O
mais famoso plantão esportivo do rádio gaúcho, Antônio Augusto dos Santos, nos
deixou hoje, aos 77 anos de idade, depois de ter sofrido um Acidente Vascular
Cerebral (AVC) e morreu durante a madrugada em um hospital de Porto Alegre.
Antônio
Augusto está sendo velado na Capela B do Cemitério Evangélico de Porto Alegre e
o sepultamento ocorrerá amanhã, segunda-feira, às 10 horas, no mesmo local. O
extinto deixou a esposa e dois filhos, um deles o advogado especialista em
direito eleitoral, Antônio Augusto Mayer dos Santos.
Ele
nasceu em Marcelino Ramos, região Norte do Estado, onde começou a carreira de
radialista. Ao final da década de 1950 foi para Porto Alegre, onde queria ser
médico. Entrou no rádio da Capital, por acaso. O seu objetivo era fazer Medicina.
A
primeira experiência no microfone foi em novembro de 1960, na Rádio Difusora.
Em seguida ele participou de uma promoção da emissora, que era basicamente
gravar mensagens para os parentes no interior do Estado, em discos de papelão
de 78 rotações.
O
pessoal da rádio gostou da voz dele e não demorou para ser locutor da emissora.
Sua primeira tarefa foi a apresentação da "Parada Esportiva", além de
fazer o serviço de escuta.
Os
resultados coletados ou informações esportivas eram passadas pelo locutor do
horário. Posteriormente, Antônio Augusto passou a exercer também a função de
setorista.
A
Difusora, que pertencia a três freis da Ordem dos Frades dos Capuchinhos,
resolveu investir no futebol. Para isso contratou nomes consagrados do rádio
gaúcho, como os narradores Jesus Afonso e Antônio Carlos Rezende, este falecido
o ano passado. E lançou Antônio Augusto como plantão.
O
patrocínio das jornadas esportivas era da “Companhia de Cigarros Sabrati”. Foi
feita uma parceria com a rádio Tupancy, de Pelotas, na qual fui incluído como
comentarista em todos os jogos do Campeonato Gaúcho, que envolvessem times de
Pelotas.
Em
1964 Antônio Augusto trocou de prefixo, indo para a Farroupilha. Em 1971 mudou
de mala e cuia para a Guaíba, onde trabalhou por 20 anos, nas três vezes que
por lá esteve. Em 1983 foi contratado pela Gaúcha. Em 1985 voltou à Guaíba. Em
1986 participou da cobertura da Copa do Mundo no México, sendo o primeiro
plantão esportivo a ir a um Mundial, ao vivo..
Depois
do Mundial mudou mais uma vez de emissora, indo dessa feita para a Bandeirante,
que na verdade era a antiga Difusora, onde começou a trabalhar em Porto Alegre.
Verdadeiro cigano do rádio, em 1989 transferiu-se para a Rádio Pampa.
Em
1991, a terceira passagem pela Guaíba. Depois foi para a TV Bandeirante, a
convite de Rogério Amaral. Em 1999 foi
para a TV e Rádio Pampa, retornando as transmissões esportivas. Permaneceu por
lá até o ano passado.
Em
2001 havia se despedido da atividade de plantonista, quando trabalhou ao lado
de Roberto Brauner e Rogério Amaral. Seu último plantão foi no jogo Corinthians
1 X 3 Grêmio, pela Copa do Brasil. Mas ficou guardada para sempre a sua marca
registrada: “Tem gol”. “Onde, Antônio Augusto?”
A
título de enriquecimento da matéria, conto que trabalhei com Roberto Brauner na
Rádio Pelotense. Eu era o chefe da equipe esportiva que tinha além dele, Luiz
Carlos Martines, Romeu Machado dos Santos e Renato Carvalho.
Depois
de deixar o plantão, Antônio Augusto apresentou o programa “Plantão das
Multidões”, como era conhecido, que ia ao ar das 10 a meia-noite. Em 2007 a
Pampa fechou seu Departamento de Esportes e “Totonho”, seu apelido, se declarou
torcedor do Grêmio.
Em
2008, em parceria com o clube tricolor, abriu espaço do seu programa na
emissora para levar ao ar, de forma pioneira, o som da “Grêmio Rádio”, nas
ondas da FM e da AM.
Antônio
Augusto não foi o primeiro plantão esportivo do país, como chegou a ser
publicado pela imprensa gaúcha. O pioneirismo cabe a Narciso Vernazzi, na Rádio
Panamericana, de São Paulo, em 1948, quando em meio às transmissões esportivas
anunciava o escore dos jogos do Campeonato Paulista. Ele ficava o dia inteiro
na rádio, informando a previsão do tempo e o esporte.
