Existem
árbitros de futebol mais enérgicos que outros. Não tem caras de bons amigos,
não aceitam provocações de jogadores e não poupam cartões amarelos e vermelhos.
Poderia
até fazer uma análise mais alongada do comportamento de conhecidos
profissionais do passado ou do presente, mas não o farei. Vou procurar me ater
em um personagem que foi marcante nos anos 50 e 60 no futebol carioca e
paulista.
A
maioria dos leitores, principalmente os mais jovens certamente nunca ouviram
falar de Paul Katchborian. Ele foi apenas mais um personagem entre tantos
outros que percorreram os caminhos do futebol, sem ter seu nome gravado na
história como ídolo, ou ao menos reconhecido pelo trabalho exercido, que nem
sempre foi fácil.
Katchborian
não era brasileiro.
Nasceu
na França em 6 de fevereiro de 1928 e morreu no Brasil em 2015, aos 87 anos.
Seus pais eram armênios e se refugiaram na França. Quando tinha apenas quatro
anos de idade sua família veio morar no Brasil. Não tenho maiores detalhes
sobre a sua vida de menino ou o que fazia antes de se tornar juiz de futebol.
Modesto,
gostava de lembrar passagens de sua carreira como juiz de futebol. Era torcedor
declarado do Santos Futebol Clube, e tinha orgulho em dizer que apitara jogos em
que estava em campo “um tal de Pelé”.
Apenas
como curiosidade, transcrevo aqui dados de um jogo apitado por Paul Katchborian.
Foi entre Corinthians X Guarani, de Campinas, disputado no dia 31 de outubro de
1959, um sábado, no Estádio Alfredo Schurig, mais conhecido por “Parque São
Jorge”, na capital paulista.
O
Corinthians venceu por 2 X 0, gols de Joãozinho, aos 32 minutos do primeiro
tempo e Miranda, de pênalti, aos 18 minutos da etapa final. A renda do jogo
somou Cr$ 271.275,00.
Corinthians:
Gilmar – Valmir - Olavo e Ari. Roberto e Oreco. Miranda – Joãozinho –
Joaquinzinho - Luizinho e Tite. Técnico: Sylvio Pirillo.
Guarani:
Dimas - Belluomini e Ditinho. Válter - Eraldo e Bombinha. Ferrari – Fifi –
Rodrigo - Benê I e Leal.
Como
não poderia deixar de ser, Paul passou aos filhos e netos a paixão pelo time
alvinegro santista. Pasmem. Mesmo tendo apitado muitos jogos na Vila Belmiro,
quando no auge de sua carreira como árbitro, Katchborian só entrou no estádio
na condição de torcedor, em 2005, quando já somava 77 anos de idade.
Quem
o levou a Vila Belmiro foi um de seus filhos e o neto Pedro. O Santos enfrentou
nesse dia ao Atlético Paranaense pela Copa Libertadores daquele ano. O Santos
perdeu por 2 X 0, com dois gols de Aloísio Chulapa, mas para Paul o resultado
pouco importou.
Pedro,
que hoje é jornalista também foi a Vila pela primeira vez naquele dia. Lembra
de tudo, embora só tivesse 13 anos, até mesmo da reação do seu avô. O Santos
perdeu, mas isso não fez muita diferença para ele, que não fez nenhuma critica
ao time. Disse que o jogo tinha sido bom na Vila.
O
neto Pedro, trabalhou no Esporte Interativo, Veja São Paulo e youPIX. Começou
no esporte, mas depois se especializou em cultura pop, internet e tecnologia.
Séries, filmes e futebol são os seus principais hobbies.
Apesar
da experiência no futebol profissional, o maior feito do ex-árbitro aconteceu
em uma peladinha, na praia de Mongaguá. Os amigos de Artur, filho de Paul,
pediram para ele apitar o jogo.
Paul
aceitou, mas com uma ressalva: não ia roubar a favor do time do filho. Em certo
momento da partida, Artur foi reclamar com Paul por conta do posicionamento da
barreira adversária no momento de uma falta.
-
Ah, pai... “Aqui não sou teu pai”, disse Paul, mostrando o cartão vermelho e
mandando pra rua o próprio filho, sem titubear.
Depois
que deixou a arbitragem Katchborian trabalhou nos Correios. Nos últimos anos de
vida conviveu com as dificuldades da idade, especialmente com a pouca audição.
O que não atrapalhava que pudesse acompanhar o Santos, no rádio, TV ou ao vivo
no estádio.
Em
2007, após o título paulista, Paul enviou uma foto para o neto. Sem ter uma
camisa do alvinegro praiano, improvisou, segurando sua carteirinha de sócio em
uma mão, e na outra um “mousepad” com o escudo santista. Uma brincadeira
simples, mas que se transformou em uma valiosa recordação.
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