Agora,
por ocasião do aniversário de Pelé, a imprensa brasileira esmiuçou a fundo a
vida do jogado. Toda a sua vitoriosa carreira foi relembrada, e nessa busca
certamente nada faltou. Foi lembrado até o primeiro gol que Pelé, quando era
chamado de “Gasolina”, marcou como profissional, em 1956.
E
esse gol foi marcado contra o Corinthians, de Santo André, cidade do interior
paulista, da região do ABC. E isso me fez vasculhar a história desse clube
centenário, fundado em 15 de agosto de 1912, apenas dois anos após a criação do
Sport Club Corinthians Paulista.
O
jogo que colocou o até então quase desconhecido Corinthians de Santo André na
história, aconteceu no dia 7 de setembro de 1956, no histórico Estádio Américo
Guazelli, na Vila Alzira, que não existe mais.
Cedeu espaço ao conjunto de piscinas e a um campo menor, de posição
invertida em relação ao original. Américo Guazelli presidiu o clube em 1927.
Foi
um amistoso e o Santos goleou impiedosamente por 7 X 1. O jogo, com portões
abertos, foi promovido pela Prefeitura Municipal de Santo André, para comemorar
o aniversário da Independência.
O
gol de Pelé foi marcado aos 36 minutos do segundo tempo. O zagueiro santista
Hélvio disputou um lance pelo alto e a bola sobrou na altura do meio-campo para
Pelé. Ele dominou a pelota, arrancou, passou pelo volante Schank, driblou mais
um marcador, invadiu a área e tocou a bola por baixo das pernas do goleiro
Zaluar, marcando o sexto gol santista.
Zaluar,
então com 30 anos de idade, era reserva do Corinthians, de Santo André. O
goleiro iniciou o jogo no banco e entrou em campo durante a partida, com a
missão de tentar evitar um prejuízo ainda maior para o time da casa.
Também
como Zaluar, Pelé, então com 15 anos, entrou no segundo tempo, substituindo o
experiente Del Vecchio quando o placar já era de 5 X 0.
O
Santos mandou a campo Manga - Hélvio e Ivan (Cássio) - Ramiro (Fioti) -
Urubatão e Zito (Feijó) - Alfredinho (Dorval) - Álvaro (Raimundinho) e Del
Vecchio (Pelé) - Jair e Tite. Técnico: Lula.
Corinthians:
Antoninho (Zaluar) - Bugre e Chicão (Talmar) – Mendes - Zico e Schank – Vilmar
– Cica - Teleco (Baiano) - Rubens e Dore. Técnico: Jaú.
Juiz:
Abílio Ramos. Renda: Cr$ 39.910,00. Gols: Alfredinho (30), Del Vecchio (32),
Álvaro (36), Alfredinho (41), Del Vecchio (61), Pelé (81), Vilmar (86) e Jair
(89)
Semanas
depois do jogo é que Zaluar se deu conta, que mesmo sofrendo uma goleada de 7 X
1, ele havia entrado para a história. E fez questão de divulgar isso até
falecer, em 1995. Tinha sempre no bolso um cartão de visita em que constava não
apenas o seu nome completo: Zaluar Torres Rodrigues. Este vinha acompanhado de
um complemento: “goleiro do primeiro gol de Pelé”. E a data histórica:
07/09/1956.
Nunca
na história um goleiro apreciou tanto ter levado um gol. Nas peladas de veteranos
que disputava, usava um uniforme especial. Personalizado. Com o seu nome na
parte da frente acompanhado da inscrição “Goleiro Rei Pelé 0001″.
Mas
na verdade não foi um gol qualquer. Sim, o número um dos 1.284 marcados por
Pelé em sua carreira. Zaluar chegou a jogar nas seleções sergipana e baiana e
perambulou por vários clubes sem se destacar em nenhum.
Quando
da fundação do Corinthians Foot-Ball Club, Santo André pertencia a São Bernardo
do Campo. A emancipação aconteceu somente em 1938.
Aproveitando a mudança, o
clube também alterou sua denominação para Corinthians Futebol Clube. Assim como
o Sport Club Corinthians Paulista, o nome da equipe de Santo André também
surgiu devido ao Corinthians Football Club, equipe inglesa que excursionava
pelo Brasil.
