Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Os "canalhas" argentinos

O Clube Atlético Rosario Central, da cidade de Rosario, província de Santa Fé, com cerca de um milhão de habitantes, é um dos mais tradicionais times de futebol da Argentina.  Suas cores são o azul e o amarelo.

Fundado em 24 de dezembro de 1889, conta em sua história, com quatro Campeonatos argentinos, cinco copas nacionais, e um título internacional: a Copa Conmebol 1995, competição precursora da atual Copa Sul-Americana.

Depois de Boca Juniors, River Plate, San Lorenzo e Independiente o Rosario Central é considerado o “sexto grande” do futebol argentino. Seu maior rival é o Newell's Old Boys, clube da mesma cidade, com quem faz um dos jogos de maior rivalidade do país e da América do Sul.

Os torcedores rosarienses são chamados pelas torcidas adversárias de “canallas” (canalhas), mas não se ofendem por isso. Consideram ofensa é ver no Natal, como aconteceu agora, um Papai Noel em vermelho, preto e branco, cores do seu maior rival. Os torcedores do, Newell's Old Boys são conhecidos pelo apelido de “leprosos”.

Isso, porque certa vez, em 1928, o Hospital Carrasco, da cidade, organizou uma campanha para arrecadar fundos para combater a lepra e convidou os dois grandes clubes locais, Rosário Central e Newell's Old Boys para participar.

O Newell's concordou, mas o Central não. Dai a alcunha de “canallas”. E em resposta os adversários foram chamados de “leprosos”. Isso mostra de como a rivalidade, que não tem vira-casacas, desde 1984, já fervia.

Os dois rivais se confrontam desde 18 de junho de 1905, quando o Newell's venceu o Central por 1 X 0. Este é o maior clássico argentino fora da Grande Buenos Aires (que inclui Avellaneda, entre outras cidades).

Na primeira divisão do futebol argentino estes clubes se confrontam desde 18 de junho de 1939, quando houve um empate em 1 X 1.Também possui imensas rivalidades com as equipes do Colón e do Unión ambos da cidade de Santa Fé, capital da Província de Santa Fé, cidade esta que disputa com Rosário, a hegemonia política e econômica sobre a província.

Também tem como rivais o River Plate, o Boca Juniors, o Club Atlético Independiente, o Racing Club e o San Lorenzo de Almagro.
Segundo pesquisa do instituto Entrepreneur para a revista “El Gráfico” número 4.118 de 11 de setembro de 1998, o Rosário Central tem a sexta maior torcida da Argentina, com 3,2 % da torcida no país (o que equivale a 1.107.000 torcedores) e o Newell's a oitava, com 2,2% (761.000 torcedores).

Até o ano de 2014, o Newell's tem seis títulos do campeonato argentino, três copas nacionais oficiais, e dois vice-campeonatos da Copa Libertadores da América.

O Rosário Central tem quatro títulos argentinos, cinco copas nacionais oficiais, um título da Copa Conmebol (precursora da atual Copa Sul-Americana), e um vice-campeonato dessa mesma copa. Além disso, o Central foi semifinalista da Copa Libertadores nos anos 1975 e 2001.

Os dois rivais se confrontam habitualmente no estádio “Gigante de Arroyito”, pertencente ao Central, com capacidade para 41.654 espectadores, e no estádio “Coloso del Parque”, do Newell's, que tem capacidade para 38.000 espectadores.

O clássico inaugurou o “Gigante de Arroyito”, em 1926 (o Central tornara-se independente da ferrovia dois anos antes e precisou mudar de casa).

Venceu por 4 X 2 após estar perdendo de 2 X 0) e com o tempo, os xingamentos foram assumidos como orgulhosa alcunha pelos próprios alvos, alterando o próprio significado. É daquele tempo o único que conseguiu jogar na seleção a partir de ambos, o ponta Juan Francia.

Uma torcida na Argentina tenta desafiar o tempo e a todo dia 19 de dezembro se reúne para comemorar um gol. Há exatos 40 anos, jogavam Rosario Central e Newell´s no “Monumental de Núñez”, pela semifinal do Campeonato Nacional.

Aos 10 minutos do segundo tempo, o lateral uruguaio Jorge José González cruzou da direita e, como um raio entrando no meio da defesa do Newell´s, o atacante Aldo Pedro Poy mergulhou para cabecear a bola e estufar as redes do goleiro Fenoy. Foi o gol da vitória do Rosario no clássico mais importante da história dos clubes até aquele momento.

Os “canallas” se encheram de brios e, três dias depois, levantaram o Nacional de 1971 ao vencer o San Lorenzo por 2 X 1. Foi o primeiro título do clube na era profissional do futebol argentino.

O gol ficou conhecido como a “palomita de Poy” (pombinha de Poy). Essa jogada, batizada no Brasil de “peixinho”, na Argentina é usada para denominar tanto o mergulho para o toque de cabeça quanto para o salto do goleiro para realizar uma defesa difícil.

