Nos
primórdios do futebol do Rio de Janeiro havia clubes que permanecem quase no
esquecimento até hoje, embora tivessem alguns deles até participado de
campeonatos cariocas. É o caso do Football & Athletic Club, nascido em 27
de junho de 1904, que depois passou a se chamar Associação Athletica
Internacional.
Seus
fundadores foram moradores das redondezas do Engenho Velho e Andaraí, onde
ficava sua sede. O campo se situava na Rua Campos Sales, na Tijuca, motivo pelo
qual é muitas vezes citado como sendo deste bairro. A primeira Diretoria teve
como Presidente: Claudino Reis; Procurador: Arthur Irineu de Souza;
Thesoureiro: Joaquim José de Almeida Coutinho e Secretário: Oscar Fagundes.
Suas
cores eram o vermelho e o branco. O uniforme tinha camisas vermelhas com o
monograma F.A.C. em branco no peito e calções brancos. A bandeira era listrada
em vermelho e branco na horizontal com o monograma no quadrante superior
esquerdo em vermelho, em estilo semelhante à bandeira dos Estados Unidos.
Sabe-se
que certa ocasião o time teve que usar um uniforme tricolor, verde, branco e
vermelho, em partida amistosa contra o Bangu, devido a semelhanças das cores.
Depois de vencer um grande número de amistosos, o clube tornou-se uma das mais
fortes equipes da cidade, angariando grande número de sócios na Zona Norte.
O
Football & Athletic Club foi um dos fundadores da Liga Metropolitana de
Futebol, ao lado de Fluminense, Botafogo, Bangu, Paysandu e Rio Cricket. A
entidade organizou o primeiro Campeonato Carioca de 1906. O Fluminense foi
campeão e o Athletic o último colocado.
Em
21 de novembro de 1906 mudou o nome para Associação Athletica Internacional. Em
1907, também disputou o campeonato e ficou na terceira colocação, junto do
Paysandu. A Internacional ainda seguiu disputando alguns poucos amistosos, até
o seu fim definitivo, nos idos de 1912.
O
livro “Campeonato carioca: 1902-1996”, de Roberto Assaf e Clóvis Martins cita
de forma errada o surgimento do Football and Athletic como sendo de 1903; mas o
clube foi fundado em 1904, conforme fontes da época como o “Jornal do Brasil”,
“Jornal do Commercio” e “O Imparcial”.
Teve
também o Rio Cricket, que foi um dos protagonistas da primeira partida oficial
de futebol disputada no Rio de Janeiro e participante das primeiras edições do
Estadual de Futebol. A exemplo do Football & Athletic Club, foi um dos
fundadores da Liga Metropolitana de Football, e disputou a primeira edição da
competição, que reuniu Fluminense, Botafogo, Bangu, Football Atlhetic,
Payssandu.
O
Rio Cricket foi o único representante de fora do Rio e as instalações do campo
de futebol da região que se chamava Praia Grande, foram usadas não apenas para
o mando de campo do clube, mas também para outros jogos do campeonato. O campo
do Fluminense, nas Laranjeiras, foi a outra sede.
Dois
grandes feitos do Rio Cricket no certame de 1906: impor ao Fluminense, campeão,
sua única derrota, por 3 X 1. E um resultado histórico ao golear o Botafogo por
6 X 0, em partida realizada no campo da Rua da Constituição, no Bairro de
Icaraí, em Niterói. O clube foi terceiro colocado. Até 1913, o Rio Cricket
manteve-se em posições intermediárias nas edições subsequentes do campeonato.
Em
1914, com o advento da Primeira Guerra Mundial, o clube perdeu jogadores e
associados, recrutados para defenderem os ingleses no conflito. Em razão disso
acabou na lanterna do certame. Terminou se licenciando do Campeonato Carioca,
participando dai em diante somente de competições em Niterói.
O
Rio Cricket participou do primeiro amistoso internacional, contra a Seleção
Argentina, em 1908. A equipe “porteña” foi jogar em São Paulo, e os diretores
do clube conseguiram convencê-los a incluir o Rio de Janeiro no roteiro, em
troca do pagamento de despesas no Hotel Avenida e das passagens de retorno a Buenos
Aires.
