O
velho e histórico “Estádio Petrônio Portela”, antigo “Estádio Internacional”,
berço do futebol de Parnaíba (PI), o segundo município mais populoso do Estado,
encontra-se hoje em estado de quase total abandono, necessitando de amplas
reformas para recuperar seu garbo de antigamente.
É
o único estádio de futebol no Brasil a possuir o estilo arquitetônico das
praças esportivas inglesas do início do século XX. O estádio é tombado pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
O
“Petrônio Portela” foi construído nos anos 20 pela “Casa Inglesa” e se
constituia no melhor estádio do Piauí, na época. No local foram realizados muitos jogos da
primeira liga de futebol do Estado do Piauí, ainda no século XVIII. Foi nesse
estádio que nasceu o primeiro campeonato piauiense de futebol.
A
“Casa” Inglesa foi dirigida por Paul Robert Singlehurst, o “Paulo Inglês”, que
se estabeleceu no Brasil em 1849. Ele foi o primeiro a trazer para o país
tratores, motores e jeeps. Mais tarde, em 1884, James Clark tornou-se dono
único e foi responsável por inserir a cera de carnaúba no mercado internacional
e por fornecer produtos a base de petróleo, equipamentos e instalação elétrica
para 153 municípios do Piauí, Maranhão e Ceará.
Naquela
época, o terraço da “Casa Inglesa” era famoso pelas festas que concentravam a
elite da cidade. Hoje a casa é um hotel totalmente mobiliado com móveis
antigos. No dia 11 de agosto de 2008 o prédio e todos os seus pertences foi
tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional.
A
“Casa Inglesa” tinha em sua ficha cadastral interna, vários itens curiosos para
análise de aprovação ou não do cadastro do cliente. Entre os itens a serem
preenchidos obrigatoriamente, existia um que requisitava o nome da(s) esposa(s)
como também o da amante, com os respectivos lugar de moradia. O motivo disso é
totalmente desconhecido por Ingrid Clark, herdeira direta desse importante
grupo comercial da Parnaíba antiga.
Outros itens curiosos do mesmo formulário: se o cliente em questão era político
extremado, se gastava muito com política, ou se era um gastador contumaz,
jogador ou farrista, qual o conceito que ele desfrutava naquela praça, a
moralidade pessoal e a reputação do mesmo, como era a situação da firma (do
cliente), se tinha serviço organizado, se a gerência era séria e conservadora e
também dados sobre os sucessores (se eram ou não competentes).
O
cadastro encontra-se à disposição dos pesquisadores e do público geral, entre o
acervo de documentos do “Museu do Comércio do Piauí”, projeto desenvolvido pela
Câmara dos Dirigentes Lojistas de Teresina.
A
Praça de Esportes construída pela “Casa Inglesa”, inicialmente foi chamada de
“Estádio Internacional”, porque o Internacional Athletic Club, fundado em 1917
e hoje extinto, lá disputava seus jogos.
O
“colorado” parnaibano disputou o campeonato da cidade entre 1917 e 1940, sendo
campeão em 1921 e 1928. Seu primeiro presidente foi o desportista Samuel
Bompet. Na mesma época, também havia em Parnaíba outro estádio, onde hoje está
situado o Colégio Diocesano Luiz Gonzaga de Sena.
Em
12 de fevereiro de 1922 o “Petrônio Portela” foi palco do primeiro jogo
interestadual do futebol piauiense. O Parnahyba Sport Club realizou alguns
amistosos contra o Guarany Atlético Clube, de Fortaleza. No primeiro amistoso,
o time cearense venceu por 1 X 0, mas no segundo confronto, dia 15, o Parnahyba
ganhou por 2 X 0, conquistando a “Taça Guarany”.
O
Parnahyba jogou com Aderson - Basilio e Xixico - Albino e Brandão – Antonio –
Colibri – Lyra – Zeca - Milton Ramos e Milton Moreira.
Na
década de 1950, o Campeonato Parnaibano de Futebol costumava levar grandes
públicos ao estádio. Havia na cidade vários clubes: Parnahyba, Flamengo,
Fluminense, Belga, Paysandu e Ferroviário.
Era
comum a presença de clubes de Teresina em Parnaíba, que quase sempre eram
derrotados. Quando o Parnahyba começou a disputar o campeonato estadual, os
seus jogos eram realizados no “Estádio Internacional”.
Na
década de 1960 a “Casa Inglesa” resolveu fechar o estádio e colocá-lo a venda.
O governador na época, Petrônio Portela, adquiriu o estádio para o Governo do
Piauí. Em consequência, desportistas da cidade fizeram uma exitosa campanha,
que culminou com a mudança de nome para “Estádio Petrônio Portela”.
No
início dos anos 70 o governador Alberto Silva doou a praça de esportes ao Parnhayba
Sport Club, o que acabou por gerar uma grande crise no futebol parnaibano,
porque as outras agremiações esportivas não gostaram e protestaram.
Além do Parnahyba a cidade tem outro clube de futebol
profissional, o Ferroviário Atlético Clube (FAC), chamado de “Ferão”, que foi
fundado em 1946 por funcionários da então Estrada de Ferro Central do Piauí. E
dezenas de clubes amadores filiados à liga local.
Tudo porque anteriormente o prefeito da cidade havia pedido
ao Governador que o estádio Petrônio Portela fosse doado para a Prefeitura, com
o compromisso de repassá-lo à Liga, servindo para todos os clubes da cidade.
