Morreu
ontem aos 88 anos de idade, no Hospital Gregório Marañon, em Madrid, onde se
encontrava internado desde o último dia 5, após ter sofrido um infarto, o
ex-jogador de futebol Alfredo Estéfano Di Stéfano Laulhé, nascido em Buenos
Aires, Argentina, no dia 4 de julho de 1926. Di Stefano, como era mais
conhecido, foi um dos mais brilhantes jogadores de futebol de todos os tempos.
Em razão de sua velocidade e da cor dos cabelos, ganhou o apelido de “Flecha
Loira".
Di
Stefano quando criança não mostrava muita vocação para ser jogador de futebol.
Mesmo sendo incentivado pelo pai, um ex-jogador do River Plate, também de nome
Alfredo Di Stéfano, seu sonho era ser aviador. Ele tinha dois irmãos, Tulio,
que também jogou futebol, e Norma, que preferiu o basquetebol.
O
interesse pelo esporte surgiu em 1943, quando tinha 17 anos e foi chamado as
pressas para completar o time do bairro. Saiu-se tão bem, que marcou três gols.
A partir daí nunca mais abandionou os gramados.
Quis
o destino que seguisse o mesmo caminho de seu pai. Um ex-jogador do clube, em
visita casual a sua casa, ficou sabendo pela mãe que o garoto tinha talento.
Fez
teste e recebeu convite do ex-atleta Carlos Peucelle para entrar na quarta
categoria do clube. Não demorou para ser elevado a terceira, depois de ser
observado por outro antigo atleta do River, Renato Cesarini, que o definiu como
“fenômeno”.
Jogou
sua primeira partida pelo River em 1945, quando o clube possuía um time
poderoso, chamado de “La Máquina”, que contava com jogadores extremamente hábeis,
como Pedernera, Juan Carlos Muñoz, José Manuel Moreno, Ángel Labruna e Félix
Loustau.
No
mesmo ano sagrou-se campeão argentino. O goleiro Amadeo Carrizo, outro
celebrado jogador do clube, também estreou naquele ano, mas só jogou uma partida,
substituindo o titular Munõz.
Sem
muito espaço no onze principal do River Plate, acabou emprestado ao Huracán, em
1946, clube que enfrentou pela primeira vez como profissional. Ali, foi
treinado pelo ex-artilheiro Guillermo Stábile, que também era o técnico da
Seleção Argentina.
Di
Stéfano marcou os dois primeiros gols de sua carreira numa vitória de 3 X 2
sobre o San Lorenzo, de Almagro, em pleno estádio do rival, que se sagraria campeão
argentino daquele ano. No jogo contra o seu clube, River Plate, marcou um gol
aos 11 segundos, que até hoje é o mais rápido da história do futebol argentino.
No
Huracán foi fixado como centroavante e marcou 10 gols em 25 partidas. Graças a
sua velocidade, recebeu dos torcedores o apelido de “La Saeta” (flecha). Como outro
jogador da equipe, Llamil Simes também era chamado pelo mesmo apelido,
acrescentaram o “Rubia”, por causa de seus cabelos loiros, ficando então “La
Saeta Rubia” (“A Flecha Loira”).
Além
de estonteante velocidade, combatia, desarmava, tinha grande inteligência para
criar jogadas, habilidade para receber, tratar, conduzir, cabecear e passar a
bola e ainda precisão nos arremates.
O
Huracán fez de tudo para ficar com Di Stéfano em definitivo, mas não conseguiu
juntar os 80 mil pesos pedidos pelo River, por isso retornou ao antigo clube em
1947.
No
retorno encontrou uma equipe bem diferente. Pedernera saíra para o Atlanta,
Labruna estava com hepatite e Muñoz, lesionado. Em vista disso ganhou mais
oportunidades. Na sua reestréia, fez uma das melhores atuações com a camisa do
River, frente o San Lorenzo de Almagro.
Nesse
ano de 1947 Di Stéfano teve que prestar serviço militar, mas ainda assim, intercalando
jogos, marcou 27 gols, conduzindo o clube a um novo título nacional, o primeiro
dele como titular.
