Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

sábado, 28 de junho de 2008

Os 50 anos da primeira grande conquista brasileira

Lembro como se fosse hoje. Era uma fria manhã, naquele dia 29 de junho de 1958. Lá fora uma chuva fininha teimava em cair, forçando a que se permanecesse dentro de casa. Lá na distante Suécia era de tarde. Uma tarde de decisão. O Brasil, pela segunda vez disputaria uma final de Copa do Mundo. A primeira nos deixou uma triste lembrança, quando os uruguaios comandados por Obdúlio Varela nos ganharam de 2 X 1 em pleno Maracanã.

Que saudade daquele dia 29. Até pelo fato de que eu era ainda um garoto, apenas 17 anos, morando na pequena e querida Dom Pedrito (RS) que me viu nascer. Sobre a mesinha do quarto um rádio de luz, se bem me recordo da marca “Orbiphon”, ou coisa parecida. Rádio de pilha não existia. Televisão naquela época era coisa de cinema, ainda muito distante da província. As transmissões radiofônicas não tinham a qualidade de som de hoje. Embora os verdadeiros milagres que as emissoras faziam, o som era uma mistura de ruídos que às vezes chegavam mais alto que as vozes dos locutores.

Na Rádio Guaíba, de Porto Alegre, a primeira emissora do Rio Grande do Sul a transmitir uma Copa do Mundo fora do país, o narrador era o saudoso Mendes Ribeiro. Nas emissoras do Rio de Janeiro e São Paulo, profissionais notáveis como Oduvaldo Cozzi, Jorge Cury, Antônio Cordeiro, Pedro Luiz, Edson Leite e Fiori Gigliotti. Foi nas vozes deles que ouvi todos os jogos do selecionado brasileiro.

A Seleção de 1958 era bem diferente das recentes de Parreira e Dunga. Existiam craques de verdade. A torcida sentia desde o primeiro jogo que algo de grandioso estava por acontecer. Pela primeira vez em sua história, a Copa do Mundo fez justiça ao melhor, ao mais forte, ao mais entusiasmado e categorizado time de futebol. A Copa não repetiu 1950, quando a força e a garra uruguaia derrotaram a técnica brasileira. Nem 1954, quando a máquina húngara foi desmontada pela organização alemã. Não. A Copa foi para as mãos de quem a cortejou melhor, de quem a cativou através de jogadores sensacionais, dribles estonteantes e gols fantásticos.

No jogo final em 29 de junho de 1958 o Brasil passou por uma experiência inédita naquela Copa. Pela primeira vez enfrentou um placar adverso, já que a Suécia fez 1 X 0 logo aos 4 minutos, numa jogada em que Liedholm envolveu toda a nossa defesa, enganou o goleiro Gilmar com um belo drible de corpo, para depois colocar a bola no fundo da rede.

Nem deu tempo para se pensar em nova frustração. Aos 9 minutos, Garrincha deu um passe certeiro para Vavá que fechou pelo meio e empatou o jogo. Aos 31 minutos a repetição da jogada. Garrincha recebeu a bola de Didi pela direita, driblou Borjersson e Axbon e deixou Vavá na cara do gol para fazer 2 X 1. Fim de primeiro tempo com vantagem brasileira, no placar, na técnica e na raça.

Veio o segundo tempo. Aos 10 minutos, Pelé marcou seu primeiro gol no jogo e o terceiro do Brasil. Um golaço. Recebeu a bola de Didi pelo centro de campo, driblou dois adversários fazendo embaixada e jogando o corpo para a esquerda. Quando o goleiro Svensson saiu para tentar a defesa, Pelé cutucou a bola para o fundo da rede. O caminho da goleada estava aberto. Aos 23 minutos Zagalo, em grande estilo, fez 4 X 1. Os suecos tentaram reagir e marcaram o segundo gol, aos 35minutos, através de Simonsson, aproveitando o aparente desinteresse brasileiro de continuar atacando.

Ledo engano. Aos 45 minutos, para aumentar o calor da festa, dentro e fora de campo, Pelé fez seu segundo gol e o quinto do Brasil. Nesse momento surgiram nas arquibancadas do estádio de Solna, Rasunda, em Estocolmo algumas bandeiras brasileiras, enquanto milhares de bandeiras suecas eram guardadas. Festa memorável. Jogadores, comissão técnica, dirigentes, todos chorando de emoção e alegria. Finalmente, a tragédia de 1950 virava coisa do passado.

O selecionado verde e amarelo jogou e foi campeão com Gilmar – Djalma Santos – Belini e Nilton Santos – Zito e Orlando – Garrincha – Didi – Vavá – Pelé e Zagalo. A Suécia formou com Svesson – Bergmark – Axbon e Borjerson – Gustavsson e Parling – Hamrin – Gren – Simonsson – Liedholm e Skoglund. O juiz foi o francês Maurice Guingue, auxiliado por A. Duss, da Alemanha e Gardeazabal, da Espanha e 49.737 pessoas assistiram o jogo.

Para chegar a tão memorável conquista o Brasil passou por vários estágios e experiências. Pela primeira vez foi feito um trabalho sério a nível administrativo, graças à competência de um extraordinário desportista chamado Paulo Machado de Carvalho, que chefiou a delegação brasileira a Suécia. Os jogadores passaram por rigorosos exames através o médico Hilton Gosling. Depois veio a fase de concentração, começando por Poços de Caldas e seguindo por Araxá.

Vieram os jogos que serviram de testes para a equipe que o técnico Vicente Feola pretendia montar como base para a Copa do Mundo. No Maracanã, contra o Paraguai, que eliminou o Uruguai, uma goleada por 5 X 1. No segundo jogo contra os paraguaios, no Pacaembu, em São Paulo, empate sem gols. Depois, enfrentamos a Bulgária e conquistamos duas vitórias: 4 X 0 no Maracanã e 3 X 1 no Pacaembu. A despedida do Brasil foi contra o Corinthians Paulista, numa goleada de 5 X 0.

Antes de desembarcar na Suécia o nosso selecionado passou pela Itália, onde derrotou a Fiorentina e a Internazionale, em duas goleadas de 4 X 0. Terminada a fase preparatória, a chegada no Tourist Hotel, na pequena cidade de Hindas, considerada a concentração cientificamente perfeita.

Finalmente o jogo de estréia, no dia 8 de junho, em Udevala, contra a valente Áustria, que dançou uma valsa e assistiu o bailado maravilhoso de nossos craques. Foi uma verdadeira dança de gols, 3 X 0. Mazzola fez dois e Nilton Santos completou a goleada. Jogamos com Gilmar – De Sordi – Belini e Nilton Santos – Dino e Orlando – Joel – Didi – Mazzola – Dida e Zagalo.

Em 11 de junho, na cidade de Gotemburgo, o segundo jogo. Não conseguimos furar o bloqueio inglês e o escore ficou em branco. A escalação foi a mesma do jogo contra a Áustria. Naquela Copa ainda não era permitido substituições durante o desenrolar dos jogos, como acontece hoje com a chamada Regra 3.

No dia 16, ainda em Gotemburgo, o esperado jogo contra a União Soviética, que com seu futebol chamado de científico, vinha sendo apontada como a grande favorita para ganhar a Copa. Os computadores que consideravam os russos imbatíveis esqueceram de programar os dribles desconcertantes de Garrincha, a grande arma secreta do Brasil, que naquele jogo entrou em ação.

Os soviéticos ainda se arrumavam em campo, quando levaram o primeiro gol. Eram dois minutos. Vavá arrancou como um foguete e estufou a rede de nylon da cidadela defendida pelo legendário goleiro Yashin. Os torcedores presentes ao Estádio Nya Ullevi começavam a assistir uma verdadeira aula de futebol, não havendo russo capaz de parar o endiabrado Garrincha. Aos 29 minutos do segundo tempo Vavá fez 2 X 0, aproveitando o rebote depois de um violento chute desferido por Pelé e defendido parcialmente por Yashin. O Brasil venceu com Gilmar – De Sordi – Belini e Nilton Santos – Zito e Orlando – Garrincha – Didi – Vavá – Pelé e Zagalo.

No dia 19 de junho, outra vez em Gotemburgo, uma vitória suada contra o País de Gales, por 1 X 0, gol marcado por Pelé aos 28 minutos do segundo tempo. Dia 24, em Estocolmo, enfrentamos a temível França, que vinha de uma série de vitórias espetaculares, tendo como destaque o artilheiro Fontaine. Foi uma goleada memorável de 5 X 2, com três gols de Pelé, um de Vavá e um de Didi. Fontaine e Piantoni descontaram para os franceses. O Brasil utilizou a mesma formação que enfrentou a União Soviética e o País de Gales. Vale lembrar a fantástica equipe francesa: Abbes – Koelebel – Jonquet e Lerond – Penverne e Marcel – Wiesnieski – Fontaine – Kopa – Piantoni e Vicent.