O
jogo teve até o aval do Ministro de Assuntos Estrangeiros, José Maria da Silva
Paranhos Júnior, o “Barão do Rio Branco”, que contribuiu com 10 Contos de Réis.
Cerca de duas mil pessoas, em média assistiram cada uma das três partidas,
realizadas no mês de junho no campo do Fluminense, nas Laranjeiras.
Para
não arriscar ser goleado, o Rio Cricket mandou a campo um combinado, composto
por atletas de outras equipes. Mas não adiantou muito. No primeiro jogo, até
que o placar foi razoável: 3 X 2 para os argentinos. Mas nas outras partidas,
os brasileiros sofreram duas goleadas, por 7 X 0 e por 3 X 0.
Hoje
o Rio Cricket ainda existe, tendo somente 500 sócios e não possui dívidas. Sua
sede fica em uma área muito valorizada na cidade, em Icaraí. Atualmente, existe
uma “fila” de 80 pessoas aguardando pela compra do título. E quando aparece uma
vaga, o interessado precisa comprovar poder aquisitivo para mantê-lo.
O
clube não participa de campeonatos profissionais. Mantém uma escolinha de
futebol, que treina e joga no bem cuidado gramado. Foi ali que surgiu um dos
grandes valores do futebol brasileiro em todos os tempos, Leonardo Nascimento
de Araújo, ou apenas Leonardo.
Ele
chegou na escolinha quando tinha 13 anos de idade. Era muito franzino, o que lhe
valeu o apelido de “Ratinho”. Da escolinha foi para o Vasco da Gama, onde ficou
por pouco tempo, até se transferir para o Flamengo, clube que o projetou em
âmbito nacional.
O
apogeu da carreira veio no ano de 1994, quando sagrou-se campeão mundial pela
Seleção Brasileira na Copa dos Estados Unidos. O craque ainda jogou pelo São
Paulo, Valência, Paris Saint German, Milan e Kashima Antlers, onde ocupou o
lugar de Zico.
Atualmente,
é diretor de futebol da equipe francesa do Paris Saint German e mantém,
junto com o também ex-jogador Raí, a “Fundação Gol de Letra” Em 1998, ganhou
placa comemorativa do Rio Cricket, do qual continua sócio.
Nas
décadas de 1910 e 1920, se contava no subúrbio carioca mais de 50 times de futebol,
distribuídos na primeira e segunda divisão, além do Departamento Autônomo, que
equivaleria nos dias de hoje, à terceira divisão.
Os
estádios eram pequenos, tendo na sua maioria apenas um cercado de madeira e
alguns degraus de arquibancadas. A média de público nesses lugares acanhados
era de apenas 20 torcedores por jogo. Esse número de espectadores
começou a aumentar a partir da década de 1910.
A
bola não era como hoje, fabricada com toda a tecnologia existente. Naqueles
duros tempos ela era pesada, feita de couro. Igualmente as chuteiras. Os
jogadores não recebiam salários. Por isso, boa parte da sociedade elitista da
época, classificava os jogadores, como pessoas desocupadas e vagabundas.
Nos
109 anos de história do Campeonato Carioca, muitos foram os clubes que dele
participaram. Eis alguns: Sport Clube Brasil, time do Bairro da Urca que
disputou nove cariocas; Vila Isabel, homônimo do mesmo bairro, que disputou
nove campeonatos; o Carioca, time do Jardim Botânico, que disputou sete
cariocas. Mandava seus jogos na Rua Dona Castorina; Sírio e Libanez, time de
Botafogo que participou de quatro
estaduais; Mavílis F.C., do Bairro do Caju, que esteve presente em dois cariocas,
entre outros.
O
elevado número de clubes começou a diminuir a partir da década de 1930, quando
a Federação de Futebol do Rio estabeleceu que todos os times teriam de ter
estádio próprio, para poderem disputar o Estadual. Como mais de 80% dos times
suburbanos não tinham, fecharam as portas.