No
Rio Grande do Sul a Rádio "Pelotense" começou a transmitir
informações esportivas em 1926. Não se tem, infelizmente, documento algum que
mostre como essas transmissões eram feitas.
De
concreto, apenas informações do antigo comerciante de Rio Grande, Ernani Ramos
Lages, que morreu em 2001, aos 92 anos, em Rio Grande.
Ele
mesmo era quem transmitia as informações pelo telefone. Futebol não se
irradiava como hoje, eram apenas poucas notícias passadas aos ouvintes no
decorrer da partida e o resultado final. Anos depois a emissora contava com o
plantão Romeu Machado dos Santos, se não o mais antigo do rádio sulino, com
certeza um dos mais.
Quando
eu fui chefe da equipe de Esportes da Rádio Tupancy, de Pelotas, fiz um
concurso para escolha do plantão esportivo. O vencedor foi Dinei Avelar, isso
ao início dos anos 60. Depois ele se notabilizou como o melhor profissional da
área na cidade.
E
nos plantões esportivos de Rio Grande cabe um destaque especial para Denis Olinto,
que depois brilhou em rádios de Porto Alegre. Inteligente, esforçado,
competente foi outro destaque na função, que tive a honra de colocar no rádio.
Na
pré-história das transmissões esportivas só existia a figura do narrador. Mais
tarde, começam a surgir os primeiros comentaristas. A figura de repórter era
executada pelo próprio comentarista, que ia até os vestiários para pegar as
escalações das equipes.
Em
19 de novembro de 1931 ocorreu a primeira transmissão de uma partida de futebol
realizado no Rio Grande do Sul. A
emissora que transmitiu foi a Rádio Sociedade Gaúcha, utilizando o prefixo
PRAG, com locução de Ernani Ruschel.
O
jogo foi no Estádio da Baixada, localizado no bairro Moinhos de Vento, com a
vitória do Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense por 3 X 1, frente à Seleção do
Paraná.
Matéria
publicada no jornal “O Estado de São Paulo”, explica que quando as partidas
começaram a ser transmitidas dos estádios, as informações de gols de jogos
disputados no interior e nos Estados, eram passadas aos ouvintes pelo próprio
narrador durante a jornada esportiva.
A
forma de captação era bastante curiosa, o operador de som ouvia os jogos em seu
rádio de ondas curtas e, à medida que surgiam os gols, avisava o narrador, que
em seguida os anunciava.
A
quantidade de material coletada nesse período, se comparada àquela conseguida
nos dias de hoje, é infinitamente menor. No máximo chegavam até os ouvintes
informações dos principais clubes de cada Estado, ainda sem a figura fixa do
plantão.
Muitas
vezes as informações chegavam até a emissora via telegrama. Naquela época, nem
se sonhava com as tecnologias como o fax e a Internet.
Outro
recurso para se ter acesso as informações dos resultados dos jogos era
telefonar para o estádio ou clube, o que nem sempre resolvia, em razão da precariedade
da telefonia naqueles distantes tempos.
Como
a experiência da Rádio Panamericana de acompanhar outros jogos da rodada deu
certo, outras emissoras passaram a copiar, como se tivessem feito todo o
trabalho de coleta dos dados. A Panamericana era conhecida como a "Emissora
dos Esportes".
Tupi,
Bandeirantes e a Excelsior, copiavam os resultados. A comprovação de que o
trabalho do plantão era copiado está no fato de que certa vez, o plantão da
Panamericana passou um resultado errado, provocando o erro em cadeia.
Todas
as emissoras deram o mesmo resultado. Logo após, a Panamericana corrigiu a
informação e obrigou as concorrentes a fazerem o mesmo, evidenciando uma cópia
pura e simples dos dados.
Antônio
Augusto teve o mérito de estruturar a função de plantão esportivo, aprimorando
o trabalho de escuta que já existia na emissora.
Qualquer
locutor que estivesse presente na Rádio Difusora naqueles anos 60, mencionava durante
a programação os resultados dos jogos de futebol. Não havia uma figura instituída
do plantão, como acontecia com o narrador, por exemplo.
Redatores
faziam a escuta de estações de fora de Porto Alegre e repassavam os dados para
um locutor de estúdio, o mesmo que lia os textos dos patrocinadores. Ele
divulgava os resultados no intervalo entre o primeiro e o segundo tempo.