Terminou
o campeonato como artilheiro do certame e ídolo da torcida, que costumava
cantar em sua homenagem: "Socorro, socorro, ahí viene la Saeta con su
propulsión a chorro" . ("Socorro, socorro, aí vem a Flecha com sua
propulsão a jato").
Seu
futebol vistoso e veloz, o levou á Seleção Argentina naquele ano de 1947. Jogou
poucas partidas pelo scratch nacional, apenas seis, e fez seis gols, todos no
Campeonato Sul-Americano, precursor da “Copa América”. Em 1948 disputou pelo
River Plate o Campeonato Sul-Americano de Campeões, embrião da Taça
Libertadores da América.
Seu
time veio ao Brasil se preparar para a competição. O rival Boca Juniors, que
não participaria do torneio, veio na mesma época para São Paulo. Aproveitando
uma folga na competição, os dois times argentinos formaram um “Combinado”, para
enfrentar um “scratch” paulista.
Os
argentinos usaram as camisas do Palmeiras, pois a rivalidade não permitia que
usassem o uniforme de um dos dois clubes. Já o “Torneio dos Campeões”, foi
decidido entre River e Vasco da Gama, que, tendo a vantagem do empate,
sagrou-se campeão ao segurar um 0 X 0.
Em
1949, depois de uma greve de jogadores argentinos, que exigiam assistência
médica para os familiares, um salário mínimo para a categoria e a extinção do
passe, para serem livres para escolher onde gostariam de jogar, Di Stéfano foi
parar no “Millonários”, de Bogotá. O atacante deixou o River Plate depois de
ter marcado 49 gols em 66 jogos.
Junto
dele foram para clube colombiano o ídolo Pedernera e seu ex-colega de River Plate,
Néstor Rossi. A liga colombiana havia se transformado em um verdeiro “Eldorado”,
atraindo os jogadores do continente que, embora fossem atletas profissionais,
não costumavam ser bem pagos em seus países.
O
Millonarios tinha dono, Alfredo Senior que havia resolvido lucrar com o
esporte, aliciando os melhores atletas sul-americanos para jogar em sua equipe.
Os
demais clubes colombianos agiam da mesma forma. Os jogadores peruanos foram
para as equipes de Cali e Medellín; os paraguaios em Cúcuta, alguns brasileiros
- como Heleno de Freitas e Tim -, em Barranquilla. Havia até jogadores
britânicos, um deles, Charlie Mitten, deixou o Manchester United, para jogar no
Independiente, de Santa Fe.
Por
lá foram parar também, iugoslavos, italianos e húngaros. Na liga pirata, Di
Stéfano foi campeão em 1951 e 1953, integrando o chamado “Ballet Azul”. A FIFA
acabou com a festa, pois a Liga desrespeitava regulamentos da entidade.
Em
1952, o time do Millonários jogou uma partida amistosa com o Real Madrid, que
celebrava o aniversário de 50 anos. Em pleno Estádio Chamartín (antigo estádio
do Real Madrid), Di Stéfano marcou duas vezes na vitória por 4 X 2 dos
sul-americanos e foi imediatamente contratado pelo Barcelona, outra equipe
espanhola.
O
argentino deixou o Millonarios como o maior artilheiro da história do time,
totalizando 267 gols em 292 partidas. Além de títulos e artilharias na
Colômbia, venceu com o clube também a “Pequena Taça do Mundo”, de 1953,
chegando a marcar dois gols em um 5 X 1 sobre sua ex-equipe do River na
competição.
Com
Di Stéfano, o clube também abriu larga vantagem em títulos colombianos, cujos
efeitos ainda perduram, sendo a equipe mais vencedora do campeonato nacional,
mesmo não o conquistando desde 1988. Apenas em 2008 foi igualado pelo América,
de Cali.
O
Barcelona havia negociado a transferência com o River Plate, oficialmente o
dono de seu passe. Já o Real Madrid, que também queria o jogador, negociou
diretamente com o Millonários. Di Stéfano já havia participado de três
amistosos pelo Barcelona, quando o Real Madrid passou a se considerar como dono
da “joia rara”.
O
ministro dos esportes, General Moscardo, quis ser mediador da situação,
sugerindo que Di Stéfano jogasse por temporadas alternadas nos dois clubes, por
quatro anos, começando pelo Real. O Barceliona não aceitou e o jogador ficou no
Real Madrid. A partir daí acirrou-se a rivalidade entre os dois clubes.
