Romeu
Italo Ripoli, conhecido como "Flecha de Ouro" foi um folclórico
presidente do E.C.XV de Novembro, de Piracicaba (SP). Era filho de Piracicaba,
onde nasceu em 21 de novembro de 1916, lá mesmo falecendo no dia 28 de outubro
de 1983.
Vivaz,
inteligente, dotado de excepcionais dinamismo e capacidade de liderança, muito
combativo e irrequieto, salientou-se por seu entranhado amor a terra natal e ao
Esporte Clube XV de Novembro, de que foi presidente, assim como pela
participação apaixonada na vida política local. Fascinado pelos esportes desde
cedo, foi inegavelmente o grande líder do XV de Novembro.
Romeu
Italo Rípoli foi uma das mais fascinantes personalidades piracicabanas nas
últimas décadas. Polêmico, controvertido, amado e odiado, tornou-se símbolo da
saga do E.C.XV de Novembro. Ele e o "Nhô Quim" pareciam uma só
entidade. Falar em um era pensar no outro.
Além
de desportista de projeção nacional foi também engenheiro agrônomo, empresário
e político. Era filho dos humildes imigrantes italianos Caetano Ripoli (1866-1940)
e Emília Viccini Ripoli (1875-1972). Passou a infância e adolescência em sua
cidade natal.
Estudou
no Ateneu Piracicabano, na Escola de Comércio Cristóvão Colombo e no Colégio
universitário. Após a formatura na Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiróz (Esalq), foi funcionário da Secretaria da Agricultura do Estado e
técnico da usina Tamoio, em Araraquara, de Pedro Morganti.
No
seu período universitário teve forte atuação e trabalho pela construção da sede
própria do Centro Acadêmico Luiz de Queiroz, o que só se concretizou em 1963.
Em 1943, publicou o livro "Quarenta Anos de Glórias", narrando a
história da Associação Atlética Acadêmica Luiz de Queiroz, entre 1903 e 1943.
Ele
jogou como ponta direita no time da ESALQ-USP, mas ganhou notoriedade na
presidência do XV de Piracicaba, quando foi comparado a Vicente Mateus,
lendário presidente do Corinthians.
Foi
um dos responsáveis pela introdução do bicho da seda no oeste do estado de São
Paulo, quando trabalhava no serviço estadual de agricultura. Rompeu com o
Governador Adhemar de Barros e pediu demissão do serviço público por não
concordar com o uso das suas ações profissionais para fins políticos e
demagógicos.
Ainda
nos anos 40, coordenou a construção das arquibancadas do estádio do XV de
Novembro de Piracicaba, time de futebol da cidade.
Teve
fazenda e criou a indústria piracicabana de seda. Atraído pelo ramo
imobiliário, construiu inúmeras casas populares, vendendo-as a prestações. Em
1950, lançou no mercado imobiliário de Piracicaba um dos primeiros bairros
tipicamente residenciais de alto padrão do interior de São Paulo e o primeiro
asfalto da cidade, em terras da antiga fazenda do Pedro Rico, tendo como sócio
empreendedor o comendador Mário Dedini, seu padrinho.
Homem
visionário, Ripoli sentiu o impacto que teria a chegada da televisão ao Brasil.
Fundou uma pequena empresa de montagem de aparelhos de TV, a Sociedade
Brasileira de Televisão (Sobratel), com intuito de competir com as importadas.
No
entanto, foi vencido pelo lobby das empresas de importação. Com recursos
próprios instalou uma torre de TV na cidade, para retransmitir os programas da
TV Tupi. Foi a primeira retransmissora de canal televisivo da América Latina,
que captava os sinais da ex-Rede Tupi, de São Paulo.
Em
1954, montou uma comissão para construir o ginásio coberto "Waldemar
Blatkauskas", para que Piracicaba pudesse receber os “Jogos Abertos do
Interior”, em 1955. Coordenou, ainda, a arrecadação de fundos para a construção
da maternidade da Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba.
Foi
vereador em Piracicaba nos seguintes mandatos: 1948 a 1951, 1952 a 1955, 1956 a
1959, 1969 a 1972. Durante essa última legislatura, foi presidente da Casa
legislativa por pouco mais de 11 meses, uma vez que foi perseguido e forçado a
renunciar, sob a acusação de sonegar o Imposto de Renda.
Na
verdade, Ripoli havia aberto uma sindicância na Câmara para apontar
irregularidades do seu ex-presidente, Francisco Antônio Coelho, acusado pela
imprensa de patrocinar funcionários fantasmas.
