O folclore também acompanha a vida do Ibis. Em 20 de julho de 1980 ele derrotou o Ferroviário, num jogo nos Aflitos, gol do atacante Almeida. Ansioso, Almeida esperou os jornais do dia seguinte para ler o comentário do jogo, pois sonhava em se transferir para uma grande equipe. E foi surpreendido com a informação errada, que atribuía o gol a um certo Valdir, que sequer jogou. Havia sim, Valdísio, parecido fisicamente com o desiludido Almeida.
Depois de uma vitória sobre o Náutico, os dirigentes e jogadores do Íbis foram comemorar num restaurante no bairro de Santo Amaro, tudo patrocinado por Leça, um vendedor de maçãs que ajudava o clube. O Sport, interessado no resultado deu Cr$ 5 mil para cada jogador ibiano. E até Amaro Silva, um dos fundadores, foi acordado em sua casa e levado para participar da festa. Mas como alegria de pobre dura pouco, o Íbis acabou perdendo os pontos no TJD, por ter escalado de maneira irregular o misto de jogador e marinheiro, Altino.
Uma goleada de 11 X 0, sofrida ante o Sport, foi creditada ao fato do jogo ter sido retardado por mais de uma hora, pela descoberta de uma casa de marimbondos, numa das traves do campo, exatamente onde estava o goleiro do Íbis. O árbitro teve que pedir socorro ao Corpo de bombeiros para poder recomeçar o jogo.
Mas o goleiro do Íbis passou o jogo todo ameaçado por dois ou três marimbondos que escaparam da blitz e retornaram a procura da casa. E outra coisa não fez, do que se esquivar dos ferrões. Ocupado em fugir dos marimbondos, deixou a goleira livre para alegria dos atacantes adversários.
Um dos episódios mais hilariantes envolvendo o Íbis aconteceu no início dos anos 70. O então chamado ”rubro-negro de Santo Amaro”, foi ao Estádio do Arruda para enfrentar o Sport. O treinador Batista levou um susto ao ver que não havia chuteiras suficientes para todo o time. A solução foi pedir ao adversário, seis pares de chuteiras emprestados.
Como o Sport levava o Íbis de barbada, pois na rodada anterior havia levado 6 X 0 do Náutico, cedeu o material, sem imaginar que estava botando asa para formiga voar. O Íbis venceu por 1 x 0, gol de Antônio Carlos, hoje advogado. Debaixo de vaias, o então técnico do Sport, que também dirigiu a seleção Brasileira, Zezé Moreira, jogou um caixão sobre os revoltados torcedores.
Numa das vitórias do Íbis sobre o Náutico, aconteceu um caso inusitado. Estava tudo pronto para o início do jogo, quando o juiz chamou a atenção para a falta de goleiro no time rubro-negro. Imediatamente foi chamado o reserva Banana, que há muito tempo não jogava e nem treinava. Entrou em campo só para completar os 11, pois era para perder mesmo e não faria diferença quem estivesse jogando.
Mas não foi isso que ocorreu em campo. O íbis segurou o ataque do Náutico de maneira quase heróica, com Banana operando verdadeiros milagres e os zagueiros dando chutões para todos os lados. Aos 43 minutos do segundo tempo, o improvável aconteceu: no único chute que deu, o Íbis fez 1 X 0 e o jogo acabou assim. Foi uma festa sem tamanho para a torcida ibiana: “Chico do Táxi”, o presidente do clube e três familiares.
Em outra ocasião jogavam Santa Cruz e Íbis, no Arruda. Os torcedores “corais” ocupavam todos os espaços. No meio deles “Chico do Táxi”, o torcedor número um do Íbis. Num contra ataque o rubro-negro fez gol e ele comemorou, chamando a atenção dos adversários. Só não foi linchado porque um torcedor mais ajuizado o salvou: “Se a gente matar esse cara, mata a torcida inteira do Ibis”.
Há coisas difíceis de explicar, como a decisão do jornaleiro Carlos Andrade, que era torcedor do Sport, e depois de assistir uma partida entre os dois rubro-negros, em 1988, trocou de time, mesmo com a goleada de 10 X 1 sofrida pelo Ibis. Ele garante que foi amor a primeira vista. É capaz de deixar sua casa, no distante bairro de Águas Compridas, para ver o Íbis jogar pela Segundona. Assim o fez, num feriado: foi a Paulista, em pleno domingo de Páscoa. Se diz fã do Íbis na vitória ou na derrota. E como se isso fosse pouco, tem um time de botão chamado Íbis, e guarda com carinho a revista “Placar” na qual o time aparece na capa, com o rótulo de "pior do mundo".
