A mais conhecida forma de se homenagear um morto ilustre é sem dúvida o minuto de silêncio. A prática, que em fevereiro ultimo completou 96 anos, se popularizou em todo o mundo, principalmente nos estádios de futebol, Assembléias Legislativas, Câmaras de Vereadores e Congresso Nacional. Como e onde isso surgiu? Foi em Portugal, no ano de 1912, após a morte de um brasileiro, José Maria da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco.
O Barão era uma pessoa muito querida no país irmão. Como ministro brasileiro dos Negócios Estrangeiros foi um dos primeiros estadistas a reconhecer a República Portuguesa em 1910. Sua morte teve enorme repercussão em Portugal. Na reunião do dia 13 de fevereiro, a Câmara dos Deputados, por determinação de seu presidente, Aresta Branco, suspendeu a sessão por meia hora, como era costume, para homenagear o ilustre morto.
Mas foi na reunião do dia 14, no Senado, que aconteceu a revolucionária inovação. O presidente da Casa, senador Anselmo Braamcamp, propôs que durante dez minutos, e como homenagem à memória do estadista, os senadores permanecessem silenciosos em seus lugares. Cumpriu-se, assim, o primeiro momento de silêncio que se tem notícia, e que com o passar do tempo foi reduzido para cinco e depois para um minuto, como ocorre em nossos dias.
A partir da homenagem póstuma ao Barão, todas as vezes que morria alguma figura ilustre, o Legislativo português repetia o gesto. Não demorou muito para que as casas legislativas européias copiassem o modelo português. Daí, para ganhar o mundo foi apenas uma questão de tempo.
José Maria da Silva Paranhos Júnior nasceu no Rio de Janeiro a 20 de abril de 1845, filho do também diplomata que se tornou famoso sob o título de Visconde do Rio Branco. No Brasil a sua morte foi bastante sentida, tanto que o Governo decretou o adiamento do Carnaval, para que não coincidisse com o período de luto nacional.
Como ministro dos Negócios Estrangeiros, Paranhos foi responsável pela demarcação das fronteiras, aumentando o território brasileiro com a anexação em 1904, do atual Estado do Acre, incorporando definitivamente em nosso mapa uma área territorial de 30.621 quilômetros quadrados.
O minuto de silêncio durante seus quase 100 anos de existência se prestou para todo o tipo de homenagens, protestos indignados e até situações humorísticas. Foi respeitado e desacatado. Antes de me aprofundar no tema quero registrar uma colaboração do amigo Horácio Gomes, lá da cidade gaúcha de Rio Grande, um dos melhores e mais completos profissionais de rádio com que tive a alegria de trabalhar. Outro dia falarei mais sobre ele e outros inesquecíveis colegas de imprensa que tive.
O Horácio, que é leitor assíduo deste modesto blog, lembrou da gafe de um colega nosso de rádio, em Rio Grande, já falecido e que se tornou conhecido dos ouvintes pelas situações folclóricas que se tornaram comum em suas intervenções de repórter esportivo de campo. Havia falecido um dirigente do S.C. São Paulo, tradicional agremiação esportiva riograndina e antes do jogo foi feita a homenagem de um minuto de silêncio. O nosso saudoso e querido repórter alertou ao narrador: “Fulano, vamos ouvir um minuto de silêncio”.
O minuto de silêncio já mereceu vaia. Em 1967, na noite em que o corpo do presidente Castelo Branco era velado, durante um jogo no Estádio do Maracanã foi anunciado um minuto de silêncio. O povo inteiro vaiou. E Nelson Rodrigues, em sua coluna do dia seguinte não perdoou: "O Maracanã é implacável, vaia até minuto de silêncio".
Recentemente, num jogo pelo campeonato espanhol, a torcida também vaiou o minuto de silêncio, que teve de ser reduzido para apenas oito segundos. Parte dos 32 mil torcedores presentes ao estádio de San Mamés, em Bilbao, para assistir o jogo entre o time local do Athletic X Valladolid, não guardaram silêncio na homenagem ao líder socialista Isaías Carrasco, assassinado por militantes do grupo armado separatista basco ETA.
Essa foi a primeira vez que o Estádio San Mames deveria cumprir um minuto de silêncio por vítima da ETA. Foi por exigência da Federação Espanhola. O clube sempre reservou esse ato exclusivamente para homenagear alguns de seus membros mais destacados. Os últimos minutos de silêncio que ocorreram no campo do Athletic foram em memória de Javier Uria, então presidente, e Telmo Zarraonandia "Zarra", um de seus jogadores mais emblemáticos.
