No
dia 31 de maio ele foi internado no “Hospital das Clínicas”, em São Gonçalo
(RJ) por causa de um problema pulmonar e não conseguiu se recuperar. Altair
teve falência de múltiplos órgãos.
Altair
foi diagnosticado em 2013 com a “Doença de Alzheimer”, que afeta principalmente
a memória. Enquanto o presente se esfacelava na mente do ex-lateral, o passado
no Fluminense ainda estava vivo, a ponto de imaginar que ainda era jogador.
O
corpo foi sepultado numa gaveta baixa no “Cemitério do Maruí”, subúrbio de
Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro o mesmo onde Zizinho, craque
da Seleção nos anos 50, também está enterrado.
Em
respeito à morte de Altair, a CBF colocou as bandeiras de sua sede a meio
mastro, mas não mandou representante no adeus ao campeão mundial. Os jogos do fim de semana tiveram um minuto de silêncio em sua
homenagem.
Ao
longo da última década, Altair teve um apoio fundamental da cuidadora Eluana
Galvão, que tomou conta dele e o levou para morar em sua casa. A esposa do
ex-jogador falecera em 2009 e a única filha do casal, em 2002.
Lamentavelmente,
o enterro de Altair, campeão mundial com a “Seleção Brasileira” em 1962, reuniu
apenas 18 pessoas. O Fluminense não mandou representante ou coroa de flores ao
sepultamento.
Após
o fato se tornar público, o clube divulgou nota oficial na qual explicou a
ausência de um representante no enterro ou de envio de uma coroa de flores. O
clube alega que foi avisado em cima da hora.
O
aviso do falecimento chegou por volta das 11 horas. As informações sobre o
velório chegaram ainda mais tarde. E Altair foi enterrado às 15 horas (nota da
redação: o enterro terminou às 17h30).
Não
sabem se por problemas de comunicação ou decisão da família, o fato é que a
informação tardou a chegar ao clube. O clube se limitou a decretar luto oficial
de três dias e publicar no seu site uma nota de quatro parágrafos em homenagem
ao ex-campeão.
Um
fato chamou a atenção, na “Capela São Lucas”. O corpo de Altair, vestido com
uma camisa da Seleção, acabara de chegar ao cemitério suburbano. Um senhor
negro de 83 anos entrou lentamente no salão vazio decorado somente com uma
coroa de flores.
Vestido
também com a camisa da Seleção, ele parou em frente ao caixão, abraçou o seu
filho Jair Marinho Filho e ficou em silêncio por um minuto. Em seguida, o
ex-jogador cumprimentou os outros oito presentes no velório, até então.
"Vivemos
a vida inteira, juntos, e precisava vir aqui me despedir do meu melhor
amigo", disse Jair Marinho aos presentes na capela. Campeão da Copa de
1962 pela Seleção, Marinho deu um aceno para o amigo no caixão e foi se sentar
do lado de fora. Altair foi lateral-esquerdo, reserva de Nilton Santos. Marinho
jogava na lateral direita e ficou na reserva de Djalma Santos.
Além
de conquistarem a Copa no Chile, os dois foram titulares do Fluminense e
moravam na mesma cidade, Niterói. Marinho lembrou que Altair tinha 14 anos
quando se conheceram.
Iam
e voltavam dos treinos e jogos juntos. Todo o dia cedo se encontravam nas
barcas. “Jogador não era rico. Tinha que pegar barca e ônibus”, contou.
Ao
contrário de Altair, que só vestiu a camisa do Fluminense, Marinho jogou também
pelo Corinthians, Portuguesa, Vasco e Campo Grande. Após o final da carreira,
eles permaneceram amigos. Trabalharam na Prefeitura de Niterói como professores
em escolinhas pela cidade
No
enterro, Marinho lembrou quando os dois se lançaram "na música". Em
2006, eles foram contratados por produtores alemães para cantarem clássicos de
Jorge Ben Jor em festas durante a Copa de 2006.
Jairzinho,
Brito e Roberto Miranda faziam parte do grupo. “Aquilo foi uma farra. Nunca
pensei em ser cantor. Até isso fizemos na vida. Cantávamos em playback em
praças lotadas. Ficávamos nos olhando e rindo com tanta alegria”, lembrou
Marinho ao se levantar para fazer a última oração com familiares de Altair.
