Hristo
Stoichkov foi, sem a menor dúvida, o grande nome do futebol búlgaro em todos os
tempos. Falastrão, polêmico e brincalhão, o craque encantou a Europa no final
dos anos 80 vestindo a camisa do CSKA Sofia e depois partiu para o estrelato
com o azul e grená do Barcelona, campeão de quase tudo nos anos 90.
Seu
auge aconteceu em 1994, quando não só brilhou intensamente pelo time catalão
como também fez da Copa do Mundo dos EUA um palco para o seu debute e
consagração mundial. Quem viu jamais se esqueceu das apresentações de gala
daquele baixinho rápido, habilidoso e fora de série, que deixava companheiros
na cara do gol ou partia ele mesmo enfileirando zagueiros e assinando obras
primas maravilhosas.
Stoichkov
marcou seis gols que levaram a Bulgária a uma incrível semifinal, perdida por
pouco para a Itália de Roberto Baggio. Depois do mundial, o craque foi perdendo
a intensidade aos poucos, mas não o poder de decisão, marcando gols importantes
em finais pelos outros clubes que defendeu até encerrar a carreira
Nasceu
em 8 de fevereiro de 1966, em Plovdiv, a segunda cidade do país em população
total, com 378.107. Está situada às margens do rio Maritsa, sendo a cidade um
importante centro econômico, de transportes, cultural e educacional. Altura de
1,78 cm e peso de 85 quilos.
Atacante,
começou a carreira em 1981 na equipe do Maritsa Plovdiv, da segunda divisão
búlgara. Depois jogou no Hebros, também da Bulgária. Sabendo dos problemas de
temperamento do Stoichkov, seu pai, que trabalhava no Ministério da Defesa da
Bulgária, colocou-o no CSKA Sófia. A esperança era de que ali, no time do
Exército, o garoto conseguiria se controlar e amadurecer. Stoichkov tinha a
pecha de craque-problema.
Com
ainda 19 anos, sua carreira ficou seriamente ameaçada. Na primeira vez que
disputou um título, a Copa da Bulgária de 1985, fez o gol da vitória na final
contra o arquirrival Levski Sófia. No entanto, em uma partida cheia de lances
violentos dos dois times, o jogo terminou com uma briga generalizada. Stoichkov
saiu a socos com o goleiro adversário, Borislav Mihaylov.
As
imagens do jogo foram tão contundentes na opinião pública búlgara que o próprio
Comitê Central do Partido Comunista Búlgaro se reuniu no dia seguinte e
decretou o banimento de vários jogadores, dentre eles o jovem Stoichkov. O
órgão também determinou que aquela Copa da Bulgária ficaria sem campeão e que
os dois times seriam extintos. O Levski virou "Sredets" e o CSKA,
"Vitosha".
Uma
anistia foi dada aos jogadores um ano depois. Stoichkov voltou a jogar a partir
da temporada 1986/87 e conduziu o Vitosha ao título no campeonato búlgaro e na
Copa da Bulgária.
Novas
conquistas dobradas vieram em 1989. A Copa também foi conquistada em 1988.
Naquele ano, a punição aos clubes também foi atenuada e eles retomaram os
antigos nomes e o CSKA, o título da Copa de 1985.
Stoichkov
deu-se bastante bem: além dos títulos, ele foi eleito o melhor jogador do país
em 1987, 1988 e 1989. Em 1990, ganhou novamente o campeonato búlgaro, do qual
sua artilharia foi a maior do continente.
Com
isso, recebeu a chuteira de ouro europeia, premiação dividida com o mexicano
Hugo Sánchez, da equipe espanhola do Real Madrid. O feito faria Stoichkov
desembarcar justamente na Espanha, no arquirrival Barcelona, por indicação de Johan
Cruyff, então técnico do time catalão.
Não
demorou para que seus lançamentos precisos e a perna esquerda fizessem história
no clube catalão. Na primeira temporada no Barça, o time quebrou a série de
cinco títulos seguidos do Real na liga espanhola, embora o reforço tenha ficado
dois meses fora em nova confusão: em seu primeiro clássico contra o Real Madrid,
pisou no juiz e foi suspenso, inicialmente por seis meses. Contra outro time
madrilenho, o Rayo Vallecano, chegou a ser expulso após receber dois cartões
amarelos em seis minutos.
Stoichkov
era adorado por seus compatriotas que diziam haver um Cristo lá em cima e outro
aqui embaixo. Ambos fazem milagres, em alusão ao seu nome Hristo, a versão
búlgara para Cristo. Outros diziam que a versão correta era “Existem apenas
dois Cristos. Um joga no Barcelona, o outro está no paraíso".
Tratava-se
de um meia de estilo técnico, dono de uma perna esquerda capaz de entortar
qualquer zagueiro, fazer lançamentos e finalizar com extrema e rara precisão.
