A
Copa do Mundo de 2014, a segunda realizada no Brasil (a primeira foi em 1950), é
a de número 20 desde que a competição teve início em 1930, no Uruguai. Já em sua fundação, no dia 21 de maio de 1904, a Fifa tinha a idéia de um torneio
internacional de futebol, que reunisse todas as nações do mundo.
A
entidade nasceu graças a quatro amigos entusiastas do futebol e que
ambicionavam desenvolver o intercâmbio primeiro entre os países da Europa e
depois do resto do mundo.
Os
quatro amigos eram o advogado francês Ribert Guérin, o banqueiro holandês C.A.
Hirschman, o industrial gráfico francês Henry Delaunay e o editor francês Jules
Rimet.
A
fundação da Fifa contou com representantes de sete países: França, Bélgica,
Dinamarca, Holanda, Espanha, Suécia e Suíça. Em seguida, Alemanha, Áustria,
Hungria e Itália também aderiram. Depois foi a vez da Inglaterra, país criador
do futebol moderno.
Mas
a idéia de um torneio mundial só se concretizou em 26 de maio de 1928, no
Congresso da Fifa realizado em Amsterdã, na Holanda. E tudo graças ao francês
Jules Rimet, que presidia a entidade que rege os destinos do futebol em todo o
mundo. A proposta de um Campeonato Mundial teve 23 votos favoráveis e três
contrários.
Em
nova reunião ocorrida em setembro do mesmo ano, ficou decidido que o certame se
realizaria de quatro em quatro anos, nos anos pares entre as Olimpíadas. E o
primeiro torneio seria em 1930.
O
primeiro país a sediar uma Copa foi o Uruguai, graças aos esforços de seu
embaixador, Enrique Buero, que apresentou como justificativa as comemorações do centenário da independência. E também porque o Uruguai era o
campeão olímpico de 1924.
Em
1928 repetiu o feito, sagrando-se bi-campeão de futebol das Olimpíadas. A
partir daí a Seleção Uruguaia passou a ser conhecida como “Celeste Olímpica”.
Antes
da primeira Copa do Mundo o Campeonato Mundial de Futebol era considerado por
muitos o torneio de futebol das Olimpíadas de Verão, disputados por duas
vezes, em 1924 e 1928 e vencidos pelo Uruguai. Por isso, muitos uruguaios se
consideram quatro vezes campeões mundiais, mesmo sem nenhum respaldo oficial da
Fifa.
Em
maio de 1929, no Congresso da Fifa, em Barcelona, na Espanha, o Uruguai foi
confirmado como sede do Mundial de 1930, se comprometendo a construir um
estádio e custeio das despesas de viagem e alimentação de todas as seleções.
O Estádio Centenário, principal palco da Copa do Mundo de 1930, ficou totalmente
pronto somente após a abertura do torneio e ainda teve que ter a capacidade
reduzida de 102 mil pessoas para 70 mil. Os primeiros jogos foram disputados
nos dois outros estádios: Poncitos (capacidade de 8 mil pessoas) e Parque
Central (capacidade 15 mil pessoas).
O
gramado do Parque Central, onde foram disputados vários jogos da Copa do Mundo
do Uruguai de 1930, foi vendido em pedaços devido a remodelação do estádio. A
venda foi feita pelos diretores do Nacional, proprietário do estádio. O clube
atendeu pedidos até da Espanha e dos Estados Unidos.
O
campo foi fatiado em pedaços de 30 X 20 centímetros e 10 centímetros de
espessura, com a possibilidade inclusive de manter o gramado vivo. Cada
pedacinho, foi acompanhado de um certificado da entidade esportiva, e custou 30
pesos uruguaios (um dólar).
O
meio-campo e as linhas dos gols foram as primeiras a atrair a atenção dos fãs
do esporte. O dinheiro obtido foi destinado a cobrir parte dos custos do novo
campo do Parque Central.
Como
a Itália, que também queria sediar o torneio foi derrotada, diversos países
europeus desistiram de tomar parte no torneio e não se inscreveram. Eles tinham
vários motivos: o Uruguai era muito longe, o que exigiria duas semanas para ir
e duas para voltar.
