Você
já imaginou alguém jogar futebol com uma bala de revólver alojada em seu
próprio corpo? Pois isso aconteceu. Jair Félix da Silva, que fiou conhecido no
mundo do futebol como “Jair Bala”, viveu essa experiência. Nascido em Cachoeiro
de Itapemirim (ES), no dia 10 de maio de 1943, era um meio-campista ofensivo,
também chamado de ponta-de-lança.
Começou
a carreira no Estrela do Norte, de sua cidade natal, ainda menino, contrariando
a vontade de sua mãe, dona Maria da Conceição, que fez de tudo para Jair seguir
a profissão do pai e do avô, operários da Ferrovia Leopoldina.
Mas
Jair preferiu seguir os conselhos de "Seu Zezinho”, que era educador e
também padeiro. Foi descoberto quando jogava em um campinho na periferia da
cidade. “Seu Zezinho” perguntou de quem ele era filho. Ao saber que era cria do
“Seu Batata”, disse que seu pai foi o maior atacante da história do futebol
cachoeirense.
Ali
começou verdadeiramente a sua carreira. Foi levado para os infantis do Estrela
do Norte. No início dos anos 60 o Flamengo, do Rio de Janeiro, jogou uma
partida amistosa em Cachoeiro e o técnico rubro-negro, o paraguaio Fleitas Solich, se
encantou com o futebol de Jair, que havia marcado um gol e aconselhou sua
imediata contratação. No time carioca começou no time juvenil, que costumava
treinar com os titulares, por isso atuou ao lado de craques como Dida e Gérson.
O
apelido de "Bala" surgiu nessa época. Ele fora ao escritório das
categorias de base, em busca do dinheiro de um "bicho", quando
encontrou o funcionário Willian, a quem fez o pedido. Este, num gesto de
brincadeira, para que Jair desistisse da “grana”, tirou da gaveta um revólver, que
pertencia a Jaime de Almeida.
Willian
não sabia que a arma estava carregada, e chegou a apontá-la para Jair. Mas ao
baixá-la ocorreu um disparo acidental. A bala ricocheteou no chão e foi atingir
a coxa esquerda do jovem jogador, parando na virilha, sem atingir nenhuma parte
vital.
Os
médicos resolveram não retirar o projetil, que Jair carrega até hoje dentro do
corpo, em local ignorado. A partir daí passou a ser chamado de “Jair da
Bala", que depois virou “Jair Bala”.
Não
ficou muito tempo no Flamengo, onde se profissionalizou. Em 1963 foi parar no
Botafogo de Garrincha, Nilton Santos e muitos craques, depois que o Flamengo
mandou embora o técnico Fleitas Solich, que era adorado pelos jogadores.
Foi
quando o afamado jornalista Nélson Rodrigues, na sua coluna “À sombra das
chuteiras imortais”, lhe dedicou uma crônica em que deu um tom poético à bala
que Jair carregava no corpo e no apelido:
"(...) se Jair fosse simplesmente Jair,
estaria apodrecendo na obscuridade. À toda hora, em toda parte, nós esbarramos,
nós tropeçamos num Jair qualquer.(...) Contra o Madureira, o nosso Jair se
disparou realmente como um tiro. Desde o primeiro minuto, foi uma arma apontada
para o peito do inimigo. E todos percebemos, em General Severiano, que nunca um
Jair fora tão bala. É a autenticidade dos apelidos, que nunca existe nos nomes
(...)" . Jair também foi personagem em vários textos de Roberto Drummond,
Fernando Brant e outros cronistas importantes.
“Jair
Bala” foi um verdadeiro cigano do futebol, andando por muitos clubes. Esteve no
Comercial , de Ribeirão Preto, onde é lembrado até hoje como um dos maiores
ídolos da história do clube.
Defendeu
a Ponte Preta, de Campinas; Cruzeiro, de Belo Horizonte, que tinha Tostão e
Dirceu Lopes; Palmeiras nos tempos da Academia de Ademir da Guia; Santos, de Pelé; XV de Novembro, de Piracicaba e América Mineiro, onde alcançou a melhor fase de
sua carreira, tendo sido artilheiro do Campeonato Mineiro em 1964, o último da “Era
Independência”.
O
“Coelho” tinha um time muito bom, com Pedro Omar, Juca Show, Misael. Cândido e
Zé Carlos Generoso, entre outros. “Bala” chegou a ser eleito o melhor jogador
da história do América em todos os tempos, em enquete realizada pelo jornal
“Estado de Minas”.
Seus
pés estão gravados em cimento na “Calçada da Fama”, do “Estádio Mineirão”. Depois
jogou ainda no Bahia e encerrou a carreira no Paysandu, de Belém do Pará, nos anos 1970.
Quando
jogou no Santos entrou no lugar de “Pelé”, após este ter marcado seu milésimo
gol, na partida contra o Vasco da Gama, no Maracanã, em 19 de novembro de 1969.
No jogo anterior, contra o Bahia, marcou o único gol santista no empate em 1 X
1, que poderia ter antecedido a festa.
“Jair
Bala” também fez carreira como treinador. Esteve à frente de diversas equipes
do futebol mineiro. Começou no Sete de Setembro, clube já extinto de Belo
Horizonte. Depois dirigiu o Londrina, do Paraná, onde foi Campeão Brasileiro da
Segunda Divisão, em 1980, chamada na época de “Taça de Prata”.
Atualmente
“Jair Bala” é funcionário da Prefeitura de Belo Horizonte, membro da Associação
dos Ex-Jogadores do América/MG, da qual foi um dos fundadores e eventualmente
participa do programa “Alterosa Esporte”, da TV Alterosa. É casado com Sônia
Albano, com quem teve três filhos. Jair Albano Félix, ex-árbitro de futebol,
Sabrina e Sandrelle, e ainda a sobrinha Veruska como filha de criação.
Jair Bala nos tempos de América Mineiro. (Foto: Divulgação)
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