O
Santos F.C. foi o adversário do Barcelona no “Troféu Joan Gamper” deste ano, e
levou uma goleada histórica de 8 X 0, em jogo realizado na última sexta-feira a
tarde em Camp Nou, na capital da Catalunha. A competição é realizada desde 1966, sempre no
mês de agosto e foi criada pelo então presidente do clube, Enric Llaudet em homenagem ao suíço Hans-Max Gamper Haessig (1877-1930), conhecido como Joan,
fundador do F.C. Barcelona.
Até 1996 o torneio era disputado por quatro equipes em
jogos eliminatórios. Em caso de empates a decisão era por cobranças de
pênaltis. A partir de 1997, por problemas de datas, só duas equipes passaram a
disputar o torneio, o Barcelona e um convidado. O único clube fora do
continente europeu a vencer a competição foi o S.C. Internacional, de Porto
Alegre, em 1982.
O
clube gaúcho derrotou o poderoso Barcelona no jogo inaugural. O clube catalão
havia preparado uma grande festa. Apesar de ter disputado antes
os torneios “Teresa Herrera” e “Palma de Mallorca”, o Barcelona havia deixado
para o “Joan Gamper” as estréias de suas duas grandes contratações: o argentino
Maradona e o alemão Schuster. Além disso, havia a grande estrela do futebol
espanhol, no momento: Quini.
O
Internacional chegou falando em revanche, pois dias antes havia sido derrotado pelo
Barcelona no “Torneio Teresa Herrera”, em La Coruña, por 1 X 0. O técnico do
Internacional era Ernesto Guedes, que criticou a arbitragem na derrota de seu time.
Já o treinador do onze catalão, Udo Lattek disse que sua equipe podia ganhar
sempre do Internacional.
O
jogo ainda tinha outro ingrediente, além do desejo de revanche do Internacional
e da troca de farpas entre os técnicos, havia o jogador Cléo, que o clube
colorado vendera ao Barcelona no inicio daquele ano e depois de três meses
apenas treinando, sem jogar, foi novamente negociado com o "Colorado".
O
jogo começou com amplo domínio do Barcelona, mas suas investidas paravam na forte marcação do onze brasileiro. O estreante Maradona pouco tocou na bola. O clube gaúcho raramente
contra atacava. O segundo tempo começou quente: Maradona acertou uma bola na
trave e Edvaldo, cobrando falta logo em seguida, deu a resposta, também
acertando a trave catalã.
O
jogo seguiu morno com o Barcelona atacando e o Internacional se defendendo. Um petardo
de Schuster, que recém havia entrado em campo, acertando a trave, foi o lance
mais perigoso nos minutos finais. Com o empate sem gols foi necessário ir para
a cobrança de pênaltis.
Já
era começo de madrugada em Barcelona quando começaram as cobranças. Para o
Internacional cobraram e converteram Rubén Paz, Andrezinho, Ademir e André
Luiz. Para o Barcelona, Quini, que acertou a trave, Maradona, que converteu e Alesanco
que bateu e o goleiro Benitez defendeu. Final, Internacional classificado para a final 4 X 1 Barcelona.
O
técnico do time espanhol não se conformou com a derrota e declarou após o
jogo: “Normalmente debemos ganar a estos
brasileños, pero esta noche el medio campo ha estado falto de profundidad.”
O
Internacional jogou com Benítez – Edevaldo - Mauro Pastor - André Luís e Bereta
(Müller) – Ademir - Cléo (Sílvio) - Mauro Galvão e Rubén Paz - Paulo César e
Silvinho (Andrezinho). O Barcelona mandou a campo Artola – Gerardo – Migueli -
Alesanco e Julio Alberto - Alonso (Schuster) - Esteban (Marcos) e Victor –
Quini - Maradona e Carrasco.