Como
Coelho era ligado a militares do 5º Grupo de Canhões Anti-Aéreos, de Campinas,
fez valer tal condição para pressionar o então novo presidente. Por meses
Ripoli foi intimado para interrogatórios de forte pressão psicológica, o que o
levou a necessitar ser internado para tratamento em clínica especializada.
Algum
tempo mais tarde, recebeu carta do general Rubens Restell, isentando-o de todas
as acusações que lhe haviam sido feitas. No entanto, a área em que Ripoli mais
se destacou foi como presidente do XV de Piracicaba. Esteve à frente do clube
durante 17 anos, em dois períodos: entre 1959 e 1966 e depois entre 1973 e
1983.
Em
1964, levou o XV em excursão pela Europa e pela Ásia. Naquela época, o Brasil
já era bicampeão mundial e apenas o Santos e o Botafogo faziam esse tipo de
viagem. O time jogou na Suécia, na Polônia, na Alemanha (Ocidental e Oriental,
divisão da época), na Dinamarca e, no auge da Guerra Fria, nas então repúblicas
soviéticas da Rússia, Moldávia, Ucrânia, Casaquistão e Usbequistão.
Em
1976, o XV foi vice-campeão do Campeonato Paulista de Futebol, maior título do
time até a presente data e o primeiro clube do interior paulista a atingir tal
classificação. Nesse mesmo ano, extremamente popular, Ripoli foi candidato a
prefeito.
Porém,
devido a erros políticos cometidos, como falar demais sobre suas polêmicas
idéias, acabou perdendo a eleição e chegando em terceiro lugar. A Prefeitura de
Piracicaba foi o grande sonho não atingido por ele. Em 1977, o XV chegou a 8º lugar
no Campeonato Brasileiro de Futebol.
Dirigente
carismático, Ripoli envolveu-se em diversas disputas com a Federação Paulista
de Futebol (FPF), sempre buscando trazer benefícios para os clubes do interior
de São Paulo. Conhecido por sua grande inteligência, por falar vários idiomas e
pela caracterização que fazia do caipira interiorano, Ripoli era fumante
inveterado.
Sempre
enrolando seu cigarro de palha, fazia tipo nos jornais e nos programas
esportivos da TV, onde aparecia com frequência, criticando juízes e dirigentes
da (FPF). Foi o mentor intelectual e o agregador dos clubes do interior
paulista que levaram a FPF a ter, pela primeira vez na história, um presidente
do interior.
Vítima
de câncer no pulmão faleceu em 1983, pouco antes de seu 67º aniversário e do XV
sagrar-se campeão da segunda divisão, voltando à elite do futebol paulista.
Deixou a esposa Bela Ripoli e quatro filhos:
Tomaz
Caetano Cannavam Ripoli (1947-2013), que foi professor titular da Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz-USP; Elizabeth Cannavam Ripoli (1952),
pianista profissional e empresária musical conhecida como Beth Rípoli, que
casou-se com Luiz Carlos Franco; Antonio Roberto de Godoi (1957), engenheiro de
comunicações, pesquisador e empresário; e Edson Diehl Ripoli (1964), general do
Exército Brasileiro.
Ninguém
escapou às aprontadas de Romeu Italo Rípoli. Nem o filho Caetano. Ou melhor:
especialmente o Caetano, filho “hóme” de Romeu Ítalo Rípoli, não conseguiu
fugir às invenções, arrumações, aprontadas que ele fazia. Aconteceu em Maceió,
onde Caetano morava, atuando em sua especialidade científica na área
agronômica.
Querido
na sociedade alagoana, o casal Caetano e Lúcia Rípoli participava das
atividades locais, era requisitado para festas, encontros. Até que, um dia, o
presidente de um dos principais clubes alagoanos, o CRB, descobriu que Caetano
Rípoli era filho do famoso Romeu Ítalo Rípoli, presidente do E.C.XV de
Novembro. E foi a festa.
Pois
o presidente do CRB, todo assanhado, quis porque quis, insistiu e grudou no
Caetano, pedindo que interferisse junto ao pai para emprestar alguns jogadores
do XV para o time de Alagoas.
Solícito
e querendo prestigiar o filho hóme, Rípoli enviou três atletas para o CRB,
convencido de que, assim, colaboraria para Caetano aumentar ainda mais suas
relações alagoanas. Entre os jogadores, estava o Joãozinho Paulista, que Romeu
Rípoli inventava ser o “sucessor de Pelé”, só que era reserva no time do XV. E
Joãozinho se tornou artilheiro do campeonato alagoano. E ídolo da torcida.