Tinham
preferência os jogos disputados no centro país, Rio de Janeiro e São Paulo ou
da região do rio da Prata, Buenos Aires e Montevidéu. Os resultados dos jogos
no interior do Estado demoravam a ser divulgados, porque as linhas telefônicas,
na época, eram precárias e escassas.
O
mérito maior de Antônio Augusto foi montar bancos de dados, com os mais
diversos detalhes sobre o desempenho de clubes e jogadores, dando a função de
plantão esportivo um valor jornalístico, complementando a narração dos jogos.
Depois,
nos anos 70, com a popularidade da Loteria Esportiva, o retrospecto dos times
de futebol ganhou destaque, chamando a atenção dos apostadores que procuravam
elementos para definirem suas apostas. Naquela época Antônio Augusto já possuía
os arquivos mais completos da Região Sul do país.
Outra
inovação idealizada por Antônio Augusto foi de enriquecer o momento do gol, com
informações estatísticas sobre o artilheiro e a situação dos times. Exemplo. Num
gol de Baltazar, para o Grêmio, contra o São Paulo, ele complementou: “É o
décimo gol de Baltazar em 21 jogos. Gol 32 do Grêmio, que, agora, precisa o São
Paulo fazer dois”.
Ele
dispunha de todas as fichas de jogos da dupla Gre-Nal. Todo o material
arrecadado foi coletado através de pesquisa no acervo dos jornais “Correio do
Povo” e “Folha da Tarde” e nos museus dos dois clubes.
Antônio
Augusto muitas vezes valeu-se dos quartéis da Brigada Militar ou postos da Rede
Ferroviária, para conseguir os resultados esportivos. Em Rio Grande, por
exemplo, era grande a dificuldade para se saber qualquer coisa sobre os jogos lá
disputados.
Como
havia a parceria da Difusora com a Tupancy, de Pelotas, muitas vezes o plantão
era feito diretamente do estádio. Como as duas cidades são próximas, bastava
ouvir uma emissora de Rio Grande para ter a informação “quentinha”.
A
equipe de esportes se dirigia até Pelotas para transmitir uma partida e Antônio
Augusto ficava no gramado, ao lado do repórter, para escutar uma rádio de Rio
Grande que estivesse transmitindo outro jogo do Campeonato Gaúcho.
Esse
trabalho era muito utilizado para partidas de futebol no interior do Rio Grande
do Sul. Portanto, antes de ser plantão esportivo de estúdio, Antônio Augusto
foi planto esportivo no estádio.
Antônio
Augusto passou a ser plantão de estúdio, após uma situação curiosa. A equipe da
Difusora viajava para uma cidade do interior do Estado, em uma camioneta dirigida
por um dos padres donos da emissora, que não era muito bom no volante e provocou
um acidente.
A
partir daí, Antônio Augusto desistiu de viajar com a equipe, para evitar correr
riscos desnecessários. Assim, ficava no estúdio fazendo o trabalho de retaguarda,
abrindo caminho para a existência dos plantões esportivos nos moldes hoje
conhecidos. Nesse aspecto ele foi realmente o pioneiro.
Além
de Antônio Augusto, outros plantões se destacaram em rádios de todo o país. No
Rio Grande do Sul os mais conhecidos foram Érico Sauer, Jorge Estrada, Ítalo
Gall, Sérgio Lima e Raul Moreau.
No
Paraná, Oldemar Kramer completou 50 anos de atividade como Plantão Esportivo,
em 2008. Há quem afirme que na verdade ele era o Plantão Esportivo mais antigo
da história do rádio brasileiro, depois de Narciso Vernizzi, na Rádio
Panamericana. Começou a carreira em 1 de novembro de 1958, na Rádio Marumby, de
Curitiba, ao lado de Willy Gonser, Cury Saliba e Reinoldo Cunha.
E
não se pode esquecer de nomes importantes como Milton Neves, (Jovem Pan); Alexandre
Santos e Paulo Edson (Bandeirantes); Silvio Filho (Nacional/Globo); Rui de
Moura e Toni José (Gazeta); Manoel Ramos, José Ribeiro e José Roberto Ramos
(Tupi); Domingos Machado (Globo-SP) e certamente muitos outros, cuja memória
desgastada deste velho de 74 anos, não permite lembrar. (Pesquisa: Nilo Dias)
Antônio
Augusto, revolucionou a função de plantão esportivo. (Foto: Divulgação)