É
inegável que o Sport Club Corinthians Paulista está se transformando no maior
clube de futebol do Brasil. E não só dentro dos gramados, mas também fora.
Prova disso é que está inovando.
O
clube acaba de lançar um projeto ousado, o de construir um cemitério destinado
a receber exclusivamente seus torcedores e atletas mortos, com capacidade maior
que o próprio Estádio Itaquerão. O nome do empreendimento diz tudo:
“Corinthians para sempre!”
O
lançamento do produto ocorreu com a presença de ex-jogadores, como Basílio,
atacante imortalizado por ter feito o gol que deu o título de campeão paulista
de 1977, acabando com um jejum de 23 anos sem títulos do clube, e do ex-centro avante
Geraldão.
Os
organizadores ofereceram espaços para ídolos do Corinthians, como Wladimir,
Biro Biro e Zé Maria, que aceitaram as ofertas. Até mesmo quem já morreu pode
vir a ser transferido para o cemitério, com vaga para 100 ex-jogadores do
clube.
Um
neto do Baltazar, ídolo da década de 50, falecido em 1997 se mostrou bastante
emocionado com o convite para o translado dos restos mortais de seu avô para o
cemitério do clube.
O
cemitério de 402 mil m², cujas obras estão em andamento, está sendo erguido no município
de Itaquaquecetuba, que se localiza a cerca de 40 quilômetros da capital paulista
e deverá ser inaugurado provavelmente em dezembro deste ano.
O
cemitério não está sendo construído diretamente pelo clube, sim pelo Grupo
Memorial, parceiro do Corinthians no empreendimento, especializado no setor de
mercado funerário. Os lucros serão divididos entre as duas partes em
porcentagens não reveladas por questões contratuais.
Com
cerca de 80 mil metros de quadras, o projeto deverá ter 70 mil jazigos e
possuirá a réplica de um campo de futebol, duas quadras fora do campo, além de
salas de velórios confortáveis, um grande estacionamento, floricultura,
lanchonete, memorial, lago e uma área de reserva natural.
O
serviço funeral será completo, e chama a atenção, com direito a execução do
hino do Corinthians, painel, urna com adorno personalizado, bandeira do clube e
coroa de flores artificiais só nas cores preta e branca, sem folhas verdes, em
razão das cores do rival Palmeiras.
Já
são conhecidos alguns preços a serem cobrados pelos jazigos: Quadra “Minha
História”: R$ 5.600,00 e Quadra “Minha Vida”, que ficarão fora do campo: R$
6.500,00; Quadra “Meu Amor”, considerada área nobre, dentro da réplica do campo
de futebol, que contará com linhas, traves, círculos e até tribunas: R$
7.800,00; Ossuário - Quadra “Minha História”: R$ 1.500,00 e Ossuário - Quadra “Minha
Vida”: R$ 1.800,00
Mesmo
sem qualquer divulgação, ou contratos com funerárias parceiras já foram
vendidos cerca de 50 deles, num pré-lançamento. Estão disponibilizados nessa
etapa de vendas apenas 300 jazigos da Quadra “Minha Vida”, 300 jazigos da
Quadra “Minha História” e 400 jazigos da Quadra Nobre – “Meu Amor” (réplica do
campo de futebol).
Os
primeiros torcedores que realizaram pré reservas contarão com um preço
diferenciado e o valor (que pode ser dividido e pago com cartão de crédito ou
via boleto bancário) já será utilizado como crédito no momento da compra do
jazigo.
E
ainda terão direito a escolher, conforme disponibilidade, o local do jazigo,
como por exemplo, próximo do meio do campo, perto do gol, na marca do pênalti,
etc. Até torcedores de outros times já brincaram perguntando se podem ser
enterrados lá, porque gostaram muito do projeto.
Essa
não é a primeira vez que uma equipe de futebol constrói um cemitério todo seu.
O Boca Juniors, da Argentina foi o pioneiro. Tem um mausoléu dentro do
cemitério de “Chacarita”. Ali está enterrado, por exemplo, o jogador Bernardo “Gandulla”,
que atuou pelo Vasco em 1939 e cujo sobrenome virou o nome da pessoa que
devolve a bola para o campo de jogo.
Se
os ídolos estão em “Chacarita”, os torcedores do Boca ganharam um cemitério
exclusivo em 2006. Ele foi construído com a finalidade de evitar que as pessoas
continuassem a jogar as cinzas de sócios falecidos, dentro de “La Bombonera”.
O
“campo santo” tem capacidade para 3 mil sepulturas, todas decoradas com flores
azuis e amarelas, as cores do Boca Juniors. Está localizado em um setor do
cemitério “Parque Iraola”, em Berazategui, a 30 km ao sul de Buenos Aires.
