Antônio Azambuja Nunes, o Nico foi o símbolo maior do F.B.C. Rio-Grandense nos tempos modernos. Ninguém mais do que ele fez tanto dentro de campo envergando a gloriosa camisa vermelha e amarela. Sua carreira como futebolista foi vitoriosa em todos os aspectos, por isso é lembrado até hoje com carinho e saudade pelos torcedores mais velhos, que tiveram a primazia de vê-lo estufando as redes adversárias.
Nico nasceu no dia 23 de agosto de 1941, em Rio Grande. Desde pequeno mostrou grande habilidade para a prática do futebol. Embora seu pai fosse torcedor ferrenho do Rio-Grandense, Nico começou a carreira nos juvenis do S.C. Rio Grande, em 1957. Depois foi guindado aos aspirantes e em 1960 já era profissional e titular do time. Ficou no tricolor até 1963.
Mas foi no Rio-Grandense que Nico ganhou fama e teve oportunidade de jogar um grande futebol. Em 1964, depois de ter-se recuperado de uma lesão no joelho, que praticamente o afastou dos gramados em 1963, assinou contrato com o clube colorado. A partir daí Nico e o Rio-Grandense compartilharam conquistas inesquecíveis. Em 1965 o time ganhou tudo, campeão da cidade, região e Ascenso, alcançando memorável classificação para a “Divisão de Honra” do futebol gaúcho.
Nico lembra que na fase de classificação o Rio-Grandense enfrentou o C.A. Bancário, de Pelotas, S.C. São Paulo, de Rio Grande e G.E. Bagé, com quem empatou na primeira posição. Foram necessários dois jogos extras. O Rio-Grandense ganhou os dois, 1 X 0 em Bagé e 3 X 0 em Rio Grande.
Veio a fase do “mata-mata”, e aí o artilheiro mostrou todas as qualidades de um grande jogador: técnica e frieza. Um a um os adversários foram batidos. Cruzeiro, de São Gabriel, 14 de Julho, de Livramento e Gaúcho, de Passo Fundo, todos em decisões por penalidades máximas. Nico não errou nenhuma cobrança, garantindo o título para o Rio-Grandense.
Em 1967 Nico foi o principal artilheiro do Campeonato Gaúcho, competindo com jogadores como Claudiomiro, Ênio Souza, Sapiranga e outros. Marcou 17 gols. Nos anos anteriores o prêmio ao goleador sempre foi um carro, mas na última hora os patrocinadores mudaram as regras e deram a Nico apenas um relógio, que ele guarda até hoje como recordação. Antes de Nico o Rio-Grandense teve dois jogadores que também foram artilheiros do campeonato Gaúcho: Carruíra, em 1937 e Chinês em 1939, ano em que o clube foi campeão do Estado.
Em 1973 o Rio-Grandense ganhou a Copa Cícero Soares. O jogo final, contra o Pratense, de Nova Prata foi no Beira Rio, na preliminar de Internacional X Cruzeiro de Minas Gerais, pelo Campeonato Brasileiro. Nico conta que o Rio-Grandense, com uniforme vermelho conquistou a torcida, que ajudou a levar o time a vitória e mais uma vez a Divisão Especial do campeonato do Rio Grande do Sul.
Em 1979, aos 38 anos de idade, Nico deixou o futebol profissional levando consigo uma invejável bagagem de conquistas. Pena que os pesquisadores esportivos e a grande imprensa gaúcha e brasileira não queira mexer no pó da história, que com certeza vão ter uma grande surpresa: contando os juvenis, aspirantes e profissionais, Nico marcou entre 800 a 1000 gols e faz jus a figurar entre os maiores artilheiros de todos os tempos. E entre isso, um feito espetacular, nunca errou uma penalidade máxima e acredita que bateu mais de 200 em 22 anos de carreira.
Se levarmos em conta que ele jogou apenas em clubes do interior – além de Rio Grande e Rio-Grandense esteve dois meses no Atlântico de Erexim e um no Pelotas – é com certeza, proporcionalmente, o segundo maior artilheiro da história do futebol mundial, ficando atrás apenas de outro esquecido, Arthur Friendereich, que marcou mais de 1.300 gols em uma época que não se jogava tantas partidas no ano, como agora.
Nico jogou num tempo em que dificilmente se fazia fortuna no futebol, ainda mais em times do interior. Por isso, paralelamente trabalhava no Centro das Indústrias de Rio Grande, onde se aposentou em 1996.
Como o futebol está em seu sangue, Nico saiu dos gramados mas continuou fiel ao Rio-Grandense, onde exerceu os mais variados cargos de Diretoria. E os 67 anos de idade não o impedem de jogar gostosas peladas com amigos e defender o Milonários, antigo tradicional time salonista da cidade. Nas suas lembranças cita Paulo de Souza Lobo, o “Galego”, Wilson Sanchez e Ney Amado Costa, como os melhores treinadores que conheceu. Dos companheiros de equipe recorda de Titico, Bangu, Miltom e Oscar Conceição, que depois presidiu o clube, entre tantos outros de igual qualidade.
O apelido de “Bombardeador”, ele ganhou de Paulo Corrêa, o maior narrador de futebol que a Zona Sul do Estado conheceu, e que hoje ainda figura no rádio riograndino como comentarista esportivo. Foi também Paulo Corrêa que apelidou o Rio-Grandense de “Guri Teimoso”, alusão aos seus feitos heróicos, onde superava dificuldades, não desistindo nunca e pregando peças aos adversários.
Em 2007, Nico viveu um de seus grandes momentos fora dos gramados: foi o homenageado especial do evento “Amigos do Esporte”, organizado pelo desportista Alexandre Leite, do jornal “Agora”, que o consagrou como “o maior artilheiro de todos os tempos”. (Pesquisa: Nilo Dias)
Nico, o grande nome da era moderna do clube. (Foto: Acervo do F.B.C. Rio-Grandense)
Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
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Um comentário:
Excepcional narrativa. O Nico merece muito. Entrevistei ele na década dos anos 2000 em Rio Grande.
Faço uma desinteressada resenha sobre os times do Interior, na época de 1967 a 1974, tempo em que eu muito acompanhei este futebol "raiz".
Vou mandar-te o trabalho. Se esquecer, me cobre!
Whats 51 99984 2565 e daltrodarisbo@gmail.com
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