Entre
os clubes que desapareceram nessa época estavam: Andarahy Athletico Club,
fundado no dia 9 de novembro de 1909. O seu uniforme tinha às cores verde e branco. Durante a história, o clube alternou dois modelos de uniformes: camisa inteiramente verde e calções brancos e camisa listrada na vertical alviverde e calções brancos.
Se localizava na Rua Barão de São
Francisco, no bairro de Vila Isabel, na Zona Norte da cidade. O Estádio era
chamado de “Barão de São Francisco”, também conhecido como rua Prefeito
Serzedello Correia.
Pertenceu ao clube até 1962. Nesse ano, foi vendido por CR$ 60 milhões ao América, que passou a chamá-lo de "Estádio Wolney Braune". Nos anos 90, o América vendeu o estádio que atualmente é o Shopping Iguatemi, em Vila Isabel.
Ao
todo, o Andarahy disputou 20 campeonatos estaduais, sendo o último em 1937. A
sua melhor colocação ocorreu em 1924, quando ficou com o 4o lugar, atrás de
Vasco da Gama, Engenho de Dentro e Bonsucesso.
Confiança
Atlético Clube, fundado em 26 de abril de 1915. Era um clube do Andaraí, bairro
da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, localizado à rua Silva Teles, que
pertenceu à antiga fábrica de tecidos de mesmo nome.
O
quadricolor, verde, preto, vermelho e amarelo, disputou dois campeonatos
cariocas: 1924 e 1933, em ambos, terminando na quinta posição. Na primeira, a
equipe obteve cinco vitórias, quatro empates e cinco derrotas. Na segunda,
foram cinco vitórias, sete empates e seis derrotas.
Nos
anos 1960 e 1970 passou a disputar o campeonato amador do Departamento Autônomo da
Federação de Futebol do Rio de Janeiro. Em 1990, passou para a terceira divisão
de profissionais e no ano seguinte disputou a segunda divisão, porque a
verdadeira segundona passou a se chamar intermediária, e, portanto, a terceira
virou segunda.
Em
1993, o seu registro na federação deu lugar ao do Barra da Tijuca Futebol Clube
numa fusão articulada para que este entrasse direto na segunda divisão, sem
precisar disputar a terceira. Durante a década de 90, o clube se extinguiu e
parte da sua sede foi incorporada à quadra da escola de samba Acadêmicos do
Salgueiro, e o restante ao Boulevard Shopping, lateral à rua Maxwell.
Sport
Club Mangueira, fundado por operários da fábrica “Chapéus Mangueira”, no dia 29
de julho de 1906. O rubro-negro tijucano atuou na rua Desembargador Isidro, 72.
Nos dias de hoje, o local onde ficava o estádio abrange parte do clube Tijuca
Tênis Clube. Ao todo, o S.C. Mangueira participou de oito campeonatos, 1909,
1912, 1913, e de 1917 até 1921.
No
dia 30 de maio de 1909, no campo da Rua Voluntários da Pátria, o Mangueira
sofreu a sua pior humilhação, que ironicamente colocou o time no "Livro dos
Recordes": Botafogo 24 X 0, sendo a maior goleada em campeonatos regionais, de
todos os tempos.
O
uniforme do S.C. Mangueira era camisa listrada na vertical vermelha e preta e
calções brancos. A melhor colocação aconteceu em 1913 e 1917, quando terminou
em oitavo lugar, dentre 10 participantes. Após uma seqüência de insucessos, o Mangueira decidiu abandonar a competição em 1921.
Paissandu
Athletic Club – Fundado em 15 de agosto de 1872, na rua Payssandu. Está
intimamente ligado ao futebol, uma vez que o filho de um Inglês, Oscar Cox, em
1902, deu vida ao primeiro dos times de futebol do Rio e do Brasil, o
Fluminense.
Em
1912, o Paissandu surpreendeu a todos vencendo o Campeonato Estadual. Na última
rodada, derrotou o Fluminense, por 4 X 2, nas Laranjeiras. Mais tarde, o mesmo
Paissandu passou o campo para Flamengo, antes de sua mudança definitiva para o
estádio da Gávea.