O
valor do empréstimo não estava sendo pago pelo CRB e Rípoli não pressionava
muito. Mas sabia que o XV, pelo Campeonato Nacional (antigo Brasileiro) iria
jogar em Maceió, justamente contra o CRB. E lá embarcaram todos, Rípoli e o
time do XV para a terra onde Caetano morava.
Toda
a imprensa de Maceió foi recepcionar o polêmico presidente e sua famosa equipe.
E Rípoli, ainda no aeroporto, mandou brasa: “Vim aqui em Maceió, pessoalmente,
para ver o meu time dar uma sova no CRB e, também e especialmente, para cobrar
o calote que estou levando do presidente dessa equipe pelo empréstimo do
Joãozinho Paulista.”
Foi
um fuá. E Caetano Rípoli enlouqueceu, pensando no que haveria de acontecer para
ele e sua família, assim que o valentão do pai se fosse embora. Afinal de
contas, Maceió é terra de gente valente, com “peixeira” na cintura.
Caetano,
tremendo, tentou conter o papai Romeu: “Pai, você está em Alagoas. Você já
ouviu falar em peixeira, em machismo alagoano, em honra de cabra macho? Eu moro
aqui, caramba! E se eles vierem por cima de mim?”
Rípoli
com o peito estufado e sorriso maroto no rosto entrou no carro do filho e disse:
“Fique frio! Esta entrevista vai render para nós”. E no noticiário da noite do
Jornal Regional de Maceió saiu o ofensivo e provocante pronunciamento.
Não
levou 20 minutos e lá estava o presidente do CRB esmurrando a porta da casa de
Caetano Rípoli, filho do presidente valentão. O homem entrou bufando, nem
sequer olhou para o dono da casa, mal cumprimentou Lucia e partiu para xingação
pra cima de Romeu Rípoli. Que, enrolando o cigarrinho de palha, começou a
gargalhar e desmontou o presidente machão do CRB.
E
antes de se apresentarem formalmente, de se sentarem e tomarem uma cervejinha,
Rípoli falou para o colega de Maceió: “Presidente, depois que nos conhecermos
melhor aqui, você vai aos estúdios da TV Gazeta e desce o cacete em mim. Diga
que a honra do CRB precisa ser lavada, mas sem violência. Que se lave essa
honra lotando de torcedores o jogo no Estádio Rei Pelé. Teremos uma baita de
uma renda, você me paga o que me deve e todos ficaremos felizes…”.
Não
deu outra. O jogo XV e CRB, que terminou com empate de 1 X 1, teve uma das
maiores rendas daquele ano em Maceió. Rípoli voltou a Piracicaba, com o
dinheiro que lhe era devido, e Caetano Rípoli foi empossado diretor de Esportes
Náuticos do CRB, com direito a coquetel de apresentação e “oba-oba”.
Na
década de 1960 a Portuguesa Desportos revelou para o futebol brasileiro um
zagueiro chamado “Ditão”, um verdadeiro “Gigante de Ébano”, atlético, vigoroso
e imponente. Não demorou para ser vendido ao Corinthians, onde logo se
transformou em ídolo da torcida e alcançou consagração nacional.
“Ditão”
tinha um irmão, o “Ditinho”, parecido fisicamente e no estilo de jogar, que
atuava no XV de Novembro, de Piracicaba. Mas era inexpressivo, em relação à
fama e ao prestígio do irmão mais velho.
O
presidente do XV, na época, Romeu Ítalo Rípoli foi um dirigente muito esperto,
que sabia tudo de futebol, por isso é até hoje lembrado na cidade. Resolveu que o clube iria ganhar muito dinheiro,
vendendo “Ditinho”. E passou a dizer na imprensa que se tratava de uma “jóia
rara”, uma promessa de grande jogador, é o novo “Ditão”.
Com
tanto barulho na imprensa, o Flamengo mostrou interesse em adquirir o passe de
“Ditinho”, mas de maneira pálida, tímida. Ripoli, no entanto sabia “jogar”. Era
amigo do presidente do Santos, na época, o influente Modesto Roma. E pediu ao
colega santista que lhe fizesse um grande favor: comunicasse à imprensa que o
Santos estava interessado em adquirir o passe de “Ditinho”.
E
Modesto Roma atendeu o amigo, dizendo: “O Santos está negociando o passe de
“Ditinho”, um craque com muito mais categoria que “Ditão”, do Corinthians. São
irmãos, mas “Ditinho” é mais jovem, mais habilidoso e tem grande futuro”.
