadores, com uma Escola orientando garotos de várias faixas etárias. Este projeto foi minuciosamente elaborado pelo vice de futebol Armin Rudy Blos e reflete a necessidade do clube em apostar nas categorias de base, programa que nunca deveria ter sido esquecido.

Dentro das comemorações do Centenário, o “15” promoveu dois amistosos festivos. A equipe de veteranos enfrentou um combinado da dupla Gre-Nal e do São José, de Porto Alegre, equipe organizada pela Federação Gaúcha de Futebol especialmente para o evento. O time visitante venceu por 2 X 1. Na preliminar, a equipe juvenil do “15” enfrentou os juvenis do Gramadense, que venceu o jogo por 3 X 2.

O Esporte Clube 15 de Novembro, nas décadas 50/60, mantinha o Departamento de Punhobol, com participações em competições nacionais e internacionais. Em 1961, ano do cinquentenário do "15", realizou-se, em Campo Bom, o 1º Campeonato Sul-Americano de Punhobol, com a participação de vários países. Quem venceu foi a Argentina.

Em duas oportunidades, 1992 e 2001, a equipe de veteranos do "15" realizou partidas amistosas em solo europeu. Obteve excelentes resultados. Em uma gincana realizada esta semana, em Campo Bom, uma das tarefas era dar detalhes de um suposto jogo entre o "15" e uma Seleção Brasileira, que teria sido realizado em 1968, quando da comemoração dos 75 anos do clube. Porém, nada a esse respeito foi encontrado, o que se supõe que tudo não passou de uma bricadeira.

Hoje com o Departamento de Futebol desativado, o clube conta com departamentos de diversos esportes: tênis, tiro, bolão, arqueirismo, handebol e xadrez.

Títulos do “’15”: Campeão do Sul-Brasileiro de Amadores (1988); Campeão do Interior (2002, 2003 e 2005); Campeão da Copa Emídio Perondi (2006); Campeão Gaúcho de Amadores (1960, 1961, 1963, 1964, 1966, 1968, 1970, 1971, 1972, 1973, 1976, 1977, 1987 e 1990; Campeão da Zona Sul do Estado (1957); 3º colocado na Copa do Brasil (2004); Vice-Campeão Gaúcho (2002, 2003 e 2005); Vice-Campeão Gaúcho da 2ª Divisão (1994 e 1999); Campeão Gaúcho de Bolão Masculino (1962); Campeão Gaúcho de Bolão Feminino (2001, 2004, 2005 e 2006); Artilheiro do Campeonato Gaúcho: Sandro Sotilli (2002 com 21 gols); Artilheiro da Copa do Brasil (2004, Dauri com 8 gols).

Ídolos históricos: Balalo, Bilu, Celso, Ediglê, Dauri, Elúcio, Geada, Ismar, Júlio Rodríguez, Lampinha, Luís Fernando Gaúcho, Perdigão, Raul, Sandro Sotilli, Paulinho e Carazinho.

Alguns presidentes do clube: João Pedro Dias, Otto Faller, Bertholdo Konrath, Adonis Güntzel da Silva, Babi Mendonça Vaz, Oddone Aurécio Dias, Carlos Alberto Von Reisswitz, José Claudio Blos, Gilberto Wallauer, Armin Rudy Blos e Marco Aurélio Feltes.

O maior rival do 15 de Novembro é o Esporte Clube Novo Hamburgo, da cidade de Novo Hamburgo. (Pesquisa: Nilo Dias)


Lance do jogo 15 de Novembro X Vasco da Gama, pela Copa do Brasil de 2004.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O centenário “15” de Campo Bom (I)

Eu tenho que me desculpar perante os torcedores do glorioso Esporte Clube 15 de Novembro, de Campo Bom (RS), por não ter escrito nada sobre os 100 anos comemorados no último dia 15. Eu estava inteiramente voltado para um trabalho de degravação de um evento para a Frente Nacional de Prefeitos (FNP), e esqueci de comentar o fato na sua data original. Mas hoje estou me redimindo da falha e contando a história do mais novo integrante do seleto grupo de clubes brasileiros centenários.