Com
Di Stéfano no time, o Real, que até então não era o maior vencedor do país, nem
mesmo da cidade, tinha apenas dois títulos espanhóis, passou a conhecer novos
tempos. Na primeira temporada com o argentino, o Real conquistou seu terceiro título
nacional. Di Stéfano foi o artilheiro com 29 gols.
Depois
o bi-campeonato e em 1955 a “Copa Latina”, o mais prestigiado torneio europeu
de clubes na época, que reunia os campeões de Espanha, França, Itália e
Portugal. Os espanhóis venceram os portugueses do Belenenses e, na final, os
franceses do Stade de Reims.
Foi
de 2000 a 2014 o presidente honorário do Real Madrid, clube cuja história de
sucesso confunde-se com a dele: foi com ele em campo que o Real tornou-se o
maior vencedor da cidade de Madrid, da Espanha e da Europa.
Foi
responsável também por alimentar a rivalidade com o Barcelona, que não tinha a
mesma expressão. Ele era presidente honorário também da UEFA, desde 2008.
Muitos
jornalistas e torcedores, especialmente argentinos e espanhóis, consideram Di
Stéfano o melhor jogador do século XX, melhor que Pelé e Diego Maradona. Entre
eles, Joaquín Peiró, que jogou pelo Atlético de Madrid e dizia ser Di Stéfano o
número 1. “Aqueles que o viram, viram. Aqueles que não o viram, perderam".
Já
Helenio Herrera, técnico do Barcelona, declarou que "se Pelé foi o
violinista principal, Di Stéfano foi a orquestra inteira". O ex-presidente
Ramón Calderón costumava dizer: "Ele fez a Espanha torcer pelo Real
Madrid. E também foi ele que levou o nome do clube além das fronteiras".
O
editor de esportes do jornal “As”, escreveu que "Para as crianças dos anos
1950, Di Stéfano era, acima de tudo, o som da vitória que se ouvia nas rádios.
Seu nome ecoava como uma batida do coração associada sempre a uma sensação de
vitória, transportando-nos ao Parc des Princes, San Siro ou Hampden Park".
Para
Emilio Butragueño, ex-jogador e atualmente membro da diretoria, "a
história do Real Madrid começa de fato com a vinda de Di Stéfano".
Já
o próprio Di Stéfano esquivava-se de polêmicas e dizia que o melhor jogador que
viu atuar, foi Adolfo Pedernera, astro do River Plate nos anos 1940.
Mas
o seu grande ídolo na infância foi justamente aquele que ainda é o maior
artilheiro da história do futebol argentino, o paraguaio Arsenio Erico, jogador
do Independiente nos anos 30 e 40.
E
salientava que uma das poucas mágoas na carreira foi não ter jogado uma Copa do
Mundo, embora tenha atuado por seleções de três países. Pela Seleção Argentina
atuou em seis partidas e marcou seis gols. Pela Colômbia jogou quatro vezes e
não marcou nenhum gol. Em 1962 ia jogar pela Espanha, mas uma lesão o impediu
de atuar.
Pela
Seleção da Espanha, jogou 31 vezes, marcando 23 gols, sendo o seu maior
artilheiro até 1990, quando foi superado por Emilio Butragueño.
Em
1963, ele chegou a atuar também pela “Seleção do Resto do Mundo”, que jogou um
amistoso contra a Inglaterra, celebrativo do centenário da fundação da Football
Association.
Mesmo
com a falta de marcas mais expressivas pela Espanha, foi eleito o melhor
jogador do país nos “Prêmios do Jubileu da UEFA”, nas comemorações dos 50 anos
da entidade, em 2004.
Di
Stéfano jogou no Real Madrid ao lado de craques como os hungaros Puskas e Kopa
e os brasileiros Didi e Canário. Ele deixou o clube em 1964, insatisfeito após
ser deixado no banco de reservas, depois que o clube perdeu a final da Copa dos
Campeões para a Internazionale, de Milão.
Foi
para o Español, de Barcelona. Lá, atuou ao lado de outro húngaro, László
Kubala, curiosamente, outro jogador que tornou-se célebre por defender três
países.