Somando com os 20 dias de torneio, seriam dois meses sem os
jogadores no país. E grande parte deles era ainda de amadores, o que
significava que eles não podiam ficar tanto tempo longe dos empregos.
Mas
o principal motivo era que os europeus tinham medo de ir para um lugar tão
distante sem as benesses da civilização. Ninguém tinha muita idéia do que era a
América do Sul naquela época.
Participaram
do primeiro certame mundial França, Bélgica, Iugoslávia, Romênia, Argentina,
Bolívia, Chile, Paraguai, Peru, Brasil, México e Estados Unidos. Existe um boato de que a seleção americana tinha "enxertados" em seu grupo jogadores profissionais ingleses e
escoceses.
A
Inglaterra, apesar de ter perdido para a Espanha no ano anterior, continuava a
ignorar a Fifa e a Copa, por se julgar muito acima dos outros times. Por razões
óbvias não houve eliminatórias.
O
navio que levou às seleções europeias ao Campeonato Mundial de 1930 chamava-se
“Conte Verde”. Foi construído pela armadora italiana “Lloyd Sabaudo”, nos
estaleiros de W. Beardmore & Co., de Glasgow, Escócia, e lançado ao mar em
1923, na linha entre Gênova e Buenos Aires.
Media
173,78 metros, pesava 18.383 toneladas e possuía duas chaminés e dois mastros.
Seus camarotes tinham capacidade para 336 passageiros na primeira classe, 198
na segunda e 1.700 na terceira.
A
29 de Junho, o “Conte Verde” atracou no Rio de Janeiro, recebendo a bordo a sua
quinta seleção, o Brasil. Seis dias depois, finalmente, a chegada a Montevidéu
O
Brasil confirmou participação. E a contar dali é o único país que participou
de todas as Copas do Mundo. Nesse primeiro torneio, o nosso país não teve força
máxima, sendo representado apenas por jogadores cariocas, visto que uma disputa
entre a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e a Federação Paulista,
impediu a convocação de atletas de São Paulo.
Os
paulistas queriam uma vaga na comissão técnica, enquanto os cariocas não
abriam mão de ter os três cargos para eles. Jogadores de outros locais do
país, nem ao menos foram lembrados.
A
primeira fase do torneio era classificatória. Com 13 participantes, eles foram
divididos em um grupo com quatro e dois outros com três. O vencedor de cada
chave se classificava para as semifinais eliminatórias. Um total de 198
jogadores foram inscritos nessa Copa.
O
Uruguai ganhou sua vaga com 1 X 0 sobre o Peru, na inauguração do Estádio
Centenário, e depois 3 X 0 sobre a Romênia. A Argentina se classificou fazendo
1 X 0 sobre a França, 6 X 3 sobre o México e 3 X 1 sobre o Chile. Os
americanos, com um time de jogadores de ligas semi profissionais que em breve
desapareceriam, fez 3 X 0 sobre a Bélgica e sobre o Paraguai, e seguiu adiante.
O
Brasil, mal preparado devido ao tempo que se perdeu discutindo, sob uma
temperatura de dois graus centígrados, estreou contra os iugoslavos acostumados
ao frio. Antes que os jogadores pudessem aquecer, já estavam perdendo por 2 X
0.
Somente
se destacaram Fausto, "a Maravilha Negra", o nosso centromédio
atacante, e "Preguinho", que marcou para a seleção aos 16 minutos do segundo
tempo.
No
jogo seguinte a Iugoslávia fez 4 X 0 na Bolívia e garantiu a vaga. Sobrou para
a equipe brasileira golear a Bolívia também por 4 X 0 num jogo que não valia
mais nada. O Brasil foi 6º colocado nesse certame.
A
seleção brasileira jogava com camisas brancas. E foi com essa cor que os
brasileiros enfrentaram a Bolívia, também vestida de branco durante longos 25
minutos, no seu segundo jogo na Copa do Uruguai, em Montevidéo. Isso até o juiz
mandar a Bolívia trocar a cor do seu uniforme para evitar a óbvia confusão.