Depois a final contra a Suécia e a volta ao Brasil com o caneco na mão. A Taça Jules Rimet, finalmente veio para o país do futebol. Os jogadores que formaram aquela memorável seleção foram recebidos como heróis. Entre eles o gaúcho de Santa Maria, Waldemar Rodrigues Martins, o Oreco, que fez parte de um famoso trio no Internacional de Porto Alegre: Oreco, Salvador e Odorico.

Foram campeões do mundo estes jogadores: Gilmar (Corinthians), Castilho (Fluminense), De Sordi (São Paulo), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), o capitão Belini (Vasco da Gama), Mauro (São Paulo), Nilton Santos (Botafogo), Oreco (Corinthians), Zito (Santos), Dino Sani (São Paulo), Orlando (Vasco da Gama), Zózimo (Bangu), Garrincha (Botafogo), Didi (Botafogo), Moacir (Flamengo), Vavá (Vasco da Gama), Mazzola (Palmeiras), Pelé (Santos), Dida (Flamengo), Zagalo (Flamengo) e Pepe (Santos).

Também foram campeões o massagista Mário Américo (Portuguesa de Desportos), roupeiro Francisco Assis (Santos), médico Hilton Gosling, técnico Vicente Feola e o chefe da delegação, Paulo Machado de Carvalho. A Confederação Brasileira de Desportos (CBD), hoje Confederação Brasileira de Futebol (CBF), era presidida por João Havellange.

Foi uma grande festa em todo o país. Lembro que a minha pequena Dom Pedrito, pela primeira vez assistia um desfile tão grande de automóveis buzinando e percorrendo as principais ruas da cidade, como a avenida Rio Branco (onde eu morava) e Barão de Upacaraí e naturalmente o contorno da Praça General Osório, principal ponto de encontro. A tarde inteira foi um espocar só de foguetes. Até meu saudoso pai, que não era muito chegado a futebol, entrou na festa e no fundo do quintal lá de casa, disparou alguns tiros de revólver que se confundiram com o barulho dos foguetes.

Festa igual aquela, Dom Pedrito não assistiu nem quando o meu querido Botafogo F.C., o tricolor do Estádio Floribal Jardim, perto da Estação Velha, derrotava o seu eterno rival e freguês, E.C. Cruzeiro.

A importância dessa data dos 50 anos da grande conquista, só pode ser medida em toda a sua profundidade por quem viveu aqueles momentos de rara emoção. Foi com a conquista de 1958 que o futebol brasileiro abriu caminho para os títulos de 1962, no Chile, 1970, no México, 1994, nos Estados Unidos e 2002, no Japão e Coréia. Há quem diga que a seleção de 1958 se constituiu na melhor equipe de futebol, que o mundo conheceu em todos os tempos, inclusive superior a do tri no México. Eu também acho. (Texto e pesquisa de Nilo Dias, adaptado de matéria de sua autoria publicada no jornal “A Razão”, de Santa Maria (RS), em 25/26 de Junho de 1988).
Seleção de 1958, uma verdadeira máquina de jogar futebol (Foto: Gazeta Esportiva Ilustrada)

segunda-feira, 23 de junho de 2008

A origem do gol de letra

A expressão gol de letra de há muito faz parte do vocabulário do futebol. É até nome de uma Organização Não-Governamental (ONG), a “Fundação Gol de Letra”, criada pelos ex-jogadores de futebol, Raí e Leonardo, para atendimento a crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. O nome é bonito, soa bem, mas sua origem, poucos sabem. Primeiro, é preciso explicar como é a jogada que merece ser chamada assim. É o gol em que o jogador trança as pernas, como quem faz um xis e muda o pé que chuta.

Quem batizou a jogada foi o jornalista Mário Filho, hoje nome oficial do Estádio do Maracanã. Foi num jogo pela oitava rodada do segundo turno do Campeonato Carioca de 1942, no Estádio das Laranjeiras entre Fluminense e Madureira. O time dono da casa ostentava o título de bicampeão e era forte candidato ao tricampeonato. O onze do Madureira, nada mais tinha a fazer na competição, apenas cumpria carnê. Mas seu time era muito bom, principalmente o ataque onde despontava o trio Lelé, Isaías e Jair, que a imprensa apelidou carinhosamente de os “Três Patetas”, pois faziam com a bola o que queriam, em jogadas talentosas que surpreendiam os adversários e arrancavam risos dos torcedores.

Nessa tarde de 2 de agosto os “Três Patetas” estavam infernais. Sem tomar conhecimento do adversário e suas pretensões, o Madureira aplicou uma goleada de 4 x 1. O centroavante Isaias foi o autor de um gol, que pela técnica e beleza, até hoje dá o que falar. Ele chutou a bola com as pernas cruzadas em X, e Mário Filho, não teve dúvidas e criou na hora a expressão gol de letra. Como no futebol quase tudo ganha contornos extras, o tempo se encarregou de transformar o ocorrido naquele jogo em lenda, ou quase isso. Não existe nada oficial, mas os mais velhos garantem que por causa do gol chamado de “letra”, a torcida tricolor não queria deixar Isaías sair vivo do estádio.

O autor de tão inusitado gol, já falecido, teve que suportar por muitos anos a ira dos torcedores do Fluminense, que consideraram a jogada uma humilhação ao time, visto que naquela época um simples drible a mais era visto como tentativa de desmoralização. Não era a toa que os zagueiros, geralmente chamados de “guarda-roupas”, não levavam desaforo para casa e o “pau” corria solto. Terminado o Campeonato Carioca de 1942, o Vasco da Gama contratou os três atacantes. E com eles foi campeão invicto de 1945.

Coisa incrível, difícil de acreditar, mas é verdade. Os torcedores presentes ao Maracanã, em 2003, 60 anos depois do gol fantástico de Isaias Benedito da Silva, nas Laranjeiras, presenciaram um lance digno de filme: Léo Lima (Leonardo Lima da Silva), bisneto de Isaias e na época jogador do Vasco da Gama, também originário do Madureira fez um cruzamento de letra que foi encontrar a cabeça de Cadu e dali, para o pé de Souza, hoje no Flamengo, que mandou para o fundo da rede. Vasco campeão. E, pasmem, o adversário foi o mesmo Fluminense. E a reação não foi diferente de parte dos tricolores. O técnico Renato Gaúcho ameaçou Léo Lima de agressão. Sem saber, o técnico vice-campeão estava revivendo um histórico trauma tricolor.

A obra de arte de Léo Lima mereceu estátua no saguão de entrada de São Januário, ao lado do busto do Almirante, com as pernas eternamente entrelaçadas. Léo Lima e Souza, crias do mesmo Madureira, transferiram-se para o Vasco ainda como juniores, e juntamente com Cadu, também promovido das divisões de base vascaínas, formaram o trio que criou o gol inesquecível.

Nestes mais de 50 anos que acompanho futebol, foram poucas as vezes que vi alguém fazer um “gol de letra”. Lembro de um, marcado pelo jogador Canário, que defendia o Brasil de Pelotas, lá pela década de 1960. O adversário há muito tempo esqueci, mas a jogada está até hoje bem viva na minha memória. Ele recebeu a bola pela direita e de fora da área, cruzando as pernas e trocando o pé, marcou um golaço. Foi na goleira de fundo do Estádio Bento Freitas. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Isaias, marcou o gol que foi chamado de "letra" (Foto: Site do C.R. Vasco da Gama)

terça-feira, 17 de junho de 2008

A despedida ideal de Fernandão

Esse texto que transcrevo abaixo foi publicado no site FinalSports.com.br e é assinado pelo jornalista Andréas Muller. Não resisti a tentação de publicá-lo. É uma verdadeira obra prima.

“Agora as luzes do Beira Rio estão apagadas. Na penumbra, a torcida – que lota o estádio – brinca com isqueiros e celulares e transforma as arquibancadas do Gigante num pequeno pedaço de céu à beira do Guaíba. A Popular está ensandecida e canta no volume máximo debaixo de uma nebulosa de sinalizadores, pisca-piscas e chuvas-de-prata. Sem demora, os versos da música começam a ecoar pelos dois andares do Beira Rio: —Eeeeeuuu, nunca me esquecereeeeiiii...

É emocionante. Sob o blecaute, o Gigante parece ser maior do que sempre foi. É possível sentir no ar a vibração, o clima de expectativa que, agora, abala o coração de cada um dos 50 mil colorados presentes no estádio. Alguns deles fumam em tragadas longas, soltam a fumaça como se desabafassem e permanecem ali, numa espera tensa e silenciosa. Outros gritam a música com os braços para cima, em transe, embriagados de emoção. Ao meu lado, percebo uma garota que se agarra ao braço de seu pai, como se tivesse medo desse estrondo, esse urro que preenche todos os espaços escuros do Beira Rio. De relance, percebo suas lágrimas brilhando debaixo do matiz azulado dos celulares. — Dos dias que passeeeeeeiiiii....

Eis que se acende um holofote. O feixe de luz branca vem lá de cima da marquise da “Maior Torcida do Rio Grande” e aponta diretamente para o abrigo de acesso dos times ao gramado. Uma música alta começa a tocar e leva a torcida ao delírio. Estrategicamente, só para requintar ainda mais o clima de expectativa, o feixe de luz fica dois minutos parado, sem que nada aconteça. A torcida exige: — Aparece! Aparece! Aparece!

