Wendell
Silva Lira, o brasileiro que ganhou hoje o “Prêmio Puskas” do gol mais bonito
do mundo em 2015, é goiano, nascido em Goiânia no dia 7 de janeiro de 1989. Com
apenas 10 anos de idade começou a jogar futebol na Escolinha da Ovel, na
capital goiana.
Em
2002 foi para as categorias de base do Goiás. Em fevereiro de 2006 chegou ao
time titular, fazendo o jogo de estreia em uma vitória de 2 X 1 frente o
Itumbiara pelo Campeonato Goiano.
Nesse
jogo o Goiás poupou vários titulares, pois paralelamente disputava a “Taça
Libertadores da América”. Wendell entrou no decorrer da partida.
Nesse
mesmo ano foi o artilheiro e revelação do Campeonato Brasileiro Sub 20, quando
marcou 7 gols em oito jogos. Em agosto de 2006passou a integrar o grupo de
profissionais do Goiás, ao lado de valores como Ernando, hoje no Internacional,
de Porto Alegre e Amaral, emprestado pelo Palmeiras ao Coritiba.
Em
setembro foi convocado para a Seleção Brasileira Sub-18, que disputou a Copa
Sendai, ao lado de Alexandre Pato, Ernando e Leyrielton. Graças ao seu bom
desempenho na competição recebeu proposta para jogar no Milan, da Itália.
Seu
primeiro jogo como profissional foi em 12 de maio de 2007, pelo Campeonato
Brasileiro, com derrota de 2 X 0. Estava no banco de reservas e entrou aos 18
minutos do segundo tempo para substituir Fabrício Carvalho.
Ele
foi uma das principais promessas de uma geração do Goiás que revelou nomes como
o zagueiro Rafael Toloi e o lateral-direito Douglas, que estão atualmente no
futebol europeu.
Em
janeiro de 2007, mesmo tendo idade para disputar a Copa São Paulo de Juniores,
ficou em Goiânia com o elenco profissional a pedido do técnico Geninho. Em
novembro sofreu uma entorse no joelho direito e rompimento do ligamento cruzado
anterior. Terminou uma temporada sem conseguir se firmar, devido as seguidas
lesões musculares que sofreu.
Em
janeiro de 2008 foi submetido à primeira cirurgia no joelho. Em outubro voltou
a jogar no sub-20 para pegar ritmo e confiança após a cirurgia. Em março de
2009 Wendell voltou a sofrer com lesões no Campeonato Estadual.
Em
março de 2010, com a chegada do volante Wendel, vindo do Palmeiras passou usar
o nome de Wendell Lira, que desde hoje passou a ser conhecido mundialmente após
ter sido laureado com a escolha de seu gol contra o Atlético Goianiense, como o
ganhador do “Prêmio Puskas”.
Em
junho pediu para treinar em separado e foi emprestado ao Fortaleza, para as
disputas do Brasileiro da Série C, voltando ao Goiás em outubro. Em dezembro
casou-se com Ludymila Miranda. Em janeiro de 2011, sofreu nova entorse no
joelho direito, com rompimento de ligamento, tendo que passar por uma outra
cirurgia.
O
seu contrato com o Goiás terminou em janeiro de 2012 e não foi renovado. Foi
então contratado pelo Atlético, de Sorocaba (SP), por quem disputou o
Campeonato Paulista da Série A2.
Depois
se transferiu para o Trindade, tendo disputado a Divisão de Acesso do
Campeonato Goiano. Em janeiro de 2013 trocou de time novamente, indo para o
Goianésia, pelo qual disputou o “Goianão” e a Série D do Campeonato Brasileiro.
Outra
vez não deu sorte. Em fevereiro de 2013 fraturou o ombro em choque com o
goleiro Harlei, do Goiás, em jogo do Campeonato Goiano, tendo que passar de
novo por cirurgia. Em maio nasceu a sua filha com Ludymila, a pequena Marcela,
hoje com dois anos de idade.
Em
setembro foi para o Novo Horizonte de Ipameri, time pelo qual conquistou o
título de campeão goiano da Terceira Divisão de 2013. Em janeiro de 2014 foi
para o URT, de Patos de Minas, por quem disputou o Campeonato Mineiro . Em maio
já estava na Anapolina, de Anápolis por onde jogou o Brasileiro da Série D
Em
janeiro do ano passado estava de volta ao Goianésia para disputa do Campeonato
Goiano. No dia 11 de Março marcou o gol antológico no “Serra Dourada”, contra o
Atlético Goianiense, que mudou a sua vida.
