Tem
muita gente da imprensa carioca e paulista, especialmente, que até hoje não se
conforma que um clube do interior do Rio Grande do Sul seja de fato e de
direito o mais velho em atividade no futebol brasileiro. Alguns comentaristas,
desinformados pelo jeito, insistem em dizer que é a Ponte Preta, de Campinas
(SP), o “vovô”, no caso a “vovó” do futebol em nosso país.
A
antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), hoje Confederação Brasileira
de Futebol (CBF), confirmou em oficio datado de 28 de julho de 1975, a
legitimidade do clube gaúcho de ser o mais velho time de futebol do Brasil. E
em homenagem estabeleceu o 19 de julho, data de fundação do clube, como o
"Dia do Futebol Brasileiro".
Outra
coisa que deixa cariocas e flamenguistas loucos de raiva é saber que o
rubro-negro mais velho do futebiol brasileiro não é o Flamengo, e sim o E.C. 14
de Julho, de Santana do Livramento, fundado em 14 de julho de 1902, que também
o caracteriza como o terceiro clube mais velho do futebol brasileiro. O
Fluminense foi fundado no mesmo ano, mas em 21 de julho, uma semana depois que
o clube gaúcho. O futebol no Flamengo começou em 1912.
Outra
coisa que teve origem em um clube gaúcho foi o de abolir o racismo no futebol.
A CBF insiste em dar ao Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, o mérito por isso,
quando na verdade o Guarany F.C., de Bagé, aceitou negros em sua equipe de
futebol, antes do time da Cruz de Malta. Em 1920 o alvirubro de Bagé conquistou
o título de campeão estadual, com uma equipe repleta de jogadores negros e
mulatos.
Talvez
o Bangu, merecesse ser citado como o primeiro clube a aceitar negros em sua
equipe. Sabe-se que em 1905, Francisco Carregal, um negro, jogava no time
principal do Bangu, no Campeonato Carioca da 1ª Divisão daquele ano. Mas isso
não era a prática comum da época.
Sabe-se
que em 1914 o mulato Carlos Alberto, vindo do América jogou no Fluminense, um
time de brancos. Foi quando surgiu a história do “pó de arroz”, que teria sido
usado pelo atleta para esconder a cor da sua pele. E com o suor, acabou se
desfazendo e mostrando que não era tão branco quanto parecia. A partir daí o
Fluminense passou a ser chamado de “pó de arroz” pelas torcidas adversárias.
Mas
deixando de lado fatos históricos e ainda polêmicos do nosso futebol, vamos
contar um pouco da história do Guarany, de Bagé, o único clube do interior do
Rio Grande do Sul a conquistar por duas vezes o Campeonato Estadual. O “bugre”
bageense foi fundado no dia 19 de abril de 1907, por 11 rapazes que se
encontravam na Praça de Matriz, no centro da cidade.
Seus
fundadores foram: João Guttemberg Maciel, Viriato Bicca Nunes, Cervantes Perez,
Secundino Maciel, Francisco Sá Antunes, Manoel Berruti, Carlos Martins Peixoto,
Lucidio Garrastazu Gontan, Carlos Garrastazu e Gonzalo Perez. Foram sugeridos
dois nomes para a novél agremiação, Internacional e Guarany, sendo este o
escolhido pela maioria.
O
curioso é que o Guarany não nasceu vermelho e branco, como é hoje. Suas
primeiras camisas, em vermelho, azul e branco, pertenceram ao Nacional, de
Montevidéu e foram levadas até Bagé pelo fundador alvirrubro Carlos Garrastazu,
que havia atuado pelo clube uruguaio. Mas pouco tempo depois foi adquirido o
fardamento tradicional do clube bageense.
Em
1913 o Guarany jogou pela primeira vez no exterior, na cidade uruguaia de Melo,
contra o Artigas e o Melense. Foi o primeiro clube gaúcho a jogar no
“Monumental de Nuñez”, em Buenos Aires, contra o River Plate. Já enfrentou as
seleções do Uruguai, Paraguai e Rússia.
Em
Bagé o primeiro jogo internacional do Guarany foi em 1913, contra o Lavallejas,
de Rivera. A primeira partida noturna em Bagé, ocorreu em 23 de novembro de
1952, no estádio Antônio Magalhães Rossel, também chamado de “Estrela D'alva”,
contra o E.C. Pelotas.
Sabe-se
que a dupla Internacional e Grêmio manda no futebol gaúcho. Mas o clube do
interior que mais se destacou nos 94 anos de história do Campeonato Gaúcho foi
o Guarany, única agremiação a conquistar dois títulos de campeao gaúcho, em
1920 e 1938. O alvirrubro bageense foi vice-campeão gaúcho em 1926 e 1929.
Outros
clubes interioranos campeões foram: G.E. Brasil, E.C. Pelotas e G.A.
Farroupilha, de Pelotas; G.E. Bagé, de Bagé; S.C. Rio Grande, S.C. São Paulo e
F.B.C. Rio-Grandense, de Rio Grande; Grêmio F.B. Santanense, de Santana do
Livramento e S.E.R. Caxias e E.C. Juventude, de Caxias do Sul.
Em
1926, o Guarany foi vice-campeão gaúcho, perdendo à final para o Grêmio, por 4
X 3, em partida realizada em Porto Alegre. O onze bageense reclamou muito da
arbitragem daquele jogo. Por exemplo, o gol da vitória gremista foi marcado na
prorrogação. Em 1929, foi vice de novo, ao perder à final para o Cruzeiro, de
Porto Alegre, por 1 X 0. Em 1958 mais um vice, quando perdeu os dois jogos
finais para o Grêmio.