O “15”, como é carinhosamente chamado por sua torcida, foi fundado no distante dia 15 de novembro de 1911, depois que alguns operários da firma Vetter & Irmão, assistiram alguns jogos de futebol em Porto Alegre. Entusiasmado com o novo esporte, o senhor Blauth, um dos fundadores, comprou uma bola de futebol no comércio da capital, e a levou para Campo Bom, que na época era apenas uma vila.

Na volta resolveram criar um time de futebol, para se distraírem nas horas de folga. A Vetter era uma indústria calçadista, que se instalou na localidade em 1904. O primeiro campo foi em um potreiro no Morro das Pulgas, nos fundos da empresa. Ali o novo time treinava e jogava, até que adquiriu outro campo, que com o passar dos anos se transformou no atual estádio Sady Arnildo Schmidt.

No dia 17 de novembro de 1912, um ano após a fundação, foi inaugurada a bandeira do clube, numa festa que teve a presença do Esporte Clube Colombo, de Porto Alegre, que aplicou uma goleada de 5 X 1. Outros amistosos importantes para a época foram disputados, com destaques para aqueles contra equipes de expressão, como o Frishhauff e Americano, ambos da capital, e o Sport Novo Hamburgo.

Eram outros tempos, onde o que importava era o amor ao clube. E dentro desse espírito totalmente amadorista, os próprios jogadores financiavam seus fardamentos, passagens e demais despesas. E todos se orgulhavam muito do que faziam.

Em 1917, juntamente com duas outras entidades, a Sociedade Alemã de Tiro e a Sociedade de Canto, o “15” participou da fundação da Sociedade Concórdia, um clube social com vários departamentos sociais e esportivos. No dia 30 de abril de 1975, conforme consenso das lideranças comunitárias, o Esporte Clube 15 de Novembro e a Sociedade Concórdia (antiga Sociedade Alemã de Atiradores, criada em 3 de março de 1893 para a prática de tiro esportivo) promoveram uma fusão, passando a denominar-se Clube 15 de Novembro, e é hoje o mais importante clube social da cidade.

Hoje a entidade conta com os seguintes departamentos: social, futebol, piscina, tênis, tiro, bolão, arco e flecha, escoteirimo, filatelia, handebol, sauna, ginástica e musculação, departamento jovem, relações públicas e departamento de divulgação.

Bem antes disso, em 12 de abril de 1943, a diretoria da Sociedade Concórdia resolveu extinguir o departamento de futebol que se tornou independente, até no nome: surgia o Esporte Clube Independente, adotando às cores preta e branca. Esta decisão provocou muita polêmica, mas a verdade é que o futebol, desvinculado da Sociedade Concórdia, encontrou mais espaço para progredir.

Depois de um grande movimento popular, o E. C. Independente voltou a chamar-se 15 de Novembro, recebendo de volta suas cores originais: amarelo, vermelho e verde. Isso aconteceu no dia 29 de setembro de 1949.

O “15” participava de muitas competições, em especial as organizadas pela Liga Leopoldense de Futebol, em que tomavam parte equipes localizadas no município de São Leopoldo, do qual Campo Bom era distrito. Mas os importantes títulos amadores começaram a ser conquistados somente quando o clube passou a disputar competições a nível estadual, patrocinadas pela FGF. O primeiro título de expressão foi ganho em 1957, o de Campeão da Zona Sul do Estado.

Em 1959 a FGF mudou a forma de disputa do Estadual de Amadores. Em razão do mau estado das estradas, que dificultavam a locomoção dos clubes, a competição passou a ser disputada em cinco zonas. Cada uma delas foi identificada por uma cor: o "15" integrou a série Branca.

Em 1960, o clube montou uma estrutura vitoriosa e não deu outra: venceu pela primeira vez o Campeonato Estadual de Amadores, Série Branca, passo inicial para outras grandes conquistas. No primeiro confronto, dia 11 de dezembro, o 15 de Novembro venceu ao Brasil, de Farroupilha, pelo placar de 5 X 4, em partida apitada por Jaime Soligo.

Os gols da partida foram marcados por: Lauro, Cléo, Erich, Dario e Gilberto (para o 15 de Novembro), e Lino, Walter, Armando e Barth (para o Brasil de Farroupilha). No dia 18 de dezembro, no Estádio dos Eucaliptos, um empate em 1 a 1 deu o título ao 15 de Novembro, sob o comando do treinador Raul Freitas. Marcaram Barth, logo aos 4 minutos de partida, para o Brasil de Farroupilha, e Gilberto, quase ao final de partida. O juiz foi Ney da Luz Barbosa.

