Ele
acompanhou o clube do seu coração em mais de 600 jogos dentro e fora do
“Estádio Beira-Rio“, inclusive tendo ido ao Japão quando da conquista do
Mundial de Clubes, o maior título da história colorada de mais de 100 anos. Em
2012 foi homenageado pelo Internacional, por esse fato.
O
amor de “Xuxu” pelo Internacional começou ainda na infância. Ele contou que
quando tinha apenas 6 anos de idade, ouviu um jogo pelo rádio, junto de sua
babá e, desde então, nunca mais abandonou o time.
Ela
ficou muito chateada porque o seu time tinha perdido o jogo. E “Xuxu” quis
saber que time era esse e a sua resposta o tocou muito: “É o Clube do Povo do
Rio Grande do Sul”. E “Xuxu” conta que foi nesse momento que se tornou
colorado. A família, todos torcedores do Grêmio, tentaram muito que o menino
trocasse de time. Mas falharam.
Ser
torcedor do Internacional surpreendeu a família de gremistas. O pai levou um
susto quando chegou em casa e encontrou “Xuxu” vestindo a camisa vermelha
comprada pela babá. O avô se surpreendeu ainda mais quando o neto, com 12 anos,
pediu de presente uma cadeira no estádio Beira-Rio. Estranhou, mas deu.
Com
13 anos pediu de presente uma viagem para o Rio de Janeiro para acompanhar o
Internacional. Poderia ter escolhido uma viagem para a Disney, ou qualquer
outro lugar. Mas ele queria ver o jogo do colorado. Já tinha 40 jogos fora.
Em
um Gre-Nal, “Xuxu” foi levado para entrar em campo junto com os jogadores
tricolores. Foi pior para os familiares. “Xuxu” dizia que aí mesmo é que sentiu
o amor que tinha pelo Internacional. Entrou de mão dada com os jogadores
gremistas, mas garantia que não estava feliz.
Ainda
com 6 anos de idade, decidiu que iria assistir a um jogo entre Novo Hamburgo e
Internacional. Pegou um ônibus sozinho e foi. A ida até que foi fácil, o
problema foi a volta.
Ele
estava chorando e morrendo de medo, quando torcedores colorados o encontraram.
E como conheciam seu pai, telefonaram para que ele fosse busca-lo. Tomou uma
cintada da sua mãe, mas garantia que tinha valido a pena porque o Inter ganhou
de 1 X 0.
Em
2009, ele doou material histórico para a construção do museu do clube, entre
outras histórias. Foram mais de 20 molduras de fotos, mantas, ingressos e capas
de jornais dos torneios vencidos pelo Internacional nos últimos três anos.
Além
das edições brasileiras, constam também banners de divulgação dos times que
disputaram o Mundial (em japonês), jornais ingleses e espanhóis depois da
consagração colorada, entre outros.
Dentre
as molduras, estão materiais da “Taça Libertadores da América”, “Mundial
Interclubes FIFA”, “Recopa Sul-Americana”, “Dubai Cup” e “Copa Sul-Americana”.
O
torcedor colorado folclórico relatava ainda um momento perturbador em sua vida.
Ele estava mal de saúde na virada do “Centenário” do clube. Achou que seria sua
hora.
Ele
já havia tido um pesadelo que, no tão especial dia 4 de abril, iria falecer.
Como não aconteceu, decidiu doar as molduras enquanto ainda estava vivo.
“Xuxu”
considerava o zagueiro Figueroa como seu maior ídolo da história do Clube e o
jogo Internacional 3 X 2 Cruzeiro, em 1972, como a partida mais marcante. Era
conhecido por todos dentro do clube, considerado um exemplo de paixão e amor
pelo Internacional.
“Xuxu”
sofria com a saúde desde cedo. Aos 14 anos sofreu o primeiro AVC e começou a
ter problemas pessoais, mas isso não o impediu de seguir torcendo e viajando. O
destino mais longe foi Japão, quando viu em 2006 o seu time ser Campeão do
Mundo. Todos os anos, assim que saía a tabela dos campeonatos, ele comprava as
passagens para todos os confrontos.
Ano
passado confessou a amigos que a saúde estava complicada, mas que só iria
embora para o outro lado, depois que o Internacional voltasse a Primeira
Divisão.
O
Internacional lembrou a morte do torcedor em seu site, com a divulgação de uma
nota:
“A
quarta-feira começou triste para a família colorada. Faleceu nesta manhã José
Antônio Silveira, o “Xuxu”, colorado que seguiu o Inter por todas as plagas,
sempre defendendo essa paixão que nos une. O clube lamenta profundamente a
perda deste ilustre torcedor e deseja força a seus amigos e familiares".