A
vida dá muitas voltas. Antes de acertar com o Goianésia Wendell havia
abandonado o futebol atendendo um pedido da mãe, Edileuza, que chorando disse
não aguentar mais vê-lo sofrer tanto. Tentar, tentar e nada dar certo. Por quase dois meses o atacante trabalhou com
Dona Edileuza e a esposa Ludymila em uma lanchonete no condomínio onde mora, em
Goiânia.
Tinha
que acordar todos os dias às cinco e meia e ia dormir meia noite. Como era
muito puxado passar o dia inteiro na lanchonete, achou por bem voltar ao
futebol. E retomou a carreira.
Em
maio foi contratado pela Tombense, de Minas Gerais que participou do Campeonato
Brasileiro da Série C. Em Julho rescindiu com o time mineiro, ficando
desempregado. Mas depois disso começaram às notícias boas. No dia 6 de novembro
ficou sabendo que o eu gol estava na lista de 10 indicados pela Fifa para concorrer
ao “Prêmio Puskas”.
No
dia 11, foi contratado pelo Vila Nova, de Goiânia que foi campeão da Série C e
subiu para a Série B do Campeonato Brasileiro. Outros times das Série B e C e
equipes goianas o procuraram, mas preferiu o Vila Nova.
No
dia 30, o número de gols concorrentes foi reduzido para três e o goiano ficou
ao lado de Messi e do italiano Florenzi. A viagem para Zurique estava garantida
Em
dezembro começou a treinar entre os garotos do time Sub-20 do Vila, para chegar
em forma na pré-temporada
Hoje,
com 27 anos de idade, ele ganhou o “Prêmio Puskas”, alcançando 46,7% dos votos,
contra 33,3% do segundo lugar, Lionel Messi. Antes dele, apenas um brasileiro
levou o título, Neymar, em 2011.
Wendell
conta que soube que seu gol havia sido escolhido como concorrente ao “Prêmio
Puskas”, quando estava almoçando na casa da sua mãe. O telefone tocou e ele não
quis atender. Achou que era uma pegadinha. Só depois que entrou na Internet viu
que era verdade.
Depois
veio uma carta da Fifa com as explicações, de como seria, quando. E ainda um
telefonema da secretária da Fifa, informando as mesmas coisas.
O
autor do gol mais bonito de 2015, não usa de falsa modéstia e o considera muito
bonito, não só pela finalização, mas pela jogada em si, pela triangulação, o
passe perfeito e, num estilo brasileiro, teve o instinto e pode fazer aquele
voleio, aquela meia bicicleta.
E
hoje lá estava ele em Zurique, na Suíça, vivendo um sonho até então improvável,
virar estrela num universo de gente famosa, como Messi, Cristiano Ronaldo e
Neyma, com quem aproveitou para tirar fotos. Na véspera da solenidade ele
confessou que estava um pouco nervoso. Sua esposa passou muito mal na viagem,
vomitou e estava bastante ruim no quarto. Foi a primeira vez que ela viajou de
avião.
Na
solenidade Wendell apareceu bem vestido, usando um terno normal, preto, camisa
branca e gravata. Conta que muitas pessoas o ajudaram, tendo ganhado dois
ternos de uma loja de Goianésia.
O
jogador admitiu que não tinha o que vestir na festa, quando em uma entrevista
na TV Bandeirante, soube pelo apresentador Neto, que uma loja de Goianésia lhe
forneceria os ternos sob medida, em troca de propaganda. A esposa dele também
foi bonita, com um vestido vermelho longo, escolhido pelo próprio jogador.
Ela
queria ir de preto, mas Wendell achou que preto não é um tom tão adequado para
um momento como o de hoje. O vermelho é um tom vivo, que demonstra paixão e é
isso que ele sente pelo futebol e pela vida.
Wendell
conta como aconteceu o seu magistral gol. O lance contra o Atlético Goianiense
ocorreu na nona rodada da primeira fase do Campeonato Goiano, no dia 11 de
março. Tudo começou com Nonato, que evitou a saída de bola na linha de fundo.
Ele ainda tabelou com Da Matta, que tocou por cobertura para Wendell Lira.
Em
velocidade, o jogador estava ultrapassando a linha da bola, mas se virou com
uma meia-bicicleta e marcou um golaço. Wendell Lira admitiu que não conseguiu
ver na hora o que considera o gol mais bonito da sua carreira e reconhecido
internacionalmente como o mais bonito de 2015.
O
sonho de Wendell não é diferente da maioria dos jogadores brasileiros, um dia
poder jogar na Europa. Espera que a conquista de hoje possa lhe dar algo mais na
carreira que nunca chegou a decolar. Confessa que desde pequeno sempre pensou
na Europa.
Acha
que os campeonatos da Itália, Espanha e França são todos muito bons, mas ele é
fã do Campeonato Espanhol. Sempre acompanha os jogos do Barcelona e Real
Madrid. Gostaria de jogar na Espanha, que considera o local ideal para ele.
