A partir daí é que o apelido de “Rolo Compressor”, dado por Vicente Rao ganhou fama. Os grandes clubes do eixo Rio-São Paulo apareciam com propostas milionárias, mas os jogadores recusavam-se a sair de Porto Alegre. O time mais ofensivo de todos os tempos já surgido no Rio Grande do Sul durou praticamente toda a década, e teve um sucessor, o "Rolinho", comandado pelo inesquecível técnico Teté, nos anos 1950.
Antes de se consagrar no Internacional, Teté já tinha fama no interior do Estado de bom treinador. Quando treinava o Brasil de Pelotas, Teté havia estabelecido um sistema de sinais com os jogadores. Algo como: se sacasse o lencinho da lapela, o time tinha de recuar; se vestisse o paletó, era hora de atacar; se coçasse a cabeça, devia investir pelo lado direito. Essas coisas.
Clássico da cidade. Começou o jogo, Teté estudando a movimentação inimiga, tira conclusões e aperta furiosamente o nariz. Os jogadores compreendem. Fazem o que ele pede. Mas o Pelotas é quem marca o primeiro gol. Teté levanta-se do banco e bate três vezes na testa. Os jogadores mudam de posicionamento, mas o Pelotas acaba fazendo 2 X 0. No intervalo, Teté insiste para que os jogadores cumpram à risca suas determinações.
Segundo tempo. Passados cinco minutos, Teté enfia uma mão no bolso esquerdo das calças e outra no direito do casaco. E o Pelotas enfia 3 X 0! Desolado, Teté sai do banco de reservas. Ergue os braços para o alto. Olha para o céu e brada: “tudo perdido!” E cruza os braços atrás da nuca. Desistiu. Largou.
Lá do gramado, os jogadores vêem os gestos do treinador. O que será que ele quer? Que sinal era aquele mesmo? Alguém sugere que está determinando a troca de lugar dos ponteiros. É o que fazem. Teté está arrasado. Mal enxerga o jogo. Mas a mudança dá certo. O Brasil marca um gol, outro, e mais outro, e o quarto. E vira o jogo! Teté, feliz, não entende o que aconteceu. Os jogadores, mais felizes ainda, aplaudem a genialidade do seu treinador.
Teté chegou ao Estádio dos Eucaliptos em 1950. Um dos precursores de esquemas táticos organizados com base em defesas sólidas e ataques velozes, o pelotense Francisco Duarte Júnior, o Teté, foi um dos mais importantes técnicos da história do Internacional. Trouxe vários jogadores do Rio, onde morou durante os anos 40 e conheceu Flávio Costa, treinador da Seleção Brasileira. Teté ainda foi o técnico da Seleção Brasileira na conquista da medalha de ouro do Pan-Americano de 1956, time que tinha sete jogadores do Inter.
A seleção brasileira jogou sua primeira partida em 1914, mas só ganhou seu primeiro título no exterior em 1952, o Pan-Americano do Chile. Quando uma seleção gaúcha foi designada para representar o futebol brasileiro na edição seguinte do torneio, em 1956, no México, a responsabilidade portanto era muito grande.
Mas o jovem time do Rio Grande do Sul voltou a ganhar o título para o país. Entre os jogadores, oito eram colorados. E, cumprindo o destino de grandeza do clube, sete desses foram titulares do time que ganhou o bi-campeonato para o Brasil. O técnico também era colorado, Francisco Duarte Júnior, o Teté.
Em resumo: foi uma campanha invicta de quatro vitórias e um empate, com apenas cinco gols contra e 14 a favor, um de Ênio Andrade do Renner, um de Raul Klein do Floriano de Novo Hamburgo e outros 12 de craques colorados - Larry e Chinesinho, 4 cada, Bodinho 3 e Luizinho 1.
No dia 26 de setembro de 1954 o Internacional estragou a festa de inauguração do estádio Olímpico, goleando impiedosamente o Grêmio por 6 X 2 perante 24.595 assistentes. Carlos Alberto Vigorito foi o juiz e os gols foram anotados por Sarará e Zunino para o Grêmio, e Larri (4), Jerônimo e Canhotinho para o Internacional.
