O
Campeonato Gaúcho de antigamente era disputado de uma forma bem diferente do
que é hoje. Os clubes eram divididos em chaves regionais, geralmente Serra,
Sul, Centro e Metropolitana. O campeão de cada uma dessas regiões disputava as partidas
finais que eram realizadas em Porto Alegre.
Eu
lembro bem dos campeonatos municipais, que eram mais valorizados que hoje. O
campeão de cada cidade é que participava das disputas estaduais. Quando morei
em Pelotas e trabalhei na imprensa de lá, rádios “Tupancy” e “Pelotense”,
jornal “Diário Popular” e “Sucursal da Companhia Jornalística Caldas Júnior”, fiz
muitas coberturas desses campeonatos.
Em
1960 foi mudada a fórmula do Campeonato Gaúcho. Os certames municipais deixaram
de ser classificatórios para o Estadual, passando a reunir um número fixo de equipes,
com acesso e descenso.
Dia
desses encontrei na Internet algumas histórias interessantes que se passaram ao
tempo dos certames municipais, lembradas pelo jornalista Rogério Bohlke. O
campeonato de Uruguaiana, por exemplo, era um dos mais fortes. Os times de lá,
Uruguaiana, Ferro Carril e Sá Viana, todos de muita tradição, viviam tempos de
glória.
Eu
lembro de quando estava internado no Colégio Santa Maria, dos Irmãos Maristas,
em Santa Maria. Quando havia jogos de futebol a noite, geralmente era permitida
a ida até os estádios. Lembro de um jogo amistoso disputado no estádio do
Riograndense, entre o periquito santa-mariense e o Sá Viana, de Uruguaiana, que
tinha um timaço.
Destacava-se
nessa equipe um atacante de nome Nei Sávi. Era elegante para jogar e altamente técnico.
Se jogasse hoje, certamente seria titular em qualquer equipe do futebol
brasileiro.
Pois
bem, nessas historinhas encontradas na Internet, destaca-se uma. Em 1966, o
Uruguaiana, era o time mais forte da cidade, e vencia ao Sá Viana por 1 X 0, até
os 42 minutos da primeira etapa.
Foi
quando aconteceu o inusitado.
Em
lance de ataque do Uruguaiana, faltando um minuto para acabar o primeiro tempo,
o jogador Abeguar, o craque do time, teve um profundo corte no supercílio,
depois de se chocar contra um zagueiro adversário. Como saia muito sangue ele
teve de ser atendido em um hospital da cidade.
O
técnico do Uruguaiana era Guizzoni, que depois dirigiu o Flamengo, de Caxias do
Sul e outras equipes interioranas. Na confusão que se formou o treinador não
lembrou de substituir o atleta lesionado.
Naqueles
tempos de antigamente a regra especificava que substituições só podiam
acontecer até o final da primeira etapa. O presidente do Uruguaiana era um
fazendeiro muito rico, chamado de “Funcho”, que meio desorientado na volta da equipe
para o segundo tempo, gritou:
“Abeguar,
não tem outro jeito. Com um a menos nós vamos perder esse jogo. Vai lá no
hospital, faz um curativo, pede para te remendarem a “caixola” e volta para
jogar. Se tu voltar e fizer um gol e nós vencermos, e te darei de presente uma
quadra de campo povoada”.
O
segundo tempo teve inicio com a vitória parcial do Uruguaiana por 1 X 0 e o
time com 10 jogadores em campo. Aos 15 minutos Abeguar deu com as caras no
estádio, com a a cabeça toda enfaixada. Entrou em campo e se comportou como se
nada tivesse acontecido com ele e ainda fez o segundo gol do seu time que ganhou
por 2 x 1.
O
goleiro do Uruguaiana era Vilson Bagatini, que depois se tornou árbitro e
escritor de renome, que somente sofreu dois gols em toda a temporada. É irmão de
outro Bagatini, também goleiro, que entre outros clubes jogou por Flamengo, de
Caxias do Sul, S.E.R. Caxias e Internacional, de Porto Alegre.
O
Uruguaiana foi campeão da cidade, e depois campeão da Fronteira, tendo
derrotado o 14 de Julho, de Livramento. Mas acabou perdendo a partida final
para o Gaúcho, de Passo Fundo, que disputou em 1967, pela primeira vez, a Divisão
Principal do futebol gaúcho.
