Nos
anos 50 muitos clubes de futebol, especialmente das cidades pequenas, faziam de
tudo para conseguir recursos que permitissem se manterem com certa
tranquilidade. Lembro que na minha terra natal, a pequena Dom Pedrito, na zona
de campanha do Rio Grande do Sul, os dois principais clubes da cidade, na
época, E.C. Cruzeiro e Botafogo F.C., se superavam em termos de criatividade.
Nos
jogos nos estádios Floribal Jardim, do Botafogo e no do Cruzeiro, não tinha
jeito do torcedor escapar. Além do ingresso do jogo, era assediado por bonitas
meninas, para colocar na lapela um alfinete com fitinhas com as cores do seu
clube.
O
Cruzeiro era azul e branco e o Botafogo vermelho, azul e branco. E como se isso
não bastasse, ainda tinha um grande garrafão de vidro a espera de qualquer
contribuição.
Fora
dos dias de jogos, os torcedores juntavam garrafas vazias nas ruas e entregavam
ao clube que as vendia. Tinha também o “Livro de Ouro”, que passava de casa em
casa na incessante busca de recursos. Isso sem falar nas intermináveis rifas. Havia
venda de votos para escolha da rainha do clube. E também um quadro social e
“carteio” nas sedes.
O meu tio Quintino Tavares, já falecido, mais conhecido por "Violão", era quem cuidava da sede do E.C. Cruzeiro e organizava os "carteios", que na época se constituíam na mais forte fonte de renda do clube.
Creio
que essas idéias bastante criativas no passado, viraram raridades hoje em dia.
Talvez um ou outro clube, em lugares mais pobres e distantes do país, ainda as
utilizem. Hoje existem outras maneiras mais modernas dos clubes pequenos buscarem dinheiro.
Ajuda
das prefeituras, quadro social, publicidade nos muros dos estádios, bingos,
sorteios, participações em Loteria Esportiva, jantares, bailes, recolhimento de
latinhas de bebidas, etc.
Já
os chamados clubes grandes, gozam de outros métodos menos trabalhosos para
conseguirem dinheiro. Recebem recursos das transmissões de Televisão, de empresas,
quadro social, loterias e exploração de seus estádios.
Durante
muitos anos participei de direções de clubes de futebol em São Gabriel (RS).
Fui presidente da S.E.R. São Gabriel por seis períodos. As dificuldades eram
imensas, os recursos mínimos.
Geralmente
os campeonatos eram disputados no inverno e a chuva corria os torcedores do
estádio. Tinha que se fazer das “tripas coração”, para conseguir o dinheiro
para pagar a arbitragem.
É
verdade que a prefeitura quase sempre ajudava, dando o transporte para os jogos
fora de casa e uma ajuda mensal em dinheiro. Se conseguia no máximo uns 500
sócios, mas era uma “briga” danada” para receber de todos. Acabava não valendo
a pena.
Em
algumas viagens, quando o dinheiro estava curto, quase sempre, se levava um
panelão no ônibus, com comida pronta. As vezes um carreteiro, outras macarrão
com galinha. E o lanche, sanduiches e refrigerantes eram geralmente doados por
um supermercado da cidade. E também se distribuia frutas, gentilezas de
comerciantes locais.
Para
concentrar os jogadores antes dos jogos, sempre se podia contar com as unidades
militares existentes na cidade e com os alojamentos da Estação Experimental de
Forrageiras. Os quartéis muitas vezes emprestavam beliches, colchões e até
roupas de cama para os atletas vindos de fora.
Algumas
vezes também se contava com a boa vontade de donos de restaurantes e hotéis que
concordavam em “adotar” um ou dois atletas. O atendimento médico e hospitalar nunca
foi problemas, nem o uso de uma ou outra academia para exercícios físicos.
A
S.E.R. São Gabriel e o G.E. Gabrielense, clubes que participei de Diretorias em
São Gabriel, ainda conseguiam auxílios importantes. Mas o que dizer de clubes
de outras pequenas cidades em Estados mais pobres, por exemplo, do Norte e
Nordeste do país?
Se
a situação da maioria dos pequenos clubes é dramática, imaginem dos jogadores.
Na S.E.R. São Gabriel, muitas vezes não havia salários estipulados. Os
pagamentos aos jogadores era feito com a sobra das rendas de jogos. E nem
sempre sobrava alguma coisa.
De
acordo com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), dos 30.784 jogadores
registrados no país, atualmente, 82% recebem até dois salários mínimos. Nesse
grupo, estão inclusos os atletas que jogam sem nenhuma remuneração. (Texto: Nilo
Dias)
As fitinhas com as cores dos clubes, eram vendidas nos portões dos estádios.
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