No ano de 1961, conquistou o bicampeonato contra o Independente, de Flores da Cunha. Após um empate em 1 X 1 na primeira partida (gol do zagueiro Bráulio, para o "15"), o título veio em uma virada por 2 X 1, em partida disputada em Campo Bom. Remo abriu o marcador para o Independente, de Flores da Cunha, enquanto Delmar fez dois gols e garantiu o título.

Em 1963, o 15 de Novembro perdeu o primeiro jogo das finais por 2 X 0 para o Paladino, em Gravataí, no dia 1º de dezembro. Venceu em Campo Bom por 2 X 1, em 6 de dezembro, havendo necessidade da realização de uma terceira partida. No dia 15 de dezembro, houve empate em 1 X 1 no estádio do Lansul, em Esteio, com a partida sendo encerrada devido à invasão de campo e briga entre torcedores e jogadores.

Por isso, o tempo restante do jogo foi realizado em uma nova data, 19 de janeiro de 1964, no Estádio Passo D'Areia em Porto Alegre. Persistiu o empate e, na prorrogação, Ithon marcou em cobrança de falta o gol do terceiro título do Estadual de Amadores do 15 de Novembro.

Em 1968, participando da Série Especial do Estadual de Amadores, o 15 de Novembro enfrentou o Pampeiro, de Soledade nas finais. Venceu em Campo Bom por 3 X 2, perdendo o segundo, em Soledade, por 2 X 0. Na prorrogação, o 15 de Novembro venceu por 2 X 1 e conquistou o título.
Ainda pelo Absoluto de Amadores, o "15" foi campeão estadual em 1970, 1971, 1972, 1973, 1976, 1977, 1982, 1987 e 1990. Foram ao todo 14 títulos estaduais, que fizeram do clube o maior vencedor do futebol amador do Rio Grande do Sul.

Em 1988, participando do 1º Campeonato Sul-Brasileiro de Futebol Amador, como representante do Rio Grande do Sul, o "15" conquistou o inédito título, superando o União Capão Raso, do Paraná, no jogo final. Em 1990, nesta mesma competição, o "15" ficou com o vice-campeonato.

Já nos anos 90 sentia-se que muitos clubes amadores pagavam seus jogadores, o que vinha dificultar a prática do amadorismo 100% puro do Clube 15 de Novembro. E diante dos insistentes pedidos da Federação Gaúcha de Futebol, a direção do clube resolveu profissionalizar o futebol e em 1994 disputou a segunda divisão do futebol gaúcho.

E a experiência foi vitoriosa, já que no primeiro ano sagrou-se vice-campeão da Segunda Divisão de Profissionais, o que valeria o acesso a Divisão principal do Estado. Porém, a Federação Gaúcha de Futebol (FGF), useira e viseira em viradas de mesa, mudou as regras do jogo e dividiu a Primeira Divisão em duas séries, “A” e “B”. Em 1998 o 15 conquistou o segundo lugar na Copa Abílio dos Reis, e se classificou para a Série A do “Gaúchão” de 1999. Dessa vez foi pra valer, pois não houve virada de mesa.

Ainda em 1998, o “15” disputou o Campeonato Brasileiro da Série C, chegando até as oitavas de final. Terminou a competição em 10º lugar, entre 65 clubes participantes. Nos 14 jogos que disputou venceu 7, empatou 3 e perdeu 4. O ataque marcou 27 gols e a defesa sofreu 24. Na primeira fase o 15 participou do Grupo 11, que era composto por Avaí, Tubarão e Chapecoense, de Santa Catarina e os gaúchos 15 de Novembro, Pelotas e Brasil, de Pelotas. Avaí, Brasil e “15” se classificaram para a etapa seguinte da competição.

Na segunda fase o “15” enfrentou o Mogi Mirim (SP). No primeiro jogo no interior paulista empate em 2 X 2. Jogando em Campo Bom venceu por 2 X 1 e se classificou para a terceira fase, quando se deparou com mais um clube paulista. Dessa vez o adversário foi o Rio Branco, de Americana. Fora de casa um empate em 2 X 2, que se repetiu no Sady Schmidt. Nos pênaltis os visitantes levaram a melhor por 4 X 3.