A palavra começou a ser utilizada a partir de meados da década de 20. O lendário jornalista esportivo Ricardo “Borocotó” Lorenzo perguntou ao meio-campo do Huracán, Pablo Bartolucci, o porquê de ele imitar uma pomba ao cortar bolas levantadas. Desde então, Bartolucci foi apelidado de “Pombo” e a jogada na qual era especialista virou sinônimo de mergulho.

Desde então, um grupo de torcedores do Rosario Central se reúne para relembrar o gol histórico com um convidado muito especial: o próprio ex-atacante Poy. Os torcedores improvisam ao montar uma trave, atiram uma bola e fazem com que o ex-jogador pule para marcar o gol de “palomita” mais uma vez.

Em 1995, o mesmo grupo de torcedores apresentou aos organizadores do livro “Guinness de Recordes” uma solicitação para converter o gol no mais comemorado da história do futebol. Até o momento os responsáveis pelo livro ainda não responderam, mas todos os torcedores do “Canalla” ainda sonham com o feito.

O Rosario Central nasceu britânico e foi se latinizando, a ponto de influir essa transformação até nos primórdios da seleção argentina; e como ele, é uma instituição rica em troféus, grandes vitórias e de episódios dos mais folclóricos. Para além do próprio país também. História que começa bem antes de 1889.

Com grande comunidade britânica, a Argentina recebeu sua Revolução Industrial em meados do século e a necessidade de escoar matéria-prima e produtos levou à construção de várias ferrovias.

E eram os súditos da Rainha Vitória quem conduziam a empreitada. Nas folgas praticavam o football, criando em 1867 o primeiro clube desse esporte nas Américas, o Buenos Aires Football Club.

Os clubes seguintes tendiam a se formar exatamente onde havia estações de trem – caso do Quilmes, o mais antigo ainda em atividade. Um ano antes da fundação do Buenos Aires F.C., as ferrovias chegaram ao interior.

Em 1866, a Central Argentine Railway rasgou as virgens pampas do centro do país ligando Córdoba ao porto fluvial mais importante da Argentina: o do segundo maior rio sul-americano, o Paraná, às margens de Rosario.

Um ano depois, a cidade ganhou o Rosario Cricket Club, atual Atlético del Rosario e depois precursor do futebol rosarino. Ainda existe, mas está voltado ao rúgbi, assim como o Buenos Aires F.C., com quem travou os primeiros duelos de futebol e rúgbi entre dois clubes argentinos.

Trabalhadores da Central Argentine Railway fundaram em Córdoba o Instituto (cujo nome completo é Instituto Atlético Central Córdoba) e o Talleres (“oficinas”, em espanhol). Na outra ponta, em Rosario, foram criados o Central Córdoba e, bem antes, em um bar, em 24 de dezembro de 1889, o Central Argentine Railway Athletic Club.

Seu primeiro presidente, o escocês Colin Bain Calder, acabou se tornando nome de rua na cidade. A primeira direção contou com Thomas Hooper, vice-presidente, C. Chamberlain como secretário e também com os senhores Thomas Mutton (quem deu a ideia do nome), Whitbet, H. Cooper, W. Malhoil, Barton, E. Camp, Stephen Sims, Musket, Miguel Green, A. Mayne, Wilkinson, Lamb e Hollis.

O esporte principal era o críquete mas já em 1890 foi formado por influência do vice-presidente Hooper, um time de futebol, cujo primeiro adversário foram marinheiros britânicos do Beagle. Empataram em 1 X 1. E, na revanche, os anglo-rosarinos, vestidos com uma camisa de quadrados brancos e vermelhos, venceram por 2 X 1.

A década que se seguiu só viu mudanças nas vestes, com o azul substituindo o vermelho. A aceitação só a britânicos funcionários da ferrovia seguiu valendo, até que a empresa fundiu-se em 1903 com a Buenos Aires-Rosario Railway. Uma assembleia no clube deliberou um novo nome.

Foi o referido Miguel Green, um dos fundadores do Central Argentine Railway Athletic Club, quem propôs “Club Atlético Rosario Central”. E o ano de 1903 não foi determinante apenas nisso. Pessoas de fora da ferrovia e da comunidade anglo-argentina passaram a ser aceitas. O clube adotou suas cores definitivas, azul e amarelo, ainda antes de outras equipes as adotarem na Argentina.

Foi também o ano de estreia na Copa “Competencia”, torneio que reunia times das associações argentinas (então restrita à Grande Buenos Aires), uruguaia e rosarina. Mas a inexperiência pesou e a eliminação veio no primeiro jogo, 5 X 0 para os vizinhos do Atlético del Rosario.

Um ano depois, em 1904, estreava no time principal um dos filhos daqueles ferroviários britânicos: Juan Hayes, mais conhecido como Harry Hayes, sócio desde 1902. O detalhe é que Harry jogou entre adultos quando ainda tinha 13 anos, originando críticas.

Ele defendeu o clube por mais de 20 anos, até 1925. E é seu maior artilheiro, mesmo contando só os gols documentados, que foram 174. Pelo menos 24 deles foram no Newell’s Old Boys, fundado naquele 1903. Harry Hayes é até hoje o maior goleador também do clássico Rosarino.