A
ideia de fundar um clube de futebol nasceu dos garotos que jogavam nas ruas e
nas áreas de pastos, e depois sentavam numa calçada frente a fábrica do
Zanolli, sob a lua fraca de um poste que dava para a rua Agenor Camargo.
Os
fundadores do clube tiveram a chance de escolher o nome do clube entre Flor da
Índia e Corinthians, quando da primeira reunião que foi realizada na rua Agenor
de Camargo, esquina da Rua da Fábrica, quase ao lado da atual Avenida
Perimetral. Prevaleceu a segunda proposta.
Os
fundadores do Corinthians, de Santo André foram
meninos entre 12 e 15 anos, relacionados por Paschoalino Assumpção no
livro “O Galo Preto de Vila Alzira”. Foram eles: Albino Pezzolo, Alcebiades
Pezzolo, Amadeu Veronesi, Américo Tiezzi, Ângelo Balista, Carmine Rossini,
Domingos Tiezzi, Henrique Manna, Jacomo Guidotti, João Balista, João Daniel,
João Manetti, João Rossini, José Suster, Luiz Berne, Pedro Polez, Romeu Carolo,
Severino Gamberini, Sýlvio Brunoro e Túlio Mascotto.
O
primeiro presidente do clube foi o desportista Carmine Rossini. A primeira
escalação da equipe foi esta: João – Túlio – Manetti - Polesi e Veronesi - Jacomo e Américo –
Paulista – Cortez - Severino e Carmine.
A
primeira bola que o clube teve, foi presente do presidente Carmine Rossini, e não
durou mais que uma semana, conta o desportista Nicola Rossini, irmão do
primeiro mandatário do clube. Os treinos contavam quase sempre com 15 jogadores
de cada lado.
Entre
1917 e 1924 jogaram pelo Corinthians João e Nicola Rossini, Pelizon, Caio,
Otávio, Guerra, Polez, Joaquim Caiúba, Lindolfo, Italo, Carello, Perigo,
Arduíno, Candinho, Cortez, Severino, Albino, Paulo, Amálio, Ferrucio, Veronese,
Martelini, Perez, Gabrielzinho, Lenti e Nico.
O
primeiro campo se localizava próximo à estrada de ferro. Em 1922 o time ganhou
o seu primeiro troféu, a “Taça Independência”. Entre 1928 e 1930 o Corinthians
fez fusão com o 1º de Maio, nascendo o Clube Atlético São Bernardo, de curta
duração. O clube mudou-se, então, para a
rua Gertrudes de Lima.
A
primeira sede foi na rua Agenor de Camargo, 14. A segunda, na rua Alfredo
Flaquer, batizada de “garagem”. A terceira foi na mesma rua.
Em
1923, um timaço. E a conquista do Campeonato de São Paulo com apenas uma
derrota: Nicola – Otávio e Guerino – Polesi – Lindolfo e caio – Amálio – Perez
– Dindino – Quilim e Basílio.
Nessa
mesma época o Asilo Anália Franco, de São Paulo, ofertou uma riquíssima medalha
de prata, para ser decidida em uma partida contra o Corinthians. Vitória do
time de Santo André por 5 X 0 e a conquista da medalha. Foi o maior time da
história do clube.
Em
1929 o Corinthians disputou uma partida amistosa contra o São Caetano, da
cidade de igual nome, no Estádio Américo Guazelli. O destaque foi a presença de
um juiz inglês arbitrando o jogo, o que foi um acontecimento para a época.
Em
1933, 1934 e 1935 foi tricampeão municipal de Santo André. O Corinthians tinha
um timaço: Pelado – Souza e Chico Beiço – Haroldo – Tragédia e Chinco –
Majorano- Tonico – Sidney – Laércio e Renato. Esse time goleou o São Caetano
por 3 X 0, no final de 1935.
