Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Um “xavante” na Seleção

Ismael Alvariza, nascido em Pelotas no dia 16 de abril de 1897 foi o primeiro jogador de um clube gaúcho a ser convocado para a Seleção Brasileira. Ele disputou o Campeonato Sul-americano de 1920, no Chile, fez gol na estréia e se tornou goleador da competição.

Alvariza jogava na ponta esquerda e tinha na velocidade sua principal arma. Surgiu no G.E. Brasil de Pelotas, em 1914 e ajudou o clube a vencer o primeiro campeonato estadual, disputado em 1919, vencendo no jogo final ao Grêmio em Porto Alegre pelo escore de 5 X 1, gols de Proença (3), Alvariza e Ignácio para o Brasil, e Máximo, para o Grêmio. O Brasil foi campeão com Frank - Nunes e Ari Xavier - Floriano - Pedro e Babá - Farias - Ignácio - Proença - Alberto e Alvariza.

O título valeu um convite da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), para o rubro-negro pelotense participar no ano seguinte, no Rio de Janeiro, da “Copa dos Campeões” contra o Fluminense, campeão carioca e Paulistano, campeão paulista. O Paulistano foi o vencedor do primeiro torneio interestadual disputado no Brasil. Foi a primeira experiência realizada pela CBD de uma competição nacional de clubes. No entanto, a “Copa dos Campeões” não teve sequência nos anos seguintes.

O Brasil perdeu os dois jogos que disputou: 7 X 3 para o Paulistano e 6 X 2 para o Fluminense. Ainda assim um de seus jogadores teve destacadas atuações, Alvariza, que encantou a todos com sua habilidade, cruzamentos perfeitos e um incrível faro de gol. Isso lhe valeu a convocação para a Seleção Brasileira que disputou o Campeonato Sul-Americano do Chile, em 1920.

Após o torneio, o Brasil disputou mais três amistosos. No Rio de Janeiro, a equipe gaúcha venceu o São Cristóvão, por 5 a 1, no dia 8 de abril. Em São Paulo, o Brasil realizou dois amistosos. O primeiro foi contra o Palestra Itália, atual Palmeiras, no dia 13 de abril. O Brasil perdeu por 2 a 1. Os gols do Palestra foram marcados por Caetano e Heitor Domingues, titular da Seleção Brasileira no Sul-Americano do ano anterior. No último jogo, no dia 15 de abril, o Brasil empatou em 4 X 4 com o Corinthians Paulista.

Alvariza tornou-se o primeiro jogador de um time gaúcho a ser convocado para a Seleção Brasileira e a marcar gol, o da vitória de 1 X 0 sobre o Chile, em Viña del Mar, dia 11 de setembro de 1920. Também foram convocados o atacante Cipriano Nunes da Silveira, o "Castelhano", de Santana do Livramento, e dois ex-jogadores do Grêmio: Kuntz e Sisson, que atuavam no Flamengo. "Castelhano" jogou de 1907 a 1929 no E.C. 14 de Julho da sua cidade, mas em 1920, quando convocado, estava no Santos.

No Sul-Americano do ano seguinte, estava o atacante Aníbal Torres Candiota, gaúcho de Bagé, que havia sido campeão de Porto Alegre pelo Cruzeiro em 1918, mas atuava no Flamengo-RJ.

A Seleção Brasileira jogou contra o Chile com Kuntz - De Maria - Martins – Rodrigo – Sisson - Fortes - Zezé I – Constantino – Castelhano – Junqueira e Alvariza. O craque gaúcho ainda jogou mais duas vezes pela Seleção, contra Uruguai e Argentina, totalizando 3 jogos, duas derrotas, apenas uma vitória e um gol marcado.

O jogo Brasil X Argentina foi histórico, pois as duas seleções entraram em campo com apenas oito jogadores, devido a um protesto contra um jornal argentino que publicou charges da Seleção Brasileira como macacos. Em razão disso alguns jogadores se recusaram a jogar. No retorno a Pelotas, Alvariza foi recebido como verdadeiro herói.

