O futebol brasileiro perdeu no último domingo um de seus maiores jogadores na
história, Gylmar dos Santos Neves, ou simplesmente Gilmar, de 83 anos de idade,
bi-campeão mundial pela Seleção Brasileira, em 1958, na Suécia e em 1962, no
Chile. O ex-goleiro do Corinthians e do Santos, estava internado no Hospital
Sírio Libanês, na capital paulista, desde o dia 8 de agosto, devido a uma
infecção urinária. No dia 23, sofreu um infarto.
Gilmar
também tinha complicações resultantes de um acidente vascular cerebral (AVC)
sofrido em 2000, que paralisou o lado direito de seu corpo, além de uma
infecção sistêmica e um quadro de desidratação, que lhe agravaram o estado de
saúde.
Mesmo
estando numa cadeira de rodas desde 2000, não perdeu a lucidez. Apesar de falar
com dificuldade, ele ainda tinha contato com o futebol. Via tudo quanto era
partida pela TV, principalmente dos clubes que defendeu, Corinthians e Santos.
O
corpo do ex-jogador foi velado e sepultado no Cemitério do Morumbi, na Zona Sul
de São Paulo. Deixou a esposa Raquel e dois filhos, Marcelo Izar Neves e
Rogério Izar Neves.
O
ex-goleiro nasceu em Santos no dia 22 de agosto de 1930. A sua carreira
profissional começou em 1951 no Jabaquara, da cidade praiana, de onde saiu para
o Corinthians, onde atuou por 10 anos.
No
alvi-negro foi campeão paulista por três vezes, 1951, 1952 e 1954, este último
no ano do IV centenário da cidade de São Paulo, quando também ganhou o título
de "supremo guardião do campeão do quarto centenário". Também foi
campeão de dois Torneios Rio-São Paulo, 1953 e 1954 e da “Pequena Taça do
Mundo”, em 1953.
A
sua saída do “Jabuca” aconteceu depois de uma negociação envolvendo o
meio-campista Ciciá, que era quem realmente interessava ao clube da capital.
Mas o Jabaquara só o liberou, com a condição de Gilmar ir junto, o que acabou
acontecendo.
Seu
começo no Corinthians não foi nada animador. Ele foi considerado o culpado pela
acachapante derrota de 7 X 3 sofrida para a Portuguesa de Desportos, dia 25 de
novembro de 1951. Em razão disso ficou quatro meses fora do time, só retornando
em março do ano seguinte, para se sagrar campeão paulista.
Em
1962 foi para o Santos de Pelé, depois de uma briga com o presidente Wadih
Helou, que o acusou de fazer corpo mole em alguns jogos. No clube santista foi
campeão paulista nos anos de 1962, 1964, 1965, 1967 e 1968; duas Taças
Libertadores da América, 1962 e 1963; duas Taças Intercontinentais, 1962 e
1963; três Torneios Rio-São Paulo, 1963, 1964, dividido com o Botafogo e 1966,
dividido com Botafogo, Corinthians e Vasco da Gama; Torneio Roberto Gomes
Pedrosa, 1968; Recopa dos Campeões Intercontinentais, 1968 e quatro Taças
Brasil, 1962, 1963, 1964 e 1965, que equivalia ao Campeonato Brasileiro. E mais
os dois títulos mundiais pela Seleção Canarinho.
Também
participou do Mundial de 1966, disputado na Inglaterra, tendo atuado em duas
partidas e depois substituído por Hailton Corrêa de Arruda, o “Manga”.
A
estréia de Gilmar no gol da Seleção Brasileira aconteceu no dia 1 de março de
1953, na goleada de 8 X 1 sobre a Bolívia, em jogo válido pelo Campeonato
Sul-Americano disputado no Peru, atual Copa América. Jogou pela Seleção
Brasileira até 1969. Sua última partida com a camisa “canarinho” foi num
amistoso contra a Inglaterra, dia 12 de junho, no Maracanã, vencido pelos
brasileiros por 2 x 1.
Gilmar
foi “campeão de tudo” na sua época, pois ganhou todos os títulos possíveis que
foram disputados. Também ganhou notoriedade por ter usado durante a Copa de
1958, na Suécia, a camisa de número 3, em vez da tradicional número 1. Foi ele
quem levou o primeiro gol da carreira vitoriosa do “Rei Pelé”, num jogo entre
Corinthians X Santos.
Jogador
disciplinado foi agraciado em 1966 com o “Prêmio Belfort Duarte”, que
contemplava jogadores profissionais que passassem 10 anos sem sofrer nenhuma
expulsão de campo.
De
acordo com o "Almanaque do Corinthians", de Celso Unzelte, Gilmar
disputou 395 jogos pelo alvinegro entre os anos de 1951 e 1961. Foram 243
vitórias, 75 empates e 77 derrotas, tendo sofrido 527 gols. Pela Seleção
Brasileira realizou 103 partidas, com 73 vitórias, 15 empates e 15 derrotas,
tendo sofrido 104 gols, como consta no livro "Seleção Brasileira 90
anos", de Antonio Carlos Napoleão e Roberto Assaf.
Sabe-se
que muitos suecos foram batizados com o nome de Gilmar, no fim da década de
1950. Uma justa homenagem ao goleiro que encantou o planeta e chegou a entrar
para uma lista da Fifa dos 10 mais da posição ao lado de Yashin, o “Aranha
Negra”.
Marcelo
Neves, um dos filhos de Gilmar, fez um livro com algumas fotos de garotos
suecos que ganharam o mesmo nome dele depois da Copa de 58. Trata-se de pessoas
que eles nunca viram pessoalmente, mas que tinham um carinho por ele maior até
do que a admiração dos brasileiros.
Em
2006 Marcelo fundou a Associação dos Campeões Mundiais do Brasil, e começou a
brigar pelos direitos dos ex-jogadores que fizeram do país uma potência no
esporte.
Até
bem pouco tempo Gilmar recebia cerca de 30 cartas por mês, praticamente uma
mensagem de incentivo e agradecimento por dia. Os poloneses e tchecos são os
fãs mais assíduos. Não raro, enviam fotos e pedem autógrafos pelo Correio. Como
ele estava com problemas de saúde, seu filho Marcelo respondia todas as
correspondências.
Depois
de encerrar a carreira de jogador em 1969, ele teve uma grande agência de
veículos, que ficava na zona leste da capital paulista.
Agora
só restam oito campeões de 1958 ainda vivos. São eles: Bellini (83 anos),
Nilton Santos (88 anos), Dino Sani (81 anos), Zito (81 anos), Moacir (79 anos),
Zagallo (82 anos), Pepe (78 anos), Pelé (73 anos) e Mazzola (75 anos).
Castilho, De Sordi, Djalma Santos, Oreco, Mauro, Orlando, Zózimo, Didi, Dida,
Garrincha, Vavá e Joel já faleceram. (Pesquisa: Nilo Dias)