O
primeiro jogo entre Uruguaiana X Gaúcho, pelas finais, foi realizado na Fronteira,
dia 11 de dezembro de 1966, com vitória jalde-negra por 1 X 0, gol anotado por
Caio, aos 40 minutos da fase final. No jogo de volta, em Passo Fundo, dia 18, o
Gaúcho ganhou de goleada, 5 X 0, provocando uma prorrogação.
Naquele
tempo não existia saldo de gols, como ocorre hoje. No tempo suplementar o Gaúcho
ganhou de novo, dessa feita por 1 X 0. Bebeto, depois apelidado de “Canhão da
Serra”, que marcou o gol que levou o time de Passo Fundo ao “Gauchão”, aos 12
minutos da segunda etapa.
O Uruguaiana, com a ajuda de fazendeiros
viajou de avião para Passo Fundo. Segundo alguns pesquisadores afirmam, essa
foi a primeira vez que um time gaúcho da Segunda Divisão viajou de avião. Sabe-se
que a pista do aeroporto de Passo Fundo era de terra batida, o que obrigou a
delegação uruguaianense ficar 20 minutos dentro da aeronave, até que a poeira
baixasse.
O
árbitro do jogo foi Flávio Cavedini, apelidado na época de Flavio Gavedini
(alusão a gaveta), auxiliado por Juarez Oliveira e Timóteo Lopes da Costa. O
time do Uruguaiana, na época uma das melhores formações de sua história jogou
com Bagatini – Vera – Mujica - Bom Filho e Valmor. Paré e Volf. Paulo – Barzoni
- Abeguar e Caio. O técnico era Rodolfo Guizzoni.
Mas
a história não acaba por aqui. Os ricos fazendeiros que não poupavam dinheiro
para ajudar o Uruguaiana, eram acostumados a frequentar os luxuosos cabarés da
cidade e também da capital, quando viajavam a “negócios” até Porto Alegre.
E
presenteavam os jogadores mais destacados de igual forma que as “meninas”, ou
seja, botando notas de dinheiro alto, dentro dos calções dos atletas. No caso
das “moças”, era na calcinha ou na cinta do espartilho.
O
Campeonato Gaúcho de antigamente era disputado de uma forma bem diferente do
que é hoje. Os clubes eram divididos em chaves regionais, geralmente Serra,
Sul, Centro e Metropolitana. O campeão de cada uma dessas regiões disputava as partidas
finais que eram realizadas em Porto Alegre.
Eu
lembro bem dos campeonatos municipais, que eram mais valorizados que hoje. O
campeão de cada cidade é que participava das disputas estaduais. Quando morei
em Pelotas e trabalhei na imprensa de lá, rádios “Tupancy” e “Pelotense”,
jornal “Diário Popular” e “Sucursal da Companhia Jornalística Caldas Júnior”, fiz
muitas coberturas desses campeonatos.
Em
1960 foi mudada a fórmula do Campeonato Gaúcho. Os certames municipais deixaram
de ser classificatórios para o Estadual, passando a reunir um número fixo de equipes,
com acesso e descenso.
Dia
desses encontrei na Internet algumas histórias interessantes que se passaram ao
tempo dos certames municipais, lembradas pelo jornalista Rogério Bohlke. O
campeonato de Uruguaiana, por exemplo, era um dos mais fortes. Os times de lá,
Uruguaiana, Ferro Carril e Sá Viana, todos de muita tradição, viviam tempos de
glória.
Eu
lembro de quando estava internado no Colégio Santa Maria, dos Irmãos Maristas,
em Santa Maria. Quando havia jogos de futebol a noite, geralmente era permitida
a ida até os estádios. Lembro de um jogo amistoso disputado no estádio do
Riograndense, entre o periquito santa-mariense e o Sá Viana, de Uruguaiana, que
tinha um timaço.
Destacava-se
nessa equipe um atacante de nome Nei Sávi. Era elegante para jogar e altamente técnico.
Se jogasse hoje, certamente seria titular em qualquer equipe do futebol
brasileiro.
Pois
bem, nessas historinhas encontradas na Internet, destaca-se uma. Em 1966, o
Uruguaiana, era o time mais forte da cidade, e vencia ao Sá Viana por 1 X 0, até
os 42 minutos da primeira etapa.
Foi
quando aconteceu o inusitado.
Em
lance de ataque do Uruguaiana, faltando um minuto para acabar o primeiro tempo,
o jogador Abeguar, o craque do time, teve um profundo corte no supercílio,
depois de se chocar contra um zagueiro adversário. Como saia muito sangue ele
teve de ser atendido em um hospital da cidade.
