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domingo, 20 de outubro de 2013

O berço do futebol piauiense

O velho e histórico “Estádio Petrônio Portela”, antigo “Estádio Internacional”, berço do futebol de Parnaíba (PI), o segundo município mais populoso do Estado, encontra-se hoje em estado de quase total abandono, necessitando de amplas reformas para recuperar seu garbo de antigamente.

É o único estádio de futebol no Brasil a possuir o estilo arquitetônico das praças esportivas inglesas do início do século XX. O estádio é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

O “Petrônio Portela” foi construído nos anos 20 pela “Casa Inglesa” e se constituia no melhor estádio do Piauí, na época.  No local foram realizados muitos jogos da primeira liga de futebol do Estado do Piauí, ainda no século XVIII. Foi nesse estádio que nasceu o primeiro campeonato piauiense de futebol.

A “Casa” Inglesa foi dirigida por Paul Robert Singlehurst, o “Paulo Inglês”, que se estabeleceu no Brasil em 1849. Ele foi o primeiro a trazer para o país tratores, motores e jeeps. Mais tarde, em 1884, James Clark tornou-se dono único e foi responsável por inserir a cera de carnaúba no mercado internacional e por fornecer produtos a base de petróleo, equipamentos e instalação elétrica para 153 municípios do Piauí, Maranhão e Ceará.

Naquela época, o terraço da “Casa Inglesa” era famoso pelas festas que concentravam a elite da cidade. Hoje a casa é um hotel totalmente mobiliado com móveis antigos. No dia 11 de agosto de 2008 o prédio e todos os seus pertences foi tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional.

A “Casa Inglesa” tinha em sua ficha cadastral interna, vários itens curiosos para análise de aprovação ou não do cadastro do cliente. Entre os itens a serem preenchidos obrigatoriamente, existia um que requisitava o nome da(s) esposa(s) como também o da amante, com os respectivos lugar de moradia. O motivo disso é totalmente desconhecido por Ingrid Clark, herdeira direta desse importante grupo comercial da Parnaíba antiga.

Outros itens curiosos do mesmo formulário: se o cliente em questão era político extremado, se gastava muito com política, ou se era um gastador contumaz, jogador ou farrista, qual o conceito que ele desfrutava naquela praça, a moralidade pessoal e a reputação do mesmo, como era a situação da firma (do cliente), se tinha serviço organizado, se a gerência era séria e conservadora e também dados sobre os sucessores (se eram ou não competentes).

O cadastro encontra-se à disposição dos pesquisadores e do público geral, entre o acervo de documentos do “Museu do Comércio do Piauí”, projeto desenvolvido pela Câmara dos Dirigentes Lojistas de Teresina.

A Praça de Esportes construída pela “Casa Inglesa”, inicialmente foi chamada de “Estádio Internacional”, porque o Internacional Athletic Club, fundado em 1917 e hoje extinto, lá disputava seus jogos.

O “colorado” parnaibano disputou o campeonato da cidade entre 1917 e 1940, sendo campeão em 1921 e 1928. Seu primeiro presidente foi o desportista Samuel Bompet. Na mesma época, também havia em Parnaíba outro estádio, onde hoje está situado o Colégio Diocesano Luiz Gonzaga de Sena.

Em 12 de fevereiro de 1922 o “Petrônio Portela” foi palco do primeiro jogo interestadual do futebol piauiense. O Parnahyba Sport Club realizou alguns amistosos contra o Guarany Atlético Clube, de Fortaleza. No primeiro amistoso, o time cearense venceu por 1 X 0, mas no segundo confronto, dia 15, o Parnahyba ganhou por 2 X 0, conquistando a “Taça Guarany”.

O Parnahyba jogou com Aderson - Basilio e Xixico - Albino e Brandão – Antonio – Colibri – Lyra – Zeca - Milton Ramos e Milton Moreira.
Na década de 1950, o Campeonato Parnaibano de Futebol costumava levar grandes públicos ao estádio. Havia na cidade vários clubes: Parnahyba, Flamengo, Fluminense, Belga, Paysandu e Ferroviário.

Era comum a presença de clubes de Teresina em Parnaíba, que quase sempre eram derrotados. Quando o Parnahyba começou a disputar o campeonato estadual, os seus jogos eram realizados no “Estádio Internacional”.

Na década de 1960 a “Casa Inglesa” resolveu fechar o estádio e colocá-lo a venda. O governador na época, Petrônio Portela, adquiriu o estádio para o Governo do Piauí. Em consequência, desportistas da cidade fizeram uma exitosa campanha, que culminou com a mudança de nome para “Estádio Petrônio Portela”.

No início dos anos 70 o governador Alberto Silva doou a praça de esportes ao Parnhayba Sport Club, o que acabou por gerar uma grande crise no futebol parnaibano, porque as outras agremiações esportivas não gostaram e protestaram.

Além do Parnahyba a cidade tem outro clube de futebol profissional, o Ferroviário Atlético Clube (FAC), chamado de “Ferão”, que foi fundado em 1946 por funcionários da então Estrada de Ferro Central do Piauí. E dezenas de clubes amadores filiados à liga local.

Tudo porque anteriormente o prefeito da cidade havia pedido ao Governador que o estádio Petrônio Portela fosse doado para a Prefeitura, com o compromisso de repassá-lo à Liga, servindo para todos os clubes da cidade.