Na Copa de 94 foi artilheiro, ao lado do russo Salenko, com seis gols e ganhou
o prêmio de melhor jogador da Europa nesse ano, concedido pela revista
"France Football".
Apesar
de ser um verdadeiro craque, Stoichkov não era aquilo que se poderia chamar de “flor
que se cheire”. Não teve a carreira marcada somente pelos inúmeros títulos que
colecionou ou pelos muitos gols que marcou, como aquele que desclassificou a
Alemanha na Copa de 94.
Costumeiramente
criava confusões dentro e fora dos gramados, tendo colecionado encrencas. Pegou
três suspensões superiores a um mês e se transformou num dos jogadores que mais
receberam cartões amarelos por reclamação na história do futebol espanhol.
Logo
no primeiro ano de Barcelona, mostrou as duas faces que marcariam toda sua
carreira: a de craque e a de "jogador problema". Era amigo de time,
de alergia a treinos e de farras, de Romário, o lendário jogador brasileiro.
Sobre
Romário, o craque búlgaro disse o seguinte, em entrevista ao iG Esporte em
setembro de 2009.
“Pra
mim, o Romário foi o melhor jogador brasileiro da história. Jogamos dois anos
juntos no Barcelona. Pra mim ele era o melhor dentro da área. E também sempre
tive uma boa relação com ele, com os filhos, com a ex-mulher Mônica. Então, pra
mim, o Romário era o melhor amigo, o melhor profissional, o melhor na área.
Muito melhor que qualquer outro”.
As
ótimas performances renderam a Stoichkov a segunda posição na eleição do melhor
jogador do mundo em 93, perdendo apenas para o italiano Roberto Baggio.
Depois
de vários desentendimentos com a imprensa, diretoria, técnico e jogadores,
Stoichkov foi vendido para o Parma. A disciplina italiana, no entanto, foi
demais para o jogador que voltou um ano depois para o Barcelona.
Em
98, foi emprestado para o CSKA Sofia e em seguida repassado para disputar
apenas um jogo pelo Al Nasr, do Emirados Árabes: a final da Recopa Asiática.
Disputou a Copa de 98 e, aos 32 anos, nem de longe lembrava o craque do Mundial
anterior.
Logo
depois se transferiu para o futebol japonês. Em meados de 99 anunciou sua
retirada dos gramados, mas em 2000 foi contratado pelo Chicago Fire para
disputar a Liga Norte-Americana.
Títulos.
Pelo CSKA Sófia. Liga Búlgara (1986-1987, 1988-1989, 1989-1990); Copa Búlgara
(1987, 1988, 1989) e Supercopa Búlgara (1989). Barcelona. Liga dos Campeões da
UEFA (1991-1992); Recopa
Européia (1996,1997); Campeonato Espanhol (1990-1991, 1991-1992, 1992-1993,
1993-1994); Copa do Rei (1997) e Supercopa da Espanha (1992, 1993, 1995, 1996).
Al Nassr.
Supercopa
da Ásia (1998) e Copa dos Vencedores da Copa Asiática (1998). Kashiwa Reysol. Copa Nabisco (1999). Chicago
Fire. US Open Cup (2000). DC United. MLS Cup (2004).
Principais
títulos individuais e Artilharias: Artilheiro do Campeonato Búlgaro (1988-1989
- 23 gols) e 1989-1990 - 38 gols); Artilheiro da Recopa da UEFA (1988-1989 - 7
gols); Chuteira de Ouro da Europa (1990); Onde d´Or (1992); Chuteira de Ouro da
Copa do Mundo da FIFA (1994 - 6 gols); Eleito para o All-Star Team da Copa do
Mundo da FIFA (1994); Bola de Ouro da revista France Football (1994); Don Balón
Award de Melhor Estrangeiro do Campeonato Espanhol (1994); Eleito para o
All-Star Team da Eurocopa (1996); Eleito o 29º Melhor Jogador do Século XX pela
revista Placar (1999); FIFA 100 (2004) e Eleito entre os 100 Melhores Jogadores
do Século XX pela revista World Soccer (2007).
Após
dar adeus aos gramados, Stoichkov se arriscou na carreira de técnico de
futebol, passando pelo Barcelona e até pela seleção búlgara, mas seu
temperamento e opiniões controversas causaram vários problemas com jogadores e geraram
resultados muito abaixo do esperado. Hoje, Stoichkov ainda comanda times, mas
longe dos holofotes, lá em sua terra natal.
O
legado deixado em campo, porém, permanece intacto, sublime, marcante e
inesquecível. Hristo Stoichkov foi um talento único, brilhou diante de centenas
de milhares de torcedores pela Europa e pelo mundo, fez jogadas de gênio e
mostrou que um país com tradição zero no futebol como a Bulgária poderia, sim,
ter craques imortais. (Pesquisa: Nilo Dias)
Romário
e Stoichkov no Barcelona. (Foto: Divulgação)
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