O ano de 1967 foi marcante na história do Internacional. Até então as atenções do futebol brasileiro praticamente se voltavam apenas para os clubes do Rio de janeiro e São Paulo. Os demais, só apareciam em raras vezes, durante um torneio nacional chamado de Taça Brasil, que começou em 1959 e terminou em 1968. O Internacional participou da edição de 1962, classificando-se em 3º lugar, atrás somente de Santos e Botafogo.
A alavanca que impulsionou o crescimento do Internacional a nível nacional foi com a modernização do Torneio Rio-São Paulo, que passou a chamar-se Roberto Gomes Pedrosa, o “Robertão” e estendido a dois clubes do Rio Grande do Sul, dois de Minas Gerais e um do Paraná. O Internacional mostrou sua força de cara, sendo vice-campeão já na primeira participação.
A consolidação nacional veio no dia 28 de maio de 1967, quando da histórica vitória de 1 X 0 sobre o Corinthians, gol de Lambari em pleno Estádio Pacaembu. Essa foi a primeira vitória de um clube gaúcho contra um paulista, em São Paulo. E com um gostinho todo especial, o Corinthians estava invicto há quinze jogos e era considerado quase imbatível.
Em 1968, o Internacional foi vice-campeão de novo. No ano seguinte, depois da inauguração do “Gigante da Beira-Rio”, o clube colorado conseguiu montar um dos mais poderosos times da história do futebol brasileiro, onde despontavam valores como Falcão e Figueroa, entre outros, que encantou o Brasil e o mundo na década de 1970. Em 1974, um feito histórico, o Internacional conquistou o Campeonato Gaúcho com uma campanha impressionante: 18 vitórias em 18 partidas.
Em 1975 a consagração: o Internacional foi o primeiro clube gaúcho a conquistar o Brasil. Depois de boas campanhas, onde aparecia sempre entre os cinco primeiros colocados, finalmente sagrou-se campeão. O título foi ganho em um jogo emocionante no Beira Rio contra o Cruzeiro de Belo Horizonte, que tinha em sua equipe craques da envergadura de Nelinho, Dirceu Alves, Piazza e Tostão. O Internacional venceu por 1 X 0, gol do zagueiro chileno Figueroa. Este gol tornou-se conhecido como “gol iluminado”, pois no exato momento nem que Figueroa subiu para cabecear a bola para a rede adversária, surgiu sobre ele um facho de luz do sol.
Em 1976, novas conquistas, o Octacampeonato Gaúcho (1969 a 1976), a maior série de títulos consecutivos de campeonatos estaduais no Rio Grande do Sul, e uma das maiores do Brasil, e o bicampeonato nacional. O Internacional bateu no Beira-Rio, o Corinthians por 2 X 0 no Beira-Rio, gols foram marcados pelo folclórico Dario, que terminou a competição como principal artilheiro, com 16 gols.
Veio o ano de 1979 e com ele uma façanha até hoje inédita no nosso futebol: o Internacional sagrou-se Campeão Brasileiro pela terceira vez, porém de forma invicta. Na partida decisiva, no Beira-Rio, vitória de 2 X 1 sobre o Vasco da Gama, gols de Jair e Falcão para o Inter, e Wilsinho para o Vasco. No jogo anterior, em pleno Maracanã o Inter já havia vencido por 2 X 0, com dois gols de Chico Spina.
O Internacional, que em 1976 foi o primeiro clube gaúcho a jogar a Copa Libertadores da América, em 1980 também foi o primeiro a chegar a uma final da competição sul-americana. Frustração da massa colorada. No primeiro jogo, no Beira-Rio, um inesperado empate de 0 X 0 com o Nacional uruguaio, que no jogo de volta venceu no Centenário em Montevidéu por 1 x 0 , gol de Waldemar Victorino.
Em 1984 o Internacional representou o Brasil na Olímpiada de Los Angeles, quando forneceu praticamente todo o time. Nove dos onze titulares da Seleção Brasileira eram jogadores colorados, que conseguiram uma inédita medalha de prata. Na fase de classificação, o Brasil venceu bem a Alemanha Ocidental, Arábia Saudita e Marrocos. No jogo contra o houve empate no tempo normal e na prorrogação, e o Brasil se classificou nos pênaltis, graças ao goleiro Gilmar Rinaldi.