A
grande final foi no dia seguinte, 26 de agosto de 1982, entre Internacional X
Manchester City, da Inglaterra, que havia eliminado o Colônia, da Alemanha. O
primeiro tempo teve o domínio absoluto do Internacional, mas o placar
permaneceu em branco.
Na
etapa final os gols apareceram. Aos 12 minutos, Hakeide derrubou Cléo na área:
pênalti, que Edevaldo converteu. Aos 15, Paulo César fez 2 X 0. Aos 20, Hartford,
da seleção escocesa, foi expulso. Aos 37, Fernando Roberto ampliou para 3 X 0. Aos
41, Mcdonalds fez o gol de honra dos ingleses. Fim de jogo, Internacional
campeão. O capitão André Luís recebeu o troféu, que é moldado em prata, com
base de mármore e acabamento em ouro.
Internacional:
Benítez – Edevaldo - Mauro Pastor - André Luís e Mauro Galvão – Ademir - Müller
(Joãozinho) - Cléo (Sílvio) e Rubén Paz - Paulo César (Fernando Roberto) e
Silvinho. Manchester City: Corrigan – Ranson – Macdonald - Tweart e Kempron
(May) – Bond - Reenes e Hartford – Hakeide - Cross e Power.
Na
decisão do terceiro lugar, o Barcelona do técnico falastrão, Udo Lattek e dos
craques Maradona, Schuster e Quini, perdeu para o Colônia, por 1 X 0 e foi o
último colocado do torneio.
Outros
clubes brasileiros que disputaram o “Troféu Joan Gamper: 1968, Flamengo; 1972, Vasco
da Gama; 1978, Botafogo; 1980, Vasco da Gama; 1981, Vasco da Gama; 1989, Internacional
(perdeu para o Barcelona, por 1 X 0, na decisão do terceiro lugar); 1991, Internacional
(foi terceiro lugar ganhando do Rapid
Viena, da Áustria, por 2 X 0; 1998, Santos e 2013, Santos.
O
Barcelona foi o clube que mais venceu o “Torneio Joan Gamper”, 36 vezes (1966,
1967, 1968, 1969, 1971, 1973, 1974, 1975, 1976, 1977, 1979, 1980, 1983, 1984,
1985, 1986, 1988, 1990, 1991, 1992, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001,
2002, 2003, 2004, 2006, 2007, 2008, 2010, 2011, 2013).
Depois
vem o F.C. Kolns (Colônia), da Alemanha (1978 e 1991); Ujpest Dozsa, da Hungria
(1970); Borussia Mönchengladbach, da Alemanha (1972); Internacional, do Brasil (1982);
F.C. do Porto, de Portugal (1987); K.V. Mechelen, da Bélgica (1989); C.D. Tenerife, da Espanha (1993); Valência, da Espanha (1994); Juventus, da Itália
(2005); Manchester City, da Inglaterra (2009) e Sampdória, da Itália (2012).
A maior goleada registrada na competição não foi Barcelona 8 X 0
Santos, como erroneamente foi dito na transmissão da Rede Globo, na última
sexta-feira. Em 1984, o mesmo Barcelona goleou o Boca Juniors, da Argentina,
por 9 X 1. Outras goleadas: 1966, RSC Anderlecht, da Bélgica 7 x 0 Nantes, da
França e em 1992, F.C. Barcelona 7 X 1 CSKA Sofia, da Bulgária.
Hans-Max
Gamper Haessig, conhecido na Catalunha como Joan Gamper, nasceu na cidade de
Winterthur, ao Norte da Suíça, em 22 de novembro de 1877. Era o mais velho de
cinco irmãos.
Anda
pequeno foi morar em Zurique, depois que sua mãe morreu vitima de tuberculose.
Com apenas 12 anos de idade já era um destacado ciclista e habilidoso
enxadrista. Seu trabalho não permitiu que continuasse a praticar o ciclismo,
por isso resolveu se dedicar ao râguebi (rúgbi ou rugby), golfe, tênis e ao
futebol, onde alcançou grande êxito, sendo considerado um dos melhores
jogadores do país, na época.
