Sabidamente,
muitas torcidas organizadas de clubes de futebol no Brasil tem sido
protagonistas de espetáculos de extrema violência, que recheiam os noticiáros
policiais país afora. É claro que existem algumas torcidas que se preocupam em
ajudar seus clubes, comparecendo aos estádios apenas para torcer.
Mas
existe uma, que realmente é bastante diferente de todas as outras. Trata-se da “Ultras
Resistência Coral”, torcida organizada do Ferroviário, terceira força
futebolistica de Fortaleza, capital do Ceará. Ao contrário das organizadas de
outros clubes, os integrantes da “Resistência Coral” não aceitam ingressos
gratuitos e proibem seus componentes de ofender os adversários com termos
machistas ou homofóbicos.
Os
componentes da torcida também enveredam pelos lados da política. Todos são
militantes de esquerda e críticos do sistema capitalista, o que não impede os
dirigentes do clube de gostarem deles, apesar de alguns serem empresários. Eles
até compram camisas da organizada.
Dizem
que a torcida do Ferroviário é composta só por idosos. Mas não é verdade, tanto
que o viés de esquerda acabou atraindo muitos torcedores jovens, alguns
militantes do movimento estudantil que não torciam para time nenhum, mas que se
aliaram a “Resistência Coral”, exatamente por ser diferente e por sua atuação
política.
A
torcida não é grande em número de componentes, saõ apenas 20, que resolveram
juntar o amor ao clube a crença política. Ao contrário de Ceará e Fortaleza, as
duas maiores forças futebolisticas do Estado, o Ferroviário tem raízes
operárias e foi fundado por funcionários da antiga Rede de Viação Cearense (RVC).
Os
atuais membros da “Resistência Coral” já pertenceram a outras torcidas
organizadas, mas não gostavam dos cantos machistas e homofóbicos e a incitação
a violência. Por isso, em 2005 resolveram criar a sua própria torcida.
Queríam
formar uma torcida organizada que tivesse uma ideologia compatível à história
do time, que retomasse a tradição da origem de classe do Ferroviário, que foi
sendo esquecida desde que terminou a parceria com a Rede Ferroviária Federal
(RFFSA).
O
exemplo da “Resistência Coral” já está sendo seguido por torcedores de outros
clubes, como Atlético Mineiro, Bahia, Palmeiras, Flamengo e São Paulo. Na
Europa, futebol e política estão juntos há muito tempo.
Como
a “Resistência Coral” prega a paz nos estádios, poderia se pensar que o seu
relacionamento com as demais organizadas não é bom. Muito pelo contrário, às
vezes torcem até juntas nas arquibancadas, caso da “Falange Coral”, embora não
acompanhe os canticos de cunho preconceituoso.
Mas
não estão livres de hostilidades das torcidas de outros clubes. Cera ocasião,
torcedores do Fortaleza tentaram roubar uma faixa. Como estavam em desvantagem
numérica, os torcedores do Ferroviário se limitaram a salvar a faixa, pois entrar
em luta corporal seria suicidio.
Mesmo
com toda a apologia a não violência, ainda assim a “Resistência Coral” não
escapa da repressão por parte da Polícia cearense, que proibiu a entrada nos
estádios de uma faixa com os dizeres “Nem guerra entre torcidas, nem paz entre
classes”.
Também
não são permitidas as faixas que contenham o símbolo da “foice e o martelo” e
de apoio à resistência palestina, sob o pretexto de terrorismo. A torcida se
compõe de pessoas com pensamentos variáveis, como comunistas e anarquistas.
Se
já era ruím para as organizadas se expressarem, depois da Copa a coisa piorou.
Agora, tem o tal “padrão Fifa de torcedor”. No “Estádio Castelão”, não tem mais
como colocar faixas, tiraram as muretas e as grades e a Policia diz que não
pode. Não tem espaço nem mesmo para estar de pé, pulando, queixam-se os
torcedores. Agora tem que se conviver com essa idéia de futebol moderno,
higienizado.
A
confecção de material é cara, e como não recebe auxilio nenhum dos “cartolas”,
o negócio é sobreviver com a venda de camisas e outros produtos da torcida e da
ajuda de alguns sócios.
Suas
mensagens podem ser vistas não só nos jogos do Ferroviário, mas também em
manifestações populares, inclusive contra a Fifa e a Copa do Mundo que foi
realizada recentemente em nosso país. Para eles, a Fifa é um grande mal, uma
entidade mais preocupada em lucros do que permitir que futebol continue a ser um esporte popular.
O
Ferroviário já foi bem maior no passado, quando seus torcedires rivalizavam com
os do Fortaleza e Ceará. O clube já foi nove vezes campeão cearense, e revelou
grandes jogadores para o futebol brasileiro, casos do goleiro Clemer, os
volantes Nasa e Lima e os atacantes Mirandinha, Jardel e Iarley.
A
decadência do Ferroviário e de outros clubes ligados a Rede Ferroviária Federal
(RFFSA), começou quando o ex-presidente Itamar Franco privatiozu a empresa. Como
a maior parte da renda desses clubes vinha dos trabalhadores, descontado em
folha, com a privatização perderam tais recursos.
Hoje,
o Ferroviário busca sobreviver com as cotas de TV, parceria com o “Castelão” para
conseguir renda, já que o patrocínio é cada vez mais difícil, visto que as
atuações do time não recomendam uma boa marca na visão das empresas.
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