O
padre Ceron celebrou uma missa de encomendação do corpo na “Capela Nossa
Senhora das Vitórias”, no complexo Beira-Rio. Em seguida, dando continuidade a
um desejo de “Xuxu”, seu corpo foi velado no momento em que o Internacional estava
em campo, contra o Cianorte, pela terceira fase da Copa do Brasil.
Enquanto
o Internacional vencia o Cianorte e garantia classificação à quarta fase da
Copa do Brasil, um telão instalado ao lado da capela transmitia a partida para
um grupo de colorados que prestava homenagens ao famoso torcedor.
Dentro
do local, o Padre Ceron realizou uma Missa para encomendação do corpo de “Xuxu”
e deu início ao velório convidando todos a cantarem o hino colorado.
Antes
do jogo, foi realizado um minuto de silêncio em homenagem ao célebre torcedor,
que acompanhou o Inter por toda vida, onde quer que fosse.
Vale
lembrar que “Xuxu” costumava contar, que quando o seu pai faleceu, antecipou o
horário de sepultamento, para poder ir até o Beira-Rio assistir a um clássico
Gre-Nal.
“Tem
que ter muito orgulho de ser colorado, é um espírito de felicidade ser torcedor
do Internacional. Na hora ruim e na hora boa sempre tem que estar do lado do clube.
Nada de vaia, de forma alguma. Ir ao jogo é uma diversão, um passeio, não leva
a nada brigar e discutir", dizia “Xuxu”.
Vale
publicar aqui um bonito artigo de Dilto Crouzeiles Nunes, conselheiro do S.C.
Internacional, publicado na coluna de Hiltor Mombach, no jornal “Correio do
Povo”, de Porto Alegre, em 16 de março último:
XUXU,
uma lenda!
O
Sport Club Internacional durante sua existência teve vários colorados
aficionados que dedicaram suas vidas ao Clube. E nestas últimas décadas não
podemos deixar de destacar o posicionamento impar de XUXU.
De
berço se tornou colorado e desde então dedicou-se a viver todos os dias, os
feitos do Internacional. Era por demais notório o amor que ele tinha pelo
Clube. Daria, com certeza, sua vida para defendê-lo.
Sempre
pelo presente, junto aos dirigentes, aos atletas e aos torcedores, sua presença
era constante e não havia um colorado que não o conhecesse. Ajudava
voluntariamente em tudo que era preciso, mesmo sem ter cargos na Diretoria ou
no Conselho.
Seu
amor era o Inter. Por ele qualquer sacrifício seria superado. Viajava por todos
os lugares onde a equipe se apresentasse.
Não
havia distancias para ele e nem sofrimentos. Sua alegria maior era a
aproximação, o convívio com seu Clube do coração.
Seu
fanatismo era tanto que até em jogos decisivos, no campo do adversário,
festejando o feito, se vestia de Papai Noel para brindar a conquista e assim
corria por todo o campo sob os aplausos dos torcedores.
Não
acreditei quando num jogo decisivo ele me confidenciou que se o Inter ganhasse
ele desfilaria desnudo pelo gramado. E minha surpresa não foi maior quando o vi
atrás do gol se despir, enquanto todos festejavam, e sair pelado atravessando o
campo. Foi notícia nacional. Assunto comentado por toda mídia.
Nada
superava a felicidade dele ao ver seu time campeão. Era amigo dos atletas.
Quando um era vendido e até ia jogar na Europa, ele viajava para lá a fim de
dar sua força, assistindo seu primeiro treino no novo Clube.
Nos
hotéis participava junto com a delegação e era bem quisto pelos hoteleiros. Se
uma vida foi dedicada ao Inter, esquecendo-se de viver a sua vida, este era o
XUXU. Ele teve sua existência interrompida por grave doença. Assim mesmo,
doente, era visto nas dependências do clube torcendo.
Bem
recebido por todas as torcidas, tinha livre transito por onde andava. Era
realmente uma criatura de bem que só tinha um desejo na vida: ver a vitória do
Inter.
Hoje,
com certeza, ele faz parte de uma estrelinha no céu, brilhante, iluminada, com
certeza fixando no firmamento a bandeira este Clube que adorou e dedicou sua
vida.
Descanse
em paz meu amigo XUXU. (Pesquisa: Nilo Dias)
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