O
Guarany sempre foi um verdadeiro celeiro de bons jogadores. Exemplos de Max,
que jogou no futebol francês; Tupanzinho, que brilhou no Palmeiras, de São
Paulo; Branco, tetra-campeão mundial pela Seleção Brasileira; Martin Silveira,
que jogou as Copas do Mundo de 1934 e em 1938; Darci Menezes, que foi campeão
da América e vice-campeão intercontinental, jogando pelo Cruzeiro, de Belo
Horizonte e Raul Calvet, tetra-campeão paulista, bicampeão da América e intercontinental,
pelo Santos F.C., entre outros.
Calvet
era conhecido pela classe e elegância com que jogava. Foi um dos grandes nomes
da história do Guarany. Jogou ainda pelo Grêmio, sendo campeão gaúcho em duas
oportunidades (1956 e 1959).
Branco,
iniciou a carreira nas divisões de base do time. Ainda como Júnior, jogou na
base do Internacional, até se transferir para o Fluminense, onde foi campeão
brasileiro (1984) e tricampeão estadual (1983, 1984 e 1985). Pela seleção
brasileira, ganhou a Copa América de 1989 e a Copa do Mundo de 1994. Jogou
também pelo Porto, de Portugal, onde venceu o Campeonato Português de
1989/1990.
Martim
Silveira brilhou com a camisa do Guarany na década de 1930. Ele e Branco foram
os dois únicos jogadores que passaram pelo clube a ter disputado Copas do
Mundo.
Títulos.
Campeonato Municipal de Bagé (1918, 1919, 1920, 1921, 1926, 1929, 1932, 1934,
1935, 1938, 1943, 1945, 1946, 1947, 1948, 1950, 1956, 1958, 1960, 1961, 1964,
1965, 1966, 1969, 1970, 1971, 2010 e 2012 e 2013); Vice-campeão citadino (1922,
1924, 1925, 1927, 1928, 1931, 1932, 1933, 1936, 1939, 1940, 1942, 1944, 1949,
1951, 1952, 1953, 1954, 1955, 1957, 1971, 1975, 1976 e 2009).
Não
houve disputas nos anos de 1923, 1930, 1962, 1963, 1967, 1968, 1972, 1973 e
1974. Não se tem a informação de qual clube foi o campeão nos anos de 1912,
1913, 1914, 1915, 1916, 1917, 1941 e 1959.
Campeonato
Estadual Série A (1920 e 1938); Campeonato Estadual Série B (1969 e 2006);
Campeonato Estadual Série C (1999); Campeão do Acesso à Divisão Especial
(1960); Taça 50 Anos Zero Hora (1977); Campeonato do Interior Gaúcho (1920,
1926, 1938, 1958 e 1962); Vice-campeão gaúcho da Série A (1926, 1929 e 1958).
Artilheiros
do Campeonato Gaúcho Principal. Grecco, com 2 gols (1920); Picão (1938);
Artilheiro do Campeonato Gaúcho - Série B, Alexandre Santos, com 12 gols
(1997). Artilheiro do Campeonato Gaúcho - Série C, Alexandre Santos, com 18
gols (1999).
Os
maiores goleadores da história do clube são: Max, 129 gols; Picão, 125 gols e
Rubilar, 123 gols. Picão participou da campanha do título de 1938, tendo jogado
no Guarany de 1933 até 1943. Chegou a jogar ao lado de Rubilar, artilheiro
também muito reverenciado no ”índio bageense”.
Neste
ano de 2013 esteve no Guarany o herói do Internacional, no Mundial de Clubes de
2006, Adriano Gabiru. Ele marcou o gol contra o Barcelona, na maior conquista
do colorado em toda a sua história. Mas não deu sorte e acabou dispensado antes
mesmo de terminar seu contrato.
O
Guarany Futebol Clube tem como seu principal rival o Grêmio Esportivo Bagé, com
quem realiza o clássico Ba-Gua, um dos mais tradicionais do Estado. Dede 1921
foram realizados 413 clássicos, com 150 vitórias do Guarany, 121 empates e 142
vitórias do Bagé. O Guarany marcou 496 gols, enquanto o Bagé anotou 477.
O
primeiro clássico ocorreu no dia 31 de julho de 1921, válido pela “Taça A.
Magalhães”, tendo o jogo terminado empatado em 2 X 2. O Bagé jogou com: Duarte
- Fortunato e Gavino - Aníbal Machado - Guri e Estanislau – Leonardo – Argeu –
Chico- Lucídio e Marceló. O Guarany
atuou com Balverdu - Avancini e Afonso - Souza Pinto - Seixas e Kluwe – Ratão –
Saraiva – Greco - Lagarto e Cláudio.
O
segundo confronto foi disputado no mesmo ano, no dia 14 de agosto, com vitória
do Bagé por 2 X 1. O primeiro clássico a noite foi jogado em 1953, no “Estrela
D’Alva”, com vitória do Bagé por 2 x 1. No final do jogo aconteceu uma briga
entre os jogadores das duas equipes.
A
denominação Ba-Gua foi dada anos mais tarde do primeiro confronto, pelo
jornalista bageense Mário Nogueira Lopes, quando de um clássico de basquetebol,
disputado pelos dois clubes, mas acabou transcendendo para o futebol.
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