Harry Hayes defendeu a seleção argentina diversas vezes entre 1910-19, com oito gols em 23 jogos. Como jogador centralista, só Mario Kempes jogou e marcou mais vezes que ele pela Argentina.
Em 1915, o Rosario e a Seleção Argentina, ganharam também Ernesto Hayes, o Ennis.

Irmão mais novo de Harry, que era prejudicado nas comparações mas tinha luz própria. O segundo maior artilheiro dos “canallas”é justamente ele, com ao menos 133 gols.

Provocador, gostava de humilhar os adversários, driblando ou sentando na bola. A família seguiu presente no clube – Harry Hayes Jr, jogando pelo combinado rosarino, chegou a marcar quatro gols em um 7 X 0 no Flamengo, do Rio de Janeiro, em 1941.

A semente para uma paixão aberta a todos os rosarinos (e não só eles: o Central é hoje o clube do interior com mais torcedores no país) estava plantada. Um dos primeiros latinos, Zenón Díaz, levado ao clube por Miguel Green, ficou conhecido exatamente como o primeiro astro criollo (“hispânico”) da seleção argentina, pela qual estreou já em 1906.

Foi o primeiro “canalla” lá. Ele, ao lado dos dois irmãos Hayes, participou ainda da primeira Copa América, 10 anos depois, já com 36 anos. Ainda é um dos mais velhos a atuar pela Albiceleste.

Um sobrinho seu, o goleiro Octavio Díaz, também jogou pelo Central e pela seleção, participando do primeiro jogo contra um europeu, em 1928. Neste mesmo ano, foi um dos medalhistas de prata nas Olimpíadas de Amsterdã.

Já havia vencido a Copa América em 1927. Eles jogaram juntos na última partida de Zenón, em 1919. Um clássico empatado em  2 X 2 com o Newell’s, em que Octavio machucou-se e quem o substituiu no gol foi o veterano tio.

Na época de Octavio Díaz, o estádio centralista já contava com 30 mil lugares, reflexo do sucesso colhido antes com Zenón e os Hayes: a tal Copa Competencia enfim havia sido ganha em 1913 e também em 1916 (com direito a 8X 0 no Newell’s) e 1920.

Em 1915, veio a Copa Ibarguren, tratada na época como campeonato nacional por opôr os campeões de Rosario contra os do campeonato “argentino”, ainda restrito à capital. Era a época em que o Racing emendava sete títulos argentinos seguidos, ainda um recorde.

Os alviceleste também empilhavam a Ibarguren e só perderam naquela vez, um 3 X 1 com dois gols de José Laiolo, que logo estaria na seleção também, bem como os irmãos Antonio (que marcou em um 4 X 2 no Brasil em 1917) e Eduardo Blanco. Os titulares vitoriosos só tinham de “ingleses” os Hayes e Alfredo Woodward, autor do outro gol no Racing.

Outro ponta, Ernesto García, o Chueco, apareceu por lá nos anos 30 e há quem o considere o melhor argentino na posição. Marcou o único gol do título da Copa América 1937, sobre o Brasil, e vazou os vizinhos também no Rio de Janeiro, onde os hermanos venceram por 5 X 1 e 3 X 2 em 1939.

Naquele ano, o campeonato argentino enfim recebeu a dupla Central e Newell’s, responsáveis por tantos talentos. Como o de outro ponta, Juan Carlos Heredia (pai de xará ídolo do Barcelona), usado na Copa América de 1942 mesmo após os “canallas” serem rebaixados no ano anterior.

Foi colega do atacante Waldino Aguirre, profissional com mais gols no clube, 95. Mas as glórias à altura só viriam nos anos 70. O troféu argentino ainda não havia saído da província de Buenos Aires até os auriazuis ganharem em 1971.

A semifinal daquela campanha é mais lembrada que a própria final: clássico com o Newell’s, batido por 1 X 0 com gol de peixinho (palomita, “pombinha”, para os argentinos) de Aldo Poy, que todos os anos precisa repetir a jogada em festas.

Ele e Mario Kempes foram os primeiros a irem a uma Copa do Mundo como jogadores do futebol rosarino, em 1974. Novo título veio em 1973 e diversos outros jogadores passaram pela Alviceleste: o atacante Raúl Agüero, os pontas Ramón Bóveda e Roberto Gramajo, os meias Carlos Colman e Eduardo Solari (pai de Santiago Solari, ex-Real Madrid) e os irmãos defensores Mario e Daniel Killer, este campeão com Kempes na Copa 1978.

O técnico era César Menotti, ex-jogador “canalla” e conhecedor do valor do futebol do interior. Só não dava para chamar o lateral Jorge González, recordista de jogos no clube, 521: era uruguaio. É o estrangeiro mais longevo no país.