Foi
capitão do F.C. Basiléia e depois o melhor atacante do F.C. Excelsior. Teve problemas no clube e resolveu abandoná-lo e fundar o F.C. Zurich, que não demorou em se tornar uma das melhores equipes do futebol suíço. Em 1897 mudou-se para
Lyon, na França, onde ingressou no Union Athletique, um clube de rugby.
Em
1899 passou por Barcelona para visitar um tio, ali radicado, quando ia em
viagem de negócios à África. Apaixonou-se pela cidade e decidiu também morar
lá. Logo fez amizade com a colônia estrangeira. Aprendeu a
falar catalão antes do espanhol e catalanizou o seu nome para Joan. Morador
do bairro de Sant Gervasi de Cassoles, decidiu fundar um clube de futebol na
cidade.
No
dia 22 de outubro de 1899, a revista "Los Deportes" publicou um
anúncio convidando todos os aficionados a prática do futebol, para uma reunião que
aconteceria no dia 29 de novembro de 1899, no Ginásio Solé, da rua Montjuic del
Carme número 5. Joan, junto de um grupo de ingleses e espanhóis fundou o Futbol
Club Barcelona. As cores escolhidas para a camiseta foram inspiradas no F.C.
Basiléia, da Suíça, o azul e o vermelho (grená).
Joan Gamper fez parte como jogador da primeira equipe do Barcelona, onde jogou de 1899
até 1903. Ajudou o clube a ganhar seu primeiro troféu, a “Taça Macaya” e jogou
a primeira final da “Taça do Rei”, disputada pelo Barcelona e ganha pelo
Viscaya.
Posteriormente
foi presidente do clube por cinco mandatos. Foi ele que contratou o atacante filipino Paulino
Alcántara, até hoje o maior goleador da história do clube, com 357 gols. E
também trouxe nomes míticos como Zamora e Samitie. Foi durante um dos
mandatos de Gamper que Jack Greenwell tornou-se o primeiro treinador
profissional da história do Barcelona. Com ele de presidente o clube ganhou 11
Campeonatos da Catalunha, 6 Taças do Rei e 4 Taças dos Pirinéus.
Em
1922, Joan Gamper doou 1 milhão de pesetas para a construção do novo estádio de
Les Corts, onde em 1925 o hino espanhol foi assobiado e o britânico aplaudido, para fúria do ditador Primo de Rivera. Como represália pela atitude pouco
nacionalista dos adeptos do clube, o governo central mandou fechar o estádio
por três meses e Gamper obrigado a
partir para o exílio.
Mais
tarde foi autorizado a regressar a Espanha e à sua querida Barcelona, mas proibido
de ter qualquer ligação com o clube que ajudou a fundar. Essa interdição o levou
a um estado depressivo que o acompanhou até ao fim da vida. Cada vez mais
debilitado, perdeu o entusiasmo e viu o seu estado de saúde piorar. A grande
depressão de 1929, consequência do “crash” da bolsa de Nova York, provocou a
ruína de Gamper.
Durante
um ano combateu a depressão, isolando-se em sua casa, mas os problemas pessoais
e financeiros ocupavam o seu dia-a-dia, até que em 30 de Julho de 1930, com
um tiro na cabeça, pôs fim à própria vida. A sua morte consternou o clube e a
cidade. Dezenas de milhares seguiram o féretro a caminho da sua última morada
no Cemitério de Montjuic.
Depois
da tragédia a cidade prestou-lhe algumas homenagens. Uma rua do bairro de Les
Corts levou seu nome. O F.C. Barcelona lhe reservou a carteira de número 1 de
sócio. Anos mais tarde o ditador Franco não permitiu que o novo estádio do
clube, o “Nou Camp”, tivesse o nome do seu fundador.
Joan Gamper. (Foto: Acervo fotográfico do F.C. Barcelona)