Valdir
Joaquim de Morais estava com a saúde debilitada desde 2016, após ter sofrido um
Acidente Vascular Cerebral (AVC). Em 2017, ele fraturou o fêmur e passou a
ficar de cama. Seu quadro de saúde piorou nos últimos meses e passou a ser
crítico nas semanas finais de vida.
Ele
nasceu em Porto Alegre no dia 23 de novembro de 1931. Em sua carreira só
defendeu três clubes: Renner, onde tudo começou, de 1954 a 1957. Palmeiras, de
1958 a 1968 e Cruzeiro, de Porto Alegre, onde encerrou a carreira de jogador,
em 1969.
Vestiu
a camisa do Verdão entre 1958 e 1968 em 482 jogos, segundo o “Almanaque do
Palmeiras”, com 290 vitórias, 97 empates e 95 derrotas.
Ainda
no Palmeiras, Valdir foi treinador interino por algumas vezes entre 1973 e
1980, consultor-técnico (à convite de Vanderlei Luxemburgo, atual treinador) de
1993 a 1997, período no qual enfileirou títulos.
Depois
de se aposentar, Valdir Joaquim de Morais criou a profissão de preparador de
goleiros em 1969, à época inexistente no Brasil. Nessa função, se tornou um dos
melhores do mundo, com participação na comissão técnica da Seleção Brasileira
na Copa de 1982, comandada por Telê Santana.
No
São Paulo, acompanhou o “Mestre Telê” na conquista do bicampeonato da
Libertadores e do Mundial. Foi o responsável pela recuperação do goleiro Zetti,
tetracampeão com a “Seleção Brasileira”, e preparou Rogério Ceni no início da
carreira.
Em
2007, esteve no São Bento, de Sorocaba ao lado de Rincón, mas não conseguiu
evitar a queda da equipe para a “Segunda Divisão”. Em 2008, retornou ao
Palmeiras na função de coordenador-técnico do time profissional, comandado por
Vanderlei Luxemburgo.
No
dia 13 de agosto de 2008, Valdir comemorou 50 anos de sua chegada ao Palmeiras.
Disse o gaúcho sobre este momento especial. "Eu havia atuado por mais de
10 anos no Renner e recebi a visita do Osvaldo Brandão [ex-treinador do
Palmeiras] no início de agosto de 1958.
Ele
foi até lá para buscar eu e o Chinesinho, atacante, cuja indicação havia sido
feita pelo Ênio Andrade. Lembro que, quando cheguei em São Paulo, demorei
alguns dias para acertar. Foi uma novela. Mas felizmente deu tudo certo e em 13
de agosto de 1958 assinei meu contrato com o Palmeiras".
A
Sociedade Esportiva Palmeiras divulgou nota oficial: “É com muito pesar que a
Sociedade Esportiva Palmeiras informa o falecimento de Valdir Joaquim de Morais
e manifesta condolências aos amigos e familiares do eterno goleiro do Verdão .
Obrigado por tudo, ídolo!”.
A
Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) também se manifestou sobre a
morte de Valdir. “O futebol está em luto com a morte de Valdir Joaquim de
Moraes, aos 88 anos. Lenda do Palmeiras, ele foi o primeiro goleiro brasileiro
a disputar uma final de Libertadores, em 1961”.
Outras
manifestações. Paraná Clube: “Lamentamos a morte de Valdir Joaquim de Morais.
Ele integrou a primeira comissão técnica do nosso “Tricolor da Vila”, liderada
por Rubens Minelli. Aos familiares e amigos, fica aqui nossos sentimentos”.
S.C.
Corinthians Paulista: “Uma pausa na Copinha para uma notícia triste. O clube
informa com pesar o falecimento de Valdir Joaquim Moraes, bicampeão brasileiro
(98/99) e campeão mundial (2000) como supervisor técnico do Timão. O
Corinthians se solidariza aos familiares e amigos”.
Seu
verdadeiro nome é Valdir Joaquim de Morais, com "i" (é assim que ele
assina), mas ficou conhecido como "Moraes" por engano. Foi um dos
melhores goleiros de sua época, apesar da baixa estatura, 1m70.
Um
dos maiores ídolos do time que se imortalizou naquela equipe conhecida como a
“Primeira Academia de Futebol do Palmeiras”, a segunda seria a dos anos 1970.
Valdir apesar de ser baixo para a sua posição compensava com impulsão,
presença, coragem, boa saída de gol, reflexo apurado e bom posicionamento, o
que o tornou um dos mais completos camisas 1 da história do futebol brasileiro.
Foi
importante em diversas conquistas pelo clube. Foi um dos grandes destaques da
“Seleção Brasileira” diante da “Seleção Uruguaia” na disputa da “Taça
Independência”, em 1965, na inauguração do “Estádio do Mineirão” em Belo
Horizonte. O time completo do Palmeiras
representou a “Seleção Brasileira” e venceu a celeste olímpica por 3 X 0.
Títulos
conquistados. Renner: Campeonato Gaúcho (1954); Palmeiras: Campeonato
Brasileiro (1960, 1967, Robertão e 1967, Taça Brasil); Torneio Rio-São Paulo
(1965); Campeonato Paulista (1959, 1963 e 1966) e Seleção Brasileira:
Campeonato Pan-Americano (1956).
