Ele
ficou cerca de meia hora aguardando socorro. Levado para o Hospital de Santa Maria,
o atleta morreu logo depois, por volta do meio-dia. O suspeito de disparar
contra a vítima é um soldado da Polícia Militar de Goiás, que trabalha na 33ª
Companhia de Choque de Choque de Valparaíso.
O
pai do atleta e empresário, Leandro Soares Andrade, afirmou que o filho foi
baleado logo após pegar uma arma de brinquedo com um amigo, a qual, segundo
ele, seria entregue para outro amigo, que também estava na praça.
"Ele
colocou o simulacro na cintura e atravessou a rua junto com a namorada. Assim
que subiu na calçada, o policial deu o primeiro disparo nas costas dele",
relatou.
Leandro
afirmou que a namorada do filho, de 17 anos, tentou intervir. "Ela começou
a gritar desesperada, dizendo que era arma de brinquedo e pediu para parar. Meu
filho jogou a arma para traz, ela caiu no chão. Aí o policial deu um terceiro
tiro na cabeça do meu filho”, disse o pai.
Segundo
o delegado-chefe do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), Rafael Abrão, o
soldado seguia para o trabalho quando passou pela praça e disse ter visto a
vítima negociando o que parecia ser uma arma de fogo. O investigador contou que
o policial abordou Leandro e, segundo o PM, a vítima teria tirado a suposta
arma da cintura.
"Familiares
alegam que ele tirou a arma, que era uma réplica, para jogar no chão e se
render. Não sabemos ainda a circunstância. Fato é que ele a arrancou da
cintura", explicou o delegado. O soldado, então, reagiu e efetuou três
disparos. Segundo Rafael, a vítima estava acompanhada da namorada, mas ela não
se feriu.
A
arma do PM, de calibre 40, ficou apreendida para perícia, assim como a réplica
da arma de fogo. "Vamos fazer o confronto balístico e precisamos descartar
uma segunda arma”.
O
policial foi ouvido na hora e, inclusive, algumas testemunhas, mas vamos
aprofundar as investigações com imagens e outros relatos", destacou o
delegado. A vítima foi enterrada domingo (7/7) no Cemitério Campo da Esperança,
no Plano Piloto.
Procurada,
a Polícia Militar repassou a íntegra da ocorrência registrada pela própria
corporação. O texto informa que o militar chegava à unidade policial para
trabalhar quando viu uma pessoa se aproximando de um casal na praça e passando
uma arma de fogo.
Ele,
então, parou o carro e começou a acompanhar a movimentação.
Segundo
a ocorrência, logo depois de repassar o objeto, a pessoa que entregou a arma
foi embora, e o casal seguiu caminhando.
Nesse
momento, o policial fez a abordagem. Mas, conforme consta na ocorrência,
"o autor levantou a blusa e colocou a mão na cintura." O policial,
então, realizou três disparos.
De
acordo com a PM, a vítima caiu no chão e ainda conseguiu ter forças para dizer
que se tratava de uma réplica. "Em seguida, o policial pegou o objeto que
se encontrava ao chão e verificou que se tratava de um simulacro de arma de
fogo do tipo pistola", detalha o texto.
Com
a namorada, o policial não encontrou nada. Logo depois, o militar pediu apoio
da unidade policial e acionou o Corpo de Bombeiros. Ele também se apresentou à
delegacia.
No
texto, consta, ainda, que "pelo ocorrido, não há que se falar em Auto de
Prisão em Flagrante em desfavor do agente de segurança policial, o qual, em
análise inicial, parece ter agido acobertado por uma das hipóteses de
excludente de ilicitude, previstas no artigo 23 do Código Penal."
A
vítima teve passagem pelas categorias de base do Corinthians Paulista, nos anos
de 2016 e 2017. Considerado um jovem promissor quando ainda estava no Sub-15,
ele acabou deixando o clube por conta do histórico de indisciplina.
Leandro
chegou ao Parque São Jorge por indicação de olheiros, devido ao destaque que
estava ganhando como atacante na região norte do Paraná pelo pequeno Paraná
Soccer Technical Center (Centro de Treinamento de Futebol do Paraná), conhecido
pela sigla PSTC, com sede em Cornélio Procópio.
