Just
Fontaine foi um dos melhores jogadores franceses de todos os tempos, embora não
tivesse nascido na França, sim em Marraquech, no Marrocos, que na época era
colônia francesa. Fontaine veio ao mundo em 18 de agosto de 1933.
De
origem humilde, seu pai dava um duro danado em uma indústria de tabacos para
sustentar os sete filhos. O sonho do patriarca dos Fontaine era oferecer uma
formação universitária para os filhos, apesar do talento evidente do pequeno
Just para o futebol, além da prática do basquete.
Quando
deixou o Liceu Lyautey, Fontaine começou sua carreira profissional jogando pelo
USM Casablanca em 1950, graças ao comprometimento dos dirigentes em custear o
prosseguimento de seus estudos.
O
USM Casablanca, em 1952, foi campeão da Liga Marroquina e da Copa dos Campeões
do Norte da África, torneio que não é mais disputado e que reunia os times
campeões das colônias francesas do Marrocos, Argélia e Tunísia.
Com
1;74 de altura, “Justo”, como era chamado por seus companheiros, também anotava
seus tentos de cabeça. Em razão de suas boas atuações chamou a atenção dos
principais clubes da França, sendo contratado pelo Nice em 1953. Em sua
primeira temporada sagrou-se campeão da Copa da França de 1954.
Acabou
índio para o Stade Reims, para jogar no lugar do ídolo Raymond Kopa, que se
transferiu para o Real Madrid. Em seis temporadas que vestiu a camisa do Reims,
Fontaine marcou 121 gols, sendo o artilheiro da Primeira Divisão em 1958, ano
em que também ajudou seu clube a ganhar a Copa da França.
Essa
conquista garantiu ao Reims a chance de disputar novamente a Taça dos Campeões
Europeus, atual “UEFA Champions League”, torneio do qual o clube fora
vice-campeão dois anos antes, perdendo a final para o Real Madrid.
Rems
e Real Madrid disputaram outra vez a grande final de 1959. Fontaine, embora
tivesse sido o artilheiro da competição, com 10 gols, foi bem marcado naquele
jogo e não teve boa atuação e nem fez gol, enquanto o novo time de Kopa,
contando com Alfredo di Stéfano e Ferenc Puskas venceu por 2 X 0.
Na
temporada 1959-60 Fontaine e Kopa voltaram a jogar juntos no Rems, repetindo o trio
que fez sucesso na Copa do Mundo de 1958, com Roger Piantoni.
E
o Rems foi novamente campeão francês e Fontaine artilheiro, embora estivesse afastado
dos gramados desde março de 1960, quando fraturou a tíbia e o perônio da perna
direita em jogo contra o Sochaux. Não conseguiria recuperar-se totalmente da
lesão.
O
último jogo de Fontaine como profissional ocorreu em julho de 1962, poucas
semanas depois de ter-se sagrado outra vez campeão francês. Como havia se
precavido e feito um polpudo seguro para suas pernas, se aposentou em ótimas
condições. Além do dinheiro ganho como garoto-propaganda da Adidas. No total,
ele marcou 165 gols em 200 partidas no campeonato principal da França.
Jogando
pela Seleção Francesa teve números estatísticos impressionantes. Na primeira
vez que vestiu a camisa francesa, em 17 de dezembro de 1953, marcou um gol de
chapéu numa vitória de goleada por 8 X 0 sobre a Seleção de Luxemburgo. O jogo era
válido pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1954, para a qual ele não
foi convocado.
Já
para as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1958, tudo aconteceu ao
contrário: Fontaine não foi utilizado, mas convocado para o Mundial. O atacante
titular e artilheiro francês, Thadée Cisowski lesionou-se e não pode ir a Copa.
A
estreia no mundial da Suécia não poderia ser melhor: uma goleada de 7 X 3 contra
o Paraguai, com três gols de Piantoni. A primeira fase encerrou-se com outros
três gols de Fontaine: os dois na derrota de 3 X 2 para a Iugoslávia e um na
vitória por 2 X 1 sobre a Escócia, resultado que garantiu a classificação
gaulesa.
Veio
o mata-mata e Fontaine marcou mais dois gols na vitória por 4 X 0 sobre a
Irlanda do Norte, pelas quartas-de-final. Nas semifinais, marcou uma vez,
frente o Brasil. Depois, na decisão do terceiro lugar, contra a Alemanha
Ocidental, Fontaine fez quatro gols, somando um total de 13, superando o
artilheiro do mundial anterior, o húngaro Sándor Kocsis, que fez 11.
Fontaine
foi o jogador que mais gols marcou em uma única Copa até hoje. Somadas mais de
uma Copa, o alemão Miroslav Klose é o maior artilheiro, com 16 gols: cinco em
2002, cinco em 2006, quatro em 2010 e dois em 2014.
As
lesões tiraram Fontaine da Seleção. O seu último jogo pela França foi em 1960,
nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1962, contra a Bulgária. As lesões
lhe impediram de jogar as demais partidas e a França acabou perdendo a vaga
justamente para os búlgaros.
Ao
todo, marcou pela Seleção 30 gols em 21 partidas. Fontaine superou notáveis
jogadores como Michel Platini e Zinédine Zidane em 2004, quando foi eleito o
melhor jogador francês dos 50 anos da UEFA, nos prêmios do jubileu da entidade.
Curiosamente,
assim como eles e como seus contemporâneos Roger Piantoni e Raymond Kopa,
Fontaine tem sangue estrangeiro: é filho de mãe espanhola com um francês.
Depois
de deixar os gramados Fontaine foi presidente do sindicato dos jogadores da
França, lutando para garantir contratos maiores para a classe.
Pelé
e Fontaine tiveram um desentendimento em 1960, quando de uma excursão do Santos
pela Europa, já após Fontaine ter sofrido a fratura que interrompeu sua
carreira.
Ele
entregou um lápis a Pelé, pedindo que assinasse na perna engessada. Pelé não
entendeu o pedido em francês. Fontaine irritou-se e perguntou se o idioma de
Pelé era "africano" ou "macaquês". Indignado, Pelé atirou o
lápis no francês, seguido de um palavrão - em bom português.
Fontaine
chegou a ser técnico da Seleção da França em 1967, mas durou pouco tempo,
apenas dois jogos amistosos que terminaram em derrota. Entre 1979 e 1981,
treinou o selecionado do Marrocos, tendo chegado perto de classifica-lo para a Copa
do Mundo de 1982. O time chegou à última
etapa, quando disputou vaga em duas partidas contra Camarões, que venceu ambas.
Em
sua carreira ganhou prestigio como artilheiro. Na Copa do Mundo FIFA, em 1958,
fez 13 gols. Na Primeira Divisão Francesa, na temporada 1957-58 marcou 34
vezes. E na temporada 1959-60, balançou as redes em 28 oportunidades. Na Taça
dos Campeões Europeus, em 1958-59, estufou as redes em 10 vezes. Foi homenageado
pela FFF em 2005, como o maior futebolista francês dos últimos 50 anos.
A
enorme capacidade goleadora de Fontaine completava-se com sua velocidade para
se infiltrar na área, seu chute forte e o bom cabeceio, qualidades que ajudou o
jogador a marcar 27 gols em suas escassas 20 aparições em partidas
internacionais. (Pesquisa: Nilo Dias)