O
cemitério foi inaugurado com a cerimônia de exumação dos restos mortais de dois
antigos atletas do clube, os goleiros Juan Estradas e Júlio Elias Musimessi,
cujas cinzas foram transferidas para lá.
Nesse
dia o ex-craque Antônio Ubaldo Rattin, que defendeu o Boca nos anos 60, disse:
“Está tão lindo que dá vontade de ficar”. Com isso o Boca Juniors também pôs em
prática uma das estrofes de seu hino que diz: “nem a morte nos vai separar,
desde o céu vou te alentar".
O
clube alemão Hamburgo HSV construiu um cemitério para os fãs bem ao lado do
estádio, que se encontra em funcionamento desde 2008. É decorado com um portão
de entrada no formato de gol. Esse é o primeiro cemitério dedicado ao futebol
da Alemanha e está localizado a alguns metros do estádio “Nordbank Arena”, onde
o clube disputa as partidas em casa.
O
cemitério tem cerca de 500 sepulturas. Entre os primeiros torcedores que reservaram
jazigos, o solicitante mais velho foi o viúvo Ernst Schmidt, de 85 anos, e o
mais novo, cujo nome não foi revelado, de 27. Os túmulos são organizados em um
semicírculo em três níveis diferentes para lembrar uma arquibancada. O local de
2.500 metros quadrados fica na esquina de um antigo cemitério.
A
ideia de construir o cemitério surgiu depois que alguns dos 50 mil sócios do
clube pediram para que suas cinzas fossem espalhadas pelo campo, enterradas no
estádio ou que uma urna fosse enterrada no local de cobrança de penalidade
máxima.
Tudo
segue o padrão de cores do time, as sepulturas têm o escudo e, além disso, os
torcedores podem ser enterrados ao som do hino do Hamburgo. No site oficial do
clube pode ser feita uma visita virtual ao cemitério.
O
outro clube alemão que construiu um cemitério é o Schalke 04. Sua torcida é
famosa pelo fanatismo. O time é popular entre pedreiros e mineiros da região do
vale do rio Ruhr, a mais populosa do país. O lugar reservado para sepultamentos
de seus torcedores fica em Gelsenkirchen,na região oeste da Alemanha.
A
apenas 500 metros do estádio, o local, que foi inaugurado em 2012, tem 1.904
túmulos. Mas o Schalke não ganha dinheiro com o espaço, de acordo com o jornal
“Bild”. Algumas sepulturas foram até destacadas para receberem torcedores que
não são capazes de pagar para descansar eternamente ao lado do time do coração.
Quando
da inauguração, debaixo de neve, foram colocadas no cemitério coroas de flores
azuis e brancas, às cores do time, e mensagens como “azul e branco, a vida
toda''.
O
cemitério foi construído em forma de estádio, com um escudo do clube no centro.
As referências futebolísticas contam também com a presença de dois gols no
local, assim como em um campo de futebol. De lá, os visitantes podem ver o
estádio “Veltins Arena”, onde são
realizados os jogos da equipe.
Antes,
o Schalke 04 já havia construído uma paróquia personalizada, com seu próprio
templo e um pastor. No local são batizadas crianças e celebradas bodas de
casamento. Segundo o pastor Hans-Joachim Dohm, o cemitério é totalmente normal,
onde ocorrem enterros totalmente normais.
Mesmo
sem construir cemitérios exclusivos, outras agremiações encontraram formas de
aproximação dos torcedores com seus clubes de coração, mesmo depois de mortos.
É o caso do Everton Football, da Inglaterra, que permite aos seus aficionados
serem enterrados em uma urna ao lado do campo.
O
Barcelona também aderiu a moda e construiu um Memorial no “Camp Nou”, com 30
mil urnas, onde podem ser colocadas as cinzas de torcedores. Além disso, placas
memoriais também são disponibilizadas.
O
espaço fica sob uma das arquibancadas do estádio e está disponível para
qualquer pessoa que tenha uma ligação afetiva com o clube. Os sócios têm
prioridade.
Até
50 anos, o preço é de 3 mil euros mais impostos (cerca de R$ 10 mil); por 99
anos a urna custará 6 mil euros mais impostos (cerca de R$ 20 mil). Existem
ainda urnas comunitárias, que custam 1.500 euros mais impostos (cerca de R$ 5
mil).
O
Espaço Memorial do Barcelona é o maior do mundo dentre os construídos por
clubes de futebol e rende ao clube, segundo as estimativas oficiais, cerca de 6
milhões de euros (R$ 21 milhões).
Mas
o Barcelona não é o primeiro clube espanhol a adotar essa estratégia. Atlético
de Madri e Espanyol, outro clube catalão, já construíram memoriais em seus
estádios. (Pesquisa: Nilo Dias)