Faleceu
na última quarta-feira (16) aos 84 anos de idade, por insuficiência renal, o
ex-árbitro de futebol Armando Nunes Castanheira da Rosa Marques. De acordo com
informações da Secretaria de Saúde do Município do Rio de Janeiro, ele deu
entrada na Coordenação de Emergência Regional (CER), do Leblon, na terça-feira,
com um quadro muito grave de insuficiência renal e não resistiu.
O
extinto era carioca, nascido a 6 de fevereiro de 1930 e marcou a sua carreira
pela polêmica. Ainda assim chegou a ser considerado o melhor árbitro do Brasil,
enquanto esteve em atividade.
Começou
na profissão em 1961, aos 31 anos e ao longo da carreira foi considerado um dos
maiores árbitros do futebol brasileiro. Participou de 12 decisões de
campeonatos nacionais até 1974 e apitou 1.896 jogos, até se aposentar.
Além
disso, apitou também diversas decisões e clássicos de campeonatos estaduais.
Também atuou em duas Copas do Mundo: 1966 na Inglaterra e 1974 na Alemanha.
Armando
Marques conseguiu a façanha de ser amado e odiado por torcedores e jogadores.
Teve erros históricos, especialmente quando trabalhou no futebol paulista.
Um
deles é lembrado até hoje pela torcida do Palmeiras, quando anulou um gol
legitimo de Leivinha, que ajudou o São Paulo a ser campeão paulista daquele ano.
Marques marcou toque de mão, quando todo o estádio viu e as imagens confirmaram
que o gol foi de cabeça.
O
maior erro da carreira do árbitro aconteceu na final do Campeonato Paulista de
1973, quando ele encerrou a cobrança de pênaltis no momento em que o Santos
vencia a Portuguesa de Desportos por 2 X 0, mas ainda existia a possibilidade
de empate . Por causa disso o título teve de ser dividido entre os dois clubes.
Na
final do Campeonato Brasileiro de 1974, no Maracanã, o Cruzeiro necessitava
somente de um empate para se sagrar campeão. O Vasco vencia por 2 X 1 quando
Armando Marques anulou um gol legítimo marcado por Zé Carlos, para o Cruzeiro.
Isso impediu o time mineiro de conquistar o título.
Mesmo
com muitas falhs, Armando Marques foi escolhido para apitar as decisões
nacionais de 1962 (segunda partida), 1963, 1964, 1965, 1966, 1967 (Náutico X
Palmeiras), 1968 (Internacional X
Corinthians), 1969 (Palmeiras X Botafogo), 1970 (Palmeiras X Cruzeiro), 1971,
1973 (Internacional X Cruzeiro) e 1974. Dos Campeonatos Cariocas de 1962, 1965
(Flamengo X Fluminense), 1968, 1969 e 1976, dos Campeonatos Paulistas de 1967,
1971 e 1973 e do Campeonato Mineiro de 1967.
A
masculinidade de Armando Marques foi sempre colocada em xeque pela imprensa,
que criticava seu jeito efeminado. Em tom de gozação diziam que “em mulher não
se bate nem com uma flor”, e completavam:
“Nem em Armando Marques”.
Por
seu estilo, provocou o coro pouco habitual de "bicha" nos estádios,
de público predominantemente conservador. Ele dizia que adorava ser chamado
assim:”Era a minha marca registrada”. Confirmou que até estimulava tais gritos,
fazendo trejeitos.
Era
costume do árbitro chamar os jogadores pelo nome próprio. Pelé, por exemplo, era chamado de Édson. Mas
isso não queria dizer que ele era educado no trato com os atletas. Muito pelo
contrário. Costumava enfiar o dedo
indicador direito (era destro) na cara dos jogadores, quando lhes chamava a
atenção. Nem Pelé escapou.
Armando
foi o árbitro que expulsou Pelé de campo. Levou um soco de um dos maiores
ídolos do futebol nacional, Nilton Santos. Linha-dura e elegante, era um
personagem em campo, inclusive com uniformes confeccionados pelo costureiro
Denner, mas reservado fora e avesso a entrevistas.
Depois
de encerrar a carreira de árbitro, Armando Marques apresentou em 1973 um
programa de auditório na extinta TV Manchete, onde também foi comentarista
esportivo. No programa havia um quadro em que ele contava e admitia alguns
erros que cometera durante sua carreira.
Depois
foi diretor da Comissão Nacional de Arbitragem da CBF por oito anos, onde
continuou a ser polêmico, em razão de escolhas suspeitas para arbitragens do
Campeonato Brasileiro de Futebol.
Ele não resistiu à crise após as denúncias
sobre manipulação de resultados, envolvendo os árbitros Edílson Pereira de
Carvalho e Paulo José Danelon, e os empresários Nagib Fayad, o "Gibão" e
Wanderlei Pololi.
Além
de ser acusado de omissão, ele teria mentido ao dizer que o árbitro Edilson
Pereira de Carvalho tinha sido integrado ao quadro da Fifa durante a gestão de
Ivens Mendes na Comissão Nacional de Arbitragem.
Em
âmbito internacional, Marques apitou o jogo inaugural do Estádio Olímpico de
Munique, na Alemanha, em 1972, entre a Seleção Alemã e a União
Soviética.
Em
1974, Marques apitou um jogo pela Copa do Mundo entre a antiga Alemanha
Ocidental (ainda havia o muro dividindo as duas Alemanhas) e a Iugoslávia, que
não existe mais. O jogo foi realizado em Dusseldorf, com 66.085 torcedores no
Rheinstadion. De repente, não se sabe bem porque, Armando Marques passou a dar
um sermão no craque alemão Overath.
Dedo
em riste, a perna direita ligeiramente dobrada, ele gritava com Overath. A cena
foi constrangedora. O jogador, impávido,
ouviu tudo. E o jogo prosseguiu. A Alemanha Ocidental venceu por 2 X 0, com
gols de Breitner e Müller. No dia seguinte, a Comissão de Arbitragem da FIFA
afastou o árbitro da competição.
Em
abril deste ano fez sua última aparição pública, quando no programa de Jô
Soares, já aparentando fragilidade física, levou a plateia aos risos ao admitir
os erros de sua carreira, falou de Neymar e ainda fez piadas.
Em
memória do ex-árbitro, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), determinou
que nos jogos do Campeonato Brasileiro até este domingo (20), sejam respeitados
um minuto de silêncio. (Pesquisa: Nilo Dias)
Armando Marques. (Foto: Divulgação)
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