Os anos 80 foram agridoces. O terceiro título nacional veio em 1980, mas novo rebaixamento ocorreu em 1984. Só que, incrivelmente, os “canallas” não só venceram a segundona de 1985 como a emendaram com o troféu seguinte da elite, em raríssimo bicampeonato no mundo.

Para completar, deixaram o Newell’s de vice. Os próceres eram Edgardo Bauza (técnico do San Lorenzo, campeão da Libertadores e da LDU campeã sobre o Fluminense em 2008, que está em quarto entre os zagueiros mais artilheiros do mundo, e Omar Palma.

Palma esteve em tudo ali: na taça de 1980, no rebaixamento, na volta e naquele título redentor, do qual foi artilheiro do campeonato e autor do gol que garantiu a conquista.

“El Negro Palma” e o técnico Ángel Tulio Zof estiveram também na Copa Conmebol de 1995, ainda a única taça continental do futebol rosarino e repleta de epopeia. Não é qualquer time que foi campeão após perder por 4 X 0 no jogo de ida da final.

Palma foi o veterano líder de Rubén da Silva, Martín Cardetti e Horacio Carbonari, que devolveram o placar no “Gigante de Arroyito”. O adversário era o Atlético Mineiro, que tinha Taffarel para tentar reverter a situação nos pênaltis. Mas quem se saiu melhor foi o goleiro canalla, Roberto Bonano.

Eles já não estavam no último grande momento, na virada do século. O líder veterano da vez era Juan Antonio Pizzi, que havia jogado a Copa 1998 pela Espanha.

Os jovens talentos, o armador Ezequiel González, o lateral Germán Rivarola, a dupla ofensiva César Delgado e Luciano Figueroa. Perderam o “Apertura 1999” na última rodada e pararam nas semifinais da Libertadores 2001. (Pesquisa: Nilo Dias)

"Gigante de Arroyto" e seus "Canallas", o maior patrimônio do Rosário Central. (Foto AFP)

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Tragédia no futebol paraense

Já se passaram 21 anos desde que o promissor atacante do Clube do Remo, de Belém do Pará, Andrey Benjó, de apenas 21 anos de idade, foi morto com um tiro na cabeça, em circunstâncias até hoje não bem esclarecidas.

O fato correu no dia 12 de julho de 1996, quando Andrey e seu companheiro de time, o volante Cléberton, bebiam cerveja em um bar no bairro da Cidade Nova, pertinho da residência do jovem atleta.

A tragédia não manda recado, aparece de repente. Foi o que aconteceu, quando por volta de duas horas da madrugada adentrou ao bar um vigilante, dizendo que acabara de ser vitima de um assalto.

Ele era conhecido de Cléberton, que imediatamente se prontificou a ajudá-lo, indo até sua casa buscar uma arma, para ir em busca do bandido. Mas ao retornar, não se sabe porque cargas d’água, mudou de idéia.

Era um revólver Taurus calibre 32. Trouxe junto10 balas que comprara de um desconhecido no “Baenão” alguns dias antes. Segundo a versão dada por Cléberton, ao mostrar o revólver a Andrey, este, que estava acompanhado da namorada, surpreendentemente, apontou-a contra a própria cabeça e puxou o gatilho. Uma bala estava no tambor. Foi o suficiente.

Levado às pressas até o Hospital Belém, não resistiu ao ferimento e às 17h20, teve a morte cerebral constatada. As funções cardiorrespiratórias pararam definitivamente às 21h30. O desastre estava consumado.

As suspeitas pela morte de Andrey recaíram sobre Cléberton, que segundo algumas pessoas teriam dito logo após a tragédia, que acabara de matar seu irmão. E também porque ninguém acreditava que Andrey tentaria contra sua própria vida.

A Polícia investigou o caso, e embora tivesse encontrado muitas contradições no que foi dito por Cléberton, não foi o suficiente para incriminá-lo.

Sabe-se que não foram encontrados vestígios de pólvora nas mãos da vítima, que segundo se soube tinha medo de armas de fogo. E ainda por ter sumido o revólver de onde partiu o tiro e reaparecido depois.

O Clube do Remo prestou uma homenagem ao seu atleta, entrando em campo na partida seguinte, quatro dias após a tragédia, contra o Vila Rica, com 10 jogadores, todos com uma tarja preta nas mangas, repetindo o que havia feito tempos antes, quando da morte do ex-atleta Luizinho das Arábias, ocorrida em 1989. O jogador restante entrou em campo aos cinco minutos de jogo.

E o caso ficou mesmo por ai. A torcida esqueceu, a Polícia também e hoje resta apenas uma dor profunda para a família e uma lembrança mórbida para os fãs de futebol.

Andrey Benjó, na flor de seus 21 anos era um grande candidato a revelação da época. Saído das divisões de base do Clube do Remo, aos 19 anos teve a primeira oportunidade no time de cima, quando do Campeonato Brasileiro da Série B de 1995.

Ele jogou duas partidas contra o Moto Clube e ajudou a livrar o seu time do rebaixamento para a Série C.

