Homem
de um milhão de amigos dentro e fora do futebol, de caráter ilibado e sempre
solícito, Antônio Sutto, o “Tio Nico”, foi o maior massagista da história do
América Futebol Clube, de São José do Rio Preto. Foram 33 anos dedicados ao “rubro”,
uma de suas grandes paixões.
Nascido
em Neves Paulista, no dia 10 de agosto de 1933, em sua longa carreira curou
contusões de jogadores e de todos que o procuravam no alto da Vila Santa
Cruz, na antiga sede do América, no estádio Mário Alves Mendonça.
Entre
as muitas histórias que se contam sobre ele, o debutante América fazia boa campanha
na elite paulista, com vitórias sobre o Taubaté, Ferroviária, 15 de Jaú e
Guarani, de Campinas, empates com Portuguesa Santista e Nacional e somente uma
derrota, para o Botafogo, de Ribeirão Preto.
"Nico",
apelido que carregou desde a infância, ainda não era massagista do seu clube de
coração. Trabalhava como enfermeiro no Pronto Socorro Municipal, no cruzamento
das ruas Voluntários de São Paulo e Saldanha Marinho, frente o antigo “Tiro de
Guerra”, no Centro de Rio Preto.
Seu
irmão Arlindo Sutto e o amigo João Manoel Pereira Filho, também prestavam
serviços no local. Os massagistas Osmar e Francis tinham deixado o América logo
após a vitória de 3 X 0 sobre o Guarani, em Rio Preto, dia 18 de junho, pela
sétima rodada do Paulistão.
Profissional
qualificado, apaixonado pela profissão, nunca passou pela cabeça de "Nico" qualquer envolvimento com o futebol, a não ser o de torcedor.
Foi
quando o médico Carlos Cabbaz e o diretor Osvaldo Meucci, o “Dico”, foram até a
sua casa pedir para que ele colaborasse com o América, que no domingo seguinte
jogaria com o Jabaquara, em Santos.
Prestativo
como ele só, "Nico" conseguiu uma folga no Pronto Socorro e foi com a delegação
vermelha para o litoral santista. Deu sorte e o América conseguiu empatar em 0
X 0. E dessa maneira teve início a sua carreira de massagista.
O
técnico americano era o argentino Filpo Nuñez. O time era bom e a torcida sabia
a escalação de cor e salteado: Vilera - Xatara e Fogosa. Adésio - Bertolino e
Ambrózio. Cuca – Leal – Dozinho - Vidal e Orias.
Era
um mundo completamente diferente daquele que estava habituado. Além das
injeções e medicamentos diversos, vestiário, jogadores, óleo elétrico e muita
massagem também fizeram parte do seu cotidiano.
Passou
a viver ativamente a vida do clube. Os jogadores aprenderam a gostar dele e
confiarem no seu profissionalismo. Na hora da dor, era só consultar o "Nico" para
ter alívio imediato.
Mas
ele era exigente e gostava que os jogadores seguissem à risca as suas
determinações. Costumava dizer que era mais fácil trabalhar quando todos são
disciplinados e obedientes.
A
atenção que "Nico" dedicava a todos, fez com que também se tornasse um verdadeiro
conselheiro dos atletas. Muitos contavam a ele até intimidades. Foi assim com o
jovem atacante Cardoso, artilheiro da equipe americana na conquista do título
da Segunda Divisão de 1963.
Amante
de pescaria, o “santo massagista do América” curtia os raros momentos de folga
na beira do rio Turvo. Alguns atletas viraram companheiros de pesca, como o
zagueiro "Nelson Coruja", que depois foi para o Palmeiras, e o goleiro Reis.
O
jogador “Nélson Coruja”, que havia jogado no América e foi para o Palmeiras,
chegou a indicar ao alviverde a contratação de "Nico" . Mas este agradeceu o
convite e preferiu ficar no América, clube que aprendeu a amar. Além de manter
suas raízes de riopretano.
"Nico" dizia que a parte financeira não era o que mais importava. Ganhando bem ou mal,
o importante era executar o trabalho com dedicação, disse, em
entrevista publicada em 1969 pelo jornal “Diário da Região”.
Trabalhou
no América até 1991. Neste período, foi campeão da “Segunda Divisão”, de 1963
(atual A-2), com acesso ao Paulistão, e do “Torneio José Maria Marin”, de 1987
(equivalente a Copa Paulista de hoje).
Ainda
participou da conquista da “Taça dos Invictos”, de 1973, quando o América ficou
17 jogos sem perder no “Paulistinha”. Também viu a equipe disputar os
campeonatos brasileiros de 1978 e de 1980.
"Tio
Nico" trabalhou com os treinadores Filpo Nuñez, Américo Brumell, Conrado Ross,
João Avelino, Antonio Julião, Gilson Silva, Rubens Minelli, João Leal Neto,
Wilson Francisco Alves, o “Capão”, Vail Mota, Urubatão Calvo Nunes, Barbatana,
Candinho e outros conceituados mestres.
Em
junho de 1992, Antônio Sutto sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), o que
complicou bastante a sua saúde. Os últimos 18 meses de vida foram passados em uma
cadeira de rodas. Apesar da lucidez, conversava pouco.
Era
um quadro bem diferente, que em nada lembrava daquela pessoa falante e divertida,
dos tempos de massagista, que animava o vestiário ao contar causos saborosos.
“Nico”
foi casado com Célia Rodrigues e teve os filhos Marcos Antônio, Márcio e Márcia
Bruna, mas separou-se da mulher na década de 1980.
Com
a saúde debilitada, foi morar em uma casa em Santa Fé do Sul, alugada por seu
irmão Arlindo. Tinha acompanhamento diário de médico e de enfermeira.
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