O
União Futebol Clube de Mogi das Cruzes (SP), foi fundado no dia 7 de setembro
de 1913, quando a cidade não tinha mais do que 10 mil moradores. Nessa época o
novo esporte já era conhecido por lá, pois registros mostram que antes mesmo da
fundação do União, Mogi das Cruzes já contava com dois clubes de futebol, o
Falena Futebol Clube e o Esporte Clube Mogi.
O
Falena pertencia ao sapateiro Alfredo Cardoso, um negro estabelecido com sua
oficina no centro da cidade. Era conhecido por “Alfredão”. Já o Mogi era do
comerciante Francisco Veríssimo, o “Chiquinho”, que era proprietário de uma
loja de tecidos, na Rua José Bonifácio, igualmente na zona central.
Alguns
registros publicados pelo historiador Isaac Grinberg, mostram os primeiros
jogos entre Falena e Esporte Clube Mogi. No primeiro jogo da história, o Falena
venceu por 3 X 0. Uma semana depois, em novo confronto, houve empate em 1 x 1.
Na terceira partida, nova vitória do Falena, outra vez por 3 X 0.
Apesar
da diferença social, “Chiquinho” e “Alfredão” eram amigos. Nas poucas vezes em
que os times da cidade foram convidados a se apresentarem na Capital,
geralmente faltavam jogadores. E também pelo fato dos ânimos terem ficado um
tanto exaltados, depois que as duas equipes se enfrentaram em três
oportunidades. Por isso os dois decidiram fazer uma união das duas equipes.
Dessa forma nasceu o União Futebol Clube.
Em
setembro de 1961, quando o clube comemorou 48 anos de fundação, o desportista
Levy Rodrigues escreveu em uma edição comemorativa no jornal do União, o
seguinte:
“A
luz mortiça dos lampiões testemunham outra vez, os debates. As conversas
prosseguem até as tantas. Chegam finalmente a um acordo. Unir os dois clubes
com nova denominação. Unir era a palavra. E porque não – União Futebol Clube. A
vontade dos pioneiros esportivos de Mogi predominou. As cores vermelhas que
sempre foram os sonhos do “Alfredão”, passou a ser a bandeira de luta esportiva
da terra”.
A
data de fundação oficial foi 7 de setembro, dia em que o novo clube enfrentou
em jogo amistoso ao “Flor da Índia”, da capital paulista. Quis o destino que o
primeiro gol da história do União Mogi fosse marcado por “Alfredão”. Resultado
final: União 1 x 0 Flor da Índia.
“Alfredão”
escreveu seu nome na história da cidade que o viu nascer no dia 1º de janeiro
de 1888, pouco antes da abolição da escravatura no Brasil.
“Muito
se tem dito que, sempre que se escrever ou falar qualquer coisa que diga
respeito ao passado do União Futebol Clube, é obrigatório citar o nome de
Alfredo Cardoso”, disse seu filho Heitor, quando da passagem dos 58 anos de
fundação do clube. O fundador do União Futebol Clube faleceu no dia 23 de
novembro de 1957, aos 69 anos, por insuficiência cardíaca.
Como
não era fácil conseguir adversários, em seus primeiros anos de existência o
União Mogi realizou apenas jogos amistosos. O clube era formado em sua maioria
por pessoas pertencentes à classe alta da cidade, jovens que haviam estudado
até mesmo no exterior. A exceção era “Alfredão”. E assim o time permaneceu no
amadorismo por muitos anos.
Durante
os nove primeiros anos de vida, o União Mogi participou de amistosos e
campeonatos na cidade. O campeonato contava com times de lugares distantes,
como Suzano, Poá e até com um clube chamado de Romanópolis, de Ferraz de
Vasconcelos.
Além
deles, tinham os clubes que eram os favoritos, o próprio União Mogi, o Vila
Santista, o Mineração e o Tietê. “Como de costume, no futebol a competição era
disputada em dois turnos”, lembrou Caetano Grieco Junior, o “Caetaninho”,
jogador do União ainda em sua época amadora, de 1944 até 1947.
Somente
em 8 de agosto de 1922, o União registrou seus estatutos no 3º Cartório de
Notas de Mogi das Cruzes, tornando-se oficialmente uma entidade esportiva de
fato e de direito, com Estatuto, definição de diretoria, normas e atribuições
do executivo e sócios. Dessa forma, o primeiro presidente oficial do União foi o
desportista Isodoro Boucault.
Depois
disso, mesmo continuando amador, o União passou a jogar alguns torneios, como o
Campeonato do Interior, em 1924, quando enfrentou equipes do Alto Tietê e do
Vale do Paraíba. A primeira competição
que o time disputou profissionalmente foi o Campeonato Paulista da Segunda
Divisão, em 1951. O time que disputou essa competição era formado
por: Carlos Sato – Onofre e Zuza - Zé Luiz – Romão e Hironi – Ery - Brasil –
Alvinho - Waldemar e Paulinho Machado.
Até
a disputa do estadual, o clube participou por 39 anos de competições amadoras
de Mogi das Cruzes e região. Nesses torneios, o time conquistou a torcida de
grande parte da cidade e passou a ser o sonho de muitos garotos mogianos.
Mas
o momento mais marcante desse período foi o que ensejou a construção do seu
campo de futebol, na Rua Casarejos, em uma extensa área adquirida pelo clube. O
estádio, cujo nome oficial era “Francisco Ferreira Lopes”, foi por muitos anos
um dos principais pontos de reunião e diversão da sociedade mogiana. Os bailes do União, realizados no Ginásio de
Esportes construído tempos depois,
ficaram famosos na cidade, principalmente os de Carnaval.
