Morreu
hoje no Hospital Samaritano, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro o advogado,
empresário, atleta e dirigente esportivo brasileiro Jean-Marie Faustin
Goedefroid Havelange, mais conhecido como João Havelange.
Ele
estava internado para tratamento de uma pneumonia desde julho. O corpo foi
enterrado à tarde, no cemitério São João Batista.
No
final do ano passado, Havelange foi internado no mesmo hospital em decorrência
de problemas pulmonares. Ele havia completado 100 anos de idade no último dia 8
de maio.
Em
junho de 2014, ele foi internado por causa de infecção respiratória e
permaneceu no mesmo hospital, em Botafogo, por quatro dias até receber alta.
Já
em 2012, Havelange chegou a ficar em estado grave com quadro de infecção
bacteriana, mas recebeu tratamento no mesmo local e se recuperou. Desta vez, o
ex-dirigente não resistiu aos problemas de saúde.
Era
filho do belga Faustin Havelange, um comerciante de armas radicado no Rio de
Janeiro, que possuía uma grande propriedade que se estendia pelos atuais
bairros de Laranjeiras, Cosme Velho e Santa Teresa.
Durante
entrevista no programa da SporTV, "Histórias com Galvão Bueno", João
Havelange contou que após a morte de seu pai, recebeu convite de uma empresa
belga para dar continuidade aos negócios do comércio de armas de seu pai.
Mas
não aceitou, dizendo que tinha verdadeira aversão a armas, por se tratar de
instrumento de morte e violência. E declarou que nunca teve uma arma em sua
vida.
Havelange,
que nasceu no Rio de Janeiro em 8 de maio de 1916, desde a infância se dedicou
aos esportes. Como atleta praticou natação e polo aquático profissionalmente,
obtendo uma medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de 1955.
No
Fluminense, foi escoteiro e atleta, infantil, juvenil e adulto, destacando-se
em vários esportes, inclusive no futebol, pois em 1931 foi campeão carioca
juvenil.
Ainda
nesta década graduou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade
Federal Fluminense e competiu como nadador nas Olimpíadas de Berlim, em 1936.
Brilhou como jogador de pólo aquático em Helsinque, em 1952, além de comandar a
delegação brasileira em Melbourne, em 1956.
Posteriormente,
foi dirigente de esporte, inicialmente na Federação Paulista de Natação, já que
residia em São Paulo na época, em 1948. Quando retornou ao Rio de Janeiro em
1952, se tornou Presidente da Federação Metropolitana de Natação e
vice-presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD).
A
essa época já havia se formado advogado e além de acionista, ocupava o cargo de
diretor executivo da Viação Cometa, tradicional empresa de transporte
rodoviário de passageiros que opera nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais e Paraná.
Havelange
presidiu a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) de 1956 a 1974, como
sucessor de Sylvio Correa Pacheco. Na época a entidade, além do futebol, congregava
24 modalidades esportivas.
Foi
nesse período que o futebol brasileiro teve maior sucesso, sagrando-se
Tricampeão Mundial de Futebol nas conquistas das Copas do Mundo de 1958, na
Suécia, de 1962, no Chile e de 1970, no México.
Depois
foi eleito o sétimo presidente da FIFA, cargo que ocupou de 1974 a 1998, substituindo
a Sir Stanley Rous. Ao sair, foi sucedido por Joseph Blatter. De 1963 a 2011, foi
membro do Comitê Olímpico Internacional. Com mais de 40 anos de mandato
ininterrupto, foi decano desse órgão. Foi um dos dois únicos brasileiros que
foram membros do COI. O outro foi Carlos Arthur Nuzman, atual presidente do
Comitê Olímpico Brasileiro(COB).
Em
1998 foi eleito Presidente de Honra da FIFA, sendo também torcedor e presidente
de honra do Fluminense. Apesar de ser torcedor do tricolor carioca, Havelange
também foi presidente do Vasco da Gama.
Em
1 de Setembro de 1960 foi eleito Comendador da Ordem da Instrução Pública e a
28 de Fevereiro de 1961 foi eleito Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
A
13 de Novembro de 1963 foi elevado a Grande-Oficial da Ordem da Instrução
Pública. A 21 de Junho de 1991 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito.
Em 2010, foi eleito a "Personalidade do ano de 2009" no prêmio
"Faz Diferença" do jornal O Globo.
Eleito
para a FIFA em 1974 permaneceu à frente da entidade até 1998. Organizou seis
Copas do Mundo, visitou 186 países e trouxe a China, desligada por mais de 25
anos por razões políticas, de volta à FIFA. Criou também os Campeonatos
Mundiais de Futebol nas categorias infanto-juvenil, juvenil, juniores e
feminina.
Neste
período, tornou-se amigo de Horst Dassler, herdeiro da marca esportiva Adidas,
e dono da ISL, considerada a maior empresa de marketing esportivo do mundo, que
comercializa os direitos de televisionamento e publicidade das Copas do Mundo
de futebol e das Olimpíadas.
Quando
deixou a Presidência da FIFA, em 1998, já eleito Presidente de Honra, passou a
se dedicar ao trabalho filantrópico junto às Aldeias Internacionais SOS,
patrocinado pela entidade em 131 países. Ganhou prêmios por isso e foi cotado
para ser indicado ao Prêmio Nobel da Paz.
Em
abril de 2013, aos 96 anos de idade, suspeito de envolvimento em casos de
corrupção, renunciou à Presidência de honra da FIFA para escapar de qualquer
punição.
Dois
anos antes, ele já havia deixado de ser membro do Comitê Olímpico Internacional
(COI). Nos dois casos, Havelange foi acusado – ao lado de inúmeros outros
dirigentes – de receber propinas da empresa de marketing ISL em troca de
contratos de transmissão para a Copa do Mundo.
O
jornalista investigativo Andrew Jennings, em seu livro “Foul! The Secret World
of FIFA: Bribes, Vote-Rigging and Ticket Scandals”, lançado em 2006, descreve
Havelange como um dirigente corrupto.
Segundo
o escritor, o filho do fundador e ex-diretor da Adidas, Horst Dassler, comprou
votos de delegados indecisos na primeira eleição de Havelange. Dois anos
depois, o brasileiro retribuiu o favor entregando a Dassler o poder exclusivo
sobre a comercialização dos principais torneios mundiais.
Por
outro lado, Havelange foi apontado em pesquisa realizada pelo COI, em 1999, como
um dos três maiores “Dirigentes do Século”, junto do Barão Pierre de Coubertin,
fundador do COI e idealizador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, e o ех-Presidente
do órgão, Juan Antônio Samaranch.
Durante
sua vida Havelange colecionou medalhas, como a “Legion d'Honneur” (França), “A
Ordem de Mérito Especial em Esportes” (Brasil), “Comandante da Ordem do Infante
Dom Henrique” (Portugal), “Cavaleiro da Ordem de Vasa” (Suécia) e, em 2002,
recebeu do reitor Paulo Alonso, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o
título de “Doutor Honoris Causa”.
O
“Engenhão”, no Rio de Janeiro tinha o nome oficial de “Estádio Olímpico João
Havelange”, que depois foi mudado para “Estádio Olímpico Nilton Santos”, cedido
em comodato ao Botafogo. Em Uberlândia, o maior estádio multiuso do interior do
Estado de Minas Gerais tem o nome de João Havelange.
Apesar
de sua morte ter ocorrido em meio à realização dos jogos olímpicos em sua
cidade, e da importância que teve na articulação da escolha do Rio de Janeiro
como sede, o COI se negou a prestar homenagens ao seu ex-membro. (Pesquisa: Nilo Dias)