O
Esporte Clube XV de Novembro, da cidade de Piracicaba (SP) foi fundado no dia
15 de novembro de 1913. A ideia de criar um clube de futebol na cidade
nasceu bem antes. Em 1910 Piracicaba, com pouco mais de 40 mil habitantes, era
conhecida como a “Pérola Paulista”, em razão do alto nível intelectual da sua
população. A cidade também era importante produtora de café, cana de açúcar e
aguardente.
Nessa
época o futebol amador da cidade era comandado por duas das mais tradicionais
famílias piracicabanas, “Pousa” e “Guerrini”. Os “Pousa” cuidavam da melhor
maneira possível do Esporte Clube Vergueirense, enquanto o rival 12 de Outubro
era a “menina dos olhos” dos “Guerrini”.
Mas
a rivalidade existente não foi obstáculo para que as duas famílias se
entendessem no sentido de formarem um único clube bem mais forte e estruturado
na cidade. Aconteceu, então, uma reunião preliminar no dia 25 de outubro de 1913, quando foi convidado o cirurgião dentista e capitão da Guarda Nacional,
Carlos Wingeter, para ser o primeiro presidente do clube.
Para
aceitar o convite, Wingeter fez uma única exigência: que o nome da agremiação
fosse XV de Novembro, para homenagear a data da “Proclamação da República”, o
que não foi visto como qualquer empecilho. E em uma segunda reunião ocorrida dia 15 de novembro, finalmente foi fundado o Esporte Clube XV de Novembro.
Seguiram-se
decisões de praxe, como a escolha dos demais dirigentes, cores do fardamento,
exigências para angariar sócios, escolha de local para treinos e jogos e coisas
do gênero. O clube continuou amador em seus primeiros anos de vida.
No
ano de 1914, exatamente no dia 12 de outubro, o XV conquistou o título de
campeão da cidade ao derrotar a Associação Esportiva Piracicaba, por 3 X 2.
Cada vez ganhando maior prestigio, em 1918 filiou-se a Associação paulista de
Esportes Atléticos,passando a disputar os campeonatos do Interior, obtendo os
títulos de campeão regional e vice-campeão estadual em 1920.
No
ano de 1932, jogando em São Paulo, no campo da extinta A.A. São Bento, na
antiga “Floresta”, venceu o Cravinhos F.C. por 2 X 1 e conquistou o título de
“Campeão do Interior” de 1931. O time formou com: Alcides Ferreira – Mônaco e
Petrônio – Venerando – Moacir e Roque – Alcides Camargo – Nenzo Áureo
–Godoizinho e Leme.
Anos
depois, em 1948, já como clube profissional, o XV conquistou seu primeiro título
na categoria, campeão da “Segunda Divisão do Campeonato Paulista”, que
corresponde à atual Série A2. Com isso ganhou o direito de enfrentar no ano
seguinte, às equipes da elite do futebol paulista.
No
dia 12 de setembro de 1948 o XV de Novembro foi até a cidade de Campinas, como
convidado para o jogo de inauguração do “Estádio Moisés Lucarelli”, da A.A.
Ponte Preta, o seu mais tradicional rival. Mesmo com a expectativa criada pela
torcida campineira de uma provável vitória da “Macaca”, quem fez a festa foi o
XV, ganhando o jogo por 3 X 0.
Mas
foi a Ponte Preta que quase abriu o marcador. Aos 7 minutos do primeiro tempo,
Gaspar bateu um pênalti e colocou a bola para longe do gol. Como quem não faz,
leva, o jogador Sato, do XV, teve a honra de marcar o primeiro gol no novo
estádio, aos 17 minutos iniciais. “Gatão”, de pênalti fez 2 X 0 e Henrique
fechou o marcador. A Ponte ainda teve novo pênalti a seu favor, novamente
desperdiçado, dessa vez por “Gaiola”, que jogou a bola para fora.
A
Ponte Preta mandou a campo: Serafim - Sapatão e Alcides – Nego - Gaspar e
Rodrigues – Damião – Gaiola – Vicente - Armandinho e Oliveira. O XV goleou com:
Ari – Elias e Idiarte – Cardoso - Strauss e Adolfinho - De Maria – Sato –
Picolino - Gatão e Henrique.
Os
torcedores mais antigos do XV de Novembro falam de um “gol impossível, que
virou lenda” e que nem Pelé ou Maradona teriam feito. Aconteceu no dia 28 de
agosto de 1949, no empate de 2 X 2 com o Santos, no “Estádio Roberto Gomes
Pedrosa”, em Piracicaba.
Faltavam
três minutos para o fim do jogo e o XV perdia por 2 X 1. Houve um escanteio e o
ex-atacante José Maria Cervi, o “Russo”, hoje advogado e com 86 anos, bateu na
bola e foi correndo para a área pegar o rebote. Mas estava ventando um pouco.
Quando viu, antes de a bola bater em alguém, cabeceou e caiu com ela dentro do
gol.
O
único gol desse tipo registrado em vídeo só mesmo na ficção. “Didi Mocó”,
personagem de Renato Aragão, bateu o escanteio e cabeceou em "Os
Trapalhões e o Rei do Futebol (1986)", que teve a participação de Pelé.
