Aos
nove anos, seu talento com a bola já o fazia ser a criança mais popular da
favela em que morava, no subúrbio de Buenos Aires. Um colega havia sido
aprovado em um teste para as categorias de base do Argentinos Juniors, e
respondeu aos elogios do treinador dizendo que conhecia um garoto ainda melhor.
O
treinador, Francis Cornejo, deu-lhe então 10 pesos para que pedisse a esse
outro jovem para ir vê-lo. Cornejo e outros observadores do clube, incrédulos
com o que viram no outro menino, foram acompanhá-lo na volta até a casa deste
e, pedindo à mãe dele, conferiram sua documentação para desfazer qualquer
engano plausível. Viram que Maradona realmente tinha apenas nove anos de idade.
Os
pais foram então convencidos a colocar Maradona no Argentinos, clube pequeno da
capital, mas famoso pelo bom trabalho que desenvolvia com as categorias de
base. Com 15 anos, disputava partidas preliminares, já atraindo multidões.
Quando
finalmente foi lançado entre os profissionais, não saiu mais. Demonstrava um
repertório completo certeiro com a sua mágica perna esquerda: lançamentos,
passes, dribles curtos, chutes certeiros de curta e longa distância, cobranças
de falta e escanteios.
Aos
17 anos, recebeu a primeira convocação para a “Seleção Argentina”, da qual foi
polemicamente cortado na “Copa do Mundo de 1978”.
1978
também significou o ano em que foi pela primeira vez artilheiro do “Campeonato
argentino”. Em 1979, foi artilheiro tanto do “Campeonato Argentino” quanto do
“Campeonato Metropolitano”, torneio que reunia os clubes da "Grande Buenos Aires" e que era na época considerado mais importante até do que o “Campeonato Nacional”. Naquele ano, foi eleito pela primeira vez o melhor jogador
sul-americano.
A
dose repetiu-se em 1980: Maradona foi artilheiro dos dois campeonatos e eleito
outra vez o melhor jogador da América do Sul, com o adicional de ter levado o
Argentinos Juniors ao vice-campeonato nacional, melhor resultado do clube até
então.
O
Boca Juniors, que não conseguia títulos argentinos desde 1976, resolveu ir
atrás dele, no que era a realização de um sonho para o jogador: Maradona sempre
fora um torcedor “Xeneize” fanático. Jamais seria esquecido, todavia, na equipe
que o revelou: o Argentinos renomeou seu campo para “Estádio Diego Armando
Maradona”.
E
foi em um amistoso contra o Argentinos que Maradona fez sua estreia pelo Boca,
marcando de pênalti, atuando pelos dois times. Parte da concordância do
Argentinos em emprestá-lo estava em uma cláusula do contrato de venda em que
proibia que Diego enfrentasse a antiga equipe em jogos oficiais.
Naquele
ano de 1981, com o Boca, Maradona fez grande dupla com Miguel Ángel Brindisi,
com os dois marcando juntos 33 dos 60 gols que reconduziram o time ao título
metropolitano - a primeira conquista do clube auriazul em cinco anos. Maradona
também marcou em seu primeiro Boca X River, em um 3 X 0.
Maradona
chegou à Catalunha como um messias. O Barcelona vivia carência de títulos desde
o final da década de 1950. Desde 1960, só conseguira vencer o “Campeonato Espanhol”
em 1974. Via o rival Real Madrid se distanciar cada vez mais no ranking de
vencedores e ainda sentia o Atlético de Madrid aproximando-se, com um título a
menos.
Na
primeira temporada, Maradona enfrentou o primeiro problema: em dezembro de
1982, sofreu de hepatite e ficou de fora dos campos por três meses. O time
terminou apenas em quarto; o título de 1982–83 ficou com o Athletic Bilbao.
Na
“Copa do Rei”, porém, decidiu a final contra o Real Madrid, marcando nos dois
jogos da decisão e foi aplaudido de pé pela torcida do arquirrival após a
vitória por 2 X 1 em pleno “Santiago Bernabéu”. Na partida de ida, no "Camp Nou",
o Barcelona havia deixado o rival empatar após estar vencendo por 2 X 0.
Mal
começou a segunda temporada e, num jogo contra o Athletic, sofreu uma entrada
desleal do adversário Andoni Goikoetxea e fraturou o tornozelo esquerdo. O
astro levou 106 dias para retomar o futebol.
Quando
voltou, conduziu a equipe ao caminho do título. No entanto, por um ponto, a
taça ficou com o Athletic. Ambos os times decidiram também a “Copa do Rei”, e
um novo dia ruim contra a equipe basca (que vencia por 1 X 0) fez Maradona
surtar. Ele protagonizou uma briga generalizada entre os jogadores.