É
verdade que o seu salário melhorou com a nomeação para o “Prêmio Puskas”, mas
consegue ser inferior àquilo que Messi e CR7, por exemplo, ganham apenas em uma
hora por dia. No Goianésia ele ganhava de 3 mil a 4 mil por mês limpos.
Hoje
ganha um pouco acima, mas não é muito mais, segundo ele o suficiente para
sobreviver e dar uma vida melhor para a sua família. Também apareceram
propostas de lojas de roupas e marcas de Goiânia para trabalhar com ele, que
estuda qual a melhor.
Já
Messi e CR7 ganham cerca de €18 milhões limpos por ano (R$ 78,6 milhões), o que
dá R$ 6,5 milhões por mês e cerca de R$ 220 mil por dia. Em cada hora das 24
que tem um dia, os maiores astros do Real Madrid e Barcelona recebem
aproximadamente R$ 9 mil reais, o dobro do que ganha Wendell Lira no mês.
Wendell
diz ser fã de Cristiano Ronaldo, que considera o jogador mais completo do mundo
e de Marcelo, lateral-esquerdo, ambos do Real Madrid.
Para
provar que o seu gol não foi mero acaso, Wendell o repetiu quando de uma
entrevista exclusiva para o “Esporte Espetacular”. Ele tentou, e conseguiu
repetir a façanha da meia-bicicleta que lhe colocou entre os três finalistas do
“Prêmio Puskas” e a consequente conquista.
O
autor do gol mais bonito do mundo na temporada atribui à "infância
sapeca" a capacidade de improviso no lance do gol. Passou a infância em
Goiânia. Sempre jogou bola na rua, terrão, cansando de perder os tampões dos
dedos no asfalto, nas quinas de meio-fio. Mas garante que foi uma infância
bacana.
Um
período que descreve como feliz e de bastante apoio da mãe Maria Edileuza e dos
irmãos Paulo Roberto, mais velho, e Thalles Rodrigo, mais novo. Do pai, sabe
pouco. Caso esteja vivo, Wendell acredita que José Lira Filho esteja no Pará.
Ele nunca mais entrou em contato com a família.
O
voto que consagrou o gol de Wendell Lira foi popular, através das redes
sociais. Ele ganhou a adesão de vários blogs e também de emissoras de rádio e
TV que dispararam uma campanha pedindo para os brasileiros acessarem o site
oficial da Fifa e votarem nele. E deu
certo. O autor desta matéria também votou no seu gol.
Não
foi a primeira vez que Wendell viajou ao exterior. Ele já havia ido ao Japão e
também a Ilha de Malta. As despesas todas da viagem de agora a Suíça foram bancadas
pela Fifa. O jogador não teve custo nenhum.
Quando
o apresentador anunciou que ele era o vencedor do “Prêmio Puskas”, Wendelle
estava sentado ao lado da mulher, Ludymila Miranda. Ele usava um fone de
ouvido, com a tradução simultânea da cerimônia da “Bola de Ouro”.
Ao
ouvir seu nome, fechou os olhos, se levantou, beijou a companheira, abotoou o
paletó e seguiu para o placo. Cumprimentou o japonês Nakata, que lhe entregou o
troféu e enxugou uma lágrima antes de falar.
Wendell
preparou um discurso com uma passagem bíblica. Com o queixo tremendo, o jogador
goiano segurou as lágrimas e terminou o texto que preparou. Não soluçou ou
gaguejou. Até o fim do discurso, olhou a plateia com os olhos vermelhos,
denunciando a vontade de cair no choro no momento mais importante da carreira.
Leia,
na íntegra, o discurso de Wendell
"Queria,
primeiramente, agradecer a Deus por este momento único na minha vida. Poder
estar aqui conhecendo grandes jogadores que são meus ídolos, que eu conhecia só
de videogame e hoje estou aqui conhecendo pessoalmente.
Queria
agradecer muito à minha família, à nação brasileira que votou em mim, à minha
esposa e minha filha, que são tudo para mim. Minha filha Marcela está em casa
esta hora. Queria deixar uma passagem bíblica.
Quando
Golias apareceu, todo mundo olhava para ele e falava: 'ele é muito forte. Ele é
muito grande, não tem como ganhar dele'. E Davi, quando olhou para Golias,
disse: 'ele é muito grande, não tem como errar'. E assim temos de lidar com
nossos problemas diários na nossa vida. Assim, agradeço a todos. Muito
obrigado." (Pesquisa: Nilo Dias)
Wendell
marcou o gol mais bonito de 2015, no mundo. (Foto: Jornal "O
Popular", de Goiânia)