Como organização, o Íbis é o exemplo do que não deve ser um time de futebol. Em 1950, em jogo de campeonato, o próprio presidente do clube teve de entrar em campo para completar o número mínimo de sete jogadores.
A última eleição do Íbis, ano passado, era para ser realizada na sede de um clube carnavalesco no centro da cidade. Quase na hora da votação, à frente do prédio estavam a urna, os candidatos e os conselheiros votantes, menos o porteiro, que não apareceu. A eleição acabou sendo feita num bar ao lado e a comemoração começou logo em seguida, inclusive com a participação do candidato derrotado.
O Ibis foi ameaçado de desfiliação pela CBF em 2001, por haver desafiado a Seleção Brasileira. Já em 2002 convidou o S.C. Corinthians Paulista, que havia perdido 10 jogos seguidos, para uma partida amistosa que definiria qual o pior time do mundo. O clube paulista não aceitou. O ano passado o dirigente Felipe Gomes anunciou a disposição do clube em ajudar Romário a fazer o milésimo gol. Que escolhesse uma das duas opções: um amistoso com o Vasco ou jogar a segundona pernambucana pelo Íbis. Não houve resposta. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.
segunda-feira, 17 de março de 2008
Íbis, o pior time do mundo (Parte II)
Com o passar dos anos a fama de pior time do mundo se consolidou tanto, que numa jogada de marketing o clube resolveu explorar isso comercialmente. Hoje se trata de uma marca registrada, não só no Brasil, como em todo o mundo. O clube dá força a essa condição ao escolher como slogan a frase: “O importante não é competir, mas sim existir”.
Nessa trajetória de quase 70 anos, não foram unicamente tristezas. Algumas poucas alegrias também fizeram a história do clube: Vice-Campeão Pernambucano da 2ª Divisão, em 1999 (perdeu a final para o Ferroviário de Serra Talhada); Campeão do Torneio Início em 1948 e 1950; Campeão do Torneio Incentivo em 1975 e 1976 e Campeão Pernambucano de Juniores em 1948 e 1995.
O torcedor mais importante do Íbis foi o governador Miguel Arraes, já falecido. Quando Arraes estava exilado na Argélia, em 1978, recebeu das mãos de seu filho uma revista “Placar”, com matéria sobre o folclórico “Chico do Táxi”, até então o único fiel torcedor do Íbis. Miguel Arraes, ao ler a matéria teria dito para o filho: "Agora, o Íbis tem dois torcedores".
Recentemente o Ibis ganhou um novo e influente torcedor, Pedro Arraes, filho do ex-governador Miguel Arraes, que recebeu dos dirigentes do “Pássaro Preto” a carteira de sócio e a camisa oficial do clube. Quanto à torcida, é incrível, existe, embora não vá aos jogos. Aquela residente no Brasil já se acostumou as derrotas e não se importa mais quando elas acontecem. O Ibis agora tem torcedores até em Portugal e na Holanda, que choram, ficam indignados e enviam telegramas de protesto quando o time ganha, “pois quebra a tradição”.
Mas torcedor, torcedor mesmo, de ir ao campo em todos os jogos, o Íbis só teve um: o motorista de táxi Francisco Imperiano, o “Chico do Táxi”. Mas nem ele escapou de cair em tentação. Quando se dirigia ao estádio da cidade de Paulista para assistir a mais uma derrota do Íbis, ele foi parado na rua por um passageiro que queria, de qualquer maneira, ir para João Pessoa, no vizinho Estado da Paraíba. Chico tentou resistir e pediu um preço absurdo. O homem aceitou. Pediu cinqüenta por cento no ato e o homem pagou.
Sem escolha, com o táxi a caminho da Paraíba, ele ligou o rádio e foi ouvindo o jogo. Na altura do município de Igarassu, o Íbis fez um gol. Chico foi para o acostamento, parou o carro, saltou e começou a gritar, a urrar e a dançar. O passageiro, assustado, pegou a mala e deu no pé. Chico deu meia-volta e ainda chegou ao estádio a tempo de ver o fim do jogo. O passageiro nunca mais apareceu.
