É claro que uma "bola quadrada" não teria nenhuma utilidade. Mas nem por isso deixaram de inventar uma. Foi no Japão, onde existe a “Sociedade Internacional do Chindogu (ICS).” E que bicho é esse? Chindogu é o termo japonês usado para designar a arte da concepção de idéias inúteis, como deformar a utilidade de um objeto até transformá-lo em algo sem serventia. A “bola quadrada” que o professor Girafales prometeu ao Kiko, personagens da série televisiva “Chavez”, teve origem nas criações malucas do Chindogu.
O presidente da ICS, Dan Papi, explica que Chindogu vem de “dogu”, que quer dizer “ferramenta” e “chin”, que pode ser traduzido por “estranho”, embora, literalmente, signifique “pênis”. O termo foi inventado pelo comediante japonês Kenji Kawakami.
No futebol a “bola quadrada” serve para designar o passe mal feito: “a bola chegou quadrada nos pés de fulano”. E também o mau jogador: “Esse cara joga uma bola quadrada”. Mas qual a origem do termo? Os nossos queridos amigos portugueses sempre foram os nossos alvos preferidos de piadas, ao longo dos anos. Na Copa do Mundo de 1966, a Seleção do Brasil buscava o tri-campeonato em gramados ingleses. E nosso grupo tinha Portugal, Hungria e Bulgária.
Como a mania de superioridade sempre acompanhou o futebol brasileiro, dessa vez também não foi diferente. Mesmo com notícias dando conta de que Portugal armara um time poderoso, o melhor da sua história, com craques como Euzébio e Coluna, ninguém levou a sério. Tanto é verdade que um humorista de jornal carioca fez uma caricatura em que um negro português, provavelmente Eusébio, se preparava para chutar uma bola... quadrada!
Depois do nosso jogo com Portugal, em que perdemos por 3 X 1 e fomos eliminados da Copa, um jornalista lusitano, que acompanhou o desastre brasileiro, publicou uma crônica, famosa até hoje, com o título “A vingança da bola quadrada". E o termo popularizou.
Fiz toda essa explicação para poder contar um fato acontecido pouco tempo depois. O S.C. Corinthians não andava lá muito bem das pernas no campeonato paulista. Jogava um clássico, no Pacaembu, contra o eterno rival, o Palmeiras. Um pouco antes da “redonda” rolar, um gaiato torcedor palmeirense, não identificado jogou uma "bola quadrada" dentro do gramado.
Mas o episódio não foi levado a sério. Ao contrário, os torcedores corinthianos se divertiram muito, ainda mais que o time jogou bem e ganhou o jogo. A "bola quadrada" foi levada para a sala de troféus do clube, onde permanece visível até hoje, porém oculta na história do clube.
Já a história da taça cortada, é bem mais antiga. Aconteceu na década de 40, na cidade gaúcha de Rio Grande, terra do clube de futebol mais antigo do Brasil, o S.C. Rio Grande. E o episódio teve a participação do chamado “vovô”. Os três times da cidade, S.C. Rio Grande, F.B.C. Rio-Grandense e S.C. São Paulo, estavam de relações cortadas por problemas surgidos no campeonato da cidade, que era muito disputado e com uma rivalidade bastante acentuada.
Para promover a paz, foi realizado um torneio envolvendo os três clubes, com a denominação de “Taça Confraternização”. As equipes do S.C. Rio Grande e S.C. São Paulo foram finalistas. Depois de empatarem três partidas, uma prorrogação e baterem mais de 30 pênaltis sem que houvesse um vencedor, e com a chegada da noite (não havia refletores no estádio) e como nenhum dos dois times abria mão do troféu, alguém sugeriu uma solução salomônica: declarar as duas equipes campeãs. E assim foi feito: a taça foi dividida ao meio e cada um dos times recebeu a metade.
No tempo em que morei na cidade de Rio Grande, visitei as salas de troféus dos dois clubes. E lá estão, incrustadas em madeira e para quem quiser ver as duas metades da taça, que representam um invulgar episódio da história do futebol brasileiro, tão rica em situações folclóricas. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.
domingo, 30 de março de 2008
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2 comentários:
Querido mestre Nilo Dias: Que bom te ver falando na nossa terra e "Mais Velho do Brasil". Que saudades das nossas jornadas esportivas, e das visitas às salas de troféus dos dois clubes, onde certamente, o mais hilário é a presença de uma taça cortada ao meio. Horácio Gomes - Rio Grande-RS
ler todo o blog, muito bom
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