Mas como no futebol paraense a norma até hoje é não valorizar a prata da casa, Andrey acabou perdendo espaço, já que a Diretoria do Remo preferiu contratar uma carrada de jogadores do Santos, que se tornaram titulares. Só voltou ao elenco principal no início de 1996, com o treinador Luizinho Lemos.

Andrey até que aproveitou a nova oportunidade, chamando a a atenção pela velocidade e pela habilidade. Irreverente, costumava lançar desafios incomuns aos colegas como degustar insetos e quebrar cocos na cabeça.

Seu último jogo com a camisa azul remista foi no dia 9 de junho de 1996. Ele entrou no segundo tempo contra o Pinheirense e pouco ajudou na goleada de 4 X 0.

Apesar da atuação ruim, seria o substituto de Ageu, que tinha levado o terceiro cartão amarelo, no jogo seguinte contra o Vila Rica. E até disse ao técnico Valdemar Carabina: “professor, eu vou lhe dar uma boa dor de cabeça porque eu vou arrebentar nesse jogo de domingo”.

Lamentavelmente isso não ocorreu, porque morreu quatro dias antes do jogo. Quanto a Cléberton, a única coisa que se sabe é que continuou a carreira de jogador profissional, atuando no São Raimundo. (Pesquisa: Nilo Dias)


segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Um grande jogador alemão

Andreas "Andy" Brehme, foi um dos grandes jogadores de futebol que a Alemanha conheceu. Jogava de zagueiro, lateral-esquerdo e volante. Nasceu em Hamburgo, no dia 9 de novembro de 1960.

Jogou por grandes clubes como Bayern de Munique e Internazionale, de Milão. Disputou três Copas do Mundo: 1986, 1990 e 1994. Marcou, de pênalti, o gol que deu o título ao seu país na Copa de 1990.

Brehme iniciou a carreira no pequeno time do Saarbrücken, que disputava a Segunda Divisão da Alemanha. Destacou-se ali após uma única temporada, transferindo-se ao Kaiserslautern.  Por esse equipe disputou cinco temporadas, e ganhou renome por sua capacidade de chutar bem com os dois pés.

Outra de suas qualidades era de ser excelente cobrador de faltas. É claro que um jogador dono de tantas características, acabasse convocado para o selecionado nacional. Seu debut no scratch alemão deu-se na Eurocopa de 1984. Seu primeiro jogo foi contra Portugal, em 16 de junho.

Suas boas atuações na Seleção Nacional despertaram as atenções do Bayern Munique, de seu país, em 1986. Ficou dois anos no time bávaro, para depois se aventurar na Itália, juntando-se a Matthaüs, seu companheiro de Bayern.

O destino foi a Internazionale, de Milão, que era treinada por Trapattoni, e onde atuou como um falso lateral esquerdo. Logo de cara sagrou-se campeão italiano, ajudando a tirar a Inter de um longo jejum de nove anos.

E ainda ganhou o “Prêmio Guerin D’oro”, dado ao melhor jogador do ano na Serie A, pelo jornal italiano “Guerin Sportivo”. Até hoje, nenhum outro alemão conseguiu repetir o feito.

Milan e Internazionale se destacaram ao final da década de 1980 por terem em seus plantéis dois trios de grandes jogadores que deram o que falar na Itália. No Milan jogava o trio holandês formado por Gullit, van Basten e Rijkaard.

Na Inter brilhava um trio alemão que tinha Matthäus, Klinsmann e Brehme.  Desses três, Andreas Brehme é com certeza o menos lembrado. Porém ele foi fundamental na conquista do “scudetto” da Inter na temporada 1988-89 e do título mundial vencido pela Alemanha em 1990.

No início da temporada 1989-90, Brehme venceu a Supercoppa contra a Sampdoria de Mancini e Vialli. Mas nem sempre as glórias permanecem presentes na carreira de qualquer jogador.

Com ele não foi diferente. Participou da vexatória campanha da Inter na Copa dos Campeões de 1989-90, quando o time foi eliminado logo na primeira fase pelo modesto Malmö, da Suécia.

Depois uma fantástica recuperação para ele. Na Copa do Mundo de 1990, disputada na Itália, a Alemanha fez uma campanha irrepreensível, disputando toda fase de grupos em Milão, no estádio Giuseppe Meazza, onde estava acostumado a jogar.

Na semifinal, Brehme marcou o gol do empate alemão contra a Inglaterra e ainda converteu o pênalti na disputa que levou a seleção germânica à final. Foi nesse jogo que Brehme entrou definitivamente para a história.

Faltava pouco mais de cinco minutos para o jogo Alemanha X Argentina acabar, quando o zagueiro Sensini cometeu pênalti sobre Völler.

Brehme foi o encarregado da cobrança e conseguiu superar o goleiro argentino Goycochea, famoso por ser um grande pegador de pênaltis, garantindo a Alemanha o seu terceiro título mundial.

Depois da Copa do Mundo, o jogador alemão ainda colocou mais títulos na sua já grande galeria. Foi campeão da antiga Copa Uefa da temporada 1990-91, pela Inter.

