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terça-feira, 12 de novembro de 2013

Um fenômeno chamado “Manga”

Haílton Corrêa de Arruda, o “Manga”, foi um goleiro fantástico, um dos melhores surgidos no futebol brasileiro em todos os tempos. Nasceu no dia 26 de abril de 1937, em Recife, capital pernambucana. Começou a vitoriosa carreira no Sport, de Recife, em 1955.

Em 1955 Aílton recebeu a alcunha de “Manga”. Ganhou o apelido por causa do goleiro do Santos, que era o “papão” da época e se chamava “Manga”. Não foi por gostar da fruta, que dizia não apreciar.

Tempos depois, a versão mudou, com a inclusão de um primo na história. Ele teria dito que, por causa da varíola, sua cara ficou com crateras do tamanho de “mangas”. E o apelido pegou.

Quando ainda era juvenil do clube pernambucano, já mostrava que era um excepcional goleiro, ao ser campeão da categoria em 1954, sem sofrer um único gol. No ano seguinte, aos 18 anos estreou no time de cima num amistoso contra o Náutico, na “Ilha do Retiro”, quando substituiu o titular “Carijó”, que se lesionou durante a partida.

O seu time venceu por 5 X 2 e ele teve boa atuação. Somente em 1956 defendeu o Sport pela segunda vez, e de novo substituindo “Carijó”, numa partida amistosa contra o Fluminense, de Feira de Santana (BA), na “Ilha do Retiro”.

A sua ascensão ao time de cima começou durante uma excursão do Sport à Europa e Oriente Médio, em 1957. O goleiro titular Oswaldo "Baliza" se lesionou logo no primeiro jogo, contra o Sporting, de Lisboa e o técnico Dante Bianchi escalou “Manga”, então com 20 anos, em seu lugar.

Em 1955, 1956 e 1958 conquistou seus três títulos de campeão pernambucano como jogador profissional do Sport. O time campeão era dirigido pelo técnico argentino Dante Bianchi e tinha no grupo, entre outros, o uruguaio Walter Morel e os artilheiros “Traçaia”, “Naninho”, que depois jogou no G.E. Brasil, de Pelotas, “Gringo”, “Soca” e “Geo”.

Dali em diante ele se tornou titular absoluto, ficando no clube pernambucano até 1959, quando tinha 22 anos e se transferiu para o Botafogo, do Rio de Janeiro, onde se tornou conhecido nacionalmente. Seu último jogo com a camisa do Sport foi contra o Ferroviário, pelo certame estadual. Nesse jogo até marcou um gol.

Sua estréia pelo Botafogo aconteceu em julho de 1959. Por seu estilo arrojado, teve as mãos deformadas devido a tanto trabalho No total foram 445 jogos defendendo a camisa alvinegra, sofrendo 394 gols.

No alvi-negro carioca jogou por 10 anos, sendo considerado até hoje o melhor goleiro que o clube já teve em toda a sua história. Tinha um físico privilegiado, mãos grandes, elasticidade e boa colocação, além de ser veloz ao repor a bola e ágil debaixo das traves.

A torcida o tinha como um “santo milagroso”, pois não raras vezes fazia defesas quase impossíveis. Era conhecido por agarrar muitos penaltis que decidiram títulos importantes. Também ficava irritado com os adversários, quando a bola não era chutada em seu gol.

No clube da “Estrela Solitária” conquistou quatro campeonatos estaduais e três torneios Rio-São Paulo. Uma de suas caracteristicas marcantes no time carioca foi de sempre fechar o gol contra o Flamengo. Além, é claro, de declarações debochadas que deixavam os torcedores rubro-negros indignados.

Costumava dizer que o “o leite das crianças estava garantido e que já gastara antecipadamente o bicho pela vitória", antes de qualquer jogo contra o time da Gávea.

Em 1966 foi convocado para a Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo, da Inglaterra. Ele entrou no lugar do titular Gilmar dos Santos Neves na partida contra Portugal e não foi feliz. Foi sua única participação num “Mundial”.