Maradona,
que já não tinha um relacionamento bom com a diretoria do Barcelona, foi
praticamente descartado por ela após receber uma suspensão de três meses em
razão da confusão.
E
então foi aceita a oferta do pequeno Napoli, da Itália. Desgostoso com o que
julgou como falta de esforço do clube em defendê-lo nos tribunais, Maradona
acatou a transferência, encerrando um ciclo de dois anos de altos e baixos no “Camp
Nou”.
O
atleta declarou em sua autobiografia, “Yo Soy Diego”, que o presidente Josep
Lluís Núñez tinha inveja de sua popularidade e foi o principal responsável
direto por sua saída do Barcelona.
No
livro, Maradona também apontou a coleção de fatores que o impediram de triunfar
no clube espanhol: desde a hepatite e lesões e até gostar mais de Madrid.
Ele
também revelou que foi na “Catalunha” que começou seu relacionamento com as
drogas. Aceitou a proposta do Napoli pois também estava arruinado
financeiramente. Chegou a doar a casa que tinha em Barcelona para pagar suas
dívidas.
Embora
tradicional, a equipe napolitana era minúscula. Seus troféus resumiam-se a
títulos nas divisões inferiores e a duas conquistas na "Copa da Itália".
Maradona
foi logo amado e venerado como um rei, chegando de helicóptero a um “Estádio
San Paolo” tomado por torcedores que ainda custavam a acreditar.
Ele,
curiosamente, poderia ter chegado antes ao time: o clube o havia sondado em
1979, quando ainda estava no Argentinos Juniors, mas recusara a proposta na
época. "Para mim, Napoli era apenas uma coisa italiana, como pizza",
comentou.
Na
primeira temporada, o clube ficou apenas em oitavo, mas somente 10 pontos atrás
do campeão Verona. Na segunda, a de 1985–86, conseguiu um terceiro lugar. Sua
terceira temporada começou com ele já consagrado em todo o planeta, com a
conquista da “Copa do Mundo de 1986”.
Em
setembro, porém, surgiu a primeira grande polêmica extracampo: sua ex-empregada
doméstica, Cristina Sinagra, denunciou que Maradona era o pai do filho que ela
teve.
A paternidade foi confirmada posteriormente na justiça. O filho, Diego Sinagra (também conhecido como Diego Armando Maradona Jr.), jamais foi assumido e os dois só teriam seu primeiro encontro em 2003.
A paternidade foi confirmada posteriormente na justiça. O filho, Diego Sinagra (também conhecido como Diego Armando Maradona Jr.), jamais foi assumido e os dois só teriam seu primeiro encontro em 2003.
Ainda
assim, na temporada 1986–87 Maradona deu ao Napoli seu primeiro título na "Serie
A", sobre a poderosa Juventus. A festa terminou completa no clube e na vida
pessoal: paralelamente, o Napoli foi também campeão da “Copa da Itália”, e
nasceu sua filha Dalma (batizada com o mesmo nome da mãe de Diego).
Na
temporada seguinte, Maradona, com 15 gols, alcançou a artilharia do campeonato.
O vice-artilheiro foi "Careca", com 13. O bi, porém escapou por três pontos:
o título ficou com o Milan.
Na
temporada 1988–89, o campeonato italiano foi surpreendentemente para a Inter de
Milão, com a perseguição única do Napoli (único time na reta final com chances
de tirar o título da Inter) terminando em vão.
O
consolo ficou por conta da “Copa da UEFA”: Maradona liderou o Napoli na
campanha rumo ao primeiro título continental do clube. Nos mata-matas finais, o
clube passou pela rival Juventus e pelo Bayern Munique até chegar na decisão,
contra o Stuttgart.
Os
alemães foram vencidos no embalo da dupla de Maradona com "Careca": ambos marcaram
na vitória de virada no jogo de ida, em Nápoles, e seguraram o empate na
Alemanha Ocidental. Paralelamente, naquele ano ele casou-se em um estádio
fechado com a namorada de infância, Claudia Vilafañe, e nasceu Gianinna, sua
segunda filha.
1989–90
chegou e o argentino novamente conduziu o Napoli ao "scudetto", com dois pontos de
vantagem sobre o Milan
Na "Copa", Maradona liderou uma Argentina esfrangalhada ao vice-campeonato, mas
eliminando a Itália nas semifinais, aumentando o rancor do resto do país. Ele,
ligado por provas robustas com a “Camorra”, a máfia napolitana, foi suspenso do
futebol por 15 meses. Entrou em depressão e, no mês seguinte, em abril, sob
efeito de drogas,foi preso em Buenos
Aires pela polícia no bairro de "Caballito".