Em 1992, depois de temporada decepcionante, em que o time acabou a Serie A na 8ª colocação, ocorreu a debandada dos alemães da Inter. Brehme foi para o Zaragoza, da Espanha, onde ficou só um ano, para depois retornar ao seu antigo clube, o Kaiserslautern.

Por lá conseguiu a proeza de ser campeão da Copa da Alemanha, na temporada 1995-96, e no mesmo ano ver o seu time rebaixado. Ainda assim permaneceu no clube e ajudou na volta à elite.

Ganhou a “Salva de Prata”, tornando o Kaiserslautern o único time que conseguiu esse feito, de vencer as duas divisões em anos consecutivos.

Após o título da Bundesliga de 1997-98, Brehme decidiu que era hora de pendurar as chuteiras, aos 38 anos. Ao todo foram 608 jogos e 75 gols na carreira.

Após deixar os gramados, tentou a carreira de técnico, porém sem sucesso. Dirigiu o Kaiserslautern por duas temporadas e o Unterhaching por um ano, sem nada para comemorar.

Hoje trabalha como embaixador da Associação Alemã de Futebol promovendo jogos como, por exemplo, a despedida de Oliver Kahn. Dia desses, voltou às manchetes quando dirigia pelo centro de Milão e teve um relógio de ouro furtado por assaltantes. (Pesquisa: Nilo Dias)



quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Futebol, a dança do diabo

O ex-zagueiro Francisco José Sarno Matarazzo, ou simplesmente Sarno, nasceu em Niterói (RJ), no dia 5 de novembro de 1924 e faleceu em São Paulo, em 17 de janeiro de 2010, aos 85 anos de idade.

Começou a carreira de jogador de futebol atuando no Botafogo, do Rio de Janeiro, na década de 1940. O time alvinegro tinha grandes jogadores na época, como Nilton Santos, Gerson, Ávila, Ary, Juvenal, Santo Cristo, Geninho, Heleno de Freitas, Octávio e Teixeirinha.

Além do alvinegro carioca jogou pelo Palmeiras, que tinha no elenco craques da categoria de Oberdan Cattani, Fabio Crippa, Salvador, Turcão, Juvenal Amarijo, Manuelito, Dema (Ademar Lucazecchi) e Fiume.

Saiu do Palmeiras para ser emprestado ao Santos e depois ao Vasco da Gama. Sarno voltou ao Palmeiras onde permaneceu até o ano de 1954.

De acordo com os registros publicados pelo site palmeirense, Sarno disputou pelo clube 148 partidas, com 78 vitórias, 35 empates, 35 derrotas e 4 gols marcados.

Sarno ainda retornou ao time da Vila Belmiro para fazer parte do grupo que conquistou o campeonato paulista de 1955. Em seguida defendeu o Jabaquara Atlético Clube, onde encerrou sua carreira como jogador profissional em 1959, mesmo ano que iniciou sua trajetória como treinador.

Depois dirigiu a Ferroviária, de Araraquara (SP), Corinthians em apenas sete partidas pelo “Paulistão” e foi demitido após derrota para o Guarani, de Campinas por 2 X 1, dando lugar a Baltazar.

O “Cabecinha de Ouro” ficou no cargo por 32 jogos e foi demitido após o time cair de rendimento no quadrangular semifinal do “Brasileirão”. Sarno voltou ao clube, mas apenas cumpriu tabela.

Em 1972, o treinador prosseguiu no comando do Corinthians e dirigiu o time em mais 15 partidas. Mas como a equipe fazia campanha razoável no “Paulistão” - o que na época do jejum de grandes títulos era inaceitável pela diretoria - o treinador foi demitido novamente e cedeu seu lugar ao ídolo Luizinho.

No total, Francisco Sarno comandou o Corinthians em 28 jogos e teve um saldo de 10 vitórias, 10 empates e oito vitórias, 34 gols marcados e 24 sofridos. Aproveitamento de 54% dos pontos disputados.

Comandou, ainda, a Ponte Preta, Noroeste, Guarani, de Campinas, Coritiba, por 61 jogos, com 31 vitórias, 19 empates e apenas 11 derrotas, Atlético Paranaense, entre outros e também orientou times na Colômbia. Seu último trabalho em uma equipe de expressão foi no Campeonato Brasileiro de 1973 no comando do Clube Atlético Paranaense.

Francisco Sarno conquistou campeonatos como zagueiro e técnico em clubes brasileiros e os principais foram:

Como jogador: Campeão da Copa Rio pelo Palmeiras (1951); Campeão Paulista pelo Santos (1955). Como técnico: Campeão do Torneio Internacional de Verão (1968) e Bicampeão Paranaense pelo Coritiba (1968 e 1969). Comandou o “Coxa” na excursão internacional de 1969.

Também tentou a carreira de comentarista esportivo, tendo trabalhado por curto período na Radio Tupi de São Paulo, em meados da década de 1960, função que também ocupou nos anos setenta, quando estava sem contrato como treinador.