Não
deu outra. O vice-presidente do Flamengo – o suíço Gunnar Goransson,
todo-poderoso presidente da multinacional “Facit” quis “passar a perna no
Santos” e “atravessou” o negócio, para alegria e felicidade de Romeu Ítalo
Rípoli.
Resultado:
o Flamengo comprou o passe de “Ditinho” que nunca chegou a ser “Ditão”. E, além
de pagar um dinheirão, o Gunnar Goransson fez a “Facit” financiar e montar todo
um esquema para o XV de Piracicaba excursionar à Europa e Asia.
Resultados da excursão do XV de Piracicaba;
Resultados da excursão do XV de Piracicaba;
2
de fevereiro de 1964 – Em La Paz: XV de Piracicaba 2 X 2 Bolivar
5
de fevereiro de 1964 – Em La Paz: XV de Piracicaba 3 X 1 Bolivar
Em
Cochabamba: XV de Piracicaba 0 X 1 Aurora
19
de abril de 1964 – Em Tashkent, no Uzbequistão: XV de Novembro 0 X 1 Seleção do
Uzbequistão
21
de abril de 1964 - Em Alma Ata, no Cazaquistão: XV de Novembro 1 X 3 FC Kairat
Almaty
Em
Moscou: XV de Piracicaba 0 X 2 Seleção da União Soviética
26
de abril de 1964 – Em Kichinev, Moldávia: XV de Piracicaba 2 X 4 Seleção Local
29
de abril de 1964 – Em Krasnodar, Rússia: XV de Piracicaba 1 X 3 Spartack
2
de maio de 1964 - Em Odesa, Ucrânia: XV de Piracicaba 0 X 0 Tchernomoretz
5
de maio de 1964 – Em Katovich , Polônia: XV de Piracicaba 1 X 1 Seleção da Polônia
7
de maio de 1964 – Bydgoszcz, Polônia: XV de Piracicaba 0 x 0 Seleção da Polônia
9
de maio de 1964 – Em Stettin (Szczecin), Polônia: XV de Piracicaba 0 X 0 Seleção
do Estado da Pomerânia
12
de maio de 1964 - Em Copenhaguen, Dinamarca: XV de Piracicaba 0 X 2 Combinado
Danish-Staevenet
14
de maio de 1964 - Em Leipzig, Alemanha Oriental: XV de Piracicaba 1 x 4 B.S
Chemie
1
7
de maio de 1964 – Em Berlim, Alemanha Oriental: XV de Piracicaba 2 X 1 Motor
Jena
Em
OUE: XV de Piracicaba 1 X 3 Wismuth
23
de maio de 1964 – Em Kalshure, Alemanha Ocidental: XV de Piracicaba 0 X 3 Kalshure
26
de maio de 1964 – Em Hannover, Alemanha Ocidental: XV de Piracicaba 0 X 2
Hannover
29
de maio de 1964 – Em Munique, Alemanha Ocidental: XV de Piraciacaba 2 x 0 Munchen
1860
2
de junho de 1964 – Na Suécia: XV de Piracicaba 5 x 5 Gaevle I.F.
4
de junho de 1964 - Ostersund , Suécia: XV de Piracicaba 8 X 2 I.K.F.
7
de junho de 1964 – Na Suécia: XV de Piracicaba 4 x 1 Seleção do Norte
Em
Harvick, Suécia: XV de Piracicaba 5 X 0 Garker
Jogos:
23
Vitórias:
6
Empates:
6
Derrotas:
11
Gols
pró: 32
Gols
contra: 39
Saldo
negativo de gols: 7
Apesar
de todas as dificuldades enfrentadas pelo alvinegro piracicabano durante sua
viagem, o acontecimento ficou marcado para sempre na história centenária do XV
de Piracicaba.
O
fato inédito de romper a cortina de ferro, antes de qualquer outra equipe do
futebol brasileiro, é mais uma dos marcantes acontecimentos do clube mais
tradicional do interior de São Paulo.
Em
1976 – o XV já consagrado como vice-campeão do futebol paulista – Rípoli, com
popularidade incontestável, aceitou ser candidato a prefeito de Piracicaba.
Chegar à Prefeitura era-lhe o grande sonho, irrealizado. Pesquisas eleitorais
davam-no como imbatível. Talvez, tivesse conseguido, mas Rípoli, como sempre,
falou demais. E perdeu.
A
luta política era intensa e Rípoli, um homem controvertido, polêmico, uma
candidatura complicada. A imprensa estava dividida, mas as rádios eram-lhe
claramente hostis, fosse ele candidato ou não. A paixão pelo XV despertava
reações radicais. E uma das emissoras decidiu promover um debate público com os
candidatos, começando por Romeu Ítalo Rípoli. Foi na “Sociedade Italiana”.