Mas o silêncio também foi personagem de grandes momentos. A União Européia, quando do “tsunami”, na Ásia, pediu aos 450 milhões de moradores de 25 nações, que parassem ao meio-dia tudo o que estavam fazendo e que observassem três minutos de silêncio em homenagem as cerca de 150 mil vítimas da catástrofe. Antes, a mesma União Européia já havia pedido que todos os países membros observassem três minutos de silêncio em memória das vítimas do atentado contra o trem de Madri.
Logo após a morte do papa João Paulo II, aconteceu no Maracanã, o clássico que ficou conhecido como o Fla-Flu do Papa. As duas torcidas homenagearam a grande figura do catolicismo. Mas a do Fluminense deu um show à parte: os torcedores tricolores, de braços erguidos e num silêncio profundo, foram protagonistas de um bonito espetáculo, até então impensável num estádio de futebol, durante o minuto de silêncio.
O tradicional minuto foi lembrado de outras maneiras não tão silenciosas. Noel Rosa compôs um dos mais belos sambas de nosso cancioneiro com o título de “Silêncio de um minuto”. Em 2002 uma banda britânica chamada “The Planets” incluiu em seu disco uma faixa chamada “Um minuto de silêncio”. O poeta e compositor do Timor-Leste, Francisco Borja da Costa, falecido em 1975, autor do hino nacional de seu país, escreveu o poema “Um minuto de silêncio”.
Para encerrar peço permissão para publicar o artigo do escritor Mário Prata, intitulado “Um minuto, por favor”.
Ele não estava completamente embriagado. Mas caminhava a passos e copos largos para tanto. E conseguiu, num passo alto, subir em cima da mesa do barzinho ali da Vila Madalena. E se equilibrou numa boa com o copo de uísque na mão. “Pessoal, pessoal, por favor. Um minuto de silêncio. Um minutinho só”.
Conseguiu colocar o copo na mesa num esforço sóbrio. Bateu palmas. “Por favor, gente. É um minuto só. O que é um minuto?”. As pessoas foram ficando em silêncio. O bar parou. Todo mundo olhava para aquele senhor. Quase setenta, eu diria. “Seguinte, eu queria levantar uma questão para colocar em discussão por todos vocês. É sobre o minuto de silêncio. Não esse que pedi para vocês. Mas para o minuto de silêncio antes de começar o jogo de futebol, em função da morte de alguém”.
E prosseguiu: “Outro dia teve um minuto de silêncio por causa da morte do parente de um ex-diretor do time. O que eu quero saber é porque só fazem um minuto de silêncio no futebol!!! Alguém já havia pensado nisso? Nos outros esportes não tem minuto de silêncio!!! Pode pensar. Nem na posse do Presidente da República. Eu quero saber quem foi o filho da puta que inventou o minuto de silêncio antes do futebol. Em lugar nenhum tem minuto de silêncio, caralho! Por que! Por que? Quem foi o filho da puta... Deixa pra lá.”
Sentou-se novamente, acabou o copo, pagou a conta e foi embora. E, da porta, ainda gritou: “Quem foi o filho da puta que inventou o minuto de silêncio?” E deixou uma puta discussão em aberto no boteco. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Horácio disse...
Amigão Nilo: Muito obrigado pela referência elogiosa a este repórter. Fica muito mais em conta da nossa amizade, do que pela competência deste escriba do interior. Quando voltares a falar das nossas "gafes", lembra do "Ronaldo Silva" que numa transmissão, depois do comentário do intervalo, foi chamado pelo Gley Sant'Anna para dar mais informações e saiu com essa: "Não tenho novidade nenhuma porque estou trancado do lado de fora do vestiário". Típica do "Ronaldinho"- Horácio Gomes
4 de junho de 2008 14:34
Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.
domingo, 1 de junho de 2008
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Um comentário:
Amigão Nilo: Muito obrigado pela referência elogiosa a este repórter. Fica muito mais em conta da nossa amizade, do que pela competência deste escriba do interior. Quando voltares a falar das nossas "gafes", lembra do "Ronaldo Silva" que numa transmissão, depois do comentário do intervalo, foi chamado pelo Gley Sant'Anna para dar mais informações e saiu com essa: "Não tenho novidade nenhuma porque estou trancado do lado de fora do vestiário". Típica do "Ronaldinho"- Horácio Gomes
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