Já no ano seguinte, a primeira experiência na elite gaúcha não deixou boas recordações. O time ao final da competição estava rebaixado e de retorno a Série B. No segundo semestre do ano, fez boa campanha e voltou para a Série A. No ano de 2000, o “15” teve um desempenho bem melhor.

Foi campeão da Fase Classificatória, Chave 2, e conquistou o direito de participação no Octogonal final do campeonato, etapa disputada somente pelos chamados grandes do futebol gaúcho. Após brilhante campanha, o estreante "15" ficou em 5º lugar, atrás somente de Grêmio, Internacional, Caxias e Juventude. (Pesquisa: Nilo Dias)

Time do 15 de Novembro, em 1911. (Foto: Acervo do E.C. 15 de Novembro)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O último dos capitães (Final)

Na história do futebol são contados muitos casos de façanhas como a do Uruguai, no IV campeonato Mundial, onde um homem dotado de um imenso carisma, se transformou no fator decisivo para uma extraordinária conquista. O futebol tem revelado grandes personagens, que passaram à história por seus brilhantes desempenhos. Entre eles, Édson Arantes do Nascimento, o “Pelé”, Ferenc Puskas, Alfredo Di Stéfano, Johan Cruyff, Michel Platiní, Gerd Müller, Franz Beckenbauer, Lothar Mattheus, Paolo Maldini, Ronaldo (Luís Nazário), Diego Armando Maradona, Zinedine Zidane e muitos outros.

E todos eles se destacaram pela grande técnica que eram possuidores. O difícil foi encontrar um jogador, que com recursos técnicos infinitamente inferiores, tenha se convertido em um personagem mítico, igualando-se aos grandes craques que escreveram a história do futebol mundial.

Obdúlio Varela deixou os gramados em 1955, para dedicar-se a família. O maior espaço de sua vida era para a esposa, os filhos e os amigos mais chegados. No final da carreira, recebeu como recompensa um emprego público no glamuroso Casino Carrasco de Montevidéu, hoje privatizado.

Durante o resto de sua vida foi muito procurado pela imprensa escrita, rádios e por último a televisão. Quase sempre recusava dar entrevistas. Nas várias décadas que se seguiram após sua retirada dos campos, foram poucas as ocasiões em que alguém conversou com ele.

O sujeito era uma fera, não só em campo, mas também fora dele. Sua casa ficava na periferia da capital, próxima a uma poluente fábrica de pneus e era do tipo daquelas que ficam afastadas do portão. Na frente deveria haver um jardim, mas não havia.

Mas dentro dessa grande personalidade, de postura firme e sólida, se ocultava também um homem pobre e humilde. Obdúlio foi diferente daqueles ídolos que depois de saírem de cena, tinham necessidade de aparecer a qualquer custo, de serem reconhecidos, entrevistados, vistos. Pois sem isso parece que ficavam vazios, desprotegidos. Com Obdúlio Varela nada disso aconteceu. Ele não necessitava desses “pontos de apoio”. Ele sempre se considerou acima dessas coisas.

Por causa da personalidade forte, sua vida se resumia as pessoas queridas e aos poucos amigos íntimos. Isso era suficiente para satisfazer o seu modo de vida. Esse homem, que quando jogador podia assustar até mesmo o diabo, bastasse sair do sério, era também de uma personalidade muito sensível. Em 1996 faleceu o grande amor de sua vida, sua esposa Catalina.

Obdúlio Varela não conseguiu suportar a perda, e poucos meses depois, exatamente no dia 2 de agosto do mesmo ano, ele também sucumbiu ante a morte, aos 78 anos de idade. O Presidente da República, Júlio María Sanguinetti, ordenou que fossem tributadas homenagens especiais ao grande herói nacional. Praticamente todo o Uruguai parou para chorar a perda do famoso “Negro Jefe".

