Guaracy
Augusto Picado, ou simplesmente, “Picado”, foi uma das figuras mais
identificadas com a cidade de Natal a partir dos anos 50. Ainda muito jovem foi
aprovado num concurso para carteiro, tendo depois passado por outros setores da
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EB).
Também
trabalhou na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), foi músico,
compositor, cantor dos trios musicais “Os Goiamuns”, “Marayá” e “Irakitan”. Morou
10 anos no Rio de Janeiro, onde se apresentou em vários programas de auditório
de grandes audiências nas televisões paulista e carioca.
Os
mais famosos foram o de “Raul Gil”, na Band TV e o “Som Brasil”, aos domingos
pela manhã na TV Globo, comandado por Lima Duarte, além de "Almoço com as
Estrelas" na Tupy de São Paulo.
E
também programas de rádio, shows no interior do Rio de Janeiro, com cachês
baixos. Porém eram gratificantes, serviam para projetar a ele e ao seu
parceiro, Roberto Ney. Ainda sobrava tempo para bater uma bolinha, tendo
chegado a jogar numa equipe da 2ª divisão do estado do Rio, o Classista F.C.
Participou
também de movimentos teatrais, culminando com a presença no filme "For
all, O Trampolim da Vitória”, narrando a presença de marujos e soldados
norte-americanos em Natal durante a Segunda Guerra Mundial, no começo dos anos
40 até 1945, com a capitulação dos países do “Eixo”.
A
carreira de futebolista ele começou nas categorias de base do América, de
Natal, junto de antigos colegas que hoje ocupam cargos públicos ou são
profissionais liberais em várias áreas. Ainda quase juvenil assinou com o Santa
Cruz F.C., como não amador, categoria que hoje não existe mais.
O
Santa Cruz, de Natal, tinha as cores vermelho, preto e branco. Foi fundado em
1934. Atualmente, encontra-se extinto, porém seu patrimônio continua intacto. O
Santa Cruz foi Campeão Potiguar em 1943 e disputou os Estaduais do Rio Grande
do Norte ate os anos 60.
No
tricolor, formou com velhos companheiros hoje já vovôs, como Etinha, Varela,
Wilton Gomes, entre outros. Mas foi no ABC que passou a atuar num grande clube,
na ala direita.
Ele
cita um dos bons times do ABC em que jogou: Ribamar (Edson) - Guaracy – Toré -
Cadinha e Ney Andrade - Edmilson "Piromba" (Cileno) - Cadinha e
Jorginho – Mota - Gilvan e Paulo Isidro. Tinha ainda Gileno Vilar, Osir de
Góis, Dé, Marcos "Jacaré", entre outros.
Graças
a facilidade que tinha em fazer amizades, “Picado” pode aumentar seus
conhecimentos e se preparar para outra carreira dentro do próprio futebol, como
árbitro. Antes disso ainda jogou no Alecrim F.C., onde foi jogador e treinador.
Mas
foi uma passagem um tanto rápida, já que os jogadores eram obrigados pelos
dirigentes a usarem energizantes do tipo Gluco-energam, misturados com
Fostimol, para melhorar o estado físico.
O
resultado não poderia ser pior, pois os jogadores passavam madrugadas mal dormidas,
virando e revirando na cama, sem sono, olhos arregalados e boca seca. Ninguém
conseguia conciliar o sono, conta o próprio Guaracy.
“Picado”
jogou futebol por pouco mais de cinco anos. Era uma época em que os clubes de
Natal eram bastante pobres, com rendas fracas nos jogos, sem estrutura, sem
estádios, desprovidos de quase tudo. Ainda assim diz ter gostado de jogar por
lá, pois teve a oportunidade de viajar bastante, fazer amigos e poder tornar-se
árbitro de futebol.
Fez
o curso, estudou muito, ganhou um lugar entre os árbitros da CBF, apitando em
quase todo o Brasil, pelo menos de Salvador até o Norte. Talvez por não ser
fácil figurar no fechado círculo da categoria Fifa, deixou de faturar uma boa
nota. Assim mesmo, não tem queixa alguma.
A
cena mais curiosa acontecida em sua carreira de 15 anos de arbitragem ocorreu
num jogo entre equipes do Rio Grande do Norte. O local foi o estádio Professor
Manuel Leonardo Nogueira, o “Nogueirão”, em Mossoró.
De
repente, os atletas se jogaram no gramado, todos deitados, alguns até com o
rosto colado na grama. Era um bando das temíveis abelhas africanas, que surgiu
quase do nada, com um zumbido assustador. Alguns minutos depois elas foram
embora e o jogo pode ser reiniciado.
O
que pouca gente sabe é que o Hino do ABC, de Natal, é de autoria de “Guaracy
Picado” e Roberto Ney, que está no CD “Meu ABC”, que vendeu muito, estando como
um dois mais cantados pelos abecedistas.
Algumas
gravações que formam na coleção da dupla estão: "Guaracy canta Renato
Caldas e outros poetas"; "Passar fogo", em homenagem a Augusto
Severo; "O salário achatou"; "As mais belas canções da América
Latina"; "Chico de Assis e Guaracy"; "A história da
Vaquejada do Nordeste"; "Para ouvir amando", números um e dois,
sucessos absolutos, com grande vendagem. Guaracy tem ainda composições gravadas
pelo potiguar "Trio Irakitan". (Pesquisa: Nilo Dias)