Então Fernandão sai da casamata. O Beira Rio vem abaixo. A multidão berra como se comemorasse um gol do Internacional. Lá embaixo, iluminado pelo holofote, o capitão do mundo caminha sozinho e altaneiro rumo ao centro do gramado. Vai em passadas rápidas e decididas, sorri bastante e acena sem parar para a multidão, agradecendo a homenagem. Ao chegar ao centro, recebe um microfone e fica esperando. Tenta falar alguma coisa, mas simplesmente não consegue – a torcida não deixa. Fernandão aguarda quase cinco minutos até que o Gigante lhe conceda a palavra. Ele aproxima o microfone da boca, faz uma pausa estratégica e, de surpresa, puxa a multidão: — Ôooooooooooooo, vamo vamo Inteeeeeeeeeeeeeerrrrr...

Êxtase total no Beira Rio. A voz de Fernandão se transforma na voz de 50 mil torcedores. A música é entoada como se fosse o hino de uma era. Lá está, em mil decibéis, a marca eterna de uma das fases mais brilhantes da história colorada. Todos – jovens e adultos, crianças e idosos – incorporam-se ao coro regido pelo maestro maior do Internacional. É impossível conter as lágrimas. Os pessimistas suspiram: “Nunca mais teremos ninguém igual a ele”. Os realistas rebatem: “Ele foi um grande ídolo, mas estava na hora de ele sair, não adianta, a vida continua”. E os otimistas: “Agora, começa uma nova fase no Inter. Vamos revelar novos craques e construir novos ídolos”. O único consenso é de que Fernandão, um dia, voltará.

Fernandão aproveita uma brecha da torcida e inicia um discurso emocionante. Fala tudo que nós gostaríamos de ouvir. Que o Inter foi o melhor clube pelo qual ele já passou. Que é colorado de coração e sente muito orgulho de poder ter jogado no Inter. Que a saída dele não significa o fim de nada, e sim o começo de um novo ciclo para o Inter – que será de muitas conquistas, se Deus quiser. E que, evidentemente, um dia ele vai voltar. — Eu sou apaixonado pelo Inter. Vou voltar porque eu quero e preciso voltar. Tenho que ficar perto de tudo isso que me faz tão bem, e... Fernandão chora e a torcida canta “Uh, terror, Fernandão é matador”.

Em seguida, entram em campo 100 crianças de uma comunidade carente da Zona Sul de Porto Alegre. Vestem roupas brancas e andam em fila. Parece que uma rede de supermercados propôs um desafio a Fernandão – o de acertar o gol com um chute desde lá do meio de campo. Se ele marcar, a rede de supermercados doará uma cesta básica e uma camiseta do Internacional a cada criança. Fernandão topa o desafio, sorrindo. Novos holofotes se acendem, mostrando o gol e metade do campo. O capitão ajeita a bola com calma e, pouco antes de bater, avisa no microfone que ele próprio fará as doações se errar. Sob aplausos efusivos, ele parte para a cobrança. A bola sobe alta, atravessa toda a metade do campo, bate na trave esquerda e estufa as redes, serelepe. A torcida comemora e as crianças dão um abraço coletivo no capitão. É piegas, sim. Mas não há quem resista às lágrimas nessa hora.

Mais tarde, as rádios indagam ao presidente Vitório Píffero: — Presidente, você não acha um exagero fazer uma festa desse tamanho apenas para marcar a despedida de um jogador? — Não, não acho. Fernandão é um grande ídolo, é amado por nossa torcida e merece uma homenagem à altura desse sentimento. Os jornalistas insistem: — Você não teme passar uma idéia errada de que o Fernandão, sozinho, é mais importante do que o Inter? — É evidente que não. Fernandão é patrimônio do Internacional. Homenageá-lo é uma maneira de homenagear o clube como um todo, bem como suas principais conquistas.

Procurando pêlo em ovo, um repórter arremata: — E quanto aos outros jogadores do Inter? Você não acha que eles se sentirão desprestigiados? O Inter nunca fez uma festa como essa pra nenhum deles... Num raro momento de habilidade com as palavras, Píffero retruca: — Ao contrário: os demais jogadores do Inter têm mais é que se sentir motivados com essa homenagem a Fernandão. Nós estamos deixando bem claro que, aqui no Inter, nós valorizamos os nossos ídolos. Aliás, quero aproveitar para deixar um recado a todos os nossos jogadores, sejam eles das categorias de base, dos juniores, do banco de reservas e até do grupo principal: dêem o máximo. Vivam o Inter tal como Fernandão viveu. Sejam colorados de coração e sigam em busca de novas conquistas. Se vocês fizerem tudo isso, vocês também serão homenageados como heróis quando se despedirem do Inter.

É assim que deveria ter sido a despedida de Fernandão do Inter."
Fernandão nunca será esquecido pela torcida do Internacional (Foto: FinalSports.com.br)

segunda-feira, 16 de junho de 2008

O adeus do craque Fernandão

Os goleiros Clemer e Renan, o zagueiro Índio, os volantes Edinho e Wellington Monteiro e o meia Alex são o que resta do grande time colorado campeão da Libertadores, do Mundo e da Recopa Sulamericana. Marcelo, Ediglê, Élder Granja, Ceará, Bolívar, Fabiano Eller, Jorge Wagner, Rubens Cardoso, Martin Hidalgo, Fabinho, Perdigão, Tinga, Iarley, Michel, Rafael Sobis, Adriano Gabiru, Fábian Vargas, Luiz Adriano, Alexandre Pato e Léo não estão mais no Beira Rio.

No total, 20 jogadores, mais o técnico Abel Braga e o preparador físico Paulo Paixão já tinham ido embora. Agora, se vai o principal nome do elenco e considerado por alguns o melhor jogador de toda a história de 99 anos do S.C. Internacional, o grande “capitão” Fernandão, símbolo maior das recentes e memoráveis conquistas coloradas. Ele está sendo contratado pelo Al-Gharafa, do Qatar, onde deverá permanecer por dois anos. Para o Internacional, maior negociador de atletas do país e dono de 50% dos direitos federativos de Fernandão, resta apenas o consolo de rechear seus cofres com R$ 3,5 milhões de euros, cerca de R$ 7 milhões, o equivalente a metade da multa de 7 milhões de euros, ou R$ 14 milhões.

Fernando Lúcio da Costa, o Fernandão, (o apelido se deve a sua altura) nasceu em Goiânia (GO), no dia 18 de março de 1978. Começou a carreira nas categorias de base do Goiás e aos 16 anos já era promovido ao time profissional. No alviverde goiano foi destaque nacional depois de conquistar entre 1995 e 2001, cinco campeonatos estaduais, duas copas Centro Oeste e um campeonato brasileiro da Série B.

Graças ao seu futebol de grande técnica e cabeceios certeiros, chamou a atenção do Olympique de Marselha, França, onde jogou por quase três anos, indo depois para o também francês Toulouse. No retorno ao Brasil, em 14 de junho de 2004, foi contratado pelo Internacional de Porto Alegre. Predestinado, Fernandão encontrou no clube gaúcho todas as condições para desenvolver e aprimorar seu futebol. Logo no jogo de estréia, um Gre-Nal, marcou o milésimo gol da história do clássico, ganhando de imediato o carinho e o respeito da torcida e ainda uma placa comemorativa ao feito. Graças as suas boas atuações pelo Internacional, Fernandão foi chamado a defender a Seleção Brasileira em um jogo amistoso contra a Seleção da Guatemala.

Fernandão chega aos 30 anos de idade, completados em março último, com uma invejável coleção de títulos. Pelo Goiás foi campeão goiano em 1996, 1997, 1998, 1999 e 2000; campeão brasileiro da Série B em 1999 e campeão da Copa Centro-Oeste em 2000 e 2001. Pelo Internacional, onde fez 190 jogos, foi campeão gaúcho em 2005, 2006 e 2008; campeão da Copa Libertadores da América em 2006; campeão mundial de clubes em 2006; campeão da Recopa Sul-Americana em 2007, e campeão da Copa Dubai, em 2008. Além disso, foi premiado com a Bola de Prata (Revista Placar) em 2006; Prêmio Craque do Brasileirão 2005 (Troféu de Prata), em 2006 (Troféu de Ouro) e Troféu Mesa Redonda (TV Gazeta) em 2006.

Ao anunciar sua saída do Internacional, Fernandão mostrou muita tristeza, pois nos quatro anos em que esteve no Beira Rio aprendeu a amar o clube vermelho gaúcho. Os torcedores deram adeus ao craque com palavras de carinho e incentivo: "obrigado", "volte sempre" e “vá com Deus”. Emocionando, o craque não conseguiu conter as lágrimas.