Maradona,
decidido a deixar o Napoli, protagonizou uma batalha judicial que durou 86
dias. A liberação foi brecada pelo presidente do clube, que estava brigado com
o argentino.
Após intervenção da FIFA, Maradona conseguiu se desligar do Napoli e acertou um retorno à Espanha, agora como jogador do Sevilla, na época comandado por Carlos Bilardo, seu ex-técnico na Seleção.
Após intervenção da FIFA, Maradona conseguiu se desligar do Napoli e acertou um retorno à Espanha, agora como jogador do Sevilla, na época comandado por Carlos Bilardo, seu ex-técnico na Seleção.
Sua
estadia no clube andaluz não durou mais que a temporada 1992–93, onde foi apenas razoável. Acertou outro regresso, desta vez ao país natal, contratado
pelo Newell's Old Boys.
Mesmo recuperando a forma, durou menos ainda na equipe de Rosário: uma sucessão de lesões musculares provocou o término de seu contrato, após apenas cinco jogos oficiais e alguns amistosos, um deles, curiosamente, contra o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro.
Mesmo recuperando a forma, durou menos ainda na equipe de Rosário: uma sucessão de lesões musculares provocou o término de seu contrato, após apenas cinco jogos oficiais e alguns amistosos, um deles, curiosamente, contra o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro.
Deprimido,
Maradona afundou cada vez mais nas
drogas. Em fevereiro de 1994, irritado com o assédio da mídia, atirou com uma
espingarda de ar comprimido em jornalistas que faziam plantão em frente à sua
casa.
Acima
do peso e desmotivado, a impressão geral era a de que ele abandonaria a
carreira antes da "Copa do Mundo de 1994". Conheceu então um fisiculturista em
Buenos Aires que prometeu deixá-lo em forma novamente.
A
promessa foi cumprida, mas um novo antidoping durante a "Copa" desmascarou que,
por trás do milagre, estava a proibida substância "Efedrina", uma droga usada
para emagrecer. A FIFA terminou por puni-lo com outros 15 meses de banimento.
Sem
poder jogar, Maradona passou rápido como diretor-técnico do pequeno Textil
Mandiyú. Em poucas semanas, porém, abandonou o cargo do time de Corrientes.
Assumiu como treinador do Racing, mas em março do ano seguinte saiu.
Com
o fim da punição, ele voltou ao seu amado Boca Juniors, comprado por 10 milhões
de dólares pelo "Grupo Eurnekian", que em troca teve os direitos televisivos
sobre 11 partidas.
O retorno, iniciado em jogo contra o Colón, foi estampado até em seus cabelos: Maradona descoloriu uma faixa do lado superior direito, simbolizando a faixa dourada do uniforme boquense.
O retorno, iniciado em jogo contra o Colón, foi estampado até em seus cabelos: Maradona descoloriu uma faixa do lado superior direito, simbolizando a faixa dourada do uniforme boquense.
O
Boca não ganhava títulos argentinos havia cinco campeonatos – o último fora o
“Apertura de 1992”. Com Maradona e Caniggia em grande parceria, o clube
conseguiu confortável liderança no “Apertura 1995”.
O
clube deixou o título escapar para o Vélez Sarsfield e terminou apenas em
quarto. A
edição do torneio foi mais lembrada por uma goleada de 4 X 1 sobre o River Plate em
que a afinada dupla Caniggia e Maradona se beijaram na boca, em comemoração após o
terceiro gol do atacante loiro.
Maradona
faz sua última partida profissional, justamente em um Super clássico no
“Monumental de Núñez”, em 25 de outubro. Jogou o primeiro tempo da partida e
foi substituído pelo jovem Juan Román Riquelme. O Boca venceu por 2 X 1.
Enquanto
jogador, Maradona foi reverenciado como uma divindade em seu país natal, sendo
criada inclusive uma igreja dedicada a ele. Reunia inteligência, vontade e
talento, com dribles, habilidade para mudar drasticamente sua velocidade e dar
giros surpreendentes.
Seu
grande momento no futebol foi na “Copa do Mundo de 1986”, que de acordo com uma
opinião popular difundida em seu país, foi ganha inteiramente por ele, chamado
de “El Pibe de Oro”.
Maradona
foi casado durante vários anos com Cláudia Villafañe, de quem se divorciou de
forma litigiosa. As duas filhas do casal, Dalma e Gianinna, ficaram do lado da
mãe e não aceitaram o novo relacionamento do pai.
Maradona
tem mais três filhos, Diego Sinagra fruto de um caso extra-conjugal quando
jogava na Itália; Jana, de um outro relacionamento fora do casamento na década
de 1990; e Dieguito Fernando nascido em 2013 filho de Verónica Ojeda. (Pesquisa: Nilo Dias)
Maradona no Napoli, da Itália.