E
a promessa de alguns debatedores era a de um massacre, de linchamento moral, de
tiro ao alvo, misturando política com vida privada, um salve-se - quem puder.
Haveria uma armadilha política e um momento de vingança. Havia sede de sangue.
O
povo lotou as dependências do clube, lembrando os romanos na arena, torcendo
mais para as feras do que para o gladiador. Ou público de tourada, à espera de
sangue, do touro ou do toureador.
Estranhamente,
Rípoli estava calmo, como se indiferente ao que lhe fosse perguntado. À espera
de ser chamado, ficou enrolando o cigarrinho de palha. Ao ir ao palco,
cumprimentou cada um dos debatedores. Mas de maneira estranha. Abraçava um por
um, falava-lhes coisas no ouvido. E eles, contrafeitos, voltavam a se sentar.
Ninguém entendia.
As
feras, a cada cochicho do Rípoli, ficavam dóceis feito cordeiros. Tão dóceis
que fizeram perguntas como se dirigidas à Branca de Neve. Rípoli usara a
diplomacia do “eu sei…” Cochichando, dava o recado:
“Eu
também sei de você…” E contava, no ouvido, o que ele sabia. Rípoli foi um
especialista na arte dessa diplomacia do “eu sei…” Ainda que hipócrita e apesar
dos tolos – ela conseguia, ainda, impedir o retorno à lei das selvas.
Rípoli
era mestre em realizar o que hoje passou a se chamar de factóide. Se não havia
notícia, ele inventava. Se nada de novo acontecia, ele criava. E seus blefes e
invencionices eram tão absurdos que passavam por verdadeiros.
Na
década de 1970, o Corinthians perdeu um título tido como ganho num jogo contra
o Palmeiras. E o bode expiatório foi o extraordinário craque Rivelino que, na
verdade, tremeu naquele jogo. E a torcida o execrou, transformando, num
momento, o ídolo em vilão.
Era
incrível: a torcida corintiana não queria mais Rivelino no time. E, por quantia
milionária, o Corinthias começou a negociá-lo com o Fluminense, do Rio de
Janeiro. E o que fez, então, Romeu Ítalo Rípoli? Convocou a imprensa paulista,
jornais, rádios e emissoras de televisão, informando que tinha uma grande
notícia para dar, decisão bombástica.
Ora,
todos sabiam da difícil situação financeira do XV, mas controlada de maneira
genial por Rípoli. Ele contava tostões. Jogadores tinham salários baixos, básicos. E ele dava
"bichos" altíssimos por cada vitória. A estratégia fazia com que
jogadores se matassem em campo para ganhar os "bichos". E dava certo.
Mas
a situação financeira era precária. Mesmo assim, Rípoli convocou a imprensa,
anunciando a "bomba", aquela que seria uma contratação de repercussão
internacional.
Enrolando
o cigarrinho de palha, diante de microfones e câmeras de televião, Rípoli
anunciou, com aura de herói: o que o Corinthians está fazendo é uma vergonha
para o futebol paulista. Rivelino é patrimônio dos paulistas e não podemos
admitir que ele se transfira para o Rio de Janeiro.
Paralisaram-se
microfones, máquinas fotográficas, emudeceram-se jornalistas e radialistas.
Rípoli lambeu a palha do cigarrinho, deu o nó final, acendeu, tirou umas
baforadas, fulminou a imprensa nacional:
Diante
de tamanha agressão ao futebol paulista, eu resolvi: o XV irá fazer um grande
sacrifício, mas não permitiremos que Rivelino vá para o Rio de Janeiro. Já
comuniquei à diretoria do Corinthians que quero comprar o passe de Rivelino,
que ficará em São Paulo e jogará com a camisa alvi-negra do "Nhô Quim".
A
mentira era tão grande, mas tão grande que ninguém duvidou. E, durante um mês,
o XV e Rípoli ocuparam espaços e tempo enormes nos meios de comunicação
brasileiros. O Fluminense, diretoria e torcida,
quase enlouqueceram, o Corinthians aumentou o preço do passe de Rivelino
e Rípoli, com cara de santo, alegava que a diretoria corintiana estava fazendo
jogo sujo com o XV, leiloando Rivelino.
Que,
obviamente, foi para o Fluminense. E Rípoli nunca confirmou ter sido blefe e
mentira a oferta por Rivelino. "Eu ia comprar, estava tudo certo. O
Corinthians é que me traiu. Para se ver que não se fazem mais Romeu Rípoli como
antigamente.