Primeiro
foi Nilton Santos, agora Pedro Rocha que nos deixa. Em poucos dias o futebol
perdeu dois de seus grandes nomes. Nilton Santos foi da “Seleção Brasileira” e
Pedro Rocha da “Celeste Olímpica”. Dois grandes amigos da bola.
O
ex-jogador uruguaio, que foi ídolo no São Paulo F.C. na década de 1970, morreu
ontem (02/12) em sua casa, na capital paulista, um dia antes de completar 71
anos de idade. Ele padecia de atrofia do mesencéfalo, um mal que afetava seus
movimentos e a fala, mas não a compreensão e a memória. Pedro Rocha passava os
dias em casa, ao lado da mulher Mabel, fazendo fisioterapia e recebendo assistência
médica.
Pedro
Virgílio Rocha Franchetti nasceu no dia 3 de dezembro de 1942, na cidade de
Salto, Uruguai e se consagrou como um dos melhores camisas 10 do mundo. Escreveu
seu nome na galeria de craques de dois dos principais times do continente, o
Peñarol e o São Paulo.
Era
chamado de “El Verdugo”, apelido dado pelos torcedores do Peñarol, em razão da
grande quantidade de gols que marcou contra o rival Nacional. Era o “matador”,
com sua categoria, chute forte e cabeçadas arrasadoras.
Forte
e elegante, chegou ao São Paulo no dia 15 de setembro de 1970, aos 28 anos de
idade, depois de terem sido contratados Gerson “Canhotinha de Ouro” e Toninho "Guerreiro", para compor um dos mais fortes meios de campo da história
são paulina.
O
tricolor paulista não ganhava nada há 13 anos e a diretoria resolveu partir
para a formação de um time forte, ao mesmo tempo que concluía as obras do
estádio do Morumbi. Os primeiros jogos de Pedro Rocha com a camisa do São Paulo
foram desanimadores. Até a saída de Gerson do clube, fez tão somente 13 gols em 59
partidas.
Em
1972 tudo foi diferente e o artilheiro uruguaio marcou 25 gols em 56 partidas,
um desempenho notável que o consagrou como o primeiro jogador estrangeiro a ser
o artilheiro de um Campeonato Brasileiro. Ele fez 17 gols, dividindo a
artilharia com Dario, do Atlético Mineiro.
Seu
companheiro de São Paulo, Peñarol e Seleção Uruguaia, Pablo Forlán, chegou a
dizer que Pedro Rocha foi o melhor jogador uruguaio dos últimos 50 anos. Edson
Arantes do Nascimento, o “Pelé”, também era fã de Pedro Rocha. Para o “rei”,
ele foi um dos cinco melhores jogadores do mundo, na época.
A
descrição de Rocha como jogador, beirava a perfeição. Ele caminhava com a bola,
lançava o centroavante e continuava a correr, até recebê-la de volta. Aí tocava
para um dos pontas e se deslocava em direção a área, confundindo os defensores
que não sabiam a quem marcar, facilitando seu cabeceio.
Em
outras ocasiões, quando não tinha como dar o passe, costumava segurar a bola
até poder desferir um chute forte de 30 metros de distância. No final da Copa
América de 1967, vencida pelo Brasil, era Pedro Rocha o cobrador de faltas pelo
lado esquerdo de campo. Geralmente ele colocava a bola no canto esquerdo do
goleiro adversário.
Pedro
Rocha era uma pessoa educada, quieto, não se prestava para muitas brincadeiras
e tinha como “hobby” jogar sinuca. No “pano verde” era praticamente invencível,
jogava como ninguém. Diziam que ele era “um gênio da bola", dentro de
campo ou numa mesa de sinuca.
Pedro
Rocha vestiu a camisa do São Paulo 393 vezes e marcou 119 gols. Ficou no clube
do Morumbi por longos sete anos, saindo em 1977 depois de se desentender com o
técnico Rubens Minelli. No clube das três cores ganhou um Campeonato Brasileiro
e dois estaduais.
No
Peñarol, de Montevidéu, clube que o revelou para o futebol, Rocha foi três
vezes campeão da “Taça Libertadores da América” e duas vezes da “Copa
Intercontinental de Clubes”, antes de se transferir para o São Paulo. Cada vez
que ele entrava em campo a torcida amarela e preta uruguaia cantava: “Rocha,
meu bom amigo, esta campanha queremos estar contigo. Estaremos de coração. Essa
torcida quer te ver campeão”.
Entre
seus maiores feitos, destaca-se o fato de ser o único jogador uruguaio até hoje
a disputar quatro Copas do Mundo, 1962, 1966, 1970 e 1974.
A
carreira vitoriosa de “El verdugo” não lhe garantiu uma aposentadoria
tranquila. Depois de deixar os gramados tentou a carreira de treinador, tendo
dirigido o Internacional, Ponte Preta e Portuguesa de Desportos, sem obter
sucesso. Aí partiu para outra aventura, ser dono de uma casa de Bingo, que
também não deu certo.
Passou
a viver com uma aposentadoria que não chegava a R$ 2 mil. E com os graves
problemas de saúde que enfrentou nos últimos anos, a coisa só piorou. O São
Paulo inicialmente ajudou no tratamento médico, mas tempos depois suspendeu o
apoio. E o prometido amistoso em sua homenagem nunca saiu.
Segundo
seu filho Pedrinho Rocha, ex-jogador de futebol (atuou nos juniores do
Palmeiras e São Paulo, depois foi para o Uruguai, onde jogou no Peñarol e hoje
é treinador), dois médicos amigos ajudavam Rocha. Um deles também se
responsabilizava pela fisioterapia que o ex-jogador fazia. Queixa-se de que o
São Paulo não fez por ele o que deveria ter feito. Ajudou um pouco, mandou um
médico, e só.
Equipes
que atuou: Peñarol (1959 - 1970), São Paulo (1970 - 1977), Coritiba (1978),
Palmeiras (1979), Bangu, Deportivo Neza, do México, Monterrey, do México (1980)
e Al-Nassr, da Arábia Saudita (1980).
Títulos
conquistados. Campeonato Uruguaio (1959, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967 e
1968); Taça Libertadores da América (1960, 1961 e 1966); Taça Intercontinental
de Clubes (1961 e 1966); Recopa Sul-Americana (1969); Campeonato Paulista (1971
e 1975); Campeonato Brasileiro (1977) e Campeonato Paranaense (1978). Gols marcados.
Peñarol (81 gols em 159 jogos); São Paulo (119 gols em 393 jogos) e seleção do
Uruguai (17 gols em 52 partidas).
Prêmios
individuais: Melhor jogador do Campeonato Sul-Americano, atual Copa América
(1967); Bola de Prata, Revista Placar (1973) e 38º Melhor futebolista
Sul-Americano do Século XX, escolhido pela International Federation of Football
History & Statistics - IFFHS (1999).
Pedro
Rocha virou parte de um livro, “Tricolor Celeste”, de autoria do jornalista
Luis Augusto Simon, onde é descrita a trajetória de quatro jogadores uruguaios
que vestiram a camisa do São Paulo F.C.: Pablo Forlán, Dario Pereyra, Diego
Lugano e Pedro Rocha.
Pena
que nunca tenha sido Campeão do Mundo pela “Celeste”, o que o equipararia a
outros monstros sagrados do futebol uruguaio, como Juan Schiaffino, Obdulio
Varela, Hector Scarone e José Leandro Andrade. Mas, a exemplo desses, foi um
grande craque.
Nenhum comentário:
Postar um comentário