O que Obdúlio Varela representou no mundo do futebol, está resumido em algumas frases ditas ou escritas a seu respeito: "Ele não atava as chuteiras com cordões, mas com as veias." (Nélson Rodrigues, jornalista e cronista brasileiro.); “Fiz um país chorar de tristeza mais do que o meu país de alegria. E acho que se pudesse jogar aquela final novamente faria um gol contra.” (O próprio Obdúlio Varela, sobre o dia do fatídico "Maracanazzo" de 1950.)

"Na já citada vergonha de 50, éramos superiores aos adversários. Além disso, levávamos a vantagem do empate. Pois bem: e perdemos da maneira mais abjeta. Por um motivo muito simples: porque Obdúlio nos tratou a pontapés, como se vira-latas fôssemos." ((Nelson Rodrigues - Complexo de Vira-Latas - Manchete Esportiva - 31/5/58)); "A humilhação de 50, jamais cicatrizada, ainda pinga sangue. Todo escrete tem sua fera. Naquela ocasião, a fera estava do outro lado e chamava-se Obdúlio Varela". (Nelson Rodrigues). “O tapa em Bigode ardeu no rosto da multidão" (Nélson Rodrigues)

Obdúlio tinha caráter. Na metade dos anos 50, o Peñarol aceitou um contrato de patrocinador, novidade na época, em suas camisas. Os jogadores ganhariam algum dinheiro também. Mas o “Nego Jefe”, que em pouco tempo pararia de jogar, se recusou. O Peñarol entrou em campo com dez jogadores patrocinados, mas Obdúlio preferiu a velha camisa de sempre. E explicou a negativa: "Antes, nós os negros, éramos puxados por uma argola no nariz. Esse tempo já passou”.) Genioso, precisou ser convencido a jogar a Copa no Brasil: julgava-se velho demais.

No gramado, gritava o tempo todo. Nunca perdoou o fato de o tesoureiro da delegação uruguaia ter sumido depois do jogo do Maracanã, o que obrigou os jogadores a fazerem uma “vaquinha” para comprar sanduíches e cervejas para comemorar. Sentia uma amargura pelo descaso dos dirigentes uruguaios para com os campeões, humilhando-os a ponto de alguns terem que viver como funcionários estatais quando deixaram o futebol.

A recompensa pela maior façanha do futebol uruguaio foram medalhas de prata e algum dinheiro para os jogadores. Com o prêmio Obdúlio comprou um carro Ford 1931, que foi roubado uma semana depois. Já os dirigentes, deram medalhas de ouro para eles próprios. Quando terminou tudo aquilo, precisava comprar uns presentinhos para a família, mulher e dois filhos. Não tinha dinheiro, pediu 2.500 pesos de adiantamento, pensando que dariam pelo menos uns 10.000, pouco para quem tinha dado tanta satisfação a uma nação. Com muito custo conseguiu o dinheiro. Disse que queriam humilhá-lo.

Varela, após parar de jogar, tentou ser técnico, mas não conseguiu admitir a interferência de diretores. O velho capitão seguiu então caminho similar aos de seus antigos colegas, cuja maioria ingressara no funcionalismo público. Ele foi trabalhar no Cassino de Montevidéu, onde aposentou-se em 1972, afastado e desgostoso com o futebol da época: "Não presta. Falta raça". Curiosamente, trabalhou ali ao lado do ex-colega de Peñarol e Seleção Uruguaia Alcides Ghiggia.

Obdúlio Varela não viu a camisa celeste e as chuteiras que ele usou em 50 e guardou a vida inteira, serem leiloadas em 2004. A Associação Uruguaia de Futebol as arrebatou e o então presidente do Uruguai, Jorge Batlle, declarou-as "monumentos nacionais". Hoje, estão expostas permanentemente no museu do Estádio Centenário, em Montevidéu, onde, às proximidades, há o "Espacio Libre Obdulio Varela". Foi homenageado postumamente pelo pequeno Villa Española, que batizou seu campo de Estádio Obdúlio Jacinto Varela.

Em sua vitoriosa carreira, Obdúlio Varela foi campeão uruguaio em 1944/45, 1949, 1951, 1953/54, pelo Peñarol. Campeão da Copa América (1942) e Mundial (1950) pela Seleção do Uruguai. Jogou 52 vezes pelo seu país e marcou 8 gols.