As diretorias que sucederam o presidente Pedro Alelaf, pouco fizeram para manter o estádio de pé. Pelo que se sabe houve a restauração dos portões de entrada e a modernização da “Casa do Atleta”, construída por Alelaf e cujo teto esteve por desabar.

Os quartos são equipados com televisores, camas beliches e ar condicionado. O local passou a ser chamado de “Toca do Tubarão” e serve como moradia e concentração dos jogadores.

Também foi construído um lance de arquibancada para mais de mil torcedores e o projeto prevê que mais dois sejam erguidos. Porém, outros locais não foram atendidos, como a antiga e histórica arquibancada que não resistiu e acabou ruindo. E junto dela a garbosa arquitetura inglesa, que continua a espera de uma restauração, pois sobraram só os escombros.

Depois, com a construção do “Estádio Municipal Mão Santa”, conhecido como “Piscinão”, com capacidade para 4.700 torcedores, o “Petrônio Portela” não foi mais palco de jogos oficiais de seu time profissional. É utilizado como Centro de Treinamento (CT) e para amistosos da equipe profissional e partidas oficiais da Categoria Sub-18, além de jogos de equipes amadoras.

Além dos estádios “Petrônio Portela” e “Mão Santa”, a cidade conta com outro estádio, o “Verdinho”, de propriedade da Federação das Indústrias do Piauí, que tem capacidade para 4.500 expectadores. Existe um projeto, que está paralisado, para a construção do “Estádio Olímpico de Parnaíba”, que também contará com instalações para outros esportes.

construção do Centro teve início em 2012. As obras começaram pela preparação do terreno, com a terraplanagem, e pela construção das quadras de tênis. Fazem parte do projeto, ainda, a construção de ginásio coberto, quadras de vôlei de praia e poliesportivas, pista de cooper, ciclovia, piscinas, entre outras.

Também haverá estruturas como centro de artesanato e anfiteatro e  um ginásio com capacidade para 25 mil pessoas. A obra, no entanto, não andou como o esperado. A construção estava prevista em duas etapas: a primeira correspondendo à Vila Olímpica e todas as suas estruturas, e a segunda sendo a construção do estádio.

A primeira parte deveria ter sido entregue em dezembro, mas impasses em relação à demarcação da área a ser construída atrasaram os planos. Um novo prazo foi estipulado para junho deste ano, mas novamente não foi correspondido.

O ex- presidente do Parnahyba Sport Club, José Lima, que hoje preside a Federação de Futebol do Piauí (FFP), disse que o estádio está precisando de uma reforma em sua estrutura, como: colocação de alambrados, colocação dos refletores de energia, recuperação do gramado, entre outras melhorias. Mas segundo ele, fica difícil fazer tudo isso, sem recursos suficientes. 

A falta de dinheiro no clube é uma realidade, tanto que em novembro do ano passado a energia do estádio Petrônio Portela foi cortada, por dívidas que ultrapassavam R$ 10 mil. O Parnahyba não pagava as contas há quatro meses. Só conseguiu honrar o compromisso, depois de receber R$ 75 mil da prefeitura, que também serviu para pagar os salários atrasados dos jogadores.

O clima dentro do clube já esteve bastante ruim. Antes da saída do time para o jogo final do Campeonato Piuiense, em Teresina, o clima entre o então técnico Paulo Moroni e o ex-presidente José Lima, era de tensão. Na volta, com a taça nas mãos, foi decidido que o jantar seria na cidade de Campo Maior, na Churrascaria “O Cervejão”.

Lá, Moroni teria dito que a conquista do título fora mérito só dos jogadores e não da Diretoria. José Lima não gostou do que ouviu e jogou o whisky que estava bebendo no rosto do treinador. E este revidou jogando cerveja no rosto do presidente, que enraivecido atirou o copo de vidro na cabeça de Moroni. A coisa não ficou pior, graças a turma do deixa disso.

O Parnahyba Sport Clube é dono de um invejável patrimônio, mas  tem tido enormes dificuldades para tocar em frente o projeto de recuperação total do estádio. A sua sede social, localizada na Praça de Santo Antônio, zona central da cidade, é muito valorizada no mercado imobiliário, valendo entre R$1,8 milhão a R$ 2 milhões.

Neste final de ano, sem dinheiro para pagar os jogadores que disputaram a Série D do Campeonato Brasileiro, o Parnahyba se viu obrigado a alugar sua sede social para a Justiça Federal por um ano. E espera com isso, mais o dinheiro que vem da prefeitura, poder pagar as dívidas.

Para o dia 27 deste mês, o Parnahyba Sport Clube marcou eleições para escolha do Conselho Deliberativo e Diretoria. Elas originalmente deveriam acontecer em dezembro, mas foram antecipadas em razão da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ter divulgado o calendário das competições estaduais para o dia 12 de janeiro de 2014 e a Copa do Brasil para o dia 12 de março de 2014. Como o Parnahyba participará dessas competições, dará tempo aos novos dirigentes de formaram um bom elenco.


E os torcedores esperam que esses novos dirigentes olhem com mais carinho para o Estádio Petrônio Portela, que sem dúvida se constitui num monumento histórico da cidade de Parnaíba. E que merece ser preservado. (Pesquisa: Nilo Dias)

Arquibancada do antigo estádio Internacional, que foi doado ao Parnahyba e rebatizado de Estádio Petrônio Portela e hoje abriga o Centro de Treinamento (CT), do Parnahyba Sport Club. (Foto:Acervo fotográfico do Parnahyba S.C.)

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