Em
13 de julho de 1952, no Estádio Américo Guazzelli, um jogo inesquecível. O
Corinthians derrotou o Palmeiras por 2 X 0. O time formou com Ivo - Date e Dias
– Radamés - Bria e V. Ferreira – Armando – Branquinho - Campos (Camargo) -
Wilson e Mariano. O Palmeiras tinha Fábio - Rubens e Juvenal – Fiume - Túlio e
Dema – Odair – Liminha – Silas - Jair e Rodrigues (Alfredinho). Gols: Wilson e
Camargo.
O
Corinthians disputou 12 edições do campeonato paulista de futebol, pelas
segunda, terceira e quarta divisões. Série A2: (1949, 1950, 1951 (campeão da
Zona Sul), 1952, 1953, 1955, 1956 e 1970); Série A3 (1957 e 1961); Segunda
Divisão (1932). Em1960 parou por falta de recursos financeiros e se dedicou ao
futebol amador.
Entre
os jogadores mais importantes que vestiram sua camisa destacam-se Paulo
Lunardi, Ângelo Balista, Ageklo Lalista, Haroldo Mattei, Zaluar, Américo
Guazelli, Antonio Schank Filho, o Schank, que marcou Pelé no dia em que o Rei
fez seu 1º gol pelo Peixe, Jovenil Saleme, Paschoalino Assumpção, que foi um
dos dirigentes mais antigos do clube e que fez muito pela agremiação, Alécio
Cavaggioni, Ariovaldo Alves, Manna e Benê Góes, o popular “18”, que foi um
grande artilheiro, entre tantos outros nomes que ficaram marcados entre décadas
na história do clube.
O
Corinthians de Santo André ainda existe. Com sede e espaço poliesportivo na rua
Sete de setembro, 288, na Vila Alzira, eixo comercial em Santo André, o clube
tem uma área aproximada de 20 mil metros quadrados.
Hoje,
nas dependências da sede, possui quadra coberta, piscina, academia, salões de
festa, social, sala dos troféus, campo de futebol, sala para cursos para
idosos, lanchonetes e espaço reservado ao setor administrativo.
O
Corinthians tem hoje pouco mais de 400 associados, mas a diretoria planeja
revitalizar o setor social aderindo mais adeptos às modalidades. Uma das metas
é construir, em breve, um busto para Pelé em homenagem ao seu 1º gol no clube.
Os
dirigentes destacam que ao longo dos últimos 20 ou 30 anos, o Conselho
Deliberativo teve de resistir “às ofertas milionárias de grupos de
empreendedores imobiliários” buscando comprar a enorme área.
Na
década de 1980, a Volkswagen mostrou interesse em adquirir o patrimônio para
investir em supermercados, mas os conselheiros sempre “votaram contra a venda”.
De acordo com especulações, o local suportaria seis prédios de 18 andares cada.
Nos
bons tempos do profissionalismo era conhecido como “O Galo Preto da Vila
Alzira”. O apelido surgiu pelo fato do “Corintinha”, como também era conhecido,
aceitar na equipe atletas negros.
Está
há muitos anos fora do futebol profissional. Mas agora, está voltando aos
poucos aos gramados. Há quatro anos voltou com os másters. Em 2010, a Terceira
Divisão do Campeonato Amador. Na bagagem, a camisa tradicional branca, mas
também nas versões azul, vinho e amarela.
Quando
da comemoração do centenário do clube, em 2012, aconteceu uma vasta
programação, com destaque para visitas de antigos atletas e historiadores, além
do jantar dançante da noite da sexta-feira , 17 de agosto, nas dependências do
salão social, que se constituiu no grande sucesso dos festejos.
São
poucos os clubes que chegam aos 100 anos sem mudar o nome. Muitos jogadores
famosos jogaram no campo do Estádio Américo Guazelli, casos do capitão do
tricampeonato mundial, Carlos Alberto Torres e de Ademir da Guia, o “Divino”,
do Palmeiras.
Por
muitos anos, a “Festa do Vinho”, do Corinthians, foi famosa e famílias até da
Capital não perdiam um reencontro. A festa começava às 21 horas e não acabava
antes das 5 horas da manha. (Pesquisa: Nilo Dias)
Corinthians,
de Santo André, na década de 1950. (Foto: www.abcdpedia.com.br)
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