O atacante Adriano, que no último sábado contra o Botafogo atuou com a camisa 9, de Fernandão, ao final do jogo dedicou o gol que fez e a vitória do Internacional ao companheiro que está indo embora. E ao fazer isso demonstrou na sua fala às rádios de Porto Alegre toda a admiração que o ex-capitão tinha e tem do grupo de jogadores: “Falamos que venceríamos para dedicar ao Fernando, um cara que mora no coração de todos nós. Tenho um carinho especial por ele, que sempre nos ajudou muito”.

Já Edinho, companheiro das conquistas da Libertadores, Mundial, Recopa e Copa Dubai e autor do primeiro gol contra o Botafogo, também não conteve a emoção: “Fico bastante triste pela saída, mas feliz por ele estar alcançando uma meta. Fico emocionado em falar, Fernandão é um grande companheiro, um cara tão exemplar que levo as atitudes dele para a minha vida”.

O jogador não deverá ter muitos problemas de adaptção em seu novo clube, pois lá já estão outros três brasileiros: o técnico Marcos Paquetá e os meias Araújo, ex-Goiás e Cruzeiro e o ex-colorado Pinga, negociado em outubro do ano passado. O Al-Gharafa Sports Club, para onde Fernandão está se transferindo tem sua sede em Doha, capital e principal cidade do país, onde se concentra toda a atividade financeira e as grandes empresas petrolíferas do Reino. Com uma população estimada em 500 mil habitantes, Doha é uma cidade moderna, onde não se vê sinais de pobreza nas ruas. O principal iodioma do Qatar é o árabe, embora o inglês seja amplamente falado.

A vida no Qatar é bastante tranqüila. Em Doha existem muitos shoppings, excelentes hotéis, bons restaurantes, praias e spas. A religião predominante é a islâmica, mas a população é liberal com estrangeiros. A comida tem um tempero que lembra o do Nordeste brasileiro. O calor é muito forte e a temperatura chega acima de 40 graus em algumas épocas do ano.

Fernandão faz juras de amor ao Internacional. Antes mesmo de jogar pelo Al-Gharafa, em sua última entrevista no Brasil antes de embarcar para o Qatar já fala em retornar. Perguntado sobre seu futuro, espontaneamente disse que um dia vai voltar para o colorado gaúcho, seja como jogador, dirigente ou torcedor. E certamente o clube o receberá de braços abertos.

Ele marcou 77 gols com a camisa do Inter. O mais importante foi no dia 16 de agosto de 2006, o primeiro no empate de 2 x 2 com o São Paulo, que deu ao clube gaúcho o título da Libertadores. Fora de campo, o chamado “Capitão do Mundo” também fez história. Na volta do Japão, com o título mundial, na grande recepção ocorrida no Beira-Rio, Fernandão pegou o microfone e levou a torcida ao delírio ao cantar, aos berros, o tradicional "vamo, vamo, Inter". Depois, na comemoração do primeiro aniversário da conquista da Libertadores, ele chorou copiosamente ao falar de sua relação amorosa com o clube e com o Rio Grande do Sul. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Fernandão, o grande líder colorado está indo embora (Foto: Site do S.C. Internacional)

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Sport, glória do futebol nordestino

O Sport Club do Recife sagrou-se de forma merecida o campeão da Copa do Brasil e alcançou classificação para a Copa Libertadores da América do ano que vem, dois feitos inéditos na história do clube que há dois anos penava na Série B do Campeonato Brasileiro. Em 1989 o Sport já havia chegado a final da Copa do Brasil, mas perdeu para o Grêmio de Porto Alegre. A última grande conquista do futebol nordestino havia sido o título de Campeão Brasileiro de 1988 pelo S.C. Bahia.

O Sport ganhou a competição com toda a justiça. Passou por cima de dois gigantes do futebol brasileiro, Palmeiras e Internacional, e ainda venceu o Imperatriz (MA), Vasco da Gama, Brasiliense e Corinthians Paulista, na grande final de ontem à noite.

No surgimento do Sport repetiu-se o que já acontecera em São Paulo e outros centros futebolísticos do país. Um estudante de nome Guilherme de Aquino Fonseca, filho de uma das mais tradicionais e abastadas famílias de Recife, retornou em 1903 de uma temporada de cinco anos de estudos na tradicional “Hooton Lown School”, em Londres, trazendo na bagagem bolas de futebol, camisas, meias, pares de botas especiais, precursoras das chuteiras, apitos e cópias das regras da “Foot-Ball Association” e tentou de todas as formas difundir o esporte em terras pernambucanas.

Primeiro, uma tentativa frustrada no Clube Náutico Capibaribe, que na época se dedicava exclusivamente ao remo. Depois, com apoio de funcionários das empresas inglesas “Great Western” e “Western Telegraph” fundou o Sport Club do Recife, o clube de futebol mais velho de Pernambuco. Não há notícia da existência de outra agremiação de futebol no Estado, antes do rubro-negro. A fundação aconteceu em 13 de maio de 1905, na sede da Associação dos Empregados do Comércio de Pernambuco, sendo eleito primeiro presidente o desportista Elysio Alberto Silveira. Guilherme de Aquino Fonseca foi escolhido para diretor de Esportes Terrestres.

Os descendentes de Guilherme de Aquino Fonseca até hoje se mantém ligados ao Sport. Em 2005, nos festejos do centenário do clube, o artista plástico Frederico Fonseca, sobrinho-neto do fundador confeccionou um troféu que marcou a importante data. Em 1995 ele já havia doado ao clube uma foto do seu tio-avô.

O primeiro jogo do novo clube foi realizado no dia 22 de junho de 1905, na “Campina do Derby”, contra o “English Eleven”, combinado de funcionários das companhias inglesas. Um regular público, na maioria de ingleses radicados em Recife, compareceu ao evento. No fim do "match" registrou-se um empate de 2 x 2.

A primeira vitória do Sport aconteceu em 1906, 1 x 0 sobre o “Western Telegraph”, gol do atacante Fellows. O primeiro título de campeão pernambucano veio em 1916, quando o Sport derrotou o Santa Cruz por 4 x 1, no jogo final realizado em 16 de dezembro daquele ano, com gols de Mota (2), Asdrúbal e Vasconcelos. Antes, o rubro-negro já havia massacrado o Náutico, com uma goleada de 8 x 0.

O Sport mantém uma rivalidade histórica com o Clube Náutico Capibaribe. O confronto entre ambos é conhecido como o “Clássico dos Clássicos”, o terceiro mais antigo do país. E também rivaliza com o Santa Cruz Futebol Clube no chamado “Clássico das Multidões”. E no passado havia o “Clássico dos Campeões”, contra o América Futebol Clube. O jogo recebeu essa denominação por que até o início da década de 1930 eram os dois principais times de Recife, e detentores da maior quantidade de títulos.

Em 1919 o Sport fez sua primeira excursão para fora do Estado. Foi a Belém do Pará, na época um centro futebolístico mais desenvolvido e no primeiro jogo conseguiu um empate em 3 x 3 contra o combinado Remo-Payssandu. Depois, valendo o “Troféu Leão do Norte”, o Sport venceu o mesmo combinado por 3 x 2. Os torcedores paraenses, inconformados com a derrota tentaram retomar o troféu, ocasionando a quebra da cauda do leão. A partir daí, o clube pernambucano adotou a figura do “rei das selvas” como símbolo. O troféu pode ser visto na sede do Sport, onde até hoje é mantido com a cauda partida, unida por um laço.

Segundo a “Wikipédia” o primeiro brasão do Sport nada tinha a ver com o atual. Num dos primeiros estatutos do clube era assim definido: "Sobre uma âncora, tendo no braço a data 13/05/1905, apoiada sobre um par de remos cruzando com um mastro contendo flâmulas descendentes e um criquete, um salva-vidas, tendo no centro uma bola de futebol entre um pau de criquete e uma raquete de tênis, cruzados, e encimada pelas letras SCR, entrelaçados em monograma e, no corpo, escrito Sport Club Recife". O distintivo representava todas as modalidades esportivas praticadas pelo clube na época, desde o críquete até a caça submarina. O brasão era muito complexo, de difícil reprodução e não trazia as cores vermelha e preta.

Um outro momento marcante na história do rubro-negro de Recife aconteceu ao início dos anos 40, numa vitoriosa turnê pelos gramados do Sudeste e Sul do país. A diferença técnica do futebol entre essas duas regiões e o Nordeste era enorme, por isso a imprensa pernambucana dizia que o Sport iría fazer uma excursão suicida pelos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Disputou 17 partidas, venceu onze : América (MG), 5 x 1; Atlético (MG), 4 x 2; Britânia (PR), 1 x 0; Coritiba (PR), 4 x0; Coritiba (PR), 3 x 1; Savóia (PR), 5 x 0; Joinville (SC), 5 x 3; Força e Luz (RS), 3 x 2; Grêmio (RS), 3 x 0; Vasco da Gama (RJ), 5 x 4 e Flamengo (RJ), 3 x 1. Empatou dois jogos: Palestra Itália (MG), 0 x 0 e Internacional (RS), 2 x 2. E perdeu apenas quatro jogos: Flamengo (RJ), 3 x 1; Santos (SP), 4 x 3; Juventus (SP), 8 x 5 e Coritiba (PR), 2 x 1. O êxito da excursão fez com que os principais jogadores do time fossem contratados pelos grandes clubes do centro do país. Zago, Djalma e Ademir foram para o Vasco, Magri para o América (RJ), Piromba para o Flamengo e Pinhegas para o Fluminense.

