Morreu
na manhã do último sábado 7, o ex-jogador de futebol José Roberto Marques, o
“Zé Roberto”, que brilhou em vários clubes do futebol brasileiro. Ele estava
internado há uma semana no hospital Amparo, da cidade de Serra Negra, no
interior paulista onde residia, tendo sido vítima de uma apendicite supurada.
Após uma piora em seu estado de saúde, ele passou por uma cirurgia e acabou não
resistindo.
A
supuração acontece quando o apêndice não é retirado a tempo e acaba se
rompendo, ocasionando o derrame de fluidos inflamatórios com bactérias na
cavidade do abdômen, podendo provocar peritonite e insuficiência de múltiplos
órgãos.
Nos
últimos 15 anos, estava muito debilitado pela vida desregrada. Vivia
modestamente por conta de uma aposentadoria da Prefeitura de Serra Negra, onde
residia.
Em
2013 foi internado em uma clínica da cidade, por conta de um grave Acidente
Vascular Cerebral (AVC), que deixou seu braço esquerdo parcialmente paralisado.
Recuperado, chegou a comparecer a um encontro de ex-atletas do Palmeiras ainda
naquele ano.
Zé
Roberto, que era considerado o melhor jogador de toda a história do futebol
paranaense, estava aposentado e iria
completar 71 anos no próximo dia 25. Ele deixou três filhos, Rose, Renata e
Roberto, dois netos e dois bisnetos.
Batizado
José Roberto Marques, e chamado pelos torcedores dos clubes onde jogou, de
"craque-encrenqueiro", nasceu no dia 31 de maio de 1945 em São Paulo.
Começou a carreira de futebolista jogando nas divisões de base do Botafogo, de
Ribeirão Preto.
Seu
Jerônimo, pai de Zé Roberto, tinha seu passado marcado pelo futebol. Foi também
jogador do Botafogo nos anos 40 e conhecia muito bem o mundo de ilusões que
cercam os gramados.
Um
dia descobriu uma perturbadora e preocupante coincidência. O filho, outro
sonhador com apenas 13 anos de idade, faltava na escola para jogar no infantil
do mesmo Botafogo Futebol Clube.
O
garoto, que vivia com os avós em Ribeirão Preto, dizia que ia para o grupo
escolar e no caminho deixava os livros de lado e tirava sua chuteirinha surrada
da sacola. Foi assim que seu Jerônimo decidiu enviar o filho para São Paulo.
Sob
os cuidados da mãe, voltaria sua cabeça para os estudos e com tarefas produtivas
que o ajudariam na construção de um futuro melhor. O primeiro emprego, como
datilógrafo, foi arrumado pela própria mãe, em um escritório da Rua São
Caetano.
Depois
dessa primeira ocupação, Zé Roberto também trabalhou como corretor no bolsa de
valores. Até o dia em que descobriu o time amador do São Paulo no bairro de
Santa Terezinha.
Novamente,
faltava nos compromissos para jogar futebol e coincidentemente, o time do
bairro de Santa Terezinha também apresentava cores iguais ao Botafogo, de
Ribeirão Preto.
Ai
não teve jeito. Do São Paulo de Santa Terezinha ele acabou no São Paulo do
Morumbi. Seu Jerônimo nem falava mais nada. Como ponta de lança, centroavante
ou mesmo ponta esquerda, Zé Roberto sabia fazer gols.
Alto,
o corpo esguio e um tanto desengonçado, o jovem talento não demorou muito tempo
para cair nas graças do saudoso Vicente Feola, que sempre arrumava um tempinho
para assistir aos garotos das divisões de base.
E
Zé Roberto foi crescendo dentro do Morumbi. O ano de 1964 apresentou os primeiros
frutos na carreira do atacante. Convocado para o selecionado nacional juvenil
que foi aos jogos olímpicos do Japão, Zé Roberto anotou os três gols da vitória
de 3 X 0 sobre os argentinos, em partida disputada ainda no período de
preparação da equipe.