“Russo”,
diz que não está esclerosado e que o lance realmente aconteceu. Sobre a notícia
de um gol semelhante marcado em 1954 pelo “Nueva Chicago”, de Buenos Aires, ele afirma que é “invenção de argentinos invejosos".
O
que não falta são testemunhas para dizer que a história é verdadeira. “Cada um
conta uma história, mas muita gente na cidade viu. O campo era pequeno, a bola,
de capotão, mais influenciável pela ação do vento", diz o historiador do
XV de Piracicaba, Rui Kleiner.
O
presidente atual, Celso Christofoletti garante que houvia essa história desde os
10 anos de idade, quando começou a ir aos jogos do XV. O pai dele contava
sempre que estava no estádio e que era verdade.
O
jornalista da TV Globo Léo Batista, hoje com 81 anos, era narrador de uma rádio de
Piracicaba, e diz ser testemunha da história. Confirmou o fato e afirma que os
jogadores do Santos queriam matar o árbitro inglês, Mr. Snape, que deveria ter
anulado o gol, pois o jogador do XV deu dois toques seguidos na bola, o que a
regra do futebol não permite.
Já
o relato da partida no jornal "Folha da Manhã", criado em 1925,
desmente o feito. Segundo a reportagem, “Russo” realmente fez o gol de empate,
mas quem cobrou o escanteio foi o jogador “Gatão”.
Para
o professor Francisco Eduardo Guimarães, do "Instituto de Física da USP", não dá
para falar que é mentira, mas precisa de uma mágica muito grande. “Se aconteceu
foi graças ao vento e ao efeito da bola”.
Os
anos de 1952 e 1958 foram os melhores do time na Divisão Principal, atual Série
A1, quando alcançou até um quinto lugar, atrás somente dos “grandes”: São
Paulo, Palmeiras, Corinthians e Santos.
Nos
anos 60 as boas campanhas não se repetiram e o XV acabou sendo rebaixado em 1965.
Mas ficou somente um ano na Segundona, já que foi vice-campeão da competição e
retornou ao grupo principal.
Fortalecido,
o clube tornou a fazer boas campanhas no “Paulistão”, culminando em 1976 com o
vice-campeonato estadual, perdendo na final para o Palmeiras. Tendo em vista o
excelente desempenho do time no “Campeonato Estadual”, o presidente da
Confederação Brasileira de Desportos (CBD), atual CBF, almirante Heleno Nunes,
convidou o XV a participar do “Campeonato Brasileiro” de 1977.
Nesse
certame o maior feito do XV foi uma vitória de 1 X 0 sobre o Flamengo, do Rio
de Janeiro, em jogo realizado no dia 7 de dezembro de 1977. Fazia 30 anos que o
clube carioca não jogava em Piracicaba. A última visita do rubro-negro na
cidade havia ocorrido em 10 de abril de 1947, quando enfrentou o XV no amistoso
de inauguração dos refletores do estádio alvinegro. Na oportunidade, o Flamengo
venceu por 4 X 2.
O
jogo de 1977 foi disputado debaixo de muita chuva e o Flamengo não conseguiu
furar a defesa do XV, liderada pelo goleiro Getúlio. No rubro-negro da “Gávea” despontavam grandes
valores como Osni, Claudio Adão, Luiz Paulo, Paulo César Carpegianni e Adílio.
O
gol do XV poderia ter ocorrido logo aos 21 minutos, quando Brito aproveitou
rebote do goleiro Cantarelli e mandou a bola para o gol. No entanto, após grande
confusão na área, o árbitro Rubens Maranhão mandou a jogada seguir, deixando de
assinalar o primeiro gol do alvinegro.
Apesar
do erro de arbitragem, a justiça foi feita aos 45 minutos do segundo tempo,
quando Nardela marcou para o XV. Em mais um erro da arbitragem, na súmula
constou equivocadamente o nome de Roberto como autor do gol.
A
vitória do alvinegro foi fundamental para a classificação do time piracicabano
para a terceira fase do campeonato, ficando na frente da forte equipe do
Cruzeiro (MG), que somou o mesmo número de pontos, mas perdeu nos critérios.
O
jogo teve a segunda melhor renda em jogos no “Barão de Serra Negra” naquele
ano. O público total foi de 17.800 expectadores, com renda de Cr$ 580.350. A partida poderia ter recebido público
ainda maior, mas as fortes chuvas que atingiram a cidade naquele dia afastaram
muitos torcedores.
XV
de Piracicaba: Getúlio – Volmir – Elói - Ivã e Almeida – Vadinho - Nardela e
Perrela – Brito - Alcides e João Paulo (Roberto Cruz). Técnico: Dema. Flamengo:
Cantarelli – Toninho – Rondinelli - Nélson e Júnior – Merica - Paulo César
Carpegianni e Adílio - Osni (Ramires) - Cláudio Adão e Luiz Paulo. Técnico:
Jaime Valente.
O
XV de Piracicaba terminou a competição na 22ª colocação, após chegar até a
terceira fase do Campeonato, que terminou com título do São Paulo Futebol
Clube.
No
“Brasileiro” de 1979 o time classificou para a segunda fase e ficou na “Chave
H”, considerada muito forte, com Grêmio (RS), Flamengo (RJ), Londrina (PR),
Bahia, Náutico (PE), Santa Cruz (PE) e Gama (DF). O XV se classificou ao lado
do Flamengo, para a fase seguinte da competição.
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