Em 1957 aconteceu a primeira excursão do Sport a Europa. Foram 17 jogos, com 6 vitórias, 3 empates e 8 derrotas, com 40 gols pró e 60 contra. Os resultados foram estes: Sporting Lisboa 5 x 1 Sport; Seleção de Israel 2 x 2 Sport; Haifa-Macabi (Israel) 1 x 5 Sport (estréia do goleiro Manga); Seleção de Israel 2 x 5 Sport; Selecionado de Haifa (Israel) 1 x 3 Sport; Seleção da Turquia 2 x 5 Sport; Fenerbache (Turquia) 2 x 3 Sport; Besiktas (Turquia) 2 x 2 Sport; Beykoz (Turquia) 3 x 2 Sport; Seleção da Turquia 1 x 2 Sport; Real Madrid (Espanha) 5 x 2 Sport; Marseille (França) 8 x 0 Sport; Stade-Reims (França) 6 x 2 Sport; Sochaux (França) 5 x 4 Sport; Fortuna Dusseldorf (Alemanha) 1 x 1 Sport; Fortuna Dusseldorf (Alemanha) 3 x 0 Sport e Osasuña (Espanha) 7 x 2 Sport.

O Sport é o clube dono do maior patrimônio e da maior torcida em todo o Nordeste. O Estádio da Ilha do Retiro, onde manda seus jogos foi inaugurado em 4 de julho de 1937, num amistoso contra o Santa Cruz, em que o “Leão” venceu por 6 X 5. No dia 11 de julho aconteceu o primeiro jogo oficial no novo estádio, um empate em 2 x 2 entre Sport X “Tramways”, pelo Campeonato Pernambucano. Em 1950, o Estádio da Ilha do Retiro sediou um jogo pela Copa do Mundo, em que o Chile goleou os Estados Unidos por 5 x 2.

O nome Ilha do Retiro se deve ao fato do estádio ter sido construído sobre uma ilha e aterrado em torno. Foi no dia 29 de novembro de 1935 que o Sport comprou por 85 contos de réis o terreno onde construiu o estádio, cujo nome oficial é Adelmar Costa Carvalho, que presidiu o clube quando da conquista dos títulos estaduais de 1955 e 1956.

Em 1988 o Sport participou da Copa Libertadores da América. Os resultados de seus jogos foram estes: Sport 0 x 1 Guarani (Campinas); Universitário (Peru) 1 x 0 Sport; Alianza Lima (Peru) 0 X 1 Sport; Guarani (Campinas) 4 x 1 Sport; Sport 5 x 0 Alianza Lima (Peru); Sport 0 x 0 Universitário (Peru). O.Sport foi terceiro colocado no grupo e eliminado da competição.

A maior glória veio em 1987, quando sagrou-se campeão brasileiro ao bater o Guarani em campo e o Flamengo nos tribunais. Três anos depois, foi campeão brasileiro da Série B. Outras glórias são os vice-campeonatos da Copa do Brasil, em 1989, e da Copa dos Campeões, em 2000. Foi campeão pernambucano 37 vezes: 1916, 1917, 1920, 1923, 1924, 1925, 1928, 1938, 1941, 1942, 1943, 1948, 1949, 1953, 1955, 1956, 1958, 1961, 1962, 1975, 1977, 1980, 1981, 1982, 1988, 1991, 1992, 1994, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2003, 2006, 2007 e 2008. Ganhou a Copa Pernambuco em três vezes: 1998, 2003 e 2007. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Sport faz renascer o futebol nordestino (Foto: Site oficial do Sport Club do Recife)

domingo, 8 de junho de 2008

Saiba como surgiu o pênalti

Quando a Football Association determinou em 1863, na Inglaterra, as modernas regras para o futebol, não existia o pênalti. Este, foi aparecer 27 anos depois, em 1890, inventado pelo goleiro irlandês William McCrum, durante um jogo válido pelo campeonato do condado de Armagh, na Irlanda do Norte. E assim mesmo só foi oficializado nas regras do futebol no dia 2 de junho de 1891, numa reunião da International Board em Glasgow (Escócia).

Nos primeiros tempos do futebol eram comuns as discussões para resolver o problema das faltas próximas das metas. Muitas vezes os jogadores chegavam a trocar socos. McGrum, que era dono de uma fábrica de tecidos e jogava como goleiro teve uma idéia genial para acabar com essas confusões. Num jogo de seu time, quando as discussões encaminhavam-se para briga, ele pegou a bola, contou 12 jardas, cerca de 11 metros, marcou com tinta branca, colocou a bola no local e sugeriu que um adversário e ele , debaixo do travessão, resolvessem a questão com um “direct free kick” sempre que houvesse um “foul” ou “hands” na grande área ou “the box”, a caixa.

Foi dessa forma que nasceu o pênalti, chamado inicialmente pelos irlandeses de “o chute da morte”. Nos primeiros tempos a falta máxima podia ser cobrada de qualquer ponto, desde que distante 11 metros da meta. Curiosamente, quem perdesse um pênalti ia preso, sem julgamento, pelo “crime” de incompetência. Se a regra valesse para os dias de hoje, os jogadores Edmundo e Zé Carlos, que recentemente ajudaram a eliminar seus times da Copa do Brasil, Vasco da Gama e Botafogo, respectivamente, estariam gozando “férias” atrás das grades.

Foi num jogo pela Copa da Inglaterra de 1891, entre as equipes do Notts County e Stoke City, que o pênalti começou a valer como regra. O Notts vencia por 1 a 0 e o seu zagueiro Henry desviou a trajetória da bola com a mão, dentro da área, evitando o gol do adversário. O árbitro marcou a falta, mas o goleiro do Notts ficou na frente da bola – isso era permitido - e defendeu a cobrança.

Os primeiros tempos do pênalti não foram fáceis. Sob o argumento de que o futebol era um esporte para cavalheiros, a nova regra foi bastante criticada pelos jornalistas, principalmente ingleses que chamavam a falta de “pena de morte” para os goleiros. Alguns times ingleses negavam-se a aceitar a regra. Foi o caso dos goleiros do Corinthians Team, por exemplo, que se encostavam na trave, deixando o gol completamente aberto. Mas os adversários do Corinthians inglês também se recusavam a fazer um gol sem goleiro e chutavam a bola de propósito para fora.

Com o passar dos anos a regra foi totalmente aceita e o pênalti passou a ser tratado como uma jogada normal do futebol. Em 1988, a cidade de Milford, no condado de Armagh, terra natal do goleiro McCrum homenageou o inventor do pênalti com um busto e uma placa informativa, com o referendo da Footbal Association Board.

Por conta disso, houve uma última alteração na regra das penalidades. Os goleiros, que antes podiam se adiantar até seis jardas, passaram a ser obrigados a permanecer sobre a linha até o momento do tiro livre. O pênalti é a única infração no futebol que deve ser cobrada mesmo depois de encerrado o tempo de uma partida.

Para a cobrança de um pênalti a bola é colocada na chamada “marca fatal” e dentro da área só é permitida a presença do cobrador e do goleiro, que deve ficar na sua linha de meta, só podendo se deslocar para os lados, nunca para frente. Qualquer contravenção a essas regras será punida com a repetição da cobrança. O cobrador deve bater diretamente para frente, e não poderá tocar novamente na bola antes que outro o faça. A bola será considerada em jogo assim que percorrer uma distância igual à sua circunferência, e o gol valerá mesmo que o goleiro a toque antes de ultrapassar a linha de meta.

Para toda infração a estas regras haverá uma penalidade. Se for cometida pela equipe defensora, será repetida a cobrança do pênalti, caso este não resulte em gol; cometida por um atacante, que não o mesmo que cobrou o pênalti, resultará em anulação de um eventual gol e na repetição da cobrança; se o infrator for o mesmo que cobrou o pênalti, e o fizer depois que a bola estiver em jogo, será marcado um tiro livre indireto a favor da equipe adversária.

Após a cobrança o jogo prosseguirá normalmente, o que significa que se o goleiro espalmar a bola para longe da meta, os demais jogadores, que esperavam atrás da linha de chute, podem continuar a jogar e insistir no remate.

As decisões de jogos por cobranças de pênaltis são previstas em algumas competições futebolísticas. Quando isso ocorrer, serão cobradas cinco séries de pênaltis, uma para cada time, e depois, se não houver vencedor, novas séries de uma cobrança para cada lado, até que um deles seja o vitorioso. Somente poderão cobrar pênaltis jogadores que estejam atuando na partida. Atletas expulsos não podem ser relacionados. Durante as cobranças os jogadores de ambas as equipes devem ficar no círculo central, com exceção dos goleiros, que podem esperar pelas cobranças na grande área.