No
total, o time paissanduano disputou sete campeonatos (1906 a 08, 11 até 14). Em
1906, ficou com o vice-campeonato atrás apenas do Fluminense.
Carioca
Football Club – O “Club Sportivo Victorioso” foi fundado em 16 de Março de
1907. Depois mudou de nome para ‘Carioca Football Club’. Na década de 30,
fundiu-se com o "Gávea Sport Club" e ficou com o nome definitivo de Carioca
Esporte Clube. Seu Estádio da Estrada Dona Castorina ficava no Bairro do Jardim
Botânico.
Mavílis
Football Club – O Mavílis Football Club, fundado no dia 23 de setembro de 1915,
era um clube do Caju, bairro da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. O clube
disputou os campeonatos de 1933 e 1934, e extinguiu-se na década de 70. O
rubro-anil do Caju mandava os seus jogos no "Estádio Praia do Retiro Saudoso", na
Rua Carlos Seidl, no Bairro do Caju.
O
maior momento da história do Mavílis aconteceu em 1934, quando terminou como
vice-campeão do Campeonato Carioca da Associação Metropolitana de Esportes
Atléticos (AMEA).
O Mavílis, inclusive, venceu o Botafogo, que foi o campeão,
por 2 X 0 (Gols de Honório e Chavão, ambos no segundo tempo), em casa, no dia
22 de julho de 1934. No final foram nove pontos em oito jogos; com quatro
vitórias, um empate e três derrotas; marcando 24 gols e sofrendo 21.
O
seu uniforme tinha camisa vermelha, com gola azul, calção branco e meias azuis.
Sendo que o segundo uniforme trazia a camisa branca com duas listras em
horizontal, uma azul e outra vermelha. O branco não fazia parte das
cores do clube.
Um
fato curioso é que o nome Mavílis vinha das iniciais de Manuel Vicente Lisboa, um
dos diretores da "Companhia América Fabril" e grande incentivador do esporte entre os
funcionários da fábrica, que resolveram homenageá-lo no nome do clube.
Villa
Isabel Football Club – O Villa Isabel Football Club foi fundado no dia 2 de
maio de 1912. Sua sede estava localizada no bairro homônimo de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Dos oito campeonatos cariocas, a melhor colocação
aconteceu em 1919 e 1927, quando terminou em sétimo lugar.
Preta
e branca eram as cores do Villa Isabel, que utilizou dois uniformes distintos
em sua história. O primeiro, todo branco, tinha uma bola de futebol com as
iniciais V.I.F.C. (Villa Isabel Football Club) no centro da camisa, com raios
negros saindo desta e, por conta disso, o clube era conhecido como o "Raio
de Sol". Na década de 20, o clube alterou seu uniforme para camisa preta
com finas listras verticais brancas, calções brancos e meias pretas.
O Sampaio jamais participou de um campeonato carioca. Apesar de ter um bom estádio, a equipe competiu apenas no Departamento Autônomo, o que equivale aos dias de hoje, como o Campeonato Carioca da Segunda Divisão. – O Sampaio jamais participou de um campeonato carioca. Apesar de ter um bom estádio, a equipe competiu apenas no Departamento Autônomo, o que equivale aos dias de hoje, como o Campeonato Carioca da Segunda Divisão.
A inauguração do estádio Florêncio aconteceu em 20 de janeiro
de 1938, na Rua Antunes Garcia, no Florêncio - hoje chamado de bairro do
Sampaio, transversal à Avenida Marechal Rondon - em homenagem à família que era
dona de uma grande área da região.
Após
muitos anos abandonado e servindo apenas como campo de pelada da molecada da
favela da Matriz, o estádio foi apropriado pela SUDERJ, recebendo o nome de Vila
Olimpica do Sampaio. Lá, hoje em dia,são realizados serviços sociais destinados
aos moradores próximos. A Vila Olímpica,além da prática de esportes, também
oferece atendimentos ligados a área da saúde e algumas outras atividades
culturais. (Pesquisa: Nilo
Dias)