No
futebol, eles costumavam dividir o quarto nas concentrações. Nas viagens depois
do final da carreira, gostavam de fazer o mesmo. Em 2013, eles se hospedaram
juntos em Brasília antes da abertura da “Copa das Confederações”.
Na
ocasião, Marinho disse que tomou o maior susto da vida. Altair já dava sinais
do “Mal de Alzheimer”, diagnosticado logo depois por médicos.
Ao
deixar Niterói, o ex-jogador foi avisado pelos familiares de Altair, que o
amigo andava esquecido. No início da tarde, o ex-lateral esquerdo disse que
iria passar um tempo na portaria do hotel.
Uma
hora depois, como o amigo não chegava, Marinho desceu preocupado e não o
encontrou. A polícia foi chamada. Somente no final da noite, após 10 horas de
procura, Altair foi encontrado perdido numa das avenidas da capital federal
pelos jornalistas Alexandre Lozetti,
Leandro Canônico, Marcelo Baltazar e
Thiago Salata, os três primeiros do “Globo Esportes” e o último do “Diário
Lance” .
“Foi
um susto imenso. A partir dali, a nossa convivência foi diminuindo. Nos últimos
três anos, ele parou de falar. Mas sempre o visitava. Amigo é para sempre. É
para tudo”, disse Marinho, sentado ao lado do filho, aguardando o início do
cortejo que reuniu apenas 18 pessoas.
Altair
foi o quarto atleta a jogar mais vezes pelo tricolor, tendo participado de 551
partidas, com dois gols marcados. Foi campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1957
e de 1960.
E
também, campeão carioca em 1959, 1964 e 1969 e da Taça Guanabara em 1966 e
1969, quando estas eram competições independentes do Campeonato Carioca, não
tendo jogado na de 1969, mas fazendo ainda parte do elenco tricolor nessa
época. O clube decretou luto oficial por três dias.
Ivan
Mira, aposentado, 73 anos de idade, foi o único fã a comparecer ao enterro.
“Ele era o meu ídolo. Por isso, fico muito triste ao ver que o Fluminense,
único clube dele durante toda a vida, não mandou nem uma coroa de flores. Nem
os representantes da torcida vieram. Não sabemos cuidar da nossa história”,
lamentou.
Além
dele e Marinho, as demais 16 pessoas eram parentes de Altair ou da família da
cuidadora do campeão mundial.
Nascido
em Niterói no dia 21 de janeiro de 1938, Altair Gomes de Figueiredo deu seus
primeiros passos no futebol ainda nas categorias de base do Manufatora, de
Niterói, sua cidade natal. Altair era botafoguense durante a infância.
Diante
da desaprovação de seus pais, que preferiam o adolescente se dedicando aos
estudos como chapeador naval, precisou sair escondido para ir à peneira do
Fluminense para atuar como quarto-zagueiro, mas como só havia vaga na
lateral-esquerda, aceitou trocar de posição, aconselhado pelo colega Pinheiro.
E foi assim que deslanchou em outro setor.
Foi
aprovado e dava seu jeitinho para burlar o cerco da família. Sua irmã
falsificou a assinatura do pai durante a chegada ao Flu, em 1953. Além disso,
um amigo dava cobertura durante os finais de semana, em que o prodígio dizia
estar estudando, mas permanecia concentrado com os juvenis. Apesar de tudo,
prosperou.
Altair
destacou-se na lateral esquerda por sua boa técnica e intensidade na marcação,
pois dificilmente perdia uma dividida, apesar de seu corpo magro em relação a
altura, pois tinha 1,73 m e pesava 59 kg .
Considerado
um especialista em "carrinhos", teve duelos com jogadores como
Garrincha, sendo considerado o seu melhor marcador. E logo começou a ganhar
títulos no único clube no qual jogou.
As
atuações logo despertaram a atenção da Seleção Brasileira.Altair chegou a
participar da preparação à Copa de 1958, mas se lesionou durante um treinamento
em Vitória.