Os
uruguaios arrasaram nas semifinais, goleando a Iugoslávia por 6 X 1, mesmo
escore de Argentina X Estados Unidos.
Estava armada a reprise da final olímpica de 1928. O Uruguai saiu na frente,
mas a Argentina virou para 2 X 1. O jogo acabou com 4 X 2 para o Uruguai, que
se sagrou o primeiro campeão mundial de futebol. Stábile, da Argentina, foi o
artilheiro do primeiro mundial, com 8 gols.
O
artilheiro argentino, também jogou pela Seleção da França, depois da Copa de
30, e marcou quatro gols contra a Áustria. Ele jogou na Itália usando as
camisas do Genoa e do Napoli, e na França pelo Red Star, onde encerrou a
carreira.
Um
dos fatos mais curiosos do mundial foi a decisão sobre qual bola seria
utilizada na final. Os uruguaios exigiam que a escolhida fosse a bola de seu
país, mais pesada do que a Argentina. O árbitro belga Langenus decidiu usar a
Argentina na primeira etapa e a uruguaia na segunda.
O
que pouca gente sabe é que o troféu destinado ao vencedor da Copa, antes de se
chamar “Jules Rimet”, foi batizada de “Vitória das Asas de Ouro”, pois seu
desenho tinha uma mulher com asas, representando “Nike”, a deusa da vitória na
mitologia grega, segurando uma copa em formato octogonal.
Esse
nome permaneceu nas Copas de 1930, 1934 e 1938, e somente em 1 de julho de 1946, quando de um congresso da entidade em Luxemburgo, recebeu a
denominação de “Jules Rimet”, em homenagem ao idealizador do torneio, que
completava 25 anos a frente da entidade maior do futebol mundial.
O
esboço original da taça foi obra do próprio Jules Rimet. O autor do troféu foi
o escultor francês Abel La Fleur, na época assistente de restaurador no Museu
de Belas-Artes de Rodez. Seu
custo total foi orçado em cinquenta mil francos, considerado uma grande soma na
época.
A
taça tinha 35 centímetros de altura e pesava 3,8 quilos. Na base, feita de uma
pedra semi-preciosa chamada lápis-lazúli, havia uma placa de ouro em cada um
dos quatro lados, na qual foram gravados o nome da taça e de cada vencedor
entre 1930 e 1970, ano em que o Brasil a conquistou em definitivo, por ter-se
sagrado campeão por três vezes.
Em
dezembro de 1983 a taça foi roubada da sede da Confederação Brasileira de
Futebol (CBF) e nunca mais foi encontrada. Segundo a investigação policial ela
foi derretida pelos ladrões.
A
despeito do descuido patrimonial, e da falta de responsabilização (apuração e
punição pelo descaso), a Fifa em 1986 ofereceu à CBF uma réplica, que ora
encontra-se junto aos demais troféus da entidade .Essa não foi a primeira vez que a taça
desapareceu, mas a última.
Durante
a 2ª Guerra Mundial a taça estava na Itália, bi-campeã em 1934-1938. Para
evitar que fosse confiscada, o dirigente italiano e vice-presidente da Fifa, Ottorino Barassi a
escondeu dentro de uma caixa de sapatos, embaixo de sua cama. Com o fim do
conflito ela foi devolvida.
No
segundo desaparecimento, em 1966, a taça foi roubada da vitrine onde estava
sendo exibida na Inglaterra.A Scotland Yard prendeu Edward Betchley, suspeito
do roubo, três dias depois. Ele se recusou a colaborar com a investigação.
Entretanto
um cão chamado “Pickles” encontrou a taça enrolada em jornais. O cão ficou
famoso e seu dono, David Corbett, recebeu 5 mil liras e um convite para
assistir os jogos da Seleção Inglesa.
O
Regulamento da primeira Copa do Mundo não previa a disputa do terceiro lugar. A
ideia foi sugerida pelo Comitê Organizador durante o desenrolar da competição.