O Brasil chegou a grande final, depois de eliminar a forte seleção da Itália. Na decisão a França levou a melhor, por 2 X 0, gols de François Brisson e Daniel Xuereb. O Brasil levou para a Los Angeles estes jogadores: Gilmar Rinaldi – Ronaldo – Pinga - Mauro Galvão - André Luís – Ademir – Dunga - Gilmar Oliveira – Silvinho – Tonho – Kita - João Marcos - Luís Carlos Winck – Davi - Paulo Santos - Chicão e Milton Cruz, que foram dirigidos tecnicamente por Jair Picerni.
Já gozando de merecido destaque fora do país, o Internacional foi convidado a participar do Troféu Joan Gamper, em Barcelona. E lá mostrou seu poderio, ao eliminar o poderoso Barcelona de Maradona e companhia. No jogo final levantou a taça depois de derrotar o Manchester City, da Inglaterra, por 3 X 1. De sobra, naqueles anos 80 o Inter ainda foi tetracampeão gaúcho, de 1981 a 1984. No âmbito nacional, em 1984 ganhou o Torneio Heleno Nunes e por duas vezes consecutivas, 1987 e 1988, chegou as finais do Campeonato Brasileiro.
A década de 1990, não foi nada boa, salvo o ano de 1992, quando o Internacional conquistou a Copa do Brasil, derrotando no jogo final ao Fluminense do Rio de Janeiro. O gol do título foi marcado pelo zagueiro Célio Silva, num polêmico pênalti aos 42 minutos do segundo tempo, que até hoje é motivo de choro para os cariocas. Nessa década, o Internacional ainda foi campeão gaúcho quatro vezes 1991, 1992, 1994 e 1997.
Depois de uma boa campanha no Campeonato Brasileiro de 1997, onde terminou em terceiro lugar, o Internacional passou por um dos mais delicados momentos de sua história em 1999, quando quase caiu para a Segunda Divisão nacional. O sufoco só acabou no último jogo, quando o capitão Dunga marcou um gol ao apagar das luzes sobre o Palmeiras de Luiz Felipe Scolari, no Beira-Rio, mantendo o time na elite do futebol brasileiro. Nessa década o Internacional deixou de liderar o ranking de pontos do campeonato brasileiro, nacional, posição que manteve por 24 anos seguidos, de 1975 até -1998.
Uma nova ameaça de rebaixamento fez os colorados tremerem em 2002. Outra vez o risco de queda para a segundona só teve fim apenas na rodada final. Foi uma tarde nervosa de domingo, pois desta feita o jogo era fora de casa, em Belém do Pará, contra o Paysandu, que era quase imbatível em seus domínios. Mas o Internacional venceu por 2 X 0, gols do saudoso Maicon Librelatto e Fernando Baiano Depois, o Internacional recuperou a hegemonia do futebol gaúcho, ganhando quatro estaduais consecutivos 2002, 2003 (no centenário do Grêmio), 2004 e 2005.
Em 2006, as coisas não pareciam ser muito favoráveis ao Internacional, que já havia perdido o Campeonato Gaúcho para o Grêmio. Mas muitas alegrias estavam reservadas ao torcedor colorado. O time, que tinha no comando o técnico Abel Braga, surpreendeu o país ao sagrar-se campeão da Copa Libertadores, no dia 16 de agosto de 2006, quando mais de 57 mil torcedores lotaram o Beira-Rio para verem o empate de 2 X 2 contra o São Paulo.
Os gols do Inter foram marcados por Fernandão e Tinga, enquanto Lenílson e Fabão marcaram para o São Paulo. O Inter jogou desde os 27 minutos do segundo tempo com um jogador a menos, depois que Tinga foi expulso por comemorar o gol. No primeiro jogo, disputado no Morumbi, em São Paulo, o Internacional havia vencido por 2 X 1, com dois gols de Rafael Sóbis, que teve magnífica atuação. (Pesquisa: Nilo Dias)
Teté foi um dos melhores técnicos da história do Internacional.
Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.
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