Vale a pena reproduzir aqui, um artigo de José Trajano, publicado em seu blog (http://www.ultrajano.com.br), uma bela homenagem ao grande goleiro que nos deixou.
Vale a pena reproduzir aqui, um artigo de José Trajano, publicado em seu blog (http://www.ultrajano.com.br), uma bela homenagem ao grande goleiro que nos deixou.
“Seu
Valdir não entendia que ele fez parte da infância de muitos de nós, que
queríamos ser goleiros como ele. Ele que enfrentava Pelé, de quem foi a maior
vítima (foi o goleiro que mais sofreu gols do Rei, porque também deve ter sido
o que mais o enfrentou)”
Todo
mundo queria ser Valdir Joaquim de Moraes.
“Ele
tem colocação”, sentenciava meu pai, o velho Jamil, amante de futebol e
observador dos segredos dos goleiros. “O Valdir está sempre atento e se você
quiser ser goleiro tem que olhar para ele e para a bola, é claro!”
E
como eu olhava para o camisa número 1 do Palmeiras nos jogos do velho Parque
Antárctica e depois nas partidas do Jardim Suspenso!!!
Valdir
jogou 10 anos, honrando o clube como poucos.
Veio
o uruguaio Maidana, morava no Edifício Falstaff, na esquina da Rua Caiuby com a
Apinagés. Maidana, titular da Seleção Celeste, até assinou o livro de ouro do
nosso time.
Mas
eu queria ser Valdir.
Veio
o Picasso, que morava na Rua Caiowas e sempre dizia que iria fechar o gol nos
jogos contra o Corinthians. Mesmo depois quando foi jogar no Juventus.
E
fechava mesmo!
Mas
eu continuava querendo ser Valdir.
A
frase do meu pai latejava na minha mente quando eu entrava em campo para
defender o Perdizes ou nas quadras do velho futebol de salão com aquela bola
pesada.
“Co-lo-ca-ção.”
Além
de encantar quando estava em campo, chegou mesmo a jogar cinco partidas pela
Seleção Nacional, Valdir encantava pela honradez, honestidade e pelo orgulho
que demonstrava ao defender o Palmeiras.
Quando
parou de jogar, tornou-se preparador de goleiros.
E
com sua alma gêmea formou a comissão técnica da Seleção Brasileira.
Eu
olhava Telê Santana e via Valdir, que nessa época virou Valdir Joaquim de
Moraes.
Olhava
o Valdir e via o Telê na comissão técnica da Seleção.
Meu
velho parceiro Colibri lembrou que um dia, numa conversa informal ainda em
1981, seu Valdir – aí também já era seu Valdir – comentou que o goleiro na Copa
da Espanha seria o Valdir Perez. E nós colocamos na manchete da Folha de S.
Paulo.
Colibri
ficou preocupado: e se o seu Valdir desmentisse?
“Mas
não desmentiu nada, quando os outros repórteres foram em cima dele no dia
seguinte, manteve o que tinha comentado”, relembra o Colibri.
Reinaldo
Lombardi também me mandou uma mensagem com a narração de Fiori Gigliotti de um
pênalti cobrado por Garrincha, então no Corinthians, e defendido por Valdir.
“Era
um ídolo da torcida palmeirense!”
E
é engraçado como ele, na sua infinita humildade, não entendia já velhinho a
idolatria que o cercava.
Algumas
vezes almoçávamos juntos no Sampa, restaurante por quilo, nos tempos em que eu
trabalhava na ESPN Brasil. Seu Valdir chegava, sentava-se com a gente e eu
ficava lembrando de jogos passados, me emocionando. E quantas vezes ele não se
virou, interrompeu a garfada e disse:
“Mas
por que vocês gostam tanto de mim? Eu sou uma pessoa comum, só fui goleiro do
Palmeiras”.
Seu
Valdir não entendia que ele fez parte da infância de muitos de nós, que
queríamos ser goleiros como ele. Ele que enfrentava Pelé, de quem foi a maior
vítima (foi o goleiro que mais sofreu gols do Rei, porque também deve ter sido
o que mais o enfrentou).
Mas
seu Valdir gostava mesmo era de elogiar Coutinho, o parceiro do Rei.
“Ele
tinha uma frieza na hora de concluir, Coutinho não batia forte, só colocava a
bola…”
A
última conversa que tive com Valdir foi por telefone.
Ele
já estava adoentado, em Porto Alegre.
Conversei
com a filha dele e, quando mandei um abraço e já estava desistindo da
entrevista, ela me estimulou. Disse que ele adorava falar, conversar sobre sua
carreira.
“Faça
as perguntas a ele e, mesmo que você não entenda as respostas, eu vou traduzindo
para você”.
E
assim foi!
Valdir
ou seu Valdir foi meu ídolo.
Foi
dos grandes.
O
maior que eu já vi e aplaudi.
E
era um goleiro que hoje seria baixinho.
Mas,
como dizia meu pai Jamil, Valdir tinha uma coisa que eu não tinha:
Co-lo-ca-ção.
E
gente assim não morre.
Mesmo
aos 88 anos. (Pesquisa: Nilo Dias)