Passaram pelo Ibis alguns nomes que fizeram história no futebol brasileiro: Bodinho, artilheiro do S.C. Internacional, de Porto Alegre nos anos 50; Vavá, centro-avante do Vasco da Gama e Seleção Brasileira, nos anos 50 e 60; Rildo, lateral-esquerdo que jogou pelo Santos, Botafogo e Seleção Brasileira e Vasconcelos, atacante que também defendeu o Santos.
Embora esses jogadores tenham alcançado grande sucesso profissional em outras equipes, nenhum deles representou tanto para o Íbis quanto o folclórico meia-esquerda e camisa 10, Mauro Shampoo, considerado o maior ídolo do clube em todos os tempos, embora tivesse marcado um único gol em toda a sua carreira de jogador profissional. Foi o gol de honra, na goleada de 8 X 1 sofrida frente o Ferroviário do Recife.
Shampoo teve uma infância pobre, cresceu trabalhando como engraxate na praia de Boa Viagem, no Recife, onde nos fins de tarde jogava peladas na areia. Ainda jovem aprendeu o ofício de cabeleireiro, que até hoje lhe garante o sustento. Sua grande paixão, porém, sempre foi o futebol. Durante 10 anos jogou pelo Íbis Sport Club, o time do seu coração, como diz até hoje.
Shampoo não é mais simplesmente o maior jogador da história do Íbis. É também ator cinematográfico. Os produtores Paulo Henrique Fontenelle e Leonardo Cunha Lima fizeram o documentário em curta metragem "Mauro Shampoo, jogador, cabeleireiro e homem". O título reproduz a maneira como o próprio personagem se define. Ao atender o telefone em seu salão, numa galeria no Terminal de Boa Viagem, diz: “Mauro Shampoo, jogador do Íbis, cabeleireiro, homem e um dos piores jogadores da história do futebol brasileiro". A trilha sonora do filme é de autoria de Oswaldo Montenegro, onde se destaca a música “A incrível história de Mauro Shampoo”, gravada em CD o ano passado.
No salão de Mauro, onde a clientela só fala de futebol, podem ser vistas mais de 500 fotografias do Íbis, inclusive algumas atuais onde aparece seu filho, Homed Thorpe, também centro-avante e que joga no Íbis, pensando em repetir “os feitos” do pai. Além de Shampoo, outra "grande" vedete do time foi o goleiro Jagunço, que sofreu 366 gols com a camisa rubro-negra. O substituto, Eudes, levou 129 gols entre 2003/2004.
A Diretoria do Íbis tem alguns planos ambiciosos para este ano de 2008: a publicação de um livro contando a vida do clube, o lançamento de um DVD histórico, comemorativo aos 70 anos de fundação, além de uma excursão para o exterior e a construção de um estádio próprio. Hoje, o Íbis realiza seus jogos em Paulista, na Região Metropolitana do Recife.
Se o Íbis não faz bonito no jogo, agora faz na apresentação. Por iniciativa do norte-americano Michael Getchell, que morou alguns anos em Pernambuco, o clube recebe seu material esportivo da multinacional Umbro. Já vão longe os tempos em que, como num jogo contra o Sport, no estádio da Ilha do Retiro, seus atletas entraram descalços no gramado, porque o time não tinha dinheiro nem patrocinador para pagar as chuteiras. (Texto e Pesquisa: Nilo Dias)
Nessa trajetória de quase 70 anos, não foram unicamente tristezas. Algumas poucas alegrias também fizeram a história do clube: Vice-Campeão Pernambucano da 2ª Divisão, em 1999 (perdeu a final para o Ferroviário de Serra Talhada); Campeão do Torneio Início em 1948 e 1950; Campeão do Torneio Incentivo em 1975 e 1976 e Campeão Pernambucano de Juniores em 1948 e 1995.
O torcedor mais importante do Íbis foi o governador Miguel Arraes, já falecido. Quando Arraes estava exilado na Argélia, em 1978, recebeu das mãos de seu filho uma revista “Placar”, com matéria sobre o folclórico “Chico do Táxi”, até então o único fiel torcedor do Íbis. Miguel Arraes, ao ler a matéria teria dito para o filho: "Agora, o Íbis tem dois torcedores".