O pênalti pode ser cobrado em dois toques, desde que a bola seja rolada para frente e o segundo jogador a tocar nela esteja fora da área no momento da cobrança. No caso de decisão de resultado por pênaltis, isso não é permitido. O mesmo acontece se a bola bater na trave e depois no goleiro. A partir do momento que a bola estiver em uma trajetória de retorno do gol o lance está encerrado. Se fosse válido, a bola poderia acidentalmente voltar, acertar sem querer a cabeça do cobrador e entrar no gol. Durante o transcorrer do jogo, o lance é válido, mas nas decisões por pênaltis esse gol não deve ser validado.

Além do tradicional futebol de campo, a regra do pênalti é aplicada na maioria das outras modalidades de futebol, tais como futsal, futebol de salão, futebol society, etc. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Errar um pênalti já deu cadeia (Foto: Wikipédia)

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Coisas de gente maluca

Neste mundo de Deus tem louco para tudo. Vou mostrar neste artigo alguns esportes e concursos malucos que são realizados em vários lugares do mundo. Já imaginaram um concurso de tênis mais fedorento? Pois existe, e nos Estados Unidos. É o "National Odor-Eaters Rotten Sneaker", que é realizado desde 1975, na cidade de Montpelier, com o patrocínio de uma empresa especializada em limpeza de calçados.

Na edição do ano passado, a garota Katharine Tuck, representando o Estado de Utah, foi a vencedora e ganhou o prêmio de US$ 2,5 mil, cerca de R$ 52 mil. Seus tênis cheiravam tão mal que os juízes tiveram dificuldades respiratórias e estomacais. Katharine usou os tênis durante um ano e meio sem nunca tê-los lavado. Nesse período jogou futebol e basquete, participou de caminhadas e uma vez entrou com seus “perfumados” calçados no lago "Great Salt", para que recebessem um cheiro extra de camarões.

Apenas como ilustração conto outros fatos fedorentos. Na pequena cidade de Waukesha, no Estado americano de Wiscounsin, a Polícia prendeu um homem suspeito de haver furtado, nos últimos dois anos, mais de 1,5 mil pares de sapatos e tênis de mulheres, em três escolas de ensino médio da região, apenas para cheirá-los.

A polícia da cidade alemã de Kaiserslautern foi informada de que exalava um forte cheiro de podre, de um apartamento situado na periferia. Temendo encontrar um corpo em decomposição, os policiais invadiram o local e em vez de uma cena de crime, acharam o morador dormindo com um odor muito forte vindo dos pés.

Sua cama era uma pilha de roupas sujas com cheiro insuportável. Como as persianas estavam fechadas há mais de uma semana e a caixa de correio, lotada de cartas, os vizinhos desconfiaram de que o cheiro era proveniente de alguém morto há vários dias.

Já no Reino Unido, no condado de Gloucester Crown, uma juíza se viu obrigada a suspender o julgamento de um chantagista por uma razão pouco comum. Dois jurados reclamaram do fedor de um outro jurado. Ao suspender o julgamento e liberar o júri a magistrada disse que “houve uma reclamação sobre a higiene pessoal de um dos jurados. Não me parece possível que qualquer cidadão consiga conviver com esse cheiro por dois ou três dias".

Deixando os maus cheiros de lado, conto a respeito de outras curiosas e bizarras competições. Todos os anos, no condado de Calaveras, nos Estados Unidos, é realizada a “Feira de Saltos de Rãs”. No ano passado, foram mais de 4 mil o número de inscritos. A rã vencedora foi "Lisa Can Do", bichinho de estimação do garoto norte-americano Brent Bloom. Ela saltou 21 pés e 4,25 polegadas - cerca de 6,50 metros e levou o prêmio de US$ 750.

O evento anual é inspirado em "A célebre rã saltadora do condado de Cavaleras”, uma história do escritor norte-americano Mark Twain. O texto fala sobre a fraude em um concurso de saltos de rãs.

Ainda nos Estados Unidos, na cidade de Dês Moines, foi escolhido recentemente o “Buldog Mais Bonito”. O evento, que alcançou sua 28ª vez, escolheu o cão Riggs, de três anos de idade, como vencedor, ganhando de prêmio uma coroa de rei.

Riggs, que estava vestido com um traje azul e branco, venceu outros 50 competidores em provas que, segundo os próprios organizadores, envolveram muito mais testes de personalidade do que de beleza. "A última coisa que se consegue obter com um bulldog é beleza", afirmou o mestre de cerimônias Dolph Pulliam.

O livro “Guinness”, dos recordes estimula muita gente a fazer coisas quase inacreditáveis. É o caso da jovem indiana, Anandita Dutta Tamuly, de 26 anos, que pretende comer a pimenta mais forte do mundo, até cair. A pimenta, chamada de "fantasma", porque "espanta até espírito", é cem vezes mais forte que o “jalapenho”, a preferida dos mexicanos. A jovem, durante um programa de TV na Índia, comeu 60 pimentas em dois minutos, mas quer bater a marca para entrar no “Guinness”. O recorde atual pertence à sul-africana Anita Crafford, que em 2002 comeu oito “jalapenhos” em um minuto.

A competidora indiana come pimenta desde criança, quando sua mãe encheu sua língua de pimenta na esperança de curar uma infecção. Ela gostou e não parou mais.
Na Inglaterra um projeto de lei vai à votação para decidir se as corridas de pombo podem ser oficialmente reconhecidas como um esporte. O projeto é de autoria do parlamentar independente do País de Gales, Peter Law.

Nesse tipo de corrida, as aves são obrigadas a percorrer grandes distâncias. O que mais chama a atenção do público é a largada, geralmente um bonito espetáculo, com milhares de pombos soltos simultaneamente. Todos os participantes portam pequenos anéis com números, que servem para identificá-los.

O advogado irlandês, Colin Carroll, que nas horas vagas é também lutador de sumô "peso-leve", resolveu fazer uma sátira das Olimpíadas de Pequim e lançou o seu próprio jogo olímpico, que terá provas nada convencionais como: corrida de costas, corrida de banheiras e corrida de 100 metros segurando uma colher e um ovo. Em vez do tradicional lançamento de disco, haverá o lançamento de telefones celulares. As equipes terão times mistos - "dois homens e dois cachorros".

Mas o irlandês não inovou muito. Os verdadeiros Jogos Olímpicos também vem promovendo ao longo da história algumas provas bizarras. Quem não lembra do cabo de guerra, regata de barco a motor e nado submerso? O que falar do trampolim acrobático, onde só falta o trapézio e a lona para virar circo?

Será que os leitores já ouviram falar alguma vez destas outras invencionices, que alguns teimam em chamar de esportes? “Passada de Ferro Extrema”, que consiste em levar uma tábua, um ferro e roupas para um local extremo, como o pico de uma montanha, uma caverna, ou até mesmo o fundo do mar. Sabe-se que essa aberração é praticada por mais de 1.000 adeptos, mundo afora.

O “Curling”, que se parece com uma limpeza de chão. A regra manda que uma pessoa jogue uma pedra no chão em direção a um alvo. Depois, outras duas pessoas munidas de vassouras ajustam a trajetória da pedra. Uma quarta pessoa guia a ação dos “vassourinhas”. Pasmem, esse é um esporte olímpico.

”Pólo a Cavalo” é um esporte bastante conhecido, principalmente nos quartéis. Mas “Pólo com elefantes”, confesso que nunca tinha ouvido falar. Mas é praticado. Cada elefante carrega duas pessoas, o treinador que comanda o animal e o jogador de fato. O taco é de bambu para poder alcançar o chão. O resto é igual ao “Pólo a Cavalo”.

Um tal de “Jai-Alai” é considerado um dos esportes mais rápidos do mundo. É praticado sempre por duas pessoas e se resume basicamente em arremessar uma bolinha na parede e catar antes que ela pingue duas vezes no chão.

Que tal praticar o “Sepaktakraw”, cuja pronuncia correta é “Sepaquitacráu”, uma mistura de futevôlei com artes marciais. O objetivo do jogo é chutar a bola de 170 gramas por cima de uma rede de 1,55 metro de altura e fazer com que ela toque o lado adversário da quadra. Para dar potência aos chutes, os jogadores abusam das voadoras e malabarismos.

Na Turquia são disputadas provas de mergulho na terra. Na China, recepção de tronco, na Rússia, troca de tapas na mesa e na Índia, luta vendada com porretes. Não tenho maiores detalhes sobre elas. E precisa? Os nomes, certamente já dizem tudo.

Têm também o “Rally de Caracóis”, disputado em Trício, na Espanha que teve o molusco “Correcaminos”, como campeão. Além de correr os bichinhos ainda tiveram que empurrar uma lata. Em agosto do ano passado teve o “Torneio Anual de Sauna”, da Finlândia. O vencedor da categoria masculina agüentou temperaturas de até 110ºC por cerca de 12 minutos e meio.

“Campeonato Mundial de Arremesso de Celular”, também competição realizada na Finlândia. “Corrida de Salto Alto”, que reserva um prêmio de 10 mil euros. É disputada em Berlim, e as mulheres têm que usar sapatos com no mínimo, 7 cm de altura e, no máximo, 1,5 cm de largura.