O
técnico do Uruguaiana era Guizzoni, que depois dirigiu o Flamengo, de Caxias do
Sul e outras equipes interioranas. Na confusão que se formou o treinador não
lembrou de substituir o atleta lesionado.
Naqueles
tempos de antigamente a regra especificava que substituições só podiam
acontecer até o final da primeira etapa. O presidente do Uruguaiana era um
fazendeiro muito rico, chamado de “Funcho”, que meio desorientado na volta da equipe
para o segundo tempo, gritou:
“Abeguar,
não tem outro jeito. Com um a menos nós vamos perder esse jogo. Vai lá no
hospital, faz um curativo, pede para te remendarem a “caixola” e volta para
jogar. Se tu voltar e fizer um gol e nós vencermos, e te darei de presente uma
quadra de campo povoada”.
O
segundo tempo teve inicio com a vitória parcial do Uruguaiana por 1 X 0 e o
time com 10 jogadores em campo. Aos 15 minutos Abeguar deu com as caras no
estádio, com a a cabeça toda enfaixada. Entrou em campo e se comportou como se
nada tivesse acontecido com ele e ainda fez o segundo gol do seu time que ganhou
por 2 x 1.
O
goleiro do Uruguaiana era Vilson Bagatini, que depois se tornou árbitro e
escritor de renome, que somente sofreu dois gols em toda a temporada. É irmão de
outro Bagatini, também goleiro, que entre outros clubes jogou por Flamengo, de
Caxias do Sul, S.E.R. Caxias e Internacional, de Porto Alegre.
O
Uruguaiana foi campeão da cidade, e depois campeão da Fronteira, tendo
derrotado o 14 de Julho, de Livramento. Mas acabou perdendo a partida final
para o Gaúcho, de Passo Fundo, que disputou em 1967, pela primeira vez, a Divisão
Principal do futebol gaúcho.
O
primeiro jogo entre Uruguaiana X Gaúcho, pelas finais, foi realizado na Fronteira,
dia 11 de dezembro de 1966, com vitória jalde-negra por 1 X 0, gol anotado por
Caio, aos 40 minutos da fase final. No jogo de volta, em Passo Fundo, dia 18, o
Gaúcho ganhou de goleada, 5 X 0, provocando uma prorrogação.
Naquele
tempo não existia saldo de gols, como ocorre hoje. No tempo suplementar o Gaúcho
ganhou de novo, dessa feita por 1 X 0. Bebeto, depois apelidado de “Canhão da
Serra”, que marcou o gol que levou o time de Passo Fundo ao “Gauchão”, aos 12
minutos da segunda etapa.
O Uruguaiana, com a ajuda de fazendeiros
viajou de avião para Passo Fundo. Segundo alguns pesquisadores afirmam, essa
foi a primeira vez que um time gaúcho da Segunda Divisão viajou de avião. Sabe-se
que a pista do aeroporto de Passo Fundo era de terra batida, o que obrigou a
delegação uruguaianense ficar 20 minutos dentro da aeronave, até que a poeira
baixasse.
O
árbitro do jogo foi Flávio Cavedini, apelidado na época de Flavio Gavedini
(alusão a gaveta), auxiliado por Juarez Oliveira e Timóteo Lopes da Costa. O
time do Uruguaiana, na época uma das melhores formações de sua história jogou
com Bagatini – Vera – Mujica - Bom Filho e Valmor. Paré e Volf. Paulo – Barzoni
- Abeguar e Caio. O técnico era Rodolfo Guizzoni.
Mas
a história não acaba por aqui. Os ricos fazendeiros que não poupavam dinheiro
para ajudar o Uruguaiana, eram acostumados a frequentar os luxuosos cabarés da
cidade e também da capital, quando viajavam a “negócios” até Porto Alegre.
E
presenteavam os jogadores mais destacados de igual forma que as “meninas”, ou
seja, botando notas de dinheiro alto, dentro dos calções dos atletas. No caso
das “moças”, era na calcinha ou na cinta do espartilho.
Mas
como tudo o que é bom dura pouco, ao término do ano de 1966 o Uruguaiana vendeu
todo o time e fechou as portas. Entre os atletas que foram embora, sabe-se que Bagatini
foi para o Flamengo, de Caxias do Sul, Bom Filho, para o Juventude, também de
Caxias do Sul, Mujica para o Ypiranga, de Erechim. Valmor, para o14 de Julho,
de Passo Fundo, Gonzaga e Paré, para o Brasil de Pelotas. (Pesquisa: Nilo Dias)
O time do Uruguaiana, em 1966, era muito forte.
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