O único jogador vivo daquela fabulosa seleção uruguaia de 1950, é Alcides Edgardo Ghiggia, ou simplesmente “Ghiggia”, o homem que marcou o gol que deu o título a “los hermanos”. Ele vai completar 85 anos de idade, no próximo dia 22 de dezembro. Em 2009, emocionado, deixou a marca de seus pés na calçada da fama do estádio que o celebrizou. Orgulha-se ao dizer que apenas ele, João Paulo II e Frank Sinatra calaram o Maracanã.

O gol de Ghiggia provocou um grande silêncio no Maracanã, o mais estrepitoso silêncio da história do futebol. Ary Barroso, músico autor de “Aquarela do Brasil”, que estava transmitindo o jogo para todo o país, decidiu abandonar para sempre a função de narrador de futebol. (Pesquisa: Nilo dias)

Na final de 50, os capitães Obdúlio Varela (Uruguai( e Augusto (Brasil). (Foto: Divulgação)

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O último dos capitães (I)

Obdulio Jacinto Muiño Varela, ou simplesmente Obdulio Varela, nasceu em 1917 em Montevidéo, Uruguai. Foi criado em um bairro humilde e estudou apenas até o terceiro ano. Na infância enfrentou problemas de asma e era filho de pais separados. Ganhou as suas primeiras moedas aos oito anos como vendedor de jornais. "Os diários só têm duas coisas verdadeiras: o preço e a data", costumava dizer.

Começou a jogar futebol em peladas nos campos do bairro onde morava. Depois foi jogar no Club Deportivo Juventud, onde exibiu um temperamento vigoroso e começou a se destacar como centromédio.

Em 1937 foi contratado como jogador semiprofissional do legendário Club Montevidéo Wanderers. Em 1943 teve seu passe adquirido pelo Club Atlético Peñarol, onde permaneceu até 1955. Debutou no selecionado uruguaio em 1939 e em 1942 se sagrou campeão sulamericano.

Obdulio Varela foi um dos jogadores mais emblemáticos da história da Copa do Mundo da FIFA. O inesquecível meio-campista vestiu a camisa celeste em mais de 57 partidas, a mais famosa delas no Maracanã no dia 16 de julho de 1950. Naquela tarde, com a inesperada obtenção do título mundial, nasceu uma verdadeira lenda, que sobreviveu à morte física do grande capitão no dia 2 de agosto de 1996.

Naquela competição, o centromédio aguerrido e com voz de comando foi vital mesmo sem marcar nenhum gol na histórica decisão diante dos brasileiros. Como líder em campo, com a faixa no braço, assumiu a responsabilidade de administrar psicologicamente uma das finais mais surpreendentes da história.

A história é bem conhecida. O Brasil organizou a Copa do Mundo da FIFA 1950 com um único objetivo: erguer o troféu no Maracanã. Um empate bastaria ao selecionado do técnico Flávio Costa diante de um elenco uruguaio que, para muitos, não passaria de um “sparring”.

Antes dos uruguaios entrarem em campo para a grande final contra o Brasil, um de seus dirigentes foi até o vestiário e disse aos jogadores que "perdiendo por menos de cuatro goles de diferencia se salvaba el honor". Rápidamente Obdulio Varela respondeu com verdadeira autoridade: “Perder?... Nosotros vamos a ganar este partido!"

"Não pensem em toda essa gente, não olhem para cima", aconselhou os colegas já no túnel, consciente de que havia mais de 170 mil pessoas no estádio. "A partida é jogada aqui embaixo, e se ganharmos não vai ter problema nenhum. Nunca teve problema nenhum. Quem está fora não joga."

A conversa motivadora rendeu frutos até os dois minutos do segundo tempo, quando Friaça abriu o marcador para delírio da torcida brasileira. A história já parecia escrita para todos, menos para o capitão. "Quando fizeram o gol, Varela correu 30 metros para pegar a bola e pedir um impedimento inexistente ao juiz", recordava o também falecido Roque Máspoli, o goleiro uruguaio naquela tarde.

Anos depois, em uma das suas poucas entrevistas, o capitão explicou os motivos de tanto teatro. "Sabia que, se não esfriasse a partida, iriam nos demolir. Queria retardar o reinício da partida, nada mais. Levei a discussão ao extremo, até tiveram de chamar um intérprete para que eu pudesse dialogar com o árbitro. O estádio ficou em silêncio, e então vi que poderíamos ganhar a partida."

