Há
135 anos, Andrew Watson, zagueiro do escrete escocês, se tornou o primeiro
jogador negro a envergar a camisa de uma seleção nacional. Algo marcante, ainda
mais em uma época que a segregação era bem mais explícita.
Não
só isso: foi também o capitão e liderou o time da Escócia na impiedosa goleada de
6 X 1 sobre a Seleção da Inglaterra, no dia 12 de março de 1881, nove anos
depois do primeiro jogo internacional da história, exatamente contra os dois
scratchs.
Ele
ainda vestiu a camisa da Escócia em outras duas partidas, duas novas goleadas: mais
um 5 X 1 no País de Gales e 5 X 1, de novo na Inglaterra, sua última partida
pela equipe nacional em 11 de março de 1882.
Hoje
em dia se vive momentos de intolerância no futebol, mundo afora. Por isso não
custa resgatar a história de um pioneiro, que eternizou seu nome no esporte, muito
antes que o profissionalismo ajudasse a superar as divisões, na Inglaterra ou
no Brasil.
A
maioria das pessoas com certeza nunca ouviu falar de Andrew Watson. Ele nasceu da
miscigenação e, ao contrário de muitos com história parecida, não foi renegado
por seu pai. Era filho de Peter Miller Watson, rico barão do açúcar na Guiana,
com uma ex-escrava chamada Anna Rose.
O
latifundiário assumiu a criança e a colocou em berço de ouro, deixando-lhe uma
vasta herança quando Andrew ainda era adolescente.
Watson
nasceu em Demerara, British Guiana, em 18 de maio de 1857 e tinha dupla nacionalidade
(escocês).
O
guianês foi educado no tradicional King’s College, de Londres e seguiu para a
Universidade de Glasgow, onde estudou filosofia natural, matemática e
engenharia.
E
justamente na faculdade, quando tinha 19 anos, é que começou a ter contato com
o futebol, cujas regras haviam sido estabelecidas 12 anos antes.
Pouco
depois de iniciar a carreira no Maxwell e passar pelo Parkgrove, acertou com o
Queen’s Park, grande potência do futebol britânico na época, para trilhar
estrada vitoriosa.
Na
equipe, esse zagueiro descrito como um jogador de grande velocidade, de ótimos
passes e um chute poderoso, conseguiu ajudar sua equipe a conquistar dois
títulos da Copa da Escócia (1880 e 1881), e assim tornou-se reconhecido nacionalmente,
se transformando no primeiro negro a conquistar um torneio oficial.
O
talento exibido no Queen’s Park não foi desperdiçado pela seleção escocesa, que
utilizava o próprio clube como sua base. Watson acabou recebendo três
convocações para seleção escocesa de futebol, no auge dos primeiros jogos de
futebol internacionais.
A
estréia foi no dia 12 de março de 1881 em um jogo histórico onde os escoceses
venceram a Inglaterra por 6 a 1. Pouco tempo depois, fez mais dois jogos: Um
contra o Pais de Gales e o último novamente contra a Inglaterra, todos com
vitória dos escoceses.
Seu
comportamento dentro e fora do campo eram algo digno de elogios e isso foi
fundamental para sua transferência para o futebol inglês em 1882,onde foi
pioneiro a disputar a Copa da Inglaterra, a competição mais antiga da história.
Nas
primeiras duas temporadas, Watson defendeu o Swifts Football Club, onde
tornou-se o primeiro negro a jogar no campeonato inglês. Não conseguiu nenhum
título, porém com seu prestígio ainda em alta foi jogar uma temporada pelo
Corinthian F.C. que havia sido fundado alguns anos antes, e se tornara uma potência
do amadorismo mesmo com o profissionalismo nascente.
Depois
dessas passagens, voltou ao futebol escocês onde jogou dois anos no time que o
levou a seleção, o Queen’s Park. Já em 1887 e casado pela segunda vez, Watson
resolveu voltar a Inglaterra e jogou em seu último clube, o Bootle F.C.
O
fim precoce da passagem de Watson pela seleção não foi por falta de interesse
dos escoceses. O problema é que o defensor se mudou para Londres em 1882 e, na
época, a equipe se limitava a convocar jogadores que atuassem no país.
Watson
esteve em campo, inclusive, na emblemática vitória por 8 X 1 sobre o Blackburn,
então campeão da Copa da Inglaterra e já profissionalizado.
Engenheiro
formado e milionário, Andrew Watson preferiu manter-se no amadorismo. Voltou ao
Queen’s Park, no qual também acumulou funções administrativas. E terminou a
carreira no Bootle, os primeiros rivais do Everton.
Alguns
associam o nome de Arthur Wharton como o primeiro jogador negro da história, ganês
que era goleiro do Roterham Town, equipe da recém-criada segunda divisão do
Campeonato Inglês.
Entretanto
registros constataram que ele começou no futebol em 1885, já Watson deu inicio
a sua em 1974, mais de uma década antes.
Arthur
Wharton nasceu em 28 de outubro de 1865, em Jamestown/Usshertown, Accra e faleceu
no dia 13 de dezembro de 1930, em Edlington, Reino Unido.
Já
Watson encerrou a carreira em 1892, tendo se mudado para o Rio de Janeiro, logo
após sua aposentadoria, onde trabalhou por alguns anos em navios e fez alguns
testes para se qualificar como um engenheiro. Ele passou os últimos 20 anos de
sua vida trabalhando como engenheiro naval em Liverpool.
Watson
morreu em Londres, vítima de pneumonia em 8 de março de 1921. Seu corpo está
enterrado do Cemitério de Richmond. Certamente, suas origens nobres ajudaram a
ter as portas abertas, em uma época na qual o futebol era marcado pela divisão
social. Mas não tanto pelo preconceito racial.
Não
existem registros de jornal que relatem qualquer discriminação pela cor da pele
do defensor – mas, curiosamente, apontam um estranhamento pelas chuteiras “coloridas”
que usava, marrons, em uma época em que os calçados pretos eram dominantes.
Durante
a década de 1920, Watson foi eleito para a melhor seleção escocesa da história.
Um reconhecimento e tanto, mostrando também como superou qualquer barreira que
se impusesse.
Pioneiro
que não gerou uma miscigenação imediata, mas que poderia ser colocado ao lado
de outros grandes, como Leônidas da Silva, Leandro Andrade, Larbi Benbarek.
Nenhum comentário:
Postar um comentário