Ainda em 1920, Alvariza se transferiu para o Guarany F.C. de Bagé, onde jogou até o final de 1921. Em 1922 foi contratado pelo Clube Sírio de São Paulo, onde jogou até 1929, encerrando a carreira. Alvariza ficou residindo em são Paulo, onde faleceu anos depois. (Pesquisa: Nilo Dias)

Ismael Alvariza. Foto: Site da CBF)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Uma visita ao Sul

Estou de volta a Brasília depois de 21 dias no Rio Grande do Sul, “gozando de merecidas férias”. Se é que aposentado tem direito a férias, pois teoricamente não faz nada. No meu caso trato de não ficar totalmente parado: dou atenção a três blogs, jogo sinuca e derrubo algumas cervejas geladíssimas durante a semana. E as vezes faço alguma caminhada, para desenferrujar as pernas.

O passeio foi realmente muito bom, pois “matei” a saudade dos pagos e vi muita gente que não via há muitos anos. Comecei a trajetória por Porto Alegre, no dia 31 de março. Era noite de jogo do Internacional pela Taça Libertadores da América, contra o Cerro do Uruguai. Não fui ao estádio, vi o jogo pela televisão. Valeu pela vitória. Antes do futebol, estive com o meu amigo gremista (ninguém é perfeito), José Lucca no bar do Paulo, na rua Vigário José Inácio, onde encontramos dois gabrielenses e um ex-jogador do antigo Cruzeiro de São Gabriel. Mas isso é assunto para a coluna que escrevo em um jornal gabrielense.

O José Lucca é um amigo de muitos anos. Ele me acompanhou como diretor de futebol nos oito anos em que presidi a S.E.R. São Gabriel, que não sei por que mudou o nome para São Gabriel F.C.. Talvez para que fossem esquecidos os verdadeiros heróis que fundaram o clube e levantaram em tempo recorde um novo estádio para a cidade.

Pena que o futebol profissional tenha acabado. Hoje, o São Gabriel ficou na saudade. No meu tempo, e dos outros que me antecederam, o clube tinha vida longa. Terminava o ano e era certo que voltava no outro, e sem dever nada para ninguém.

Em São Gabriel ocupei a maior parte do tempo para concluir a pesquisa que faço, de longa data, sobre o futebol da terra, folheando velhos jornais guardados com carinho pelo amigo Rui Barros, o guardião da memória da cidade. Acho que o esforço de tanto tempo vai valer a pena, pois penso em colocar todo o extenso material colhido, em um livro sobre o centenário futebol gabrielense.

Em São Gabriel não deu para fazer muitas visitas, apenas aquelas já tradicionais que não tem jeito de escapar. E é claro que nos momentos de folga espantei o calor com algumas gostosas loiras geladas em vários bares da cidade. E na casa do amigo Clóvis Moure, o popular “Sete Vacas” saboreei uma feijoada maravilhosa, como há muito não comia. Tivesse ficado mais alguns dias em São Gabriel, certamente teria voltado uns cinco quilos mais gordo.

Em Pelotas fui hóspede da minha querida irmã Helena Badia, importante figura da cultura pelotense. Ela é artista plástica e participa de vários movimentos culturais na cidade. O meu cunhado João Carlos é professor da antiga Escola Técnica Federal de Pelotas. Foi na casa deles que assisti a vitória de virada do Internacional sobre o Pelotas. Era eu o colorado único na casa. Minha irmã ficou neutra, meu cunhado, além de torcer pelo Pelotas é anti dupla Grenal. E meu sobrinho Flávio é Pelotas e gremista. Mas confesso que se o Pelotas tivesse vencido, eu também teria festejado, em homenagem aos amigos áureo-cerúleos que tenho.

Depois, estabeleci o Café Aquário como o meu Quartel-General na cidade. É lá que se encontra todos e se sabe de tudo. Acho que fazia mais de 30 anos que eu não entrava no Aquário. Confesso que no primeiro momento me senti um peixe fora d’água. Não conhecia mais ninguém. E se havia algum conhecido, os anos se encarregaram de fazer uma maquiagem que os tornava irreconhecíveis. Com certeza o mesmo valeu em relação a minha pessoa. Quando morei em Pelotas não pesava nem 60 quilos, hoje estou com 103.