O americano Ashrita Furman, 52 anos, conseguiu entrar no livro “Guinness”, dos recordes ao fazer 1.330 cambalhotas em 60 minutos. A exibição teve como cenário um trecho de estrada de 100 metros de comprimento no cabo Kaliakra, no litoral do Mar Negro, que o americano recorreu 24 vezes.

Furman é proprietário de um estabelecimento comercial de alimentos biológicos em Nova York, e possui recordes tão diversos como o de permanecer em um aquário com tubarões ou escalar uma pirâmide no Egito. Atualmente, Furman trabalha em outros 56 projetos para o Guinness, e desde 1979 conseguiu mais de 100 recordes.

Para encerrar: uma chinesa de 73 anos usou apenas os dentes para movimentar dois veículos, pesando um total de cinco toneladas, em uma demonstração dentro de um estádio esportivo da cidade de Jinan, no leste da China. Essa não foi a primeira vez que ela mostrou a enorme força: cinco dias antes conseguiu movimentar um caminhão de 4,2 toneladas ao longo de 10 metros, puxando o veículo com uma corda entre os dentes.

Wang há 33 anos estuda e pratica artes marciais. Suas proezas têm sido mostradas pela Televisão Central da China (CFTV), que fez dela uma celebridade em todo o país. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Katharine Tuck, a grande vencedora do concurso de tênis mais fedido dos Estados Unidos (Foto: Divulgação)

segunda-feira, 2 de junho de 2008

“Abelão” e Internacional: o fim de uma história de amor

Abel Carlos da Silva Braga, um carioca nascido em 1º de Setembro de 1952 termina, pelo menos por 10 meses, uma história de amor com o S.C. Internacional, de Porto Alegre, onde ganhou fama mundial ao conquistar quase tudo que um treinador de futebol profissional pode ambicionar na carreira. Antes de ir, já pensa em voltar para o Beira Rio, após os 10 meses de contrato. Uma proposta milionária e irrecusável vinda do Al-Jazira Club, equipe de Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes foi a causa do rompimento dessa união quase perfeita. Abel deve assumir o cargo de técnico do novo clube na próxima quarta-feira.

O treinador conheceu o Al-Jazira em janeiro, quando o Internacional, depois de vencer o Torneio de Dubai, fez a pré-temporada de uma semana na sede do clube que agora o contratou. O Al-Jazira é dono de uma estrutura enorme, com um moderno estádio, cinco campos de treinamentos, dois hotéis, dois ginásios de esportes, departamentos de medicina, musculação e fisioterapia, além de alojamentos e restaurantes para os jogadores, até das categorias de base.

Antes de ser técnico, Abel Braga foi jogador. Começou a carreira como zagueiro do Fluminense do Rio de Janeiro, em 1968, nas categorias de base. Em 1971, depois de ser campeão do Torneio Pré-Olímpico pela Seleção Brasileira, subiu para os profissionais, conquistando de imediato o seu primeiro título de campeão carioca, o que se repetiria nos anos de 1973, 1975 e 1976.

Embora fosse reserva no Fluminense e entrasse em campo quase sempre no segundo tempo, suas boas atuações o credenciaram a ser contratado pelo Vasco da Gama, em 1977, onde foi campeão carioca no mesmo ano. Foi no clube da Cruz de Malta que “Abelão”, como também era chamado, firmou-se como titular e foi chamado pelo técnico Cláudio Coutinho para a Seleção Brasileira.

Abel vestiu a camisa canarinho em cinco jogos, com três vitórias e dois empates e participou da Copa do Mundo de 1978. Sua primeira partida foi em 11 de dezembro de 1971 na vitória por 1 X 0 contra o Peru e a última em 25 de Maio de 1978, no empate de 2 X 2 contra a Seleção Gaúcha.

Depois do Vasco da Gama, Abel foi jogar no Paris Saint-Germain, da França, onde ficou de 1979 a 1981, ano em que foi contratado pelo Cruzeiro de Belo Horizonte. Em 1982 ainda jogou pelo Botafogo do Rio de janeiro e em 1984 pelo Goytacaz, de Campos, Rio de Janeiro, onde encerrou a carreira de jogador e iniciou a de treinador.

Em 1986 foi treinar o Rio Ave, de Portugal. No ano seguinte voltou ao Brasil para ser técnico do Botafogo, onde teve curta passagem. No mesmo ano foi contratado pelo Santa Cruz de Recife.

Em 1988 assumiu o Internacional gaúcho pela primeira vez, ficando apenas um ano. Ele treinava o time quando do clássico de número 279, chamado de o Gre-Nal do Século, com vitória colorada por 2 X 1, gols de Nilson, artilheiro do Campeonato Brasileiro daquele ano, com 15 gols, para o Inter. Marcos Vinicius descontou para o Grêmio.

Em 1989 voltou a Portugal para treinar o Famalicão, que sob seu comando voltou a 1ª divisão do futebol lusitano. Na temporada seguinte, 1990/1991 não conseguiu bons resultados, embora o time não fosse rebaixado. Em 1992 foi dirigir o Belenenses, que amargava a segunda divisão. Mais uma vez foi vitorioso e o clube voltou a Divisão Principal.

Ainda como técnico do Belenenses, Abel na temporada 1992/1993 levou o clube a 7ª posição do Campeonato Português, garantindo a permanência no cargo, mas preferiu transferir-se logo em seguida para o Vitória de Setúbal. Por conseguir excelentes resultados com clubes que se encontravam na 2ª divisão, Abel ganhou fama de bom técnico entre os portugueses.

Depois de cinco anos em solo português, Abel retornou ao Brasil em 1994 para assumir o comando do Internacional de Porto Alegre, pela segunda vez, ficando até o fim do ano. Em 1995 foi para o Vasco da Gama, onde durou apenas dois meses, sendo demitido em razão dos maus resultados da equipe no Campeonato Carioca. Depois de um bom período de férias foi trabalhar em 1997 no futebol paranaense. Primeiro contratado pelo Atlético Paranaense, onde foi campeão em 1998. Depois, no Coritiba, ganhando o título estadual de 1999. E no mesmo ano treinou o Paraná Clube.

O Vasco, que o havia demitido em 1995, não passava por bom momento e logo após a derrota no Mundial de Clubes, o chamou de volta para assumir a equipe temporariamente, pois a intenção era contratar Oswaldo de Oliveira, o que aconteceu logo em seguida. Apesar da boa campanha no Campeonato Carioca de 2000, Abel foi dispensado e ficou dois meses esperando uma boa proposta, o que aconteceu em julho do mesmo ano, quando foi contratado pelo Olympique, de Marselha, França. Mas não durou muito no clube francês, sendo mandado embora quatro meses depois.

Em novo retorno ao Brasil foi treinar o Atlético Mineiro, em 2001. Em 2002 voltou ao Atlético Paranaense. No mesmo ano foi para o Botafogo, pela segunda vez, mas como o time era muito fraco, depois de três meses pediu demissão. Em 2003 assumiu a Ponte Preta com o objetivo de manter o clube na 1ª divisão do Campeonato Brasileiro, objetivo que foi alcançado.

Já bastante valorizado, “Abelão” foi para o Flamengo em 2004. O clube carioca tinha como projeto disputar à Copa Libertadores da América, do ano seguinte. O Flamengo ganhou o Campeonato Carioca e chegou à final da Copa do Brasil contra o Santo André, de São Paulo. Depois de empatar o primeiro jogo por 2 X 2 , no estádio do adversário, foi derrotado em pleno Maracanã por 2 X 0, perdendo assim a chance de conquistar o título e a projetada vaga para a competição continental. Abel disse depois do jogo que essa foi a maior derrota na sua carreira.

Abatido pelo fracasso, e depois de ficar parado por seis meses, em 2005 Abel voltou ao clube onde começou a carreira de jogador, o Fluminense, completando assim o ciclo dos quatro grandes do Rio de Janeiro. No tricolor foi mais uma vez campeão carioca e de novo finalista da Copa do Brasil. E nova desilusão, derrota para o Paulista de Jundiaí, São Paulo. Mas o técnico permaneceu no cargo para o Campeonato Brasileiro. Depois de uma campanha boa, o time caiu de produção na reta final e ficou na quinta colocação, uma abaixo da zona da Copa Libertadores da América. Na Copa Sul-Americana, o Fluminense parou nas quartas-de-final.

Chegou o ano de 2006 e sua terceira passagem pelo Internacional. Fim da fama de pé frio e início de uma nova era, com vitórias e títulos importantes: Vice-Campeão Brasileiro, campeão da Copa Libertadores da América e Campeão Mundial de Clubes FIFA. Com as conquistas, Abel foi mantido no cargo. Com a venda dos jogadores mais importantes o time já não rendeu mais o mesmo futebol de antes. Resultado: no Campeonato Gaúcho não passou da primeira fase e na Taça Libertadores foi eliminado na primeira fase e Abel deixou o comando técnico colorado.