Porém,
a Iugoslávia, não quis decidir a posição com os Estados Unidos, pois seus
dirigentes estavam irritados com o árbitro brasileiro Gilberto de Almeida Rego,
que havia apitado a derrota dos europeus por 6 X 1 para o Uruguai. Na ocasião,
um gol iugoslavo foi anulado e dois gols dos uruguaios, em impedimento, foram
validados.
A
bola usada na Copa de 1930 era de couro e costurada à mão, com uma câmara de
borracha e um bico usado para enchê-la, que ficava dobrado e fechado com tiras
de couro cru. O problema é que a bola ficava com um calombo, o que desviava a
sua trajetória e ainda causava ferimentos nos jogadores. Alguns atletas usavam
gorros forrados com jornal para poder cabecear.
O
primeiro gol em uma Copa do Mundo foi marcado pelo jogador francês Lucien
Laurent, aos 19 minutos do primeiro tempo, no jogo França 4 X 1 México.
O
primeiro gol contra foi do zagueiro mexicano Manuel Rosas, ao desviar de cabeça
um chute do chileno Subiabre, na vitória por 3 X 0 frente o México. Rosas
também foi o primeiro atleta a marcar um gol de pênalti em Copas, no jogo em
que a Argentina goleou o México 6 X 3.
Existe
controvérsia sobre o primeiro gol contra da história das Copas. Há uma dúvida
se Bert Patenaud teria feito os três (sendo assim o primeiro a fazer três gols
num jogo de Copa), ou se Manuel Rosas teria feito o primeiro gol contra na
história da competição.
O
gol mais rápido foi de Adalbert Besu, para a Romênia, a 1 minuto do jogo
Romênia 3 X 1 Peru. A média de gols por jogo foi de 3,89. O melhor ataque foi o
da Argentina, com 18 gols. O total de público alcançou 434.500 espectadores,
com média de 24.139 por jogo.
A
primeira expulsão foi do peruano Galindo, na partida contra a Romênia. Aos 10
minutos do segundo tempo, o árbitro chileno Albert Walken mandou o jogador
tomar banho mais cedo. Não havia cartão vermelho na época, que foi criado
somente em 1968. Também não havia suspensão automática e Galindo atuou
normalmente no jogo seguinte frente o Uruguai.
O
jogador chileno, Carlos Vidal, entrou para a história das Copas ao ser o
primeiro a perder um pênalti. O lance aconteceu aos 35 minutos do primeiro
tempo, no jogo contra a França, na primeira fase do Mundial de 1930. Ainda
assim, os chilenos venceram o jogo por 1 X 0.
Antes
da partida entre as seleções do Uruguai e Bolívia, os bolivianos posaram para
uma foto. Cada jogador segurava uma letra que formaria a inscrição: Viva o
Uruguai! O curioso é que o terceiro "u" foi suprimido e a inscrição
final que se lia era: "Viva o Urugay".
Nesse
mesmo torneio, na partida disputada no dia 21 de julho, entre Uruguai e
Romênia, no momento em que Anselmo marcava o terceiro gol para os donos da
casa, o médico e o massagista uruguaios estavam dentro de campo atendendo um
jogador.
O
atacante Hector Castro, autor de um dos gols do Uruguai na vitória por 4 X 2
sobre a Argentina, na final da Copa, não tinha a mão direita. Por causa disso
ficou conhecido como "Manco".
O
atacante “Preguinho” foi o autor do primeiro gol brasileiro em Copas, na
derrota por 2 X 1 para a Iugoslávia. Antes do futebol, "Preguinho" já havia
praticado outros esportes, como natação e remo.
A
Seleção da Copa, escolhida pela FIFA teve: Thépot (França) - Nasazzi (Uruguai)
e Mascheroni (Uruguai) - Fausto (Brasil) - Scarone (Uruguai) e J. Evaristo
(Argentina) - Peucelle (Argentina) - Stábile (Argentina) - Ferreyra (Argentina)
e Iriarte (Uruguai). (Pesquisa: Nilo Dias)
Seleção Brasileira no desfile inaugural da Copa do Mundo de 1930. (Foto: Divulgação)
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