A
primeira partida com a camisa amarela só ocorreu em setembro de 1959, contra o
Chile. Três anos depois, conseguiu uma grande façanha. Altair foi reserva de Nilton Santos na Copa
do Mundo do Chile de 1962.
O
jovem não chegou a entrar nos gramados chilenos. Ainda assim, comemorou junto
com os companheiros o bicampeonato mundial, após a coleção de exibições
fantásticas de Garrincha.
Em
1966, voltou a estar na Copa do Mundo com a Seleção Brasileira, e foi titular
na vitória sobre a Bulgária e na derrota para a Hungria. Foi,
ainda, campeão da “Taça Bernardo O'Higgins” em 1959 e 1961, "Taça Oswaldo Cruz", em 1958, 1961 e 1962 e "Copa Roca), em 1963.
Altair foi um dos 47 jogadores convocados, pelo técnico Vicente Feola, para o período de treinamento que visava conquistar a Copa da Inglaterra de 1966 e, consequentemente, o tricampeonato mundial de futebol.
Infelizmente
deu tudo errado. Jogou 22 partidas pela Seleção Brasileira, com 16 vitórias, 2
empates e quatro derrotas e 1 gol contra.
Os jogos pela
Seleção:
1) 20/09/1959 – 1 X 0 Chile; 2) 06/05/1960 – 3 X 0 Egito; 3)
11/05/1961 – 1 X 0 Chile; 4) 24/04/1962 – 4 X 0 Paraguai; 5) 09/05/1962 – 1 X 0
Portugal; 6) 13/04/1963 – 2 X 3 Argentina; 7) 16/04/1963 – 5 X 2 Argentina; 8)
21/04/1963 – 0 X 1 Portugal; 9) 24/04/1963 – 1 X 5 Bélgica; 10) 28/04/1963 – 3 X
2 França; 11) 17/06/1965 – 3 X 0 Argélia; 12) 15/05/1966 – 1 X 1 Chile; 13)
19/05/1966 – 1 X 0 Chile; 14) 04/06/1966 – 4 X 0 Peru; 15) 08/06/1966 – 2 X 1 Polônia;
16) 15/06/1966 – 2 X 2 Tchecoslováquia; 17) 21/06/1966 – 5 X 3 Atlético de
Madrid; 18) 27/06/1966 – 8 X 2 Åtvidabergs FF , da Suécia; 19) 04/07/1966 – 4 X
2 Allmanna Idrottsklubben, da Suécia; 20) 06/07/1966 – 3 X 1 Malmo FF, da
Suécia; 21) 12/07/1966 – 2 X 0 Bulgária e 22) 15/07/1966 – 1 X 3 Hungria.
No país com mais conquistas de "Copas do Mundo", apenas 94 brasileiros podem dizer que foram campeões do mundo. Altair Gomes Figueiredo integra esse grupo de menos de 100 privilegiados.
No país com mais conquistas de "Copas do Mundo", apenas 94 brasileiros podem dizer que foram campeões do mundo. Altair Gomes Figueiredo integra esse grupo de menos de 100 privilegiados.
Antes
de encerrar a carreira, o lateral ainda jogou pelo Sport e Vitória. Após
disputar alguns jogos pelo Canto do Rio, Altair pendurou as chuteiras e seguiu
morando em Niterói, onde administrou uma lotérica (benesse recebida do governo
justamente pelo título mundial) e participou de projetos sociais relacionados
ao futebol.
Também
retornou ao Fluminense, assumindo outras funções principalmente na década de
1990. Integrou diferentes comissões técnicas e era assistente de Joel Santana
no emblemático título carioca de 1995, com o famoso gol de barriga de Renato
Gaúcho, além de servir como técnico interino em ocasiões pontuais.
Também
ajudou na formação de talentos nas categorias de base. A contribuição do velho
ídolo aos tricolores era inesgotável.
“Lamento
muito. Vi agora a notícia. Sabia que estava doente. Conhecia muito o clube e me
ajudou muito como auxiliar na minha comissão técnica em 95. Uma perda para o
futebol”, disse Joel Santana. (Pesquisa: Nilo Dias)
Apenas 18 pessoas foram ao enterro de Altair.
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