O
jogador Bernardo, do Vasco da Gama, na época com 22 anos e pai de quatro filhos
- Beatriz, Enzo, Lucca e Mattheo -, certamente não vai esquecer pelo resto da
vida os momentos de pavor que viveu em abril de 2013, depois de ter-se
envolvido com a mulher de um traficante de drogas, do Morro da Maré, no Rio de
Janeiro.
Tudo
começou quando ele e os jogadores Charles, que na época jogava no Palmeiras e
Wellington Silva, do Fluminense, saíram à noite para uma festa na “Favela Salsa
e Merengue”. Lá o vascaíno teria se envolvido com Dayana Rodrigues, uma das
várias esposas do traficante Marcelo Santos das Dores, o “Menor P”, chefe do
tráfico da comunidade.
Ao
ficar sabendo que os dois estavam juntos, “Menor P” ordenou que fossem
sequestrados e levados ao “Morro do Timbau”, na Maré, para serem mortos. Mas
Wellington Silva, nascido na favela e conhecido dos traficantes, tentou
amenizar a situação.
Segundo
policiais do 21ª DP de Bonsucesso, as cenas foram brutais. O casal foi levado a
uma casa na “Vila do João”, onde foram amarrados com fita crepe e nus passaram
por sessões de tortura com choques elétricos e espancados, com chutes e
pontapés.
Armados,
os traficantes estavam dispostos a matar os dois. Foi quando Wellington Silva implorou
pela vida de Bernardo. Argumentou que se o jogador morresse, “Menor P” se
arrependeria mais tarde, pois assim que fosse divulgada a morte de Bernardo,
certamente viria a retaliação.
O
“Complexo da Maré” seria invadido e ali instalada uma “Unidade de Polícia
Pacificadora” e “Menor P” não teria mais como traficar no local, perdendo o
controle da favela. O argumento funcionou e Bernardo foi poupado. Mas Dayana
comeu o pão que o diabo amassou.
“Menor
P” perderia prestígio se não reagisse. Bernardo escaparia, mas a amante, não.
Dayana tomou tiros de raspão e um na perna. Teve de ser operada, passou por
dois hospitais. Assustada, não quis incriminar “Menor P”. Ao depor, disse que
foi vítima de bala perdida.
Bernardo
nasceu em Sorocaba, interior de São Paulo. É filho do ex-jogador “Hélio Doido”,
com passagens por Vitória da Bahia, Fluminense, Palmeiras e Sport. De
temperamento explosivo, surgiu no Cruzeiro. Jogou até na Seleção Brasileira
sub-15.
Bernardo
era uma grande promessa. Mas seu ponto fraco era conhecido, o gosto pelas
noitadas. Os dirigentes cruzeiristas não gostavam de suas farras e por isso
decidiram que o investimento não valia a pena. Seus maus exemplos poderiam
influenciar outras jovens promessas do clube. Por isso foi emprestado ao Goiás
e depois ao Vasco.
No
time cruzmaltino Bernardo teve um ótimo desempenho em 2011, tendo marcado 18
gols. Por isso o Vasco pagou R$ 3,5 milhões para ficar com seus direitos. Mas o
arrependimento não demorou a chegar, o jogador vivia nas baladas e as cobranças
da Diretoria de nada adiantaram.
Bernardo
não deixou por menos, acionou o clube na Justiça, alegando atrasos nos
salários. Mas acabou entrando em acordo com o Vasco e a situação foi contornada
e ele emprestado ao Santos.
Na
época o técnico santista era Muricy Ramalho, que gostou do meia atacante. Mas o
desencanto não demorou. Bernardo fez o mesmo que Adriano no São Paulo, mais
interessado na noite do que em outra coisa. E logo foi afastado do grupo. O
temor do técnico era que seus maus exemplos influenciassem principalmente
Neymar, a jóia do time.
E
não restou outra alternativa senão devolvê-lo ao Vasco. Com apenas 22 anos, perdera
totalmente a confiança dos dirigentes, que estavam outras vez atentos as suas
noitadas.
Foi
quando veio a contusão, tendo rompido o ligamento cruzado do joelho esquerdo,
num jogo frente o Quisamã. Era o artilheiro do fraco time vascaíno com sete
gols. A contusão travou a vontade de negociá-lo. O diagnóstico: seis meses sem
poder jogar futebol.
A
expectativa era de que só voltasse a jogar em 2014. Mas como sempre as coisas
podem piorar, veio o problema coma mulher do traficante “Menor P”. De acordo
com policiais, Bernardo teve motivos de sobra para comemorar. Escapou por sorte
de ser assassinado. E deve agradecer isso a Wellington Silva.
Bernardo
entrou na época, no seleto grupo de jogadores problemas, como Adriano, Marcelinho
Paraíba e Jobson. Bons jogadores, mas problemáticos crônicos. Chegou a fazer tratamento
intensivo com a psicóloga do Vasco, uma tentativa extrema de tirá-lo das
farras.
Mas
não deu certo. Com o vazamento da notícia de quase foi morto no morro, o
jogador ficou desesperado e chegou a dizer que poderia até se suicidar. Ele,
com medo de represálias por parte do traficante, dizia que nada do que foi
divulgado era verdade.
Em
maio de 2014, Bernardo foi emprestado ao Palmeiras até o fim do ano. Pelo
acordo, o Palmeiras teria a opção pela compra de 50% do atleta, que, por sua
vez, está vinculado aos cariocas até dezembro de 2015.
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