Quem o levou para o Flamengo foi o narrador e compositor Ary Barroso, que era rubro-negro fanático. Para não chamar a atenção dos dirigentes do Nacional, Ary viajou para o Paraguai em vôo fretado. Quando eles se deram conta já tinham perdido a sua grande promessa.
Seu primeiro jogo com a camisa 5 do Flamengo foi um clássico Fla-Flu, disputado em 12 de setembro de 1943, que terminou empatado em 2 X 2. Disputou 369 jogos pelo Flamengo e marcou 8 gols, segundo o “Almanaque do Flamengo”, de Roberto Assaf e Clóvis Martis. Foi o estrangeiro que mais vezes atuou pelo clube.
Ele foi parte importante daquele histórico time, que conquistou o primeiro tri-campeonato carioca, em 1942, 1943 e 1944, que até hoje provoca choro nos vascaínos. Volante de estilo clássico, Bria foi o ponto de equilíbrio de uma linha média que contava ainda com Biguá e Jaime, trio que foi fundamental na conquista do primeiro Tri-Campeonato Carioca da história do clube. Aquele time fabuloso formava com Jurandir - Newton e Quirino – Biguá - Bria e Jaime de Almeida – Tião – Zizinho – Pirilo - Perácio e Vevé.
Em 1953, Bria pendurou as chuteiras, mas seguiu ligado às cores vermelha e preta, tendo sido treinador do clube em quatro períodos. O primeiro, de 25/11/1959 até 22/06/1960; o segundo, de 16/07/1967 até 14/10/1967; o terceiro, de 28/05/1971 até 10/06/1971, junto com Newton Canegal. E o último, de 14/01/1981 até 05/04/1981. Comandou o Flamengo em 80 partidas, venceu 44, empatou 15 e perdeu 21.
Seu primeiro jogo como técnico foi um amistoso contra o Spartak Moscou, com vitória de 3 X 0, disputado em 25 de novembro de 1959, na antiga União Soviética. O último foi uma vitória de 2 x 1 frente o Colorado,do Paraná,em 5 de abril de 1981.
Como treinador do time principal, foram 83 jogos, com 45 vitórias, 15 empates e 21 derrotas. Modesto Bria era o treinador do time na maior goleada do Flamengo em Campeonatos Brasileiros, 8 X 0, contra o Fortaleza, em 4 de fevereiro de 1981.
Em 1967, quando era técnico dos juvenis do Flamengo, o radialista Celso Garcia levou até a Gávea um menino franzino, 13 anos de idade, de apelido Zico, seu vizinho no bairro de Quentino, para fazer um teste. Celso havia visto Zico jogando futsal em um torneio e após o jogo foi à casa dele, pedir autorização para levá-lo ao Flamengo.
No clube, usou sua influência para convencer o treinador Modesto Bria a observar o menino. Porém, poucos o levaram a sério quando chegou com Zico na Gávea, para treinar na escolinha. Quando o Bria viu o garoto, perguntou: “É esse? Desse tamanho?” Em principio Bria não acreditou muito no potencial do jovem, em razão de seu físico franzino.
Bria deixou ele treinar um pouquinho, só para que não voltasse para casa sem suar. Zico estava de short verde e camisa vermelha. No meio do treino, Bria o chamou para entrar. As pessoas que olhavam o treino debocharam do tamanho dele. Alguns falavam “coitado, é muito pequeno”. Na primeira jogada, o Zico colocou a bola embaixo da perna de um zagueiro alto, chamado “Cidade”. Todo mundo aplaudiu. E continuou driblando o treino todo.
Dias depois Zico estreou pelo Flamengo. A equipe da escolinha venceu o Everest por 4 X 3, e Zico marcou duas vezes. E logo começou a fazer uma preparação física especial com o professor José Roberto Francalacci. Zico ganhou massa muscular para suportar os choques com os marcadores adversários. O resultado começou a ser escrito quatro anos depois, quando o meia entrou pela primeira vez em campo pelo time profissional. De 1971 a 1983, o habilidoso atleta conquistou 22 títulos com o Rubro-Negro.
Outro jogador que deve muito do sucesso alcançado a Bria, é Mozer. Quando o paraguaio treinava as categorias de base do Flamengo, Mozer havia sido dispensado do Botafogo devido ao seu porte físico franzino e apareceu na Gávea para tentar a sorte. Em principio queria ser atacante, mas Bria disse que ele não passava de um centroavante deselegante, sem muito futuro no futebol. E fez com que Mozer virasse zagueiro. E a troca só lhe trouxe lucro.
Também o lateral Júnior foi descoberto por Bria. Logo que chegou ao Rio de Janeiro, vindo da Paraíba, ele chamou a atenção do treinador das categorias de base do Flamengo, quando disputava peladas na Praia de Copabacana. Levado para a Gávea estreou como profissional em 1974. No início era lateral direita, mas atuava também no meio-de-campo.
É verdade que Bria revelou grandes valores para o Flamengo, mas também errou em algumas avaliações. Nunes, que foi um dos maiores artilheiros da história do clube, quando ainda era adolescente foi fazer testes na escolinha do rubro-negro e foi dispensado pelo técnico Modesto Bria.
Ao deixar a Gávea, profetizou com os companheiros: "Um dia eles vão me querer de volta, mas aí terão que desembolsar muito dinheiro". Foi o que aconteceu alguns anos depois, quando o Flamengo teve que pagar caro para ter Nunes como seu atacante.
Títulos conquistados como jogador: Campeão Paraguaio (1942); Campeão Carioca (1943, 1944 e 1953); Torneio Relâmpago do Rio de Janeiro (1943 e 1944); Torneio Inicio do Campeonato Carioca (1946, 1951 e 1952); Troféu Cezar Aboud (1948); Troféu Embaixada Brasileira na Guatemala (1949), Troféu El Comite Nacional Olímpico da Guatemala (1949); Taça Cidade de Ilhéus (1950); Elfsborg Cup (1951); Torneio Quadrangular de Lima (1952); Troféu Cidade de Arequipa (1952); Troféu Juan Domingo Perón, na Argentina (1953) e Torneio Triangular de Curitiba (1953).
Sua paixão pelo Flamengo fez com que adotasse o Brasil como sua segunda pátria, vivendo aqui até sua morte, em 1996 no Rio de Janeiro. (Pesquisa: Nilo Dias)