Ainda assim, graças ao amigo Luiz Carlos Knopp, áureo-cerúleo dos bons, com quem fiz amizade pela Internet, foi possível reencontrar alguns velhos conhecidos. Entre eles, Amir Cury, excelente repórter dos tempos de ouro da Rádio Pelotense, que fazia parte da equipe do grande Paulo Corrêa, recentemente falecido. Juro que poderia passar mil vezes por ele nas ruas, que não o reconheceria, mesmo estando "inteiraço" em seus 77 anos de idade.

E o que dizer do Luiz Carlos Martinez, meu companheiro de equipe esportiva na Rádio Pelotense, depois que Paulo Corrêa foi para Rio Grande? Com seus 84 anos bem vividos, Martinez freqüenta o Aquário diariamente entre 15 e 16 horas. Tirei uma foto com ele para guardar de recordação. Além de um excelente narrador esportivo foi um goleiro que marcou época no futebol de salão, defendendo o E.C. Pelotas.

Também encontrei o Celso Guimarães, um dos melhores atacantes que o futebol pelotense já produziu. O narrador Gley Santana, que eu levei para Rio Grande no início dos anos 80. Emilinho Nunes, que foi um dos bons goleiros do futebol de salão de Pelotas. Francisco Brandi, que trabalhou nas categorias de base da dupla Brapel e no salonismo do Paulista F.C. e o doutor Cheda, xavante de quatro costados, entre muitos outros.

Almocei com o amigo Luiz Carlos Knopp na Churrascaria Lobão, do E.C. Pelotas, hoje muito diferente daquele ambiente que conheci nos tempos do saudoso Vilmar Schild. Atendimento de primeira. E como o mundo é realmente pequeno, um dos garçons é filho de um velho amigo, o Flávio Fonseca, o popular “Cenourinha”, que me acompanhou como treinador nos plantéis salonistas do G.E. Brasil e G.A. Farroupilha, que tive a honra de dirigir.

Com o Knopp mantive um papo agradável. Ele é uma pessoa sensacional, profundo conhecedor do futebol. Não só do seu E.C. Pelotas, mas do futebol como um todo. Não estava triste com a derrota do seu clube para o Internacional. Tem plena consciência do poderio do clube da capital. E aplaude a campanha áureo-cerúlea, digna e vitoriosa sob todos os aspectos. O desempenho do Pelotas este ano, fez com que os "xavantes passasem muitas noites mal dormidas. E isso é bom, faz renascer o futebol da cidade, e valoriza o interior. Hoje, o campeonato gaúcho só perde para o Paulista. Passou os cariocas para trás, há muito tempo.

Encerrando minhas andanças por Pelotas visitei meus quatro filhos que moram lá. E fui na redação do jornal “Diário Popular”, uma verdadeira escola de jornalismo, onde trabalhei muitos anos como editor de esportes e repórter especial. Do meu tempo, apenas o Chico da oficina e o repórter Airton ainda permanecem por lá. O restante é a jovem guarda do jornalismo, entre eles o editor de esportes Sérgio Cabral, que me brindou com uma nota acompanhada de foto na edição do dia 20. (Texto: Nilo Dias)



Foto Carlos Queiróz. Nota publicada no jornal "Diário Popular", de Pelotas-RS, edição de 20 de abril de 2010. "O " velho" amigo Nilo Dias, ex-editor de esportes do Diário Popular, nos anos 70, esteve em Pelotas ontem à tarde e veio à Redação, nos visitar. Falou um bom tempo com o nosso "guerrilheiro da notícia" Airton Santos. Nilo está em Brasília há 11 anos, aposentado, curtindo a vida. Este fez história no rádio, nos bastidores do futsal, no futebol e foi presidente do São Gabriel por oito anos. Na conversa de bastidores ontem, foi recebido pelo nosso coordenador e parceiro Pablo Rodrigues (Sérgio Cabral)"