Dito e feito: o Uruguai cresceu no jogo, Varela passou a mandar na meia-cancha e Juan Schiaffino e Alcides Ghiggia, nos minutos finais, balançaram as redes para virarem o placar. A "Celeste" era bicampeã contra todos os prognósticos.

Obdulio Varela recebeu o troféu das mãos do presidente da FIFA, Jules Rimet, em um encerramento insólito, sem cerimônia de entrega nem discursos oficiais. As comemorações dos uruguaios à noite tiveram uma particularidade: Varela decidiu sair para se misturar com os torcedores brasileiros nas ruas.

"A tristeza de todos era tanta que terminei sentado em um bar bebendo com eles", relembrou. "Quando me reconheceram, pensei que iriam me matar. Felizmente foi tudo o contrário, me parabenizaram e ficamos bebendo juntos."

Depois de algumas cervejas, “El Negro Jefe” foi chamado pelo dono do bar. Havia um torcedor brasileiro que queria falar com ele. Varela se levantou preparado para o pior: um xingamento, uma agressão. O torcedor se aproximou, encarou-o olho a olho, abraçou-o e desabou num choro desesperado e convulsivo. Conta a lenda, ainda, que o capitão uruguaio consolou esse torcedor durante mais de meia hora.

Muito tempo depois, numa entrevista, Varela diria que nesse momento, com o torcedor brasileiro chorando em seu peito, ele se havia dado conta da dimensão daquela derrota para o Brasil. Também teria afirmado que se soubesse que aconteceria tal tragédia nacional, ele não teria se esforçado tanto para ganhar, pois, afinal de contas, só os cartolas uruguaios lucraram com aquela vitória. Varela regressou ao hotel ao amanhecer e se sentiu aliviado.

Quatro anos mais tarde, completou a sua participação com o quarto lugar no Mundial da Suíça, em 1954. Com ele em campo, a “Celeste” não perdeu nenhuma partida pela competição máxima do futebol mundial.

E como era Obdulio Varela do ponto de vista técnico? Jogava na posição que hoje é chamada de volante, mas que naquela época se designava como "center hallf". Era um jogador não mais que aceitável, ou apenas bom. Não era muito veloz ao correr, e pouco corpulento, dominava os recursos técnicos dentro do que se poderia esperar normalmente de um jogador de primeira divisão. E nada mais. Nesse aspecto não se sobressaia.

E quando foi o momento em que se converteu em um personagem futebolístico que chegou a transcender através da história esportiva do mundo? Em sua personalidade, quando ganhou o apelido de "Negro Jefe".

Sem gritos e sem histeria sabia como conduzir com severidade aos seus companheiros de equipe, quando estes não faziam as coisas como deviam. Bastavam umas poucas palavras e talvez uma olhada cheia de rigor como a de um pai severo com seus filhos, para dar-se conta que teria de ter mais empenho no jogo.

Dessa forma passou a ser respeitado até pelos adversários, que sabiam que “com esse "gran negro" não era conveniente buscar problemas. Obdulio Varela foi um jogador do tipo correto, sempre foi defensor do jogo limpo, sem brutalidade.

Em certa ocasião como capitão do Peñarol, um adversário cometeu uma falta grosseira em um de seus companheiros, o que deveria ter sido punido com expulsão. Mas de forma equivocada e surpreendente, o juiz marcou a falta como se fosse comum, uma contingência do jogo.

Obdulio Varela de imediato pegou a bola, se dirigiu ao juiz e de maneira respeitosa observou que se em algum momento qualquer jogador de sua equipe, cometesse tamanha brutalidade ele pediria por favor que o expulsasse de campo, visto que como capitão, não poderia tolerar que um de seus capitaneados realizasse semelhante ato tão desleal.

Entretanto, a laureada carreira acabou não influindo no seu estilo de vida. Pelo contrário, assim como ocorreu com outros grandes ídolos da época, Obdulio Varela nunca desfrutou dos louros do sucesso. Assim como Garrincha, Varela pertenceu à lista dos jogadores fora de série que nasceram, cresceram e morreram na pobreza. (Pesquisa: Nilo Dias)