A
diretoria de base do “Timão”, porém, também havia sido alertada sobre problemas
extracampo que o garoto carregava consigo. Ainda assim, o clube alvinegro topou
apostar no jovem atleta, levá-lo para São Paulo e fornecer alojamento,
alimentação, estudos e, claro, os treinos.
Mas
foi justamente o comportamento complicado fora dos gramados, combinado a uma
grave lesão, que culminou na saída de Leandro do Corinthians.
Ainda
no Sub-15, sofreu ruptura de ligamentos no joelho - nas categorias de base. Um
dos maiores dramas que um jogador pode passar é ficar afastado de campo sem
poder mostrar serviço.
Ainda
assim, foi promovido ao Sub-17, mesmo machucado. O garoto era brincalhão no
departamento médico, onde sempre pedia para ser filmado prometendo se recuperar
logo.
Paralelamente,
porém, acumulava problemas extracampo e advertências na escola por mau
comportamento. Em um dos episódios,
ameaçou uma professora.
Recuperado
de lesão, viveu um dos dias mais felizes de sua passagem pelo Corinthians
quando, relacionado para um jogo da “Copa do Brasil Sub-17” que seria disputado
na “Arena”, conheceu o “Estádio de Itaquera”.
Os
casos de indisciplina, contudo, seguiam acompanhando Leandro. Por conta deles,
o clube decidiu se desvincular do atleta. Fato é que saída de Leandro do
Corinthians entristeceu, lá mesmo em 2017, dirigentes, comissão técnica e
demais funcionários do clube que com ele conviviam.
De
forma geral, ele era visto como um garoto com potencial dentro de campo. Não à
toa foi contratado mesmo com histórico de indisciplina e promovido ao Sub-17
ainda lesionado.
Na
relativamente breve passagem pelo Corinthians, Leandro foi colega de elenco de
jovens que hoje são conhecidos pela ala da torcida que mais acompanha as
categorias de base.
Nomes
como Guilherme, Ronald, Du, Vitinho e Gustavo Mantuan, hoje no Sub-20 do clube
e monitorados por Fábio Carille, treinavam diariamente com Leandro, que foi
comandado no Parque São Jorge pelos técnicos Vinicius Marques, que segue por
lá, e Marcos Soares, hoje à frente do Sub-20 do Botafogo.
Leandro
jogava atualmente no Capital CF, de Guará, no Distrito Federal, que fica a
aproximadamente 40 km de Valparaíso de Goiás, onde morava com o pai e foi
morto.
Lá,
apesar de não integrar o elenco profissional, Leandro sabia da perspectiva de,
se promovido ao plantel principal, ser treinado por Waldemar Lemos, irmão de
Oswaldo de Oliveira e hoje técnico da equipe de Guará.
Também
seria colega do veterano Jobson, atacante com passagem pelo Botafogo e que
também acumula diversos problemas extracampo, como suspensão por doping e
prisões por acusação de estupro e descumprimento de medidas cautelares.
As
semelhanças com Jobson e com a passagem pelo Corinthians vinham se repetindo. Membros
da comissão técnica relataram um sumiço de Leandro nas últimas semanas.
Há
cerca de um mês, ele chegou a procurar integrantes do grupo técnico
recém-chegado para explicar os problemas com a comissão antiga e pedir nova
chance. Ouviu reposta positiva. Poucos dias depois, porém, não apareceu para os
treinos.
Ele
comentava com os mais próximos que não vinha se sentindo útil e que isso o
chateava. Triste, não saía de casa e apresentava "pensamentos
negativos". A preocupação virou tristeza e choque.
A
notícia da morte deixou funcionários arrasados. Circularam diversos boatos na
região sobre o que teria ocorrido naquela manhã de sexta-feira.
Nenhum,
porém, foi confirmado. Apesar de a polícia ainda não dar maiores informações
além da confirmação de que um PM disparou um tiro que lhe acertou o tórax, o
que se fala entre profissionais do Capital e familiares de Leandro é que ele
teria levado três tiros (um deles nas costas) quando estava numa praça
acompanhado da namorada e carregando uma arma de brinquedo.
Outra
curiosidade sobre o Capital é que, desde novembro do ano passado, o clube tem
Marcelinho Carioca como diretor. O ex-meia, hoje com 47 anos, foi ídolo quando
jogador justamente com a camisa do Corinthians, ex-clube de Leandro. (Pesquisa:
Nilo Dias)
Leandro, no Corinthians Paulista.
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