Recentemente o Ibis ganhou um novo e influente torcedor, Pedro Arraes, filho do ex-governador Miguel Arraes, que recebeu dos dirigentes do “Pássaro Preto” a carteira de sócio e a camisa oficial do clube. Quanto à torcida, é incrível, existe, embora não vá aos jogos. Aquela residente no Brasil já se acostumou as derrotas e não se importa mais quando elas acontecem. O Ibis agora tem torcedores até em Portugal e na Holanda, que choram, ficam indignados e enviam telegramas de protesto quando o time ganha, “pois quebra a tradição”.
Mas torcedor, torcedor mesmo, de ir ao campo em todos os jogos, o Íbis só teve um: o motorista de táxi Francisco Imperiano, o “Chico do Táxi”. Mas nem ele escapou de cair em tentação. Quando se dirigia ao estádio da cidade de Paulista para assistir a mais uma derrota do Íbis, ele foi parado na rua por um passageiro que queria, de qualquer maneira, ir para João Pessoa, no vizinho Estado da Paraíba. Chico tentou resistir e pediu um preço absurdo. O homem aceitou. Pediu cinqüenta por cento no ato e o homem pagou.
Sem escolha, com o táxi a caminho da Paraíba, ele ligou o rádio e foi ouvindo o jogo. Na altura do município de Igarassu, o Íbis fez um gol. Chico foi para o acostamento, parou o carro, saltou e começou a gritar, a urrar e a dançar. O passageiro, assustado, pegou a mala e deu no pé. Chico deu meia-volta e ainda chegou ao estádio a tempo de ver o fim do jogo. O passageiro nunca mais apareceu.
Passaram pelo Ibis alguns nomes que fizeram história no futebol brasileiro: Bodinho, artilheiro do S.C. Internacional, de Porto Alegre nos anos 50; Vavá, centro-avante do Vasco da Gama e Seleção Brasileira, nos anos 50 e 60; Rildo, lateral-esquerdo que jogou pelo Santos, Botafogo e Seleção Brasileira e Vasconcelos, atacante que também defendeu o Santos.
Embora esses jogadores tenham alcançado grande sucesso profissional em outras equipes, nenhum deles representou tanto para o Íbis quanto o folclórico meia-esquerda e camisa 10, Mauro Shampoo, considerado o maior ídolo do clube em todos os tempos, embora tivesse marcado um único gol em toda a sua carreira de jogador profissional. Foi o gol de honra, na goleada de 8 X 1 sofrida frente o Ferroviário do Recife.
Shampoo teve uma infância pobre, cresceu trabalhando como engraxate na praia de Boa Viagem, no Recife, onde nos fins de tarde jogava peladas na areia. Ainda jovem aprendeu o ofício de cabeleireiro, que até hoje lhe garante o sustento. Sua grande paixão, porém, sempre foi o futebol. Durante 10 anos jogou pelo Íbis Sport Club, o time do seu coração, como diz até hoje.
Shampoo não é mais simplesmente o maior jogador da história do Íbis. É também ator cinematográfico. Os produtores Paulo Henrique Fontenelle e Leonardo Cunha Lima fizeram o documentário em curta metragem "Mauro Shampoo, jogador, cabeleireiro e homem". O título reproduz a maneira como o próprio personagem se define. Ao atender o telefone em seu salão, numa galeria no Terminal de Boa Viagem, diz: “Mauro Shampoo, jogador do Íbis, cabeleireiro, homem e um dos piores jogadores da história do futebol brasileiro". A trilha sonora do filme é de autoria de Oswaldo Montenegro, onde se destaca a música “A incrível história de Mauro Shampoo”, gravada em CD o ano passado.
No salão de Mauro, onde a clientela só fala de futebol, podem ser vistas mais de 500 fotografias do Íbis, inclusive algumas atuais onde aparece seu filho, Homed Thorpe, também centro-avante e que joga no Íbis, pensando em repetir “os feitos” do pai. Além de Shampoo, outra "grande" vedete do time foi o goleiro Jagunço, que sofreu 366 gols com a camisa rubro-negra. O substituto, Eudes, levou 129 gols entre 2003/2004.
A Diretoria do Íbis tem alguns planos ambiciosos para este ano de 2008: a publicação de um livro contando a vida do clube, o lançamento de um DVD histórico, comemorativo aos 70 anos de fundação, além de uma excursão para o exterior e a construção de um estádio próprio. Hoje, o Íbis realiza seus jogos em Paulista, na Região Metropolitana do Recife.