A derrota por 3 X 1 para o time de Oto Glória serviu não apenas para selar a eliminação do Brasil no “Mundial”, como para encerrar o ciclo de “Manga” na Seleção, da qual foi banido após ser pego acompanhado de uma mulher na concentração.

Sua saída do Botafogo foi traumática. O goleiro deixou o clube acusado pelo então técnico João Saldanha, de ter-se vendido a Castor de Andrade, patrono do Bangu, no jogo final do Campeonato Carioca de 1967.

Nesse jogo contra o Bangu, “Manga” foi um dos responsáveis pelo placar de 2 X 1, para o Botafogo, que evitou o bicampeonato dos alvirrubros. Ainda assim, não foi perdoado pelo grande botafoguense João Saldanha, que o acusou de ter facilitado no lance do segundo gol do Bangu, anulado pelo árbitro Antônio Viug.

No primeiro encontro entre os dois após a partida, Saldanha mostrou o porquê do apelido de “João sem medo”: deu um tiro para o chão, do qual “Manga” escapou em desabalada carreira, saltando um muro. Por isso foi vendido ao Nacional, de Montevidéu. No clube uruguaio jogou de 1969 a 1974 com enorme brilho.

A imprensa de lá o considerou o melhor goleiro que já apareceu no futebol uruguaio em todos os tempos. No Nacional conquistou o mais importante título de sua carreira, o “Mundial Interclubes" de 1971, além de uma “Taça Libertadores da América” e vários campeonatos nacionais.

De volta ao Brasil, em 1974, com 37 anos, seguiu colecionando títulos pelo Internacional gaúcho, onde atuou até 1976, se tornando um dos maiores ídolos da história do clube. No “Colorado” foi Campeão Brasileiro de 1975 e 1976. A torcida não esquece aquela sólida defesa que era formada por Manga – Cláudio - Figueroa - Hermínio e Vacaria.

As mãos imensas com os dedos tortos faziam defesas elásticas e arrojadas. Os dedos entortados foram resultado de fraturas mal recuperadas, herança de seus tempos de Botafogo. “Manga” chegou a recusar uma cirúrgia corretora, que seria paga pelo próprio lendário presidente do Botafogo, na época, Carlito Rocha.

“Manga” era também excelente na reposição de bola. Em certas cobranças de falta preferia abrir mão da barreira, de modo a ficar cara a cara com o batedor. Não tinha chute de efeito que o enganasse no auge da sua carreira. Era um goleiro praticamente perfeito.

Na decisão do “Brasileirão” de 1975, contra o Cruzeiro, de Minas Gerais, “Manga” permaneceu em campo, mesmo com um dedo quebrado e foi um dos grandes nomes do jogo. Como já havia acontecido em todos os confrontos anteriores, aquele foi um outro dia de “Manga”.

Em sua passagem pelo Internacional, “Manga” foi mais do que um grande goleiro. Era um jogador inveterado, ganhava muito dinheiro em campo e jogava tudo fora nas mesas de carteio. Os cobradores iam direto a loja do presidente Eraldo Hermann, a “Hermann Materiais de Construção” e ele pagava às contas. “Manga” adorava uma boa cerveja gelada. Mesmo assim conseguia manter uma forma atlética fantástica.

Depois teve uma rápida passagem pelo Operário, do Mato Grosso do Sul, time que ajudou a ir até às semifinais do “Campeonato Brasileiro” de 1977, sendo eliminado pelo São Paulo, que se sagrou campeão naquele ano.

Jogou ainda no Coritiba (1978) e no Grêmio (1978-1979), que tinha uma defesa com Manga – Eurico – Ancheta - Vantuir e Dirceu. O tricolor gaúcho foi acusado pelo rival de ter quebrado um acordo tácito, de que um clube não contrataria jogador que tivesse atuado no outro.