Não foi na imprensa esportiva que Sarno causou uma grande polêmica. Sim, em 1965, quando escreveu o livro “Futebol, a Dança do Diabo”, aonde relatou os bastidores e o submundo da bola.

Eu tenho o livro em minha biblioteca, e realmente trata-se de uma obra para ser lida e guardada. Embora Sarno tenha estudado por apenas dois anos do curso primário, conseguiu colocar no livro o que aprendeu na escola da vida, onde atuou 25 anos no futebol como jogador consagrado.

O leitor encontra na obra relatos quase inacreditáveis, humanos e comoventes, envolvendo o submundo do futebol, de onde saíram heróis e párias de uma sociedade desumana.

Nas páginas do livro, entre tantos assuntos, Sarno escreveu que o cargo de treinador era um perfeito “Rabo de Foguete”, bem diferente do comodismo da função de Supervisor de Futebol.

Sarno, na apresentação do livro escreveu que o futebol, essa dança do diabo, servia de trampolim para muitos homens autênticos que sonharam em ser alguém na vida, sem se importar com às consequências de seus atos para criaturas honestas e boas, que sofreram terrivelmente.

Ainda em sua faceta literária, Sarno escreveu “Coquetel de Verdades”, obra lançada em 1971, sem o mesmo sucesso do anterior.

Sarno sofreu nos últimos anos, do “Mal de Alzheimer“ e em decorrência da doença faleceu no domingo, dia 17 de janeiro de 2010, na cidade de São Paulo. (Pesquisa: Nilo Dias)


domingo, 3 de dezembro de 2017

O Pantera cor de rosa

Quem não lembra de Roberto Nunes Morgado, um conhecido árbitro de futebol, nascido em São Paulo, capital, em 1946 e falecido em 26 de abril de 1989, aos 43 anos de idade? 

Ficou famoso por imitar o estilho espalhafatoso de Armando Marques, um dos melhores juízes do futebol brasileiro em todos os tempos. Morgado foi polêmico, adorava chamar a atenção durante os jogos que arbitrava.

Não era muito alto, media 1,71 metro e pesava somente 59 kg. Por isso ganhou o apelido de “Pantera cor de rosa”. A cada lance que apitava, costumava fazer indicações exageradas, levando as torcidas ao delírio.

Mas ninguém podia dizer que não era corajoso. Prova disso é que num jogo entre Vasco da Gama, do Rio de Janeiro e Ferroviário, do Ceará, pelo Campeonato Brasileiro de 1983, expulsou a Polícia Militar de campo, mostrando cartão vermelho e tudo.

Em razão disso a Comissão Brasileira de Arbitragem exigiu que fosse feito um exame de sanidade mental nele. Mas Morgado não mostrou nenhuma preocupação com isso. Ao contrário, levou na brincadeira e disse que se tornara o único juiz da praça que tinha atestado de sanidade mental.

Há algum tempo atrás, Roberto Nunes Morgado tinha sido assaltado e ferido com certa gravidade. Necessitou ficar internado e sua maior preocupação era saber se poderia voltar a apitar.

Os médicos notaram que a recuperação dos ferimentos era rápida, mas a psicológica não corria tão bem. A arbitragem era o seu único caminho, e o medo de não poder mais vestir o uniforme negro, rezar muito nos vestiários e ser o todo poderoso das partidas, era intenso.

Os episódios anteriores a internação foram muitos e todos lhe provocaram reações de desespero. Problemas pessoais, sentimentais, profissionais. Era filho único de uma família humilde.

Roberto Nunes Morgado sempre foi escolhido para dirigir jogos importantes. Umbandista por convicção chegava sempre com uma hora e meia de antecedência aos estádios onde iria trabalhar, pois seu ritual demorava quase uma hora, com reza aos seus orixás.

Mas ele começou a mudar depois de ter sido ferido. Tornou-se mais introvertido, com sintomas de displicência, deixou o emprego que tinha de relações públicas na “Churrascaria Boi na Brasa”, alegando que precisava dormir cedo e não queria andar a noite pelas ruas de São Paulo.

Passou a viver somente das arbitragens e com pouca atividade, o que lhe ocasionou um grande tempo ocioso, que serviu para refletir, raciocinar. Percebeu a sua importância para os pais – dependentes dele – e verificou um futuro incerto, repleto de altos e baixos.

A sua queda psicológica foi flagrante. Insistia em recusar a ajuda de alguns amigos e suas arbitragens começaram a provocar dúvidas e contestações, algo raro na sua carreira.

As pessoas criticavam seus trejeitos, atitudes arrogantes, lembrando Armando Marques, mas não atacavam suas boas condições técnicas e físicas. Entretanto, abatido, a preparação física foi esquecida e os reflexos diminuíram.

Em 26 de junho de 1981 a Federação Paulista de Futebol resolveu interna-lo em uma clínica importante, conhecida, famosa. Local de recuperação física e mental, ideal para repouso, desintoxicação e sonoterapia.

O tratamento era caro. Somente pessoas abastadas ou uma entidade assumindo as despesas, poderiam usufruir das comodidades do local.

