O
programa “Globo Esporte”, da Rede Globo, apresentou uma série de reportagens
contando histórias vividas no futebol carioca. Em uma delas contou parte da
famosa praga rogada pelo ponta-esquerda "Arubinha", do Andarahy, clube extinto do
Rio de Janeiro. O fato teria ocorrido no dia 30 de dezembro de 1937, uma
quarta-feira, depois que o Vasco da Gama aplicou uma goleada de 12 X 0 no
adversário.
O
time da "Cruz de Malta" lutava pelas primeiras posições no campeonato. A chuva
começou cedo e continuou por toda a tarde e chegou até a noite. Normalmente,
nessas condições, o jogo seria transferido. Mas ninguém lembrou disso, pois era
uma partida sem muita importância, pois todos sabiam que o Vasco ia vencer. E
jogo assim não se transfere.
O
Andarahy alugou alguns carros, saiu com o time da praça Sete e foi sem problemas
até as Laranjeiras. Às 21 horas em ponto, o juíz Haroldo Dias da Motta entrou
em campo, com as calças arregaçadas. E dê-lhe apito chamando as duas equipes,
pois com um tempo daqueles, quando mais cedo o jogo começasse, melhor.
O
Andarahy entrou em campo, mas nada do Vasco. Fizeram a volta do gramado,
levantaram urras para as arquibancadas vazias. E toca a esperar pelo Vasco.
Haroldo Dias da Motta apitou com mais força, talvez os jogadores vascaínos não
tivessem escutado.
Mas
o imprevisto havia ocorrido, um acidente de trânsito fez com que a delegação
vascaína se atrasasse em mais de uma hora. Na esquina de Figueira de Melo com
Francisco Eugênio, apareceu um caminhão da limpeza pública e pegou um dos
carros cheio de jogadores do Vasco, e havia feridos graves.
Oscarino
fora para o raio X, estava com uma costela partida. Também Rey não poderia
jogar, nem Mamede e Cuco. Os outros jogadores saíram do Pronto Socorro em
direção ao estádio. Isso foi determinante para que o Andarahy esperasse pelo
adversário. A voz geral era de que o Andarahy queria mais a amizade do Vasco,
que os improváveis dois pontos.
O
Andarahy, se quisesse teria ganho os pontos daquele jogo, mas preferiu esperar
que o adversário chegasse. Isso custou caro, o Vasco não quis saber de
agradecimentos e aplicou uma estrondosa goleada de 12 X 0. Dizem que antes do
jogo começar, "Arubinha" teria feito uma advertência: “Eu só peço uma coisa: que
o Vasco não abuse do escore".
E
por aí começa a história do “Sapo de Arubinha”. Quando o jogo acabou, ele teria
se ajoelhado ainda dentro do campo, juntado as mãos, olhado para cima e dito em
alto e bom som: "Se há um Deus no céu, o Vasco tem de passar 12 anos sem
ser campeão". Ou seja, um ano por
gol sofrido na goleada de 12 X 0. Se o clube da "Cruz de Malta" tivesse feito só
1 X 0, ou no máximo 3 X 0, nada disso teria ocorrido
Uns
dizem que "Arubinha" não se contentou com isso e que no dia seguinte foi até São
Januário para reforçar a praga. Entrou escondido no gramado e enterrou um sapo
com a boca costurada, ao mesmo tempo em que repetia a praga dita logo após o
jogo. Mas o fato é que o Vasco passou a perder jogos inesperados e acabou a
temporada em terceiro lugar, oito pontos atrás do campeão, o Fluminense.
Os
anos se passaram e nada do Vasco ser campeão. Os dirigentes, que a principio
não acreditavam na história do sapo, mandaram revolver o campo, mas não acharam
nada. O negócio foi chamar o "Arubinha" e lhe oferecer dinheiro para que contasse
onde havia enterrado o sapo. Mas ele negou que tivesse feito isso. Disse que era
tudo história de torcedor.
E
a praga continuou a fazer estragos. O Vasco gastava rios de dinheiro
contratando os melhores jogadores, mas não ganhava nada. Tudo indicava que
tinha mesmo um sapo enterrado em São Januário. E ainda uma dúvida pairava sobre
os vascaínos: a praga dos 12 anos começava em 1937, ou a contar de 1934, quando
o Vasco fora campeão pela última vez?
O
Vasco nem contou o campeonato de 1936, que ganhou fora da Liga Carioca, onde estavam
Fluminense, Flamengo e América. A Federação Metropolitana, que tinha Vasco,
Botafogo, Bangu e São Cristóvão, era a entidade oficial.
A
conclusão era de que se fosse contar com o campeonato de 1936, o da Federação
Metropolitana, o clube teria de esperar mais tempo para que a praga se
cumprisse. Talvez só fosse campeão em 1948. Por isso, todo vascaíno torceu para
que a praga vigorasse a partir de 1934. O Vasco só voltou a ser campeão em 1945,
onze anos depois.
Tem
gente que lembra a goleada de 24 X 0 que o Botafogo impôs ao Mangueira. Mesmo
sem que se tenha conhecimento de alguma praga, a verdade é que depois disso o
Botafogo teve de esperar 20 anos para ser campeão de novo. Em resumo, se
tivesse vencido de 4 X 0, certamente não precisaria esperar tanto tempo para
levantar a taça outra vez.