Além deste blog mantenho quatro comunidades no Orkut, todas dedicadas ao futebol do interior. Quem quiser visitá-las me deixará muito feliz. Eis os endereços: “torcedores do rio-grandense”, “torcedores do gabrielense”, “futebol de são gabriel” e “futebol da minha cidade”. Pois foi nessa última comunidade que um torcedor pediu informações sobre o Taguatinga Esporte Clube, no passado o “bicho-papão” do futebol de Brasília.
Confesso que não sabia muita coisa desse clube. Quando vim morar em Brasília, ele já havia enrolado a bandeira, não resistindo à herança de dívidas quase impagáveis. E dificilmente voltará a atividade, até porque Taguatinga é hoje a sede do Brasiliense Futebol Clube, que já disputou o Campeonato Brasileiro da Série A, e hoje está na Série B, onde faz campanha horrível. Porém, conta com a força econômica do ex-senador Luiz Estevão e pode mudar a situação.
Mas o que eu queria comentar mesmo, é que na busca que fiz de informações do Taguatinga, encontrei referências a um jogador que é lembrado como o primeiro grande ídolo do futebol brasiliense: Ernani “Banana”. E o que me chamou a atenção foi o fato de que os torcedores levavam folhas de bananeira ao Estádio “Pelezão”, palco dos jogos do campeonato brasiliense, como forma de mostrar seu carinho com a expressão maior do futebol de Brasília naqueles heróicos tempos. Além do Taguatinga, Ernani “Banana” defendeu o Brasília e o Gama, com o mesmo sucesso.
Na edição de 21 de janeiro deste ano, o “Jornal de Brasília” publicou interessante entrevista do jornalista Gustavo Mariani, com o ex-jogador Ernani José Rodrigues, hoje com 52 anos de idade e bem sucedido empresário em Taguatinga. “Banana” participou e fez gol no jogo de abertura do primeiro campeonato de futebol profissional do Distrito Federal, em 1976, entre Taguatinga x Flamengo.
Passados 32 anos, o ex-craque não lembra mais do lance que originou o gol, nem tão pouco o placar do jogo. Das folhas de bananeira, ele lembra e garante que aquilo marcou muito sua vida. Quando conta essa história aos filhos, sobrinhos e amigos, quase ninguém acredita. Mas ele guarda as “provas” com carinho, vários recortes de jornais da época, colecionados cuidadosamente pela sua irmã, Maria Helena.
As folhas de bananeira surgiram pela primeira vez em 1976, durante o “Torneio Imprensa”. “Banana” conta que as forças de então no futebol da capital, eram o Brasília e o Ceub. O Taguatinga corria por fora, mas os resultados apareceram de cara, o que entusiasmou a torcida. Ele, com apenas 19 anos se destacava em campo com grandes jogadas e bonitos gols. Surgiram então, as faixas e as folhas de bananeira no estádio. O ex-craque recorda com um misto de saudade e carinho alguns nomes de torcedores que deram início àquelas manifestações, todos seus conhecidos e amigos que moravam nas QNFs, como Pipiu, Arthur e Izac. Depois vieram outros, inclusive sua irmã Maria Helena.
No Campeonato Nacional de 1977 o Taguatinga montou uma boa equipe, que motivou muitos torcedores do Distrito Federal, mas não o suficiente para que os estádios recebessem públicos maiores. Até 1979, o clube fez boas campanhas e revelou ótimos valores, que na maioria saíram para centros maiores. Para “Banana” a grande oportunidade para uma identificação maior do torcedor brasiliense com o futebol da cidade, aconteceu no Campeonato Nacional de 1977, e foi desperdiçada. O Brasília, com excelentes atuações, chegou à segunda fase da competição, vencendo quase todos os jogos disputados no DF.
Outros fatores que serviram para afastar os torcedores foram o fim do Ceub, um clube muito querido, e o deficiente transporte coletivo até o Estádio “Pelezão”. Além, é claro, da concorrência desleal da TV, que mostrava jogos de outros Estados, como Rio e São Paulo, nos mesmos horários dos jogos daqui. E como os clubes desses centros gozam de muito prestígio entre os torcedores de Brasília, o resultado não poderia ser outro, estádios praticamente vazios.
O ex-ídolo recorda que quando jogou, o carinho dos torcedores era a recompensa maior. Conta que no Taguatinga tudo era difícil, embora o esforço do dirigente Justo Magalhães. No Brasília, as coisas eram mais organizadas. Seu José Silva Neto, o homem mais rico do Centro-Oeste, na época, pagava tudo, e em dia. Mas, no geral, fazia-se um futebol muito amador, com dirigentes abnegados carregando os clubes nas costas.
