Era o único filho homem do casal Sebastião e Laura. Seu pai era soldado da Força Pública e foi lutar na Revolução Constitucionalista de 32 e não voltou mais. Djalma tinha apenas três anos de idade quando ficou órfão de pai. Enquanto o pai estava em batalha, a mãe, Dona Laura, lutava para que ela e os três filhos não morressem de fome.
Foram dias muito difíceis. Ainda criança escapou da morte por pneumonia. Sua mãe conheceu um carroceiro italiano, de nome Vitor e constituiu uma nova família, indo morar no bairro da “Parada Inglesa”. Mas as coisas mais uma vez correram mal para dona Laura e o padrasto de Djalma acabou morrendo num acidente. Com a morte de Vitor, a família se mudou mais uma vez, indo para uma vila próxima à “Parada Inglesa”.
As dificuldades para a sobrevivência eram enormes e o remédio era se virar como podiam. Durante algum tempo venderam quentão, pipoca e amendoim torrado na porta de um circo. Dona Laura também trabalhou como empregada doméstica, enquanto Djalma pajeava a filha da patroa em troca de gorjetas e comida.
Aos 12 anos Djalma, perdeu a mãe, vítima de câncer. Quem cuidou dele depois disso foi a sua irmã Anésia. Para ajudar nas despesas da casa, foi trabalhar numa fábrica de calçados.
Seu primeiro time foi o do Grupo Escolar da Parada Inglesa, onde estudava quando menino. Não pensava em se tornar jogador de futebol, queria mesmo era ser piloto de avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Mas seu sonho foi por água abaixo, quando quebrou os ossos da mão direita em um acidente na máquina de costura de sapatos. O país perdeu um aviador, mas o futebol ganhou um craque.
Depois jogou no América (ou “Ameriquinha”), time de crianças do bairro. Também atuou pelo Internacional, outro time das redondezas onde morava. Eram os primeiros passos de uma longa e vitoriosa carreira.
Djalma chegou a fazer testes no Ypiranga e no Corinthians. Mas os horários dos treinos eram incompatíveis com o do seu trabalho como sapateiro. Só ficou na Portuguesa porque o patrão concordou que ele trabalhasse à noite, para compensar as horas perdidas no clube. Sua estréia na Lusa foi no dia 16 de agosto de 1948, no jogo em que seu time perdeu para o Santos por 3 X 2.
Graças ao seu extraordinário vigor físico ganhou o apelido de “homem de aço”. Fez história nos três grandes clubes por onde passou: Portuguesa de Desportos, Palmeiras e Atlético Paranaense.
No início, Djalma era chamado apenas de Santos e jogava na Lusa de centro-médio (o volante dos dias atuais). Em agosto de 1949, porém, o clube contratou outro jogador para a posição, Brandãozinho, da Portuguesa Santista, na maior transação da época. E Djalma Santos passou para a posição em que se consagraria definitivamente, a lateral-direita.
Pela Portuguesa, Djalma ganhou os Torneios Rio-São Paulo de 1952 e 1955. Foram 453 jogos entre agosto de 1948 e maio de 1959, quando se transferiu para o Palmeiras, onde jogou por quase 10 anos, tendo vestido a camisa alviverde em 498 oportunidades, sendo o sétimo jogador que mais vezes vestiu a camisa da equipe. Foi o segundo jogador que mais atuou pela Portuguesa em todos os tempos, ficando atrás apenas de Capitão, com 496 partidas.
Pelo Atlético Paranaense, onde encerrou a carreira profissional o lateral jogou até os 42 anos de idade, outra marca pouco comum para jogadores de futebol. No clube paranaense atuou ao lado do zagueiro Bellini, outro bicampeão mundial e do ex-santista Dorval.
Despediu-se do futebol em 21 de janeiro de 1971, prestes a completar 42 anos, em um jogo contra o Grêmio. Teve uma atuação soberba, digna de toda a sua brilhante carreira. Djalma Santos foi eleito para integrar o “Time dos Sonhos” do Atlético Paranaense.
Jogou ainda a tempo de ganhar seu último título estadual (1970) pelo rubro-negro, se tornando posteriormente treinador do próprio Atlético. Depois, Djalma Santos se tornou funcionário da Secretaria de Esportes, Lazer e Turismo de Uberaba, em Minas Gerais, onde coordenou a escolinha de futebol da cidade.