Se o Íbis não faz bonito no jogo, agora faz na apresentação. Por iniciativa do norte-americano Michael Getchell, que morou alguns anos em Pernambuco, o clube recebe seu material esportivo da multinacional Umbro. Já vão longe os tempos em que, como num jogo contra o Sport, no estádio da Ilha do Retiro, seus atletas entraram descalços no gramado, porque o time não tinha dinheiro nem patrocinador para pagar as chuteiras. (Texto e Pesquisa: Nilo Dias)
Ibis, o pior time do mundo (Parte I)
Quando o empresário João Pessoa de Queiroz, dono da Tecelagem de Seda e Algodão de Pernambuco (TSAP) concordou que os seus funcionários organizassem um time de futebol, certamente não imaginava que no pátio de sua empresa estava começando uma história que com o passar dos anos chegaria ao “The New York Times” e ao “Livro Guinnes de Recordes”.
Era o dia 15 de novembro de 1938 quando Onildo Ramos, Alex Codiceira e Amaro Silva (todos já falecidos) fundaram o Íbis S.C., uma referência ao pássaro mitológico, símbolo da empresa. As cores do uniforme foram escolhidas por influência do Sport e se mantém até hoje: camisas vermelhas com listas diagonais pretas, calções pretos, meias vermelhas.
Nos primeiros tempos o Íbis foi apenas um time dos funcionários que jogava descompromissados amistosos nos fins de semana do bairro recifense de Santo Amaro. Ninguém pensava em futebol profissional. Com a morte de João Queiroz, os herdeiros implantaram uma política de contenção de despesas e os primeiros cortes tiveram como alvo o lazer dos operários. O Íbis estava condenado a desaparecer.
Não fosse a intervenção do gerente Onildo Ramos, um dos fundadores, o time do “pássaro preto” não existiria hoje. Ele atendeu o apelo do filho Ozir, que também trabalhava na fábrica e levou para dentro de casa, a responsabilidade de manter o Íbis em atividade. Tinha início uma nova etapa na vida do clube. Acabava a fase romântica do amadorismo.
O Íbis deixou de ser um time de empresa para se tornar um clube de futebol profissional. Foi um dos fundadores da atual Federação Pernambucana de Futebol, sendo o único clube filiado que nunca deixou de disputar todos os campeonatos promovidos pela Entidade. E passou por fases regulares e ruins. Boas, nunca. Enfrentou dificuldades de toda a ordem. Os jogadores recebiam salários simbólicos. A maioria jogava mais por amor ao clube, do que por qualquer outra coisa.
Ainda assim, o Íbis chegou a conseguir alguns patrocinadores fixos, como o Café Royal e o Café Soberano, que estampavam suas marcas nas camisas do time. Com o falecimento de Onildo, o filho Ozir assumiu a presidência do clube em 1957. Na ocasião disse que a paixão pelo Íbis “é como paixão de bêbado por cachaça. Sabe que faz mal, mas não larga o vício”. Ozir Ramos ficou mais de 30 anos no comando do clube.
Depois dele o Íbis teve entre os seus presidentes os desportistas Meibe Ramirez, Sóstenes Mesquita, Joaquim Caldas, Omar Júnior, coronel Carlos Alberto Pinto Carvalho e Ozir Ramos Júnior, atual primeiro mandatário, eleito em 2006.
O Íbis tem quase 60 conselheiros e cerca de 10 mil sócios, muito mais que Sport, Santa Cruz ou Náutico. Existe uma explicação: no mandato do presidente Joaquim Caldas foram distribuídas quase 10 mil carteirinhas de sócio. Como o clube não tem sede, não é cobrado qualquer taxa e as pessoas gostam de ter a carteirinha como souvenir.
Foi no final da década de 70 e início da década de 80 que o Íbis ganhou a fama de ser o pior clube de futebol de todos os tempos, não apenas do Brasil, mas do mundo. Dizem que foi o jornalista Lenivaldo Araújo, na época correspondente da revista “Placar”, o responsável pela titulação. Em 1979 jogou 12 partidas pelo campeonato pernambucano, perdeu todas, levou 51 gols e marcou 1 (um zagueiro adversário fez contra), no jogo em que o Sport venceu por 8 X 1. Foi essa campanha horrorosa que mereceu matéria no “The New York Times”.