Di
Stéfano jogou duas temporadas pelo Español, até encerrar a carreira, aos 40
anos, com mais de 800 gols marcados e uma incrivel coleção de troféus. Decidiu
por deixar os gramados apenas por pedido do filho, quando soube por este que
seria avô.
Em
1966, voltou a vestir a camisa do Real Madrid para um jogo de despedida, em
amistoso contra os escoceses do Celtic.
Depois
de um ano fora dos gramados, Di Stéfano resolveu se tornar técnico. Começou
pelo pequeno Elche. Seu primeiro título na nova fuinção foi no Boca Juniors, em
1969. O clube também ganhou naquele ano a Copa Argentina.
Dois
anos depois, em 1971, seria campeão nacional novamente, agora na liga
espanhola, pelo Valencia. Foi nesse clube que Di Stéfano teve mais sucesso como
treinador.
Treinou
ainda o Espanhol , Sporting, de Lisboa, Rayo Vallecano, Castellón, sem
conseguir títulos, River Plate e Real Madrid. Até hoje é o único técnico
campeão argentino tanto com o Boca quanto com o River.
Até
2009, quando foi superado por Raúl, Di Stéfano era o maior artilheiro da
história do Real Madrid, em jogos oficiais, com 307 gols. O novo recordista precisou
de 685 jogos para atingir a marca, enquanto o argentino necessitou de apenas 371
jogos.
Em
2006, o clube, que o nomeara seu presidente de honra em 2000, voltaria a
homenageá-lo, batizando de “Estádio Alfredo Di Stéfano” o campo multiuso da “Ciudad
Real Madrid”, o centro de treinamento da equipe.
A
inauguração do estádio, utilizado pelo Real Madrid Castilla (a equipe B do
Real), ocorreu em amistoso contra o Stade de Reims, a equipe batida pelos
blancos com Di Stéfano em três finais internacionais na década de 1950. O Real
também colocou o nome de “La Saeta” ao avião particular usado por sua
delegação.
Di
Stéfano foi casado com Sara Freites Varela, com quem viveu por 55 anos até a
morte desta, em 2005, e com ela teve seus seis filhos: Nanette, Silvana,
Alfredo, Elena, Ignacio e Sofía. Ele esteve perto de falecer no mesmo ano,
tendo sofrido um ataque cardíaco. Afirmou que desde então passou a cuidar
melhor da saúde; já havia parado de fumar em 2000 e a única bebida alcóolica de
consome era o vinho, socialmente.
Também
bebia uma cerveja sem álcool da qual tornou-se garoto propaganda e evitava
doces. Em 2013, aos 86 anos, manifestou sua intenção de casar-se novamente, com
uma moça 50 anos mais jovem: sua secretária Gina González, uma costa-riquenha
de 36 anos. A respeito, declarou não se importar com eventual oposição dos
filhos, e desejava que o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, fosse um
padrinho da cerimônia.
Um
tribunal decidiu que os filhos do ex-jogador ficariam responsáveis pela gestão
do património. Desde esse dia a noiva não apareceu mais.
Títulos
conquistados como jogador: River Plate. Campeão Argentino (1945 e 1947); Millonarios.
Campeão Colombiano ( 1949, 1951, 1952 e 1953); Copa Colômbia (1953); Pequena
Taça do Mundo (1953); Real Madrid. Campeão Espanhol (1954, 1955, 1957, 1958,
1961, 1962, 1963 e 1964); Copa Latina (1955 e 1957); Liga dos Campeões da UEFA
(1956, 1957, 1958, 1959 e 1960); Pequena Taça do Mundo (1956); Copa
Intercontinental (1960); Copa da Espanha (1962). Seleção Argentina. Campeão
Sul-Americano (1947).
Como
treinador. Boca Juniors. Campeão Argentino (1969); Campeão Nacional (1970); Copa
Argentina (1969); Valência. Campeão Espanhol (1971); Campeão Espanhol da
Segunda Divisão (1987); Recopa Europeia (1980); Supercopa Europeia (1980); River
Plate. Campeão Argentino (1981); Real Madrid. Supercopa da Espanha (1990).
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