A própria preparação física era bastante precária. No Taguatinga os treinos eram em apenas um período. No Brasília, às vezes aconteciam em dois turnos. Na sua opinião, hoje a situação é bem melhor, com Wagner Marques (Gama) e Luiz Estevão (Brasiliense) fazendo futebol profissional e a tevê patrocinando.
Em 1977, o bom futebol de “Banana” chamou a atenção de dirigentes do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, onde jogou durante alguns meses. A ida para um clube grande do centro do país rendeu ao jogador novos momentos de fama. Deu muitos autógrafos, principalmente para a criançada. E fez um comercial para a TV. Ele garante que não ficou muito legal, mas não nega a satisfação de ter sido lembrado pelo dono da “Casa do Atleta”, o então presidente da Federação Metropolitana de Futebol, Wilson de Andrade.
Nessa sua curta saída da cidade, aconteceu um fato interessante. Com muita criatividade, um jornal local estampou esta manchete na página de esportes: Brasília sem “Banana". Curiosamente, isso chamou a atenção de produtores de frutas de Goiás, que mandaram vários caminhões carregados de bananas para vender na cidade.
Ernani credita à sua inexperiência com o verdadeiro futebol profissional e ao fato de ter sentido demasiado a separação familiar, como principais fatores para não ter se adaptado ao Vasco, além de ter recebido poucas chances. Mas ainda assim acha que foi válido, pela experiência e amadurecimento que ganhou. Mas nem tudo foi ruim por lá. Lembra que o seu jogo de estréia foi bastante promovido e houve até televisionamento direto para Brasília, pela TV Nacional. Também acha que pesou muito ter saído de Taguatinga numa sexta-feira, para estrear na quarta. Conheceu a maioria dos companheiros no dia do jogo.
Quase sem chance no time de cima, o aproveitamento de “Banana” no Vasco limitou-se a alguns amistosos pelas redondezas do Rio e em raras presenças no banco de reservas em jogos do campeonato carioca. Mesmo assim chegou a marcar uns quatro ou cinco gols. No início dos anos 80, foi jogar no Guarani, de Campinas (SP), que depois o emprestou ao Gama, onde ficou por apenas cinco meses, devido a uma contusão.
De volta ao Guarani teve um melhor desempenho, entre 1981 e 1985. Lembra com um sorriso no rosto, de um jogo em 1980, no Maracanã, contra o Vasco pelo “Torneio dos Campeões” em que foi destaque em campo, fazendo até gol. Antes, quando retornara ao Brasília já havia enfrentado o Vasco, num amistoso no “Pelezão”. Foi 1 x 1 e ele fez o gol da sua equipe.
No Guarani, “Banana” e Jorge Mendonça jogavam na mesma posição, o que obrigou o treinador Zé Duarte a escalá-lo como quarto homem do meio de campo, voltando pelo lado esquerdo. Lembra que como o atacante Careca caía muito pelo setor, ele penetrava por dentro, o que deu certo. Com tal tática, entre 1981 e 1983, o Guarani foi campeão da “Taça de Prata”, vice do “Torneio dos Campeões”, de um turno do “Paulistão” e terceiro de um campeonato brasileiro.
Em 1986, no melhor momento da carreira esteve perto de se transferir para o Fluminense, mas acabou sendo contratado pela Portuguesa de Desportos, de São Paulo, onde foi vice-campeão paulista. Depois, jogou pelo Payssandu (PA), e em 1988 voltou ao Brasília pelas mãos do supervisor Carlos Romeiro, para disputar o Brasileiro da segunda divisão. Veio e ficou três ou quatro meses, retornando a Campinas. Ainda jogou por um clube de Valinhos (SP), em 1989, e em 1990 parou. Ficou morando em Campinas por mais dois meses. Foi lá que deu início a atividade comercial, que depois transferiu para o DF. Teve convite para trabalhar nos juniores do Guarani, e em comissões técnicas de clubes de Brasília, mas recusou todas.
O ex-profissional contou ao repórter do “Jornal de Brasília”, como começou a jogar futebol. Foi no começo da década de 1970, quando participava de “peladas” em Taguatinga, em campos de barro duro, e jogava no time do Sesi, que ficou famoso na época. Por lá jogavam o Roberto César, que foi artilheiro do Cruzeiro (MG), nos anos 70 e Bosco, pai de Kaká, que era um bom zagueiro, com 1.90 m de altura, que chegou a fazer testes no Atlético Mineiro.
Embora garoto, “Banana” foi convidado pelo técnico Antônio Fabiano Ferreira, o Raimundinho, para jogar num time chamado Dom Pedro, em meio aos adultos. Depois, foi trabalhar na Gráfica Alvorada, no Setor de Indústrias Gráficas (SIG), até se profissionalizar no futebol. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.
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