Entre julho de 1980 e junho de 1984, a equipe passou exatos três anos, dez meses e 26 dias sem vencer. Foram 54 partidas, com 48 derrotas e seis empates. Dentro dessa estatística, em 1981, pelo campeonato pernambucano jogou 23 partidas e perdeu todas.
Ainda assim, as estatísticas sobre o Íbis são bastante imprecisas. Um levantamento feito em 2005 apontou um histórico de 1.064 jogos, com 137 vitórias, 145 empates e 782 derrotas. O saldo negativo era, então, de 2.221 gols. Depois disso ninguém mais se interessou em levantar dados, pois o clube vem passando por uma fase quase de esquecimento, por estar fora do foco do campeonato principal de Pernambuco. Inspirada no Íbis a turma do programa televisivo “Cassetta & Planeta”, da Rede Globo, criou o Tabajara Futebol Clube.
Antes de se tornar o pior time do mundo o Íbis foi durante muito tempo chamado pela imprensa pernambucana de "rubro negro das Salinas", em homenagem ao Santo Padroeiro do bairro de Santo Amaro das Salinas, onde tinha sua sede. Era a época em que o time, embora pequeno, às vezes assustava os grandes.
No inverno de 1947, estreante no campeonato principal fez 5 x 4 em cima do Sport. E 1 x 0 contra o Náutico, em janeiro de 1948, ambos os jogos nos Aflitos. Ainda em 1948 uma goleada em cima do Náutico por 5 x 3. Em 1950, outra proeza: empate em 4 x 4 com o Sport, escore repetido em 1953, diante do Santa Cruz. De outra feita, empate de 0 x 0 com o Sport, após o que o intermediário Cier Barbosa mandou todo o time do Íbis, inclusive o treinador Souza Arantes, para o Barreirense de Portugal.
Foi sempre assim, uma ou outra vitória apertada em cima de um grande: 1 X 0 ante o Náutico, em 1961, gol de Carlos Alberto, um soldado da Polícia Militar. E outro 1 x 0 mais adiante, em 16 de julho de 1965, contra o Santa Cruz, gol de Rildo, jogo em que o goleiro Jagunço realizou defesas “milagrosas”. E em 2000, mais uma vitória de 1 x 0 frente o Náutico. (Texto e Pesquisa: Nilo Dias)
Era o dia 15 de novembro de 1938 quando Onildo Ramos, Alex Codiceira e Amaro Silva (todos já falecidos) fundaram o Íbis S.C., uma referência ao pássaro mitológico, símbolo da empresa. As cores do uniforme foram escolhidas por influência do Sport e se mantém até hoje: camisas vermelhas com listas diagonais pretas, calções pretos, meias vermelhas.
Nos primeiros tempos o Íbis foi apenas um time dos funcionários que jogava descompromissados amistosos nos fins de semana do bairro recifense de Santo Amaro. Ninguém pensava em futebol profissional. Com a morte de João Queiroz, os herdeiros implantaram uma política de contenção de despesas e os primeiros cortes tiveram como alvo o lazer dos operários. O Íbis estava condenado a desaparecer.
Não fosse a intervenção do gerente Onildo Ramos, um dos fundadores, o time do “pássaro preto” não existiria hoje. Ele atendeu o apelo do filho Ozir, que também trabalhava na fábrica e levou para dentro de casa, a responsabilidade de manter o Íbis em atividade. Tinha início uma nova etapa na vida do clube. Acabava a fase romântica do amadorismo.
O Íbis deixou de ser um time de empresa para se tornar um clube de futebol profissional. Foi um dos fundadores da atual Federação Pernambucana de Futebol, sendo o único clube filiado que nunca deixou de disputar todos os campeonatos promovidos pela Entidade. E passou por fases regulares e ruins. Boas, nunca. Enfrentou dificuldades de toda a ordem. Os jogadores recebiam salários simbólicos. A maioria jogava mais por amor ao clube, do que por qualquer outra coisa.
Ainda assim, o Íbis chegou a conseguir alguns patrocinadores fixos, como o Café Royal e o Café Soberano, que estampavam suas marcas nas camisas do time. Com o falecimento de Onildo, o filho Ozir assumiu a presidência do clube em 1957. Na ocasião disse que a paixão pelo Íbis “é como paixão de bêbado por cachaça. Sabe que faz mal, mas não larga o vício”. Ozir Ramos ficou mais de 30 anos no comando do clube.