Lágrimas escorriam dos olhos de Roberto Nunes Morgado, mas ele admitia não ter outra solução. Estava apavorado, vivendo uma enorme crise emocional, um verdadeiro drama.

Os episódios anteriores a internação foram muitos e todos provocaram reações de desespero no árbitro de futebol. Problemas pessoais, sentimentais, profissionais.

Apesar de tudo isso, os médicos garantiam que ele poderia voltar a apitar normalmente. Ficaria totalmente recuperado, afirmavam os especialistas e viveria tranqüilo.

Os problemas sentimentais ajudaram muito a chegada do desespero e Morgado chegou a confessar que “queria morrer, desacreditava em Deus e seria melhor para todos, ele desaparecer…”.

O médico Osmar de Oliveira, outro amigo de Morgado, o atendeu dezenas de vezes nas mais variadas horas do dia e da noite. Preocupado com a sua saúde, Morgado queria vitaminas, análise cardíaca, pulsação.

Queria o amigo médico para certas confissões e desabafos. Tinha medo de perder a condição de aspirante do quadro da FIFA e ao mesmo tempo não conseguia reagir ao abatimento que o envolvia.

Foi aconselhado a procurar um psicólogo. Depois de algumas consultas começou a mostrar sintomas de recuperação. Aquele medo, aquela “mania” de doença, aqueles traços de insegurança pareciam estar desaparecendo.

Mas o rompimento amoroso, a dependência da arbitragem, a família precisando dele, provocaram uma crise emocional fortíssima. Às cinco horas da madrugada de um domingo em que jogariam Ponte Preta e São Paulo, em Campinas, o médico Osmar de Oliveira foi acordado.

Morgado precisava dele. Estava afobado, nervoso, não conseguia dormir e iria apitar naquela tarde um verdadeiro clássico em Campinas. Estava desesperado e não conseguia controlar-se.

O médico o encaminhou para o Hospital Bandeirante e recebeu o tratamento necessário acrescido de um calmante. Em vista deste fato, Osmar de Oliveira proibiu que ele trabalhasse no jogo Ponte Preta e São Paulo.

O diretor do departamento de árbitros não foi localizado e o secretário-geral da Federação Paulista de Futebol assumiu o problema e substituiu Morgado por Almir Laguna.

Seu último jogo como profissional do apito foi a segunda semifinal do Campeonato Paulista de 1987, entre São Paulo e Palmeiras. Sua atuação ficou marcada pelo fato de ter expulsado quatro jogadores do alviverde, tendo sido bastante criticado por isso.

Depois do jogo o árbitro foi vetado para o restante do Campeonato Brasileiro daquele ano. Não conseguiu atingir a nota mínima em uma prova por escrito da Comissão Brasileira de Arbitragem de Futebol.

Homossexual assumido ficou famoso por frequentar seguidamente a boca do lixo paulistana ao lado de um grupo de amigos. Em fevereiro de 1988 foi internado no Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, com Aids. Abandonado pelos amigos e pela esposa morreu um ano depois.

Esse paulista chegou rápido ao quadro de aspirantes da FIFA. Com ele, trouxe um currículo carregado de controvérsias. Por duas vezes foi internado na Clínica Maia, uma casa de tratamento para problemas psicológicos, em São Paulo.

Entre os amigos, porém, Morgado gozava de outra fama. Nos quarteirões formados pelas ruas Rego Freitas e Marques de Itu, em plena Boca do Lixo, no centro de São Paulo, ele era uma espécie de rei.

Seus súditos, um grupo entre cinco ou 10 pessoas, boa parte homossexuais como ele. Na hora das farras, Morgado era quem pagava a conta. O pessoal explorava o Morgado.

Depois do diagnóstico de Aids, todos se afastaram dele. Nenhum dos antigos amigos doou 1 real sequer quando foi passada uma lista de contribuição. Nenhum deles o visitou no hospital.

Antes de falecer, internado na Clinica Bezerra de Menezes, em São Bernardo do Campo, Nunes Morgado pediu um novo exame de Aids. A entrega dos resultados acabou se transformando no pior momento de sua vida.

Ele recebeu trêmulo o envelope lacrado com o resultado do exame. Ao ler o que todos já sabiam, começou a chorar e a gritar: “Eu não tenho Aids coisa nenhuma! É meningite! É só um problema de pulmão! Quero um terceiro exame. Este aqui é fajuta”, acusou entre lágrimas.

Nunes Morgado chegou a voltar para casa, ficar junto com a família. Uma semana depois, mesmo com proibição médica, ele tomou uma garrafa de pinga. Quando voltou para seu apartamento na Praia Grande, bateu na mulher e chutou o filho.

Morgado estava completamente embriagado. Foi obrigado a se internar novamente na Clínica Bezerra de Menezes. Desde então seu estado de saúde foi piorando. Com o tempo ele ficava cada vez mais fraco. Sua morte foi inevitável, no dia 26 de abril de 1989, com apenas 43 anos de idade. (Pesquisa: Nilo Dias)