As
diretorias que sucederam o presidente Pedro Alelaf, pouco fizeram para manter o
estádio de pé. Pelo que se sabe houve a restauração dos portões de entrada e a
modernização da “Casa do Atleta”, construída por Alelaf e cujo teto esteve por desabar.
Os
quartos são equipados com televisores, camas beliches e ar condicionado. O
local passou a ser chamado de “Toca do Tubarão” e serve como moradia e
concentração dos jogadores.
Também foi construído um lance de arquibancada para mais de
mil torcedores e o projeto prevê que mais dois sejam erguidos.
Porém,
outros locais não foram atendidos, como a antiga e histórica arquibancada que
não resistiu e acabou ruindo. E junto dela a garbosa arquitetura inglesa, que
continua a espera de uma restauração, pois sobraram só os escombros.
Depois,
com a construção do “Estádio Municipal Mão Santa”, conhecido como “Piscinão”,
com capacidade para 4.700 torcedores, o “Petrônio Portela” não foi mais palco
de jogos oficiais de seu time profissional. É utilizado como Centro de
Treinamento (CT) e para amistosos da equipe profissional e partidas oficiais da Categoria
Sub-18, além de jogos de equipes amadoras.
Além dos estádios
“Petrônio Portela” e “Mão Santa”, a cidade conta com outro estádio, o
“Verdinho”, de propriedade da Federação das Indústrias do Piauí, que tem
capacidade para 4.500 expectadores. Existe um projeto, que está paralisado, para
a construção do “Estádio Olímpico de Parnaíba”, que também contará com
instalações para outros esportes.
A construção do
Centro teve início em 2012. As obras começaram pela preparação do terreno, com
a terraplanagem, e pela construção das quadras de tênis. Fazem parte do projeto,
ainda, a construção de ginásio coberto, quadras de vôlei de praia e
poliesportivas, pista de cooper, ciclovia, piscinas, entre outras.
Também
haverá estruturas como centro de artesanato e anfiteatro e um ginásio com capacidade para 25 mil pessoas.
A obra, no entanto, não andou como o esperado. A construção estava prevista em
duas etapas: a primeira correspondendo à Vila Olímpica e todas as suas
estruturas, e a segunda sendo a construção do estádio.
A
primeira parte deveria ter sido entregue em dezembro, mas impasses em relação à
demarcação da área a ser construída atrasaram os planos. Um novo prazo foi
estipulado para junho deste ano, mas novamente não foi correspondido.
O ex- presidente do
Parnahyba Sport Club, José Lima, que hoje preside a Federação de Futebol do
Piauí (FFP), disse que o estádio está precisando de uma reforma em sua
estrutura, como: colocação de alambrados, colocação dos refletores de energia,
recuperação do gramado, entre outras melhorias. Mas segundo ele, fica difícil fazer
tudo isso, sem recursos suficientes.
A
falta de dinheiro no clube é uma realidade, tanto que em novembro do ano
passado a energia do estádio Petrônio Portela foi cortada, por dívidas que
ultrapassavam R$ 10 mil. O Parnahyba não pagava as contas há quatro meses. Só
conseguiu honrar o compromisso, depois de receber R$ 75 mil da prefeitura, que
também serviu para pagar os salários atrasados dos jogadores.
O clima dentro do clube já esteve bastante ruim.
Antes da saída do time para o jogo final do Campeonato Piuiense, em Teresina, o
clima entre o então técnico Paulo Moroni e o ex-presidente José Lima, era de
tensão. Na volta, com a taça nas mãos, foi decidido que o jantar seria na
cidade de Campo Maior, na Churrascaria “O Cervejão”.
Lá, Moroni teria dito que a conquista do título
fora mérito só dos jogadores e não da Diretoria. José Lima não gostou do que
ouviu e jogou o whisky que estava bebendo no rosto do treinador. E este revidou
jogando cerveja no rosto do presidente, que enraivecido atirou o copo de vidro
na cabeça de Moroni. A coisa não ficou pior, graças a turma do deixa disso.
O
Parnahyba Sport Clube é dono de um invejável patrimônio, mas tem tido enormes dificuldades para tocar em
frente o projeto de recuperação total do estádio. A sua sede social, localizada
na Praça de Santo Antônio, zona central da cidade, é muito valorizada no mercado
imobiliário, valendo entre R$1,8 milhão a R$ 2 milhões.
Neste
final de ano, sem dinheiro para pagar os jogadores que disputaram a Série D do
Campeonato Brasileiro, o Parnahyba se viu obrigado a alugar sua sede social
para a Justiça Federal por um ano. E espera com isso, mais o dinheiro que vem
da prefeitura, poder pagar as dívidas.
Para
o dia 27 deste mês, o Parnahyba Sport Clube marcou eleições para escolha do
Conselho Deliberativo e Diretoria. Elas originalmente deveriam acontecer em
dezembro, mas foram antecipadas em razão da
Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ter divulgado o
calendário das competições estaduais para o dia 12 de janeiro de 2014 e a Copa
do Brasil para o dia 12 de março de 2014. Como o Parnahyba participará dessas
competições, dará tempo aos novos dirigentes de formaram um bom elenco.
E
os torcedores esperam que esses novos dirigentes olhem com mais carinho para o
Estádio Petrônio Portela, que sem dúvida se constitui num monumento histórico
da cidade de Parnaíba. E que merece ser preservado. (Pesquisa: Nilo Dias)
Arquibancada do antigo estádio Internacional, que foi
doado ao Parnahyba e rebatizado de Estádio Petrônio Portela e hoje abriga o Centro
de Treinamento (CT), do Parnahyba Sport Club. (Foto:Acervo fotográfico do
Parnahyba S.C.)
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