Profissionalizou-se
pelo São Paulo, onde foi considerado “o craque do futuro” pelo técnico Vicente
Feola, e ganhou o apelido de “Gazela”, devido as pernas finas. Depois da
olimpíada, Zé Roberto atuou por empréstimo pelo Guarani e pela Francana no ano
de 1966.
A
fama de “jogador problema” não demorou para chegar. Zé Roberto amava
popularidade, não ligava para o dinheiro e gostava mesmo era da vida na boemia.
Mesmo
querido dentro do clube, o presidente Laudo Natel não pensou duas vezes em
liberar o atacante por empréstimo quando surgiu o interesse do Atlético
Paranaense. Para o São Paulo, Zé Roberto era um irrecuperável.
Além
de Zé Roberto, o presidente do Atlético, Jofre Cabral, investiu em veteranos
consagrados contratando Bellini e Djalma Santos.
Com
o uniforme do Furacão, o “Gazela”, apelido de Zé Roberto, logo se transformou
em ídolo. Durante essa primeira temporada no cenário paranaense, anotou 24
tentos e foi o artilheiro da competição.
Com
o término do empréstimo, o Atlético não dispunha da quantia exigida pelo São
Paulo. E assim, Zé Roberto voltou ao Morumbi. O Atlético tentou de tudo para
contratá-lo em definitivo. Não conseguiu.
Campeão
paulista de 1970, não demorou muito tempo para que ele voltasse ao futebol
paranaense. Dessa vez o destino foi o Coritiba Foot Ball Club.
Segundo
o Grupo Helênicos, no primeiro treino do meia no Coxa, o estádio ficou lotado
de torcedores ansiosos por sua estreia. No “Coxa”, Zé Roberto aprendeu muito
seguindo orientações do técnico Tim.
Em
1972 atingiu o auge de sua carreira ao conquistar o concorrido prêmio da “Bola
de Prata” da revista Placar. Nos anos seguintes, foi campeão do Torneio do Povo
em 1973 e tetracampeão paranaense (1971, 72, 73 e 74).
Defendendo
o Coritiba, jogou 146 partidas e marcou 72 gols, sendo o sétimo maior
artilheiro da história do clube. Filho de jogador, que jogou no Corinthians de
1942 a 1955, deixou sua marca como o maior artilheiro dos anos 70, com 73 gols
em partidas oficiais de competição. Sua última partida pelo Coritiba foi no dia
13 de julho de 1974, contra o Fortaleza, no estádio Belfort Duarte.
Em
1974, Zé Roberto foi negociado com o Corinthians e tudo parecia ser um
casamento perfeito, Em seu primeiro clássico contra o Palmeiras no estádio do
Pacaembu, o “Gazela” anotou os três gols da espetacular virada alvinegra por 3
X 1.
Zé
também foi o autor do gol da vitória contra o São Paulo, que deu ao Corinthians
o título de campeão do primeiro turno, o que valeu qualificação para disputar o
encontro final do campeonato paulista.
Depois
da sofrida derrota na finalíssima do certame para o Palmeiras, Zé Roberto
voltou ao seu tradicional “porto seguro”, o Coritiba, onde permaneceu até o ano
de 1977.
Jogou
ainda no CRB, de Alagoas, Guarani, de Campinas e Francana, de Franca (SP).
Voltou ao “Furacão” em 1977, quando tinha 32 anos, mas já não estava em boas condições
físicas e decidiu se aposentar. Daí em
diante só voltou aos gramados em times amadores.
Além
de ser um artilheiro sem igual dentro de campo, Zé Roberto carregava consigo
todo o folclore de ser um jogador boêmio e adorado por praticamente todos aqueles
foram seus companheiros de equipe. Ele definia muitos fatos como lenda, mas
admitia que tinha sim um gosto pela vida noturna.
Antes
de chegar ao “Timão”, a passagem dele pelo “Coxa” foi marcante, tendo empilhado
títulos: Torneio do Povo, em 1973; tetracampeão paranaense em 1971, 1972, 1973
e 1974. (Pesquisa: Nilo Dias)