Depois se mudou de vez para o Equador, onde defendeu o Barcelona, de Guaiaquil em 1981 e 1982. Após encerrar a carreira trabalhou como treinador de goleiros em Quito, no Equador e nos Estados Unidos. Depois foi morar na cidade de Salinas, no interior quatoriano.

Em 1º de maio de 2010 o Internacional repatriou “Manga” e o contratou para ser coordenador e preparador de goleiros das categorias de base e relações públicas, com a finalidade de buscar novos sócios. 

O ex-goleiro estava desempregado, passando por dificuldades financeiras, quando o Internacional jogou uma partida pela “Taça Libertadores” no Equador. “Manga” foi ao hotel onde o time estava concentrado e contou sua história e os problemas que enfrentava. O ex-goleiro ficou em Porto Alegre até março do ano passado, quando decidiu voltar a morar com sua esposa em “Litle Havana”, Miami, onde ensina futebol a colônia hispânica local.

Títulos conquistados: Pelo Sport: Campeão Pernambucano (1955, 1956 e 1958); Pelo Botafogo: Intercontinental de Clubes da França (1963); Copa do Mundo de Clubes (1967/1968); Roberto Gomes Pedrosa (1962, 1964 e 1966); Taça Brasil (1968); Torneio Rio-São Paulo (1962, 1964 e 1966); Campeonato Carioca (1961, 1962, 1967 e 1968); Torneio Início: 1961, 1962, 1963 e 1967);  Taça Guanabara (1967/1968); Torneio Internacional da Colômbia (1960); Torneio Pentagonal do México (1962); Torneio Internacional de Paris (1963); Torneio Jubileu de Ouro da Associação de Futebol de La Paz (1964); Torneio Quadrangular do Suriname (1964); Torneio Governador Magalhães Pinto (1964); Torneio Íbero-Americano (Quadrangular de Buenos Aires) (1964); Copa Carranza, de Buenos Aires (1966); Torneio Quadrangular de Teresina (1966); Taça Círculo de Periódicos Esportivos (1966); Torneio de Caracas (1967/1968).

Pelo Nacional, de Montevidéu: Campeonato Uruguaio (1969, 1970, 1971 e 1972); Taça Libertadores da América (1971); Copa Intercontinental (1971); Pelo S.C. Internacional, de Porto Alegre: Campeonato Gaúcho (1974, 1975 e 1976); Campeonato Brasileiro (1975 e 1976); Pelo Operário-MS: Campeonato Mato-Grossense (1977); Pelo Coritiba: Campeonato Paranaense  (1978); Pelo Grêmio: Campeonato Gaúcho (1979) e pelo Barcelona, de Guayaquil: Campeonato Equatoriano (1981).

Manga também tinha três irmãos que jogaram futebol: “Manguito”, “Dedé” e “Alemão”, que se destacaram no futebol pernambucano. O último, inclusive, era zagueiro central e atuou no América, do Rio de janeiro, sendo bom batedor de faltas e pênaltis. “Dedé” brilhou no Sport Club, do Recife.

“Manga” também ficou famoso por suas tiradas inocentes, que lhe deram a fama de folclórico. Contam que certa ocasião ele estava parado em uma esquina de Porto Alegre, quando passava um cortejo fúnebre imenso. Um transeunte lhe perguntou quem era o famoso falecido. Sem pestanejar, “Manga” teria respondido: “Acho que é o que vai no carro da frente”.

O “Dia do Goleiro” é comemorado em homenagem a “Manga”, nascido no dia 26 de abril de 1937. Essa data foi oficializada em 1976. Um ano antes, o primeiro “Dia do Goleiro” foi proposto para ser comemorado em 14 de abril, porque naquela data, uma grande festa reuniu goleiros e ex-goleiros no Rio de Janeiro.

Foi uma idéia do tenente Raul Carlesso e do capitão Reginaldo Pontes Bielinski, professores da escola de Educação Física do Exército. Mas já em 1976 definiu-se como data oficial o 26 de abril. (Pesquisa: Nilo Dias)


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