Para o cargo foi contratado o técnico Alexandre Galo, que dirigia o Sport Recife. Mas não teve sorte. Depois de uma campanha ruim no início do Campeonato Brasileiro acabou demitido. Abel Braga, que havia recusado propostas vindas do exterior e ainda do Cruzeiro e Atlético Mineiro acabou voltando ao Internacional pela quarta vez, quatro meses após ter sido demitido. Evitou o rebaixamento do time e ganhou o Torneio de Dubai, no início deste ano, e o Campeonato Gaúcho. O final da história todos os colorados já conhecem. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Abel Braga, em 20 anos dirigiu o Internacional por quatro vezes (Foto: Site do S.C. Internacional)

domingo, 1 de junho de 2008

Uma homenagem silenciosa

A mais conhecida forma de se homenagear um morto ilustre é sem dúvida o minuto de silêncio. A prática, que em fevereiro ultimo completou 96 anos, se popularizou em todo o mundo, principalmente nos estádios de futebol, Assembléias Legislativas, Câmaras de Vereadores e Congresso Nacional. Como e onde isso surgiu? Foi em Portugal, no ano de 1912, após a morte de um brasileiro, José Maria da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco.

O Barão era uma pessoa muito querida no país irmão. Como ministro brasileiro dos Negócios Estrangeiros foi um dos primeiros estadistas a reconhecer a República Portuguesa em 1910. Sua morte teve enorme repercussão em Portugal. Na reunião do dia 13 de fevereiro, a Câmara dos Deputados, por determinação de seu presidente, Aresta Branco, suspendeu a sessão por meia hora, como era costume, para homenagear o ilustre morto.

Mas foi na reunião do dia 14, no Senado, que aconteceu a revolucionária inovação. O presidente da Casa, senador Anselmo Braamcamp, propôs que durante dez minutos, e como homenagem à memória do estadista, os senadores permanecessem silenciosos em seus lugares. Cumpriu-se, assim, o primeiro momento de silêncio que se tem notícia, e que com o passar do tempo foi reduzido para cinco e depois para um minuto, como ocorre em nossos dias.

A partir da homenagem póstuma ao Barão, todas as vezes que morria alguma figura ilustre, o Legislativo português repetia o gesto. Não demorou muito para que as casas legislativas européias copiassem o modelo português. Daí, para ganhar o mundo foi apenas uma questão de tempo.

José Maria da Silva Paranhos Júnior nasceu no Rio de Janeiro a 20 de abril de 1845, filho do também diplomata que se tornou famoso sob o título de Visconde do Rio Branco. No Brasil a sua morte foi bastante sentida, tanto que o Governo decretou o adiamento do Carnaval, para que não coincidisse com o período de luto nacional.

Como ministro dos Negócios Estrangeiros, Paranhos foi responsável pela demarcação das fronteiras, aumentando o território brasileiro com a anexação em 1904, do atual Estado do Acre, incorporando definitivamente em nosso mapa uma área territorial de 30.621 quilômetros quadrados.

O minuto de silêncio durante seus quase 100 anos de existência se prestou para todo o tipo de homenagens, protestos indignados e até situações humorísticas. Foi respeitado e desacatado. Antes de me aprofundar no tema quero registrar uma colaboração do amigo Horácio Gomes, lá da cidade gaúcha de Rio Grande, um dos melhores e mais completos profissionais de rádio com que tive a alegria de trabalhar. Outro dia falarei mais sobre ele e outros inesquecíveis colegas de imprensa que tive.

O Horácio, que é leitor assíduo deste modesto blog, lembrou da gafe de um colega nosso de rádio, em Rio Grande, já falecido e que se tornou conhecido dos ouvintes pelas situações folclóricas que se tornaram comum em suas intervenções de repórter esportivo de campo. Havia falecido um dirigente do S.C. São Paulo, tradicional agremiação esportiva riograndina e antes do jogo foi feita a homenagem de um minuto de silêncio. O nosso saudoso e querido repórter alertou ao narrador: “Fulano, vamos ouvir um minuto de silêncio”.

O minuto de silêncio já mereceu vaia. Em 1967, na noite em que o corpo do presidente Castelo Branco era velado, durante um jogo no Estádio do Maracanã foi anunciado um minuto de silêncio. O povo inteiro vaiou. E Nelson Rodrigues, em sua coluna do dia seguinte não perdoou: "O Maracanã é implacável, vaia até minuto de silêncio".

Recentemente, num jogo pelo campeonato espanhol, a torcida também vaiou o minuto de silêncio, que teve de ser reduzido para apenas oito segundos. Parte dos 32 mil torcedores presentes ao estádio de San Mamés, em Bilbao, para assistir o jogo entre o time local do Athletic X Valladolid, não guardaram silêncio na homenagem ao líder socialista Isaías Carrasco, assassinado por militantes do grupo armado separatista basco ETA.

Essa foi a primeira vez que o Estádio San Mames deveria cumprir um minuto de silêncio por vítima da ETA. Foi por exigência da Federação Espanhola. O clube sempre reservou esse ato exclusivamente para homenagear alguns de seus membros mais destacados. Os últimos minutos de silêncio que ocorreram no campo do Athletic foram em memória de Javier Uria, então presidente, e Telmo Zarraonandia "Zarra", um de seus jogadores mais emblemáticos.

Mas o silêncio também foi personagem de grandes momentos. A União Européia, quando do “tsunami”, na Ásia, pediu aos 450 milhões de moradores de 25 nações, que parassem ao meio-dia tudo o que estavam fazendo e que observassem três minutos de silêncio em homenagem as cerca de 150 mil vítimas da catástrofe. Antes, a mesma União Européia já havia pedido que todos os países membros observassem três minutos de silêncio em memória das vítimas do atentado contra o trem de Madri.

Logo após a morte do papa João Paulo II, aconteceu no Maracanã, o clássico que ficou conhecido como o Fla-Flu do Papa. As duas torcidas homenagearam a grande figura do catolicismo. Mas a do Fluminense deu um show à parte: os torcedores tricolores, de braços erguidos e num silêncio profundo, foram protagonistas de um bonito espetáculo, até então impensável num estádio de futebol, durante o minuto de silêncio.

O tradicional minuto foi lembrado de outras maneiras não tão silenciosas. Noel Rosa compôs um dos mais belos sambas de nosso cancioneiro com o título de “Silêncio de um minuto”. Em 2002 uma banda britânica chamada “The Planets” incluiu em seu disco uma faixa chamada “Um minuto de silêncio”. O poeta e compositor do Timor-Leste, Francisco Borja da Costa, falecido em 1975, autor do hino nacional de seu país, escreveu o poema “Um minuto de silêncio”.

Para encerrar peço permissão para publicar o artigo do escritor Mário Prata, intitulado “Um minuto, por favor”.

Ele não estava completamente embriagado. Mas caminhava a passos e copos largos para tanto. E conseguiu, num passo alto, subir em cima da mesa do barzinho ali da Vila Madalena. E se equilibrou numa boa com o copo de uísque na mão. “Pessoal, pessoal, por favor. Um minuto de silêncio. Um minutinho só”.

Conseguiu colocar o copo na mesa num esforço sóbrio. Bateu palmas. “Por favor, gente. É um minuto só. O que é um minuto?”. As pessoas foram ficando em silêncio. O bar parou. Todo mundo olhava para aquele senhor. Quase setenta, eu diria. “Seguinte, eu queria levantar uma questão para colocar em discussão por todos vocês. É sobre o minuto de silêncio. Não esse que pedi para vocês. Mas para o minuto de silêncio antes de começar o jogo de futebol, em função da morte de alguém”.

E prosseguiu: “Outro dia teve um minuto de silêncio por causa da morte do parente de um ex-diretor do time. O que eu quero saber é porque só fazem um minuto de silêncio no futebol!!! Alguém já havia pensado nisso? Nos outros esportes não tem minuto de silêncio!!! Pode pensar. Nem na posse do Presidente da República. Eu quero saber quem foi o filho da puta que inventou o minuto de silêncio antes do futebol. Em lugar nenhum tem minuto de silêncio, caralho! Por que! Por que? Quem foi o filho da puta... Deixa pra lá.”

Sentou-se novamente, acabou o copo, pagou a conta e foi embora. E, da porta, ainda gritou: “Quem foi o filho da puta que inventou o minuto de silêncio?” E deixou uma puta discussão em aberto no boteco. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)

Horácio disse...
Amigão Nilo: Muito obrigado pela referência elogiosa a este repórter. Fica muito mais em conta da nossa amizade, do que pela competência deste escriba do interior. Quando voltares a falar das nossas "gafes", lembra do "Ronaldo Silva" que numa transmissão, depois do comentário do intervalo, foi chamado pelo Gley Sant'Anna para dar mais informações e saiu com essa: "Não tenho novidade nenhuma porque estou trancado do lado de fora do vestiário". Típica do "Ronaldinho"- Horácio Gomes
4 de junho de 2008 14:34
Nos estádios de futebol acontecem homenagens com minuto de silêncio, mais frequentemente (Foto: Sport Internacional)