Djalma Santos vestiu a camisa do São Paulo F.C., no dia 9 de novembro de 1960, como convidado nos festejos da inauguração do Estádio do Morumbi, uma semana após a inauguração, na vitória sobre o Nacional, do Uruguai, por 3 X 0, com gols de Canhoteiro e Gino.
O lateral-direito havia sido convidado com Almir Pernambuquinho e Julinho Botelho para fazer parte do time e essa foi a forma encontrada para apresentar o recém-construído Morumbi aos torcedores dos outros clubes da capital paulista. Pelé também havia sido convidado, mas não pode jogar.
Em 1952, ainda como jogador da Portuguesa, Djalma Santos foi convocado pela primeira vez para a seleção brasileira. Naquele ano, disputou o Campeonato Pan-Americano de Futebol, no Chile, no qual o Brasil sagrou-se campeão.
Uma jogada característica dele se tornou bastante popular: a cobrança com força de laterais diretamente para dentro da área. Também foi um dos primeiros laterais brasileiros a apoiar o ataque.
Djalma Santos vestiu a camisa canarinho por longos 16 anos. Disputou quatro “Copas do Mundo”, sendo campeão em duas, 1958 e 1962. Participou de equipes que contavam com monstros sagrados do futebol mundial como Garrincha, Pelé, Vavá, Bellini, Zito como Zito e Nilton Santos.
Em 1954, participou de sua primeira Copa, na Suíça. Foi titular em apenas uma partida na Copa de 1958 - a final, contra os donos da casa, vencida pelo Brasil por 5 X 2 - substituindo De Sordi, que passara mal. O suficiente para ser considerado o melhor jogador da posição.
Na Copa seguinte, Djalma Santos se sagrou bicampeão mundial. Jogou mais uma Copa, a da Inglaterra, em 1966. Pela seleção brasileira, foram 111 apresentações, com 79 vitórias, 16 empates e 16 derrotas, tendo marcado três gols. Foi o primeiro atleta a superar a marca de 100 partidas pelo Brasil.
Ele e Pelé foram os únicos jogadores a iniciarem pelo menos uma partida como titulares da Seleção Brasileira em quatro Copas do Mundo. Djalma Santos e Franz Beckenbauer foram os dois únicos jogadores no mundo a terem sido escolhidos por três vezes consecutivas os melhores jogadores em suas posições em Copas do Mundo.
Graças a exuberância de seu futebol foi escolhido como o melhor lateral do mundo de todos os tempos. Foi o primeiro jogador brasileiro a integrar a seleção da FIFA. Isso aconteceu em 1963, quando se comemorou o centenário da Football Association (FA), a primeira associação de futebol do mundo e cujas regras tornaram-se a base do esporte até os dias atuais. Por isso, a data é considerada como o dia da criação do futebol.
Naquele dia a seleção dos melhores jogadores do mundo, escolhida pela “FIFA World Stars”, enfrentou o “English Team”, no lendário Estádio de Wembley, em Londres. De brasileiros, apenas Pelé e Djalma Santos foram convocados. Pelé machucado, não jogou, apenas Djalma teve tal privilégio.
Ao lado dele “feras” como Ferenc Puskás (Hungria), Alfredo di Stefano (Argentina), Eusébio Ferreira (Portugal), Francesco Gento (Espanha), Josef Masopust (ex-Tchecoslováquia) e o goleiro Lev Yashin (ex-União Soviética).
Outra grata surpresa estava prevista, além de fazer parte da seleção dos melhores jogadores do mundo. Djalma Santos ainda recebeu da FIFA outra grande honraria: fazer parte do rol da “FIFA 100”, uma lista de 123 homens e duas mulheres, considerados os melhores jogadores de futebol vivos na época. Isso aconteceu em 4 de março de 2004, como parte das celebrações do centenário da criação da Federação.
Viúvo de seu primeiro casamento, casou novamente, anos depois. Um fato notável de sua carreira foi o de nunca ter sido expulso de campo, ao longo de 23 anos de carreira e quase 1.600 partidas.
Títulos: Taça Brasil (1960 e 1967); Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1967); Torneio Rio-São Paulo (1952, 1955 e 1965); Campeão Paulista (1959, 1963 e 1966); Campeonato Paranaense (1970); Campeão Pan-Americano pela Seleção Brasileira (1952); Campeão Mundial pela Seleção Brasileira (1958 e 1962). (Pesquisa: Nilo Dias)
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