Em
15 de outubro de 1975, o União comprou o terreno situado no Bairro do Caputera,
uma área 128.200m², por 50 mil cruzeiros, e teve início o projeto da construção
do CT da Vila da Prata.
Na
década de 1940, mais estruturado e com melhores condições financeiras, graças a
ajuda dos comerciantes locais, o União fez contratações ousadas, trazendo
jogadores do Guarani, XV de Piracicaba e outros times grandes do interior
paulista.
Em
1947 o time conquistou o primeiro título intermunicipal, quando foi campeão
invicto, vencendo todas as 10 partidas do Campeonato Regional do Setor Norte.
Nessa competição o União enfrentou Ponte Preta, São José, Elvira, Paraíbuna e
Pedra Santa. O título conquistado nos pênaltis contra o São José foi o mais
importante da história do clube até 2006, quando ganhou o Campeonato Paulista
da Segunda Divisão, garantindo o acesso à Série A3 de 2007.
Depois
da bonança veio o declínio, no final da década de 40. O dinheiro desapareceu e
os principais investidores também. Nem mesmo os bailes no Ginásio Francisco
Averaldo e o aluguel do Estádio da Rua Casarejo, serviram para minimizar a
crise.
A
conquista de 1947 teve um preço muito alto. Depois dela quase não se podia
pagar os atletas, mesmo com salários baixos. A maioria dos jogadores gastava
tudo o que recebiam do futebol nos bares, e mantinham um emprego paralelo para
se sustentarem.
Na
década de 60 o clube lançou a campanha “Luzes para o Futebol Mogiano”, para
possibilitar jogos a noite. Foi um sucesso, tanto que em 1974 o “XI da Saudade”,
time de veteranos do União, enfrentou a equipe de igual categoria do São Paulo
Futebol Clube, com a presença do uruguaio Pedro Rocha, no jogo de inauguração
dos refletores da Rua Casarejos. Vendido em 1999, o estádio deu lugar a um
centro comercial.
O
“XI da Saudade” fez história no futebol de Mogi das Cruzes. Começou com dois
jogadores veteranos do União, que vieram de São Paulo, Eduardo Lima e Tremembé.
Depois deles começaram a vir outros jogadores, não só para jogar futebol, mas
principalmente para a cervejinha amiga, nas rodas de confraternização.
O
time teve uma longa vida, foram mais de 20 anos, jogando em Mogi e em outras
cidades como São José dos Campos, Itaquaquecetuba, Santa Isabel, Guararema,
Salesópolis e Jacareí. Nos primeiros 10 anos o time contava apenas com ex-jogadores
do União. Depois é que vieram os reforços, profissionais de outros clubes.
Em
1973, o momento máximo, Mané Garrincha vestiu a camisa do “XI da Saudade”. Outros grandes jogadores atuaram pelo “XI da
Saudade”: Rivelino, Ademar Pantera, Mão
de Onça, Ado, Roberto Dias e Tupãzinho.
O
hoje presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marins
jogou no União Mogi entre 10 de novembro de 1956 e 15 de agosto de 1957, após
ter passado pelo São Paulo, Marília e Jabaquara.
Depois de participar do campeonato de 1959, o futebol
profissional do União chegou ao fim, ficando fora de qualquer competição por
longos 18 anos. Em 1979 a volta, participando da Terceira Divisão do Campeonato
Paulista.
Em 1980, graças a reformulação da competição, o
União retornou para a Segunda Divisão, onde permaneceu até 1993. No final da
década de 80, o técnico do time foi Djalma Santos, bicampeão mundial em 1958 e
1962 pela Seleção Brasileira.
Também Waldir Peres, ex-goleiro da Seleção
Brasileira foi técnico da equipe de 93 a 96 e dirigiu dois jogadores que se
tornaram figuras conhecidas hoje em dia: Neymar, pai de Neymar Jr. e Lecheva,
que brilhou no Payssandu, de Belém do Pará. O craque Neymar Jr. nasceu em Mogi
das Cruzes.
Na história recente do clube alvirrubro, o único
jogador que alcançou espaço em uma equipe grande foi o zagueiro Felipe Augusto,
campeão mundial em 2012 com o Corinthians.
Começou
em 1999 o período de maior decadência do clube. A sede da rua Casajeros, com
estádio e ginásio foi vendida para uma construtora que pretendia construir no
local um empreendimento comercial, mas a expectativa de renda com parte dos
boxes que ficaram com o clube, não se confirmou.
Para
piorar, a área onde seria erguido o CT da Vila da Prata, que nem havia
começado, foi penhorada em agosto de 2005, para pagamento de dívidas
trabalhistas. Em janeiro de 2006, o terreno foi arrematado por R$ 200 mil em um
leilão judicial, 4% do valor avaliado, que era de R$ 5 milhões. O clube ainda
tentou anular o leilão, mas não conseguiu.
Em
2006, pelo menos no futebol a coisa melhorou. O Mogi, dirigido pelo técnico
Toninho Moura, conquistou o Campeonato Paulista da Segunda Divisão e o acesso
para Série A3. Mas três anos depois, em 2009, estava de volta à última divisão
de São Paulo, de onde não saiu mais.
O
Mogi é recordista em troca de presidentes, de 2005 até hoje, foram oito. E
nenhum deles conseguiu chegar até o fim do mandato. A mascote do clube, não
poderia ser outra: a "Serpente do Tietê". As torcidas atuais do União Mogi são: “Falange
Vermelha” e “Explosão”. (Pesquisa: Nilo Dias)
Primeiro time do Uniao Mogi, em 1913. "Alfredão", o fundador do clube é o jogador que está com a bola na frente. Foi o autor do primeiro gol da história do União. (Foto: Arquivo do jornal "O Diário de Mogi")
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