Depois dele o Íbis teve entre os seus presidentes os desportistas Meibe Ramirez, Sóstenes Mesquita, Joaquim Caldas, Omar Júnior, coronel Carlos Alberto Pinto Carvalho e Ozir Ramos Júnior, atual primeiro mandatário, eleito em 2006.
O Íbis tem quase 60 conselheiros e cerca de 10 mil sócios, muito mais que Sport, Santa Cruz ou Náutico. Existe uma explicação: no mandato do presidente Joaquim Caldas foram distribuídas quase 10 mil carteirinhas de sócio. Como o clube não tem sede, não é cobrado qualquer taxa e as pessoas gostam de ter a carteirinha como souvenir.
Foi no final da década de 70 e início da década de 80 que o Íbis ganhou a fama de ser o pior clube de futebol de todos os tempos, não apenas do Brasil, mas do mundo. Dizem que foi o jornalista Lenivaldo Araújo, na época correspondente da revista “Placar”, o responsável pela titulação. Em 1979 jogou 12 partidas pelo campeonato pernambucano, perdeu todas, levou 51 gols e marcou 1 (um zagueiro adversário fez contra), no jogo em que o Sport venceu por 8 X 1. Foi essa campanha horrorosa que mereceu matéria no “The New York Times”.
Entre julho de 1980 e junho de 1984, a equipe passou exatos três anos, dez meses e 26 dias sem vencer. Foram 54 partidas, com 48 derrotas e seis empates. Dentro dessa estatística, em 1981, pelo campeonato pernambucano jogou 23 partidas e perdeu todas.
Ainda assim, as estatísticas sobre o Íbis são bastante imprecisas. Um levantamento feito em 2005 apontou um histórico de 1.064 jogos, com 137 vitórias, 145 empates e 782 derrotas. O saldo negativo era, então, de 2.221 gols. Depois disso ninguém mais se interessou em levantar dados, pois o clube vem passando por uma fase quase de esquecimento, por estar fora do foco do campeonato principal de Pernambuco. Inspirada no Íbis a turma do programa televisivo “Cassetta & Planeta”, da Rede Globo, criou o Tabajara Futebol Clube.
Antes de se tornar o pior time do mundo o Íbis foi durante muito tempo chamado pela imprensa pernambucana de "rubro negro das Salinas", em homenagem ao Santo Padroeiro do bairro de Santo Amaro das Salinas, onde tinha sua sede. Era a época em que o time, embora pequeno, às vezes assustava os grandes.
No inverno de 1947, estreante no campeonato principal fez 5 x 4 em cima do Sport. E 1 x 0 contra o Náutico, em janeiro de 1948, ambos os jogos nos Aflitos. Ainda em 1948 uma goleada em cima do Náutico por 5 x 3. Em 1950, outra proeza: empate em 4 x 4 com o Sport, escore repetido em 1953, diante do Santa Cruz. De outra feita, empate de 0 x 0 com o Sport, após o que o intermediário Cier Barbosa mandou todo o time do Íbis, inclusive o treinador Souza Arantes, para o Barreirense de Portugal.
Foi sempre assim, uma ou outra vitória apertada em cima de um grande: 1 X 0 ante o Náutico, em 1961, gol de Carlos Alberto, um soldado da Polícia Militar. E outro 1 x 0 mais adiante, em 16 de julho de 1965, contra o Santa Cruz, gol de Rildo, jogo em que o goleiro Jagunço realizou defesas “milagrosas”. E em 2000, mais uma vitória de 1 x 0 frente o Náutico. (Texto e Pesquisa: Nilo Dias)
Foi nessa indústria têxtil, no bairro de Santo Amaro, no Recife que nasceu o Ibis S.C. (Foto: Foto Acervo da família Queiroz)
filipe fernandes disse...
Ibis comemora 70 anos e projeta centro de treinamento de R$ 15 milhões
Leia mais clicando em
http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Futebol/0,,MUL847121-9825,00.html
3 de novembro de 2008 14:41
filipe fernandes disse...
Ibis comemora 70 anos e projeta centro de treinamento de R$ 15 milhões
Leia mais clicando em
http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